tag:blogger.com,1999:blog-22063152093532833822024-02-19T02:24:30.222-08:00Meu PenedoMEU PENEDO - Blog do Velhote do Penedo
- Ronaldo Conde Aguiar
Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.comBlogger252125tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-65924772604978929812020-06-11T12:35:00.000-07:002020-06-11T12:35:01.311-07:00Folha Corrida (1)<br />
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light", sans-serif; text-indent: 35.45pt;">Parte da minha vida foi gasta na
militância política da esquerda. Sim, eu acreditei sinceramente no ideal
socialista, mas, aos poucos, tomei conhecimento do socialismo real e aí – meu
mundo caiu.</span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">Afastei-me da militância aos
poucos, na medida em que perdia a crença num modelo de governo que não deu
certo em lugar nenhum do mundo. Foi um processo – e reconheço que ele foi
doloroso, muito doloroso, pois eu o vivi sozinho, sem procurar apoio de
ninguém, uma espécie de purgação a que não faltaram lágrimas e ranger de dentes.
Muitas. Muitos. <o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">Ser de esquerda me fez conviver
com gente valorosa, destemida, altruísta, que dedicou a vida a um sonho, e com
gente imbecil e desonesta - mas, à força da ideologia, suportei. Era o jogo. Quando
o socialismo pereceu na URSS, fui procurar um comunistão da velha guarda em
busca de consolo. Era meu amigo e eu o admirava. Encontrei-o de pijama,
sozinho, barba por fazer, um copo na mão, quase bêbado. Abraçou-me e disse: “O
socialismo é a vida, não esqueça jamais disso. Nós é que fomos uns grandes
filhos da puta! Nós estragamos tudo! Tudo!” E abriu o berreiro. Entendi,
despedi-me, fui embora.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">A verdade é que o socialismo
começou a desabar quando os crimes de Stálin vieram à tona. Foi o primeiro
grande baque da história do socialismo. Stálin era tido como uma espécie de
deus, o ser perfeito, o guia genial dos povos, o paizão querido de todos. Mostrou-se,
contudo, ser um reles criminoso, responsável pela morte de milhões e por criar
uma burocracia tirânica e corrupta, que ele controlava por meio dos organismos
de defesa do Estado. O mito de Stalingrado, que suportou com bravura
inexcedível a violência e a crueldade das tropas alemães, ajudou-o a reafirmar
lendas a seu respeito. Na realidade, em Stalingrado o grande herói foi o povo
soviético, que a tudo suportou.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: Calibri Light, sans-serif;">No Brasil, o PT – e seus
puxadinhos, Psol, PSTU, entre outros – ajudou a desmoralizar a esquerda. Ao chegar
ao poder, o PT trazia a imagem de partido nobre, incapaz de fazer concessões,
de roubar, de ludibriar o povão. Todos diziam, e todos estavam errados, que o
PT era um partido ético. Após 16 anos no poder, o PT disseminou a ideia de que
a esquerda significa o que de pior há na política. Esquerda tornou-se sinônimo
de incompetência, má-fé e roubalheira. Lula transformou-se, por atos e
palavras, no malfeitor que todos conhecemos.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">As esquerdas brasileiras não
possuem um projeto para o Brasil. E não têm por que não conseguem se libertar
de determinados dogmas. Antes da derrocada do socialismo, a esquerda brasileira
tinha nos países socialistas os seus modelos. O PCdoB tinha na Albânia, o país
mais pobre da Europa, o seu arquétipo – e, em Enver Hojda, um assassino, o seu
herói. Hoje, que as chagas do processo histórico brasileiro ficaram evidentes,
as esquerdas são incapazes de dizer como pretendem tirar o Brasil do atoleiro.
Um líder da esquerda brasileira disse, certa ocasião, que um projeto nacional
tinha que se assentar em dois pilares: aumento do salário mínimo com base no
índice da inflação e investimentos estatais maciços. Falou isso – e foi embora,
certo de que tinha descoberto o caminho para as Índias.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">Certa vez, em Cuba, eu e o
professor da Universidade Federal de Pernambuco, Manoel Corrêa de Andrade,
autor de obras clássicas no campo da geografia agrária, entramos numa padaria –
e levamos um susto. Não havia produto algum exposto. Queríamos comprar pães. A
funcionária (pública) nos disse: “Só fazemos pão pela manhã. E não muitos, para
não sobrar”. Já imaginaram uma economia inteira funcionando dessa maneira? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">Perdi a crença na política. Não
convivo com políticos. Hoje, creio que o melhor dos mundos seria um mundo sem
política e políticos. Sei, porém, que isso é impossível, a vida e os clássicos
da sociologia me ensinaram. Quando aqueles tresloucados assumiram o comando de
quatro aviões – e os atiraram contra as torres gêmeas de Nova York, o Pentágono
e um campo florido do estado da Virgínia (porque os passageiros se insurgiram
contra o sequestro), matando milhares de pessoas, cheguei à conclusão que o
mundo enlouquecera – melhor: que estava irremediavelmente doente. Dois dias depois,
aqui em Brasília, encontrei com um jornalista, petista roxo, que me disse: “O
império vai desabar! Foi só o início!” Dias depois, Bush enviou tropas para o Oriente
Médio, bombardeou impiedosamente o Iraque e a Líbia, praticamente riscando-os
do mapa. Tempos depois, durante o governo Obama, tropas americanas localizaram
Osama bin Laden, o mentor do ataque aos Estados Unidos. Não houve papo: passaram
ele, as mulheres, filhos e capangas nas armas. Pronto, o império que ia
desabar, vingara-se. Foi a lei do mais forte, que é a lei que predomina nas
relações entre nações.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">Falei sobre o meu amigo
jornalista, petista roxo, e me lembrei que vivemos nos dias atuais um período
de carência jornalística. Sempre fui um leitor de jornais. Lá, em casa, líamos quatro
jornais diários: Última Hora, Diário da Noite, Correio da Manhã e Jornal do
Brasil. Afora, claro, os jornais “comunas”, semanários: A classe operária (do
PCdoB) e Novos Rumos (do PCB, vulgo Partidão), que meu pai considerava – e eram
-<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>duas porcarias. Em matéria de política
internacional, líamos os grandes mestres Otto Maria Carpeaux, Paulo de Castro,
Newton Carlos, entre outros de igual calibre. Hoje, o que nos resta é um
sujeitinho da Globonews, que reside em Nova York, que nos informou que o melhor
livro que leu na vida foi “A Indonésia ao seu alcance”. Um livrinho distribuído
pela embaixada indonésia.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">Não convivo mais com pessoas
que, não tendo capacidade de buscar explicações para o mundo e o Brasil atuais,
preferem repetir a cantilena pseudomarxista dos anos 1960. Convivi muito com
gente dessa espécie. Certa vez, escrevi que, embora eu não tenha votado em
Bolsonaro, considerava que, eleito, era teria que cumprir o seu mandato até o
fim - e levar adiante o seu programa. O Brasil não ficaria pior nem melhor que
antes, a não ser no quesito roubalheira, cuja patente, parece, é do PT e seus
aliados. Disse também que o medo da esquerda era que o governo Bolsonaro desse
certo. Foi o bastante para receber uma mensagem de um sujeito que prezo, outro
comunistão que, ainda hoje, acredita que o socialismo está vivo e que Stalin é
o tal, lamentando minha opção política. Não respondi – em respeito ao princípio
de que não falo com gente, mesmo amigo, que não entende o que digo e vive de
costas para o mundo.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif;">Aos 77 anos, que mais posso
fazer? Minha vida, hoje, resume-se a escrever, ler, ouvir música e assistir
filmes, embora eu considere cinema uma arte menor. Essa expressão – arte menor
– eu a utilizei durante um debate na UnB, e provocou todos os tipos de reação,
boas e más. Não usei a expressão de forma gratuita, mas ao comparar cinema e teatro,
este sim uma grande arte. Como já disse inúmeras vezes, gosto mais de teatro do
que de cinema. Mas isto é outra história.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-73421412189819367252020-04-07T13:15:00.001-07:002020-04-07T13:15:51.033-07:00Sobre as previsões históricas<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt;">A crise do
coronavírus – eu prefiro dizer, por razões óbvias, a crise da gripe chinesa –
produziu em diversas pessoas a tendência de fazer previsões. Outro dia, por
exemplo, li um texto que desenvolvia afirmações transcendentais sobre as
políticas brasileira (do tipo: Bolsonaro será substituído por uma junta de
militares, a inflação retornará) e mundial (do tipo: derrocada dos EUA e
ascensão vertiginosa da China ao topo do mundo, queda do regime dos aiatolás no
Irã). Tudo em função ou em decorrência do coronavírus.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Esse negócio de
fazer previsões históricas não é novo, conheci algumas que foram, num dado
momento, badaladas – e, a seguir, jogadas no lixo, devido o número de tolices
que reuniam. Quem faz previsão histórica sempre parte de três premissas: 1) a
de que, a partir de fatos de hoje, é possível perceber sintomas de como será o
futuro; 2) a de confundir desejo político (de quem prevê) com análise
histórica; 3) a de que o autor da previsão histórica é gênio não reconhecido, a
não ser por ele mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">No meu tempo de
estudante de sociologia, o meu velho e querido professor Orlando Valverde
reduziu a pó de traque um estudo coordenado por Hermann Kahn, diretor do
Instituto Hudson. Kahn era autor da proposta de se criar diversos lagos
artificiais no Brasil (três dos quais na Amazônia), que produziriam energia
suficiente e barata para o desenvolvimento mundial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">A partir daí, Kahn tascou
ideias sobre a história mundial. A África, por exemplo, seria, hoje, o que a
China é, rivalizando com o Canadá, que assumiria o lugar dos Estados Unidos. O
Brasil seria uma espécie de subsidiário da África, mas teria peso na escala
mundial devido a produção de energia advindo dos grandes lagos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Kahn era um sujeito
de 150 quilos de banha – e tinha acesso franco nos gabinetes de diversos
presidentes. Os jornais brasileiros tratavam-no como gênio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Valverde, meu
mestre, leu o estudo de Kahn – e resolveu analisá-lo. Foi um massacre
geográfico, sociológico, político e antropológico. Valverde pisou fundo e
demonstrou todas as inconsistências e besteiras do projeto, que, no meio
acadêmico – pasmem! – recebeu diversos apoios e acolhimentos. Lembro-me de uma
frase do Valverde a respeito: “Muitos brasileiros, mesmo os titulados, adoram macaquear
bobagens como se elas fossem genialidades!”<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">O marxismo, por
exemplo, foi uma das mais formidáveis técnicas de afirmação do que seria o
futuro do planeta. “O mundo caminha para o socialismo” – era sempre repetido e
servia tanto para definir o cenário mundial que esperávamos como para derrotar
intelectualmente aqueles que discordavam dos nossos argumentos. O marxismo era,
antes de tudo, uma ciência – e, como tal, inquestionável, indiscutível,
infalível. Eram as tolices que repetíamos com a convicção própria dos parvos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Voltemos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Os cenários futuros
que li nos últimos dias buscam certezas que o saber histórico não garante. Eu,
mesmo, não tenho mais confiança nas interpretações que buscam verdades onde
elas ou não existem ou não podem existir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Não é possível
entender o conhecimento histórico como um indicador do que seremos ou teremos
pela frente. Surpreende-me que os nossos profetas de hoje não entendam que a história
nos pregou peças constantes, jogando para o espaço tudo o que tínhamos como
previsão: o próprio fim do comunismo é o mais acabado exemplo entre o que
acreditávamos e aquilo que de fato ocorreu. Na esfera doméstica, os exemplos –
com o perdão da má palavra – abundam: o golpe de 1930, o regime militar,
Collor, Sarney, Bolsonaro. Erramos todas as nossas previsões.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">O marxismo, que era
uma ciência (pelo menos achávamos), devido ao seu dogmatismo intrínseco, transformou-se,
dizia meu amigo Joel Rufino dos Santos, em “tirania pedagógica”. O ensino
histórico (e sociológico) passou a fazer uso de uma espécie de cartilha
irredutível: 1) a história, como o demonstra Engels, e a sucessão inequívoca de
modos de produção; 2) a luta de classes é a régua e compasso da interpretação
histórica dos fatos; 3) Tudo se explica pelo econômico – as ações e os
sentimentos humanas, a literatura, as ideias de cada época, o futebol, o
Califado de Córdoba, tudo. A dialética, talvez a maior herança do marxismo, foi
para o espaço, embora todos os marxistas se julguem e se afirmam “dialéticos”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Se antes disso, a
história era a sucessão enfadonha e estática dos feitos dos dominantes, a
história de hoje, que se afirma científica, tornou-se a caricatura do marxismo.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Quem se arvora em
fazer previsões políticas corre o risco de receber cartão vermelho de seus
leitores. História não é palpite. História não se confunde com desejo político
pessoal. História demanda análise bem fundada, lógica, isenta de “parti pris”. Chute
não é história – nem é previsão histórica séria. Aliás, historiador sério não
faz previsão.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-52925870853211108722020-02-22T14:36:00.000-08:002020-02-22T14:36:28.581-08:00Não temos escapatória<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Diário do Velhote do Penedo (10)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não há mais esquerda ou direita em política. Os que se dizem de
esquerda no Brasil ou são desinformados ou são nostálgicos de uma ideologia que
virou fumaça com a derrocada da antiga União Soviética. No Brasil de hoje, são
de direita todos que não se dizem de esquerda. Pelo menos, é o que esses
últimos pensam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A soma de desinformados e nostálgicos produziu no Brasil partidos
como PT, PSTU, PCdoB, Psol e outras bobagens que não conseguem sequer
apresentar um projeto nacional ou um plano de recuperação econômico. Ficam,
então, a repetir o velho discurso dos anos 1950, 1960, como se ele explicasse e
desse conta do mundo de hoje. É incrível, mas alguns dos desinformados e
nostálgicos se dizem stalinistas, trotsquistas ou coisa que o valha, sem
perceber o alcance e o significado do que dizem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">No mundo acadêmico, mormente nas áreas sociais e humanas, esse
cenário chega ao absurdo. Sem condições de criar uma interpretação consistente
das questões de hoje, inclusive por falta de autores novos franceses em quem se
espelhar, grande parte dos professores das áreas sociais e humanas submergem na
repetição das falas de Marx (que pouquíssimos leram), Foucault, Derrida e Habermas,
dos quais leram apenas apostilas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Os estudantes (de esquerda), em sua maioria, supõem ser possível
resolver todos os problemas na base do grito – e, como não têm o hábito da
leitura, apenas repetem, sem qualquer juízo crítico, o entulho atochado nos
seus ouvidos por seus professores. E como tudo – ou quase tudo - que recebem dos
mestres está superado, vencido pelas reviravoltas de um mundo que se transforma
em ritmo alucinante, os estudantes pensam mal, falam mal, escrevem mal. Estão
fora do mundo civilizado, cujo fundamento está na escrita e na leitura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Como são desinformadas e nostálgicas (às vezes são as duas coisas,
em dosagens variadas), as esquerdas brasileiras tentam compensar suas
deficiências (que eles não percebem que têm) ao apostrofar que os outros, os
que não estão com eles, ou sejam, aqueles que eles denominam de direita, são
incultos, burros e safados. Trata-se, sem dúvida, de uma compensação. Na
verdade, os desinformados e nostálgicos sofrem pelo que são, pois, no fundo,
não vêm perspectivas para si e para o mundo ideal, a maquete socialista, que
assombra suas mentes, como um espectro. A derrocada do ideal socialista
criou-lhes enorme sensação de vazio existencial, daí a fúria com que atacam aqueles
que não pensam como eles e não lhes dão apoio. Para essa gente, a vida é um
inferno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O certo é que o esquerdismo dos desinformados e nostálgicos
(daqueles que se declaram hoje de esquerda no Brasil) não é marxista – e, sim,
uma espécie de fé, de crença mística.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Em recente artigo, Luiz Carlos Azedo discute as críticas de Tony
Judt (em “Pensando o século XX”) ao historiador Eric Hobsbawn, que se mostrou
relutante em reconhecer os equívocos e erros da antiga União Soviética. “Judt
também critica Hobsbawn”, nota Azedo, “por justificar o terror stalinista e as
coletivizações forçadas com o esforço de guerra”. A esquerda brasileira tem a
mesma postura, ou seja, as mesmas dificuldades de Hobsbawn para fazer
autocrítica. E, por isso, comete e persiste nos mesmos erros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Em “A poeira da glória”, Martim Vasques da Cunha fez uma análise
criteriosa da obra de Antônio Cândido – e demonstrou que o autor de “Os
parceiros do Rio Bonito” vendeu aos seus leitores a ideia de “reformador
social”, ou seja, um sujeito de esquerda. Sua intenção era a de manter a ideia
que seus leitores têm dele. Este é outro traço do comportamento da esquerda
brasileira. Supor que como sujeito de esquerda, seus comentário possuem valor
“per se”. Tanto os desinformados como os nostálgicos supõem possuir
inteligência que os distinguem dos sujeitos ditos de direita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Vou fazer agora um comentário pessoal. Durante décadas, acreditei
no ideal socialista – e reconheço que fechei os olhos para os muitos erros e
crimes cometidos em nome do socialismo real, como a miserabilidade dos crentes,
a formação de uma burocracia dominante e corrupta - e da violência
institucional comandada por Lênin e Stalin. Hoje, tenho consciência de que o
socialismo real acabou. Acredito também que o capitalismo é o regime, por
excelência, da exploração e da concentração, que não reúne nenhuma complacência
para com o povão. Não acredito que o capitalismo tenha condições de atender os
bilhões de miseráveis que habitam o planeta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Em síntese: o socialismo acabou e o capitalismo não dá conta de
alimentar mais de seis bilhões de viventes. A saudosa maloca, os sonhos de
todos nós, afundou – e só nos resta cantar: “saudosa maloca, maloca querida,
did-di-donde, nós passemos os dias feliz de nossa vida”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Este, enfim, foi o mundo que todos nós, de uma maneira ou de
outra, em maior ou menor proporção, criamos. Vivemos num mundo sem saída. Não
temos escapatória. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-28825044590061038932020-02-11T14:50:00.001-08:002020-02-11T14:50:36.301-08:00Diário do Velhote do Penedo (7)<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">“Essa gente” – livro confuso e medíocre</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O pouco que li a respeito do último livro do Chico Buarque, “Essa
gente”, não foram, por assim dizer, críticas simpáticas. “Essa gente” narra a
história de Manuel Duarte, um escritor decadente (autocrítica?), autor de um
romance histórico de sucesso no passado, “O eunuco do Paço Real”. A decadência
de Duarte manifesta-se nos planos financeiro, intelectual e afetivo, mas o que
“Essa gente” denota é que, como romancista, Chico Buarque é medíocre. Romance
escrito às pressas, “Essa gente” nada mais fez que acentuar a imperícia do
autor, já evidente em livros anteriores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Antes de ser linchado, digo, com sinceridade, que considero Chico
Buarque um dos três maiores letristas da música popular (os outros são Noel
Rosa e Aldir Blanco), autor de verdadeiras obras-primas como “Com açúcar e com
afeto”, “Construção”, ”Valsinha”, “A banda” e “Apesar de você”. Esse é o seu
campo. É onde ele se realiza como artista. É onde se manifesta o seu enorme
talento. A literatura, porém, não é seu campo, como não é a política. A cabeça
política do Chico é oca.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Escrito sob a forma de diário, “Essa gente” procura inserir comentários
políticos, que acentuam o primarismo da história e da própria visão política de
Chico Buarque. Na página 35 do romance, por exemplo, Chico diz o seguinte: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">3
de fevereiro de 2019: (...) Devo ademais te confessar que sinto falta de um
amigo com quem partilhar meu inconformismo em relação ao que estão fazendo com
nosso país. Será que ainda teremos nossa correspondência violada? Será que
ainda incendiarão os nossos livros? <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chico produz uma crítica ao governo, atribuindo a ele violação de
correspondência e queima de livros exatamente um mês depois de sua posse. Isso
é fazer política? Fazer política é afirmar mentiras? Falar em livros
incendiados e correspondência violada no Brasil é tanto mentira como uma baita
falsidade histórica. Quem escreve isso não se respeita como escritor. Pior: não
respeita seus leitores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Na página 47, Chico insere, sem quê nem para quê, o que ele
possivelmente vislumbra e simboliza como violência das elites contra as massas
pobres e desamparadas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ele
já está para embicar na rua quando freia, passa por mim às cegas (...) e se
dirige a um homem deitado na calçada, encostado no muro do clube. É um sujeito
com cara de índio velho que se levanta com dificuldade, depois de tomar uns
chutes nas costelas. (...) Ao esboçar uma corrida, o índio derrapa e se escora
no muro, de onde é arrancado pelo Fúlvio com um safanão que por pouco não o
arremessa no asfalto. (...)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Note-se: Chico descreve, em duas páginas, com detalhes, a agressão
covarde e absurda de um sujeito da classe alta, sócio do Country Club, a um
mendigo. A agressão é gratuita, mas Chico achou por bem inseri-la – inclusive
para dar no leitor um choque da nossa realidade cruel, onde representantes das
elites surram mendigos nas ruas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">No livro do Chico não há assalto, não há arrastão, não há PCC, não
há corrupção de políticos petistas (nem de qualquer outro partido). Há apenas,
de um lado, a ação repulsiva das elites e, de outro, violência policial, essa
sempre despropositada, como a que ele descreve na página 118:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chegando
ao pé da favela, os moradores fecham a avenida Niemeyer e interpelam aos gritos
os policiais de plantão. Não demora a aparecer o reforço, um batalhão de choque
com policiais mascarados e um veículo blindado com caveiras estampadas na
carroceria. (...) Do nada, uma pedra, um palavrão, uma senha, não sei que
fagulha desencadeia o conflito, e os escudos avançam contra os cartazes. Um
provável líder comunitário ordena pelo megafone a recuada dos manifestantes,
que começam a se dispersar na avenida. É tarde, porém, porque a tropa já lança
mão de bombas de gás lacrimogênio, spray de pimenta, tiros de balas de borracha
e golpes de cassetete no combate corpo a corpo. <o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Este é o cenário político desenhado por Chico, causado, como sói ocorrer
no imaginário unilateral da esquerda populista, devido <i>a morte de um morador
superquerido de todos na favela</i>. Vejam bem: Chico introduz no livro a morte
de um trabalhador “superquerido” provocada pela ação da polícia repressora, o
que resulta no conflito e na violência policial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Afora o drama pessoal de Manuel Duarte, ao qual não soube dar
dimensão psicológica e humana, Chico descreve o mundo tal e qual as esquerdas
brasileiras o fazem: a luta entre os fortes e fracos, entre os opressores e os
oprimidos. Polícia, na cabeça de Chico, somente prende e estropia pobres e
miseráveis. Na página 119, ele acentua:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(...)
Chegamos ao Sheraton, um hotel de luxo onde a polícia só entra se for à cata de
favelados.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ora, a frase é absolutamente tola, pois supõe a possibilidade de
haver favelado no Sheraton. A frase não é verdadeira, pois a polícia, nos
últimos tempos no Brasil, entrou em prédios de apartamentos e escritórios de
luxo em busca de criminosos do “colarinho branca”, ao longo da operação Lava
Jato. Aliás, atento à realidade brasileiro, nenhum personagem do Chico
refere-se às prisões de políticos e empresários corruptos. Isso não cabe num
livro que deseja apenas acentuar a luta entre ricos e pobres – e demonstrar que
o governo está ao lado dos ricos, enquanto estes se dedicam a surrar e a
esbodegar os pobres e negros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A esquerda é contra a operação Lava Jato, que levou à cadeia
inúmeros políticos do PT, entre os quais Lula, o <i>enfant gâté </i>da esquerda
populista e dos artistas ipanemenses.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">É claro que, tanto no plano literário como na vida real, a polícia
invade os morros porque é lá que se esconde a bandidagem do tráfico, misturando-se
à população ordeira e trabalhadora que lá reside. É evidente que há nas favelas
assassinatos de gente do bem, mesmo de crianças. Aliás, este é um dos grandes dramas
da vida urbana brasileira: nas favelas o crime mistura-se à paz, a bandidagem mistura-se
aos residentes. Os conflitos armados são inevitáveis e esses, em alguns casos,
produzem vítimas inocentes. É necessário considerar que nem sempre os conflitos
são entre a polícia e a bandidagem; há ainda os conflitos entre grupos rivais
da bandidagem, em busca de domínio hegemônico.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Se romance (gênero), como disse Lucien Goldman, em “Sociologia do
romance”, é a transposição para o plano literário da vida cotidiana na
sociedade, a complexidade dessa constitui o cenário essencial da trama. Chico
preferiu escrever um romance linear, seguindo as palavras de ordem da esquerda
atrasada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Lionel Trilling, em “A mente no mundo moderno”, observou, citando
Matthew Arnold, que literatura é crítica da vida – e que a crítica é o esforço
para ver o objeto tal qual ele é em si mesmo. Objeto, no caso, seria o conjunto
de ideias e, em particular, o conjunto de ideias sobre a sociedade. Uma obra
literária, portanto, não pode ser uma espécie de cartilha política, mas a
tentativa de refletir o real, com suas contradições e diferenciações. Enfim, a
sociedade humana é complexa e não cabe em limites dicotômicos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chico demonstrou, mais uma vez, que possui cabeça antitética, ou
seja, esquerda ou direita, bons e maus, branco ou preto, tudo sem nuances. Um
dos maiores larápios dos recursos públicos, político que Chico apoiou por
recomendação do Lula, residia em luxuoso apartamento do Leblon, possuía mansão
em Mangaratiba e só se deslocava de helicóptero. Foi preso no seu luxuoso
apartamento. Refiro-me ao ex-governador Sérgio Cabral.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">*****<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">“Essa gente” é um livro confuso, cujas histórias (diários) dos
personagens se confundem e embaralham. O enredo não tem a mínima consistência.
Não causa nenhum tipo de emoção no leitor. É um livro frio e descoordenado.
Falta-lhe densidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Pior de tudo é que Chico abusa de tolices para provar que a esquerda
é o lado certo da luta social: há, no livro<i>, o filho de militantes de
esquerda que, por isso mesmo, sofre bullying na escola</i>. Pior que isso,
porém, é que <i>há, no livro, um pastor evangélico da Igreja da Bem-Aventurança,
ligado a um maestro italiano, que castra jovens pobres para abastecer o mercado
internacional de canto lírico</i>. Pode haver coisa mais gratuita? Ou mais
estúpida? Ou mais fora de sentido?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O que impressiona no romancista Chico Buarque é a sua tendência de
inserir passagens que visam unicamente chocar os leitores, como se isso
garantisse a ele lugar de destaque na literatura brasileira. São passagens
gratuitas, que não acrescentam nada à narrativa. Em “Estorvo”, livro de 1991, Chico
descreve o momento em que uma criança de 5 anos faz um boquete no seu avô
(Página 81). Em “Essa gente”, nos instantes que antecedem a sua morte, Manuel
Duarte recebe, em delírio, a visita da mãe já falecida, que<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Sentada
na beira do sofá, ela abre os botões de pérola da sua blusa, me mostra os seios
e os acaricia com lágrimas nos olhos. Depois levanta minha cabeça e com lábios
gelados me beija a boca.</span></i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A verdade é que Chico Buarque não chega nem aos pés de Rubem
Fonseca, Nelson Rodrigues ou Rafael Montes, para citar três autores realistas,
cujas obras põem à nu a natureza violenta e mórbida dos homens, no sentido
freudiano da expressão. Na verdade, Chico Buarque aproxima-se de Paulo Coelho,
José Sarney ou José Mauro de Vasconcelos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chico, porém, tornou-se um ícone, em razão de sua música.
Tornou-se um sujeito inatacável, por pior que fossem suas atitudes intelectuais,
pessoais e políticas. Ninguém tem coragem de atacar o autor de “Carolina”, pois
muitos têm medo das represarias, <i>vulgo</i> patrulhamento ideológico. Chico
Buarque acostumou-se a ser paparicado e incensado. Em torno de Chico Buarque é
possível ouvir um alarido de gralhas ruidosas.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">*****<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chico foi um dos “intelequituais” que defenderam a censura ao
livro “Roberto Carlos em detalhes”, de Paulo César de Araújo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chico defendeu a proibição do livro, o seu recolhimento das
livrarias e do depósito da editora Planeta – e sua incineração, no melhor
estilo III Reich. Chico ainda fez pior: em entrevista dada em Paris e em artigo
publicado no Globo, Chico negou que tivesse dado entrevista a Paulo César de
Araújo, o que transformava o autor da biografia de Roberto Carlos um criminoso,
um mistificador, um falsificador. Contudo, Chico havia dado a entrevista a Paulo
César de Araújo, como atestaram o filme e a gravação apresentada pelo último.
Desmascarado, Chico apenas disse que tinha esquecido que dera a entrevista.
Chico demonstrou, no episódio, falta de caráter, inclusive porque não pediu
desculpas públicas pela – aí, sim - sua mentira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O episódio de censura ao livro de Paulo César de Araújo reuniu,
como defensores da censura e da queima dos livros, Chico Buarque, Caetano
Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento, Djavan, Lenine, Chico César, Paula
Lavigne, entre outros. Foi um episódio triste, vergonhoso e sórdido. Hoje, o
Velhote do Penedo leu um manifesto dos “intelequituais” de sempre, denunciando
a censura no governo Bolsonaro – e lá estava as assinaturas de Caetano Veloso e
Chico Buarque. Cinismo igual nunca vi, pois não presenciei, até agora, nenhum
ato governamental no sentido de censurar qualquer obra literária. Vi, porém,
Chico e Caetano defender a censura de “Roberto Carlos em detalhes”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A participação de Chico no episódio nega-lhe qualquer direito de
falar em censura. Falta-lhe credibilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">É preciso repetir que a cabeça política de Chico Buarque é oca – e
suas opções se perdem em razão disso. Em 1978, por exemplo, Chico fez uma
marchinha de apoio a Fernando Henrique Cardoso contra Franco Montoro nas
eleições para o Senado. A marchinha aproveitava os acordes de “Acorda Maria
Bonita”: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 22.7pt; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A
gente não quer mais cacique/ A gente não quer mais feitor/ A gente agora tá no
pique/ Fernando Henrique pra Senador.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Bem, FHC não foi eleito, mas é bom destacar que um político íntegro,
decente, ético, um dos melhores políticos brasileiros, Franco Montoro, foi
chamado por Chico Buarque, com o beneplácito de FHC, de “cacique” e “feitor”.
Quem contou esse episódio foi Deonísio da Silva, em “A placenta e o caixão”
(Página 372). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Em 1982, Chico fez campanha para o candidato Miro Teixeira, na
época menino de recados do Chagas Freitas, uma espécie de Antonio Carlos Magalhães
carioca, embora o PT tivesse o seu próprio candidato, Lysâneas Maciel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Mais “Essa gente”: em detalhes<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O Velhote do Penedo arrola em seguida alguns escorregões e
jaboticabas de “Essa gente”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O Fúlvio praticamente ordena que
eu me acomode no banco de trás, e a esposa a seu lado está com os olhos
inchados, uma caixa de lenços de papel no colo. <b>É uma senhora que antes de
engordar deve ter sido bem bonita</b>. (Pág. 37)</span></i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">A última frase do parágrafo denota claramente uma visão
preconceituosa do Chico: a mulher de Fúlvio, quando magra, era bem bonita;
engordou deixou de ser. As gordas são feias, segundo a lapidar frase de Chico
Buarque.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Ficamos um tempo nos estudando, e
acho graça de ele se parecer comigo em alguns pormenores, <b>até o de guardar o
pau do lado direito da calça</b>. (Pág. 42)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O pormenor destacado era dispensável e grosseiro. Escrito apenas
para chocar o leitor. Como tantas coisas em “Essa gente”, uma frase tola,
vulgar e sem sentido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-bidi-font-style: italic; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Clubes de elite em toda parte têm
lá suas regras rígidas, e que um novo-rico entre no Country Club, por exemplo, <b>é
mais fácil um camelo passar no cu da agulha</b>. (Pág. 44)<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chico Buarque transformou uma imagem bíblica numa imagem vulgar.
Qual o objetivo? Chico usa tais expressões apenas para chocar o leitor. A
expressão “cu da agulha” não consta do “Dicionário do palavrão e termos afins”,
de Mário Souto Maior, nem do “Dicionário de expressões coloquiais brasileiras”,
de Nélson Cunha Mello. Foi uma invenção com a chancela Chico Buarque. Nos
quatro evangelhos, a expressão usada é “fundo da agulha”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não preciso ver para saber que
pessoas se jogam de viadutos, que urubus estão à espreita, <b>que no morro a
polícia atira para matar</b>. (Pág. 48)</span></i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">É preciso comentar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">O sargento Agenor é um negro
bonito de presumíveis quarenta anos, <b>se bem que os da sua raça geralmente
parecem mais jovens do que são</b>. (Pág. 60)</span></i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Os negros, segundo Chico Buarque, reúnem características
biológicas (envelhecer é biológico, não?) diferentes dos brancos. Usei os
termos do livro: negro e raça.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Deve estar faminto, pois agora
abocanha o jornal no chão do banheiro e começa a mastigar notícias: <b>soldados
disparam oitenta tiros contra carro de família e matam músico negro. </b></span></i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">(Pág.
89)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Mais uma vez, Chico acentua a visão da polícia como força armada
das elites contra o povão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Assim o conduzo sutilmente pelas
ruas do Leblon, como no passado <b>conduzia pela nuca mulheres pequenas, que em
geral não têm senso de direção.</b></span></i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"> (Pág. 106)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chico criticou “as mulheres que antes de engordar eram bonitas”
(página 37), o negro “cuja raça faz com que eles pareçam mais jovens” (página
60) e, agora, fala das mulheres baixas, “que não têm senso de direção”. Se isto
tudo não carrega uma carga de preconceito, não sei o que dizer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Pode falar as maiores sandices, se
calhar <b>pode jurar por Deus que a Terra é plana</b></span></i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">.
(Pág. 108)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Aqui, Chico Buarque repete uma bobagem inventada e atribuída a um
“inimigo político” por algum cômico ou filósofo da esquerda velha e populista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Laila acredita que o ambiente no
país em breve <b>se tornará insuportável para gente de esquerda como ela e
intelectuais em geral como eu</b>.</span></i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;"> (Pág. 149)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Muitos sujeitos da esquerda, como Chico, que vive em Paris, estão
saindo do país. O texto de Chico é absolutamente elitista, pois nem todos têm
condições de sair do Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-add-space: auto; mso-list: l0 level1 lfo1; text-align: justify; text-indent: -18.0pt;">
<!--[if !supportLists]--><span style="font-family: Symbol; font-size: 13.0pt; mso-bidi-font-family: Symbol; mso-fareast-font-family: Symbol;"><span style="mso-list: Ignore;">·<span style="font: 7.0pt "Times New Roman";">
</span></span></span><!--[endif]--><i><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Comia qualquer besteira na cozinha
e voltava para a cama, dormia, dormia, dormia noite e dia, <b>sonhava com o
presidente da República, só tinha pensamentos mórbidos</b></span></i><b><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">.</span></b><span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">
(Pág. 170)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Somente um sujeito sem compromisso com sua obra é capaz de
escrever tal infantilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: center;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">*****<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Embora tenha muito o que ainda mostrar, o Velhote do Penedo
encerra a crítica ao livro “Essa gente”, de Chico Buarque. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">É um livro pobre, sem grandeza, escrito às pressas, que repete
tolamente o discurso da esquerda atrasada e populista sobre a realidade brasileira.
É um livro em que as ideias se contradizem: Chico faz tudo para provar que a
polícia (braço armado das elites) ataca e mata apenas o povão, mas afunda no
preconceito quando fala das idosas gordas, do negro e das mulheres baixas (que,
por serem baixas, não têm senso de direção). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">No Brasil, todos os sujeitos que se dizem de esquerda afirmam que
lutam por altos valores, mas nada dizem acerca dos baixos valores na Venezuela,
Cuba e Coreia do Norte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Chico poderia ter feito um livro de qualidade, até mesmo engajado,
caso não tivesse sido dominado por palavras-de-ordem e uma visão ridiculamente primitiva
da realidade brasileira. É um livro sem densidade filosófica - e politicamente chulo.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Calibri Light",sans-serif; font-size: 13.0pt; mso-ascii-theme-font: major-latin; mso-bidi-theme-font: major-latin; mso-hansi-theme-font: major-latin;">Não o leiam: não vale a pena. Eu o fiz por deve de ofício.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-43177430624020156372020-02-01T05:29:00.000-08:002020-02-01T05:30:17.607-08:00A mídia tropeça quando fala em cultura<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Diário do Velhote do Penedo (6)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Afinal, o que é cultura?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">De acordo com a mídia brasileira, cultura é a soma dos mecanismos
públicos que financiam espetáculos mais os que fazem tais espetáculos. Ou seja,
cultura seria nada mais que o produto da soma da lei Rouanet com alguns atores da
Globo. Outro dia, a jornalista Zileide Silva especulou: “será que a secretária
Regina Duarte terá condições de <i>conter a reação da cultura?</i> O raciocínio
da jornalista é trevoso, mas é evidente que ela não tem a menor ideia do que
seja cultura. A jornalista falou como se cultura fosse um bicho que cospe,
morde e vomita.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Há inúmeros livros que tratam do conceito de cultura. Muita gente
– principalmente a gente da mídia que se arvora debater o assunto – faria bem
se lesse pelo menos um deles. Seria um bom começo. Ler não dói – e é útil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Cultura é a síntese dos saberes sociais – e se propaga pela
sociedade através de seus membros individuais e coletivos, segundo as mais
variadas formas e manifestações. Numa sociedade diversificada, as manifestações
culturais seguem padrões e estilos diferenciados, ricos e complexos. Elas,
porém, interagem: cada uma delas influência mais ou menos as demais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Há povos, contudo, cuja cultura material é simples, pois sua
estrutura social é também simples. É o caso, por exemplo, do povo Nuer, cerca
de duzentas mil pessoas que vivem na região pantanosa do Sudão meridional,
entre os rios Sobat e Bahr el Ghazal, tributários do Nilo. Os Nuer foram
estudados pelo antropólogo britânico Edward Evans-Pritchard (1902-1973), a
pedido do governo do Sudão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Os Nuer são eminentemente pastoris – e definem todos os processos
e relacionamentos sociais em função do criatório. Não praticam a escrita nem a
pintura. Seus cantos e danças estão vinculados aos animais. Seu idioma social,
conforme Pritchard, é um idioma estruturado e referenciado ao idioma bovino.
Tanto nas negociações matrimoniais, como nas situações rituais e disputas
legais, só serão compreendidas através de um terminologia de cores, idades,
sexos dos animais. São padrões culturais à sua maneira – e são eles que
garantem a coesão social do grupo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Na sociedade brasileira, a compreensão do que seja cultura deve
ser complexa, generalizada e diversificada, tal como é a organização social do
país. Somos um país que sofreu as mais variadas influências durante sua
formação desigual – e do amálgama e combinação de tais influências resultou o
que somos. Dos indígenas achados por Cabral, aos negros escravos trazidos à
força para o Brasil, aos portugueses, aos milhões de imigrantes de todas as
origens, todos trouxeram os seus saberes herdados – e aqui, através de um
processo simbiótica, criaram o que chamamos de cultura brasileira. Um exemplo:
o chorinho, estilo de música dolente e “choroso”, foi criado por imigrantes
portugueses, saudosos de sua terra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Cultura é a expressão da vida humana em sociedade, através de
variadas e múltiplas manifestações. Alceu Maynard Araújo, em “Cultura popular
brasileira” estuda as mais variadas formas de manifestações da cultura
brasileira – festas, bailados, danças, folguedos, músicas, ritos, sabenças,
linguagem típica, lendas, ates, cozinha regional e popular, trajes. Maynard mostrou
ainda as características e diferenças dos principais acontecimentos da cultura
popular, das festas do Divino (que mereceram ainda um excelente estudo de
Fernando Oliveira de Moraes, “A festa do divino em Mogi das Cruzes”) ao ritual
de preparação do espinhaço da ovelha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">A chamada cultura urbana, sofisticada, de classe média, a cultura
defendida por gente dependente de recursos públicos para realizá-la, é apenas
um parcela ínfima do que podemos chamar de cultura. Talvez não seja sequer a
mais importante. Câmara Cascudo escreveu dois livros, entre muitos outros, que
dão a dimensão de como gente do povo, de baixa instrução formal, são capazes de
executar verdadeiras obras de arte e construir instrumentos do seu trabalho:
“Jangada – uma pesquisa etnográfica” e “História dos nossos gestos”. Câmara Cascudo
é um autor esquecido pelos cursos de sociologia e antropologia das nossas
universidades, sempre subservientes aos autores franceses da moda. Quando a
atriz Fernanda Montenegro vincula cultura à educação (formal, diga-se), ela não
sabe o que diz, pois cultura não é privilégio dos letrados. Os iletrados também
fazem cultura – tanto é assim que os indígenas cultivam danças, cantos,
cestaria, maneiras de ser, lendas. Ou isto não é cultura? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Li, recentemente, o livro “As pastorinhas de Pirenópolis”, organizado
por Lênia Márcia Meagelli e Neide Rodrigues Gomes, que recomendo. As pastorinhas
é um <i>auto </i>representado, como diz o título, na cidade de Pirenópolis,
Goiás, por ocasião das não menos tradicionais comemorações da Festa do Divino
Espírito Santo. <i>Auto </i>é uma composição teatral, surgida na Idade Média,
na Espanha, por volta do século XII. A linguagem do auto é simples. Suas
personagens simbolizam as virtudes, os pecados ou representam anjos, demônios e
santos. “As pastorinhas de Pirenópolis”, cabe destacar, independe de recursos
públicos e da lei Rouanet para existir: vive da contribuições dos moradores da
cidade. Foi encenada pela primeira vez, em 1922.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Cabe, por fim, chamar a atenção para três clássicos: o primeiro,
só encontrável em sebos, “Mutirão”, de Clóvis Caldeira, no qual ele estuda o
esforço de ajuda coletiva que prevalecia (hoje, menos) nos interiores do
Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">O segundo, “Hans Staden”, para o qual existem edições mais
recentes. “Hans Staden” é a história de um marujo alemão, que sobreviveu a um
naufrágio no litoral paulista e foi aprisionado pelos tupinambás, que tinham
por hábito comer (devorar) seus prisioneiros. Em pânico, Staden sobreviveu à
prisão, mas escreveu sobre os costumes e rituais (culturas) dos tupinambás.
Staden nunca soube por que os seus captores o pouparam, mas legou a todos nós
um livro que, segundo Monteiro Lobato, deveria estar presente em todas as
nossas escolas. Infelizmente, o conselho de Lobato não foi atendido – e poucos
brasileiros conhecem o livro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Por fim, outro livro raro: “O dialeto caipira”, de Amadeu Amaral,
que demonstra de forma indiscutível uma das tantas línguas faladas no Brasil. É
uma joia.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-79345350747396593402020-01-26T07:41:00.001-08:002020-01-26T14:06:51.757-08:00Quem no Brasil defende a censura?<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Diário do Velhote do Penedo (5)<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13pt;">Meu irmão Ricardo, prematuramente falecido, quando ouvia de alguém
algo absurdo, usava uma expressão jocosa, com a qual criticava o autor da
pérola: “Pô, parece que bebe!”</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">A expressão me veio à memória quando li que Ana de Holanda, irmã
de Chico Buarque, se declarou “assustada” com a escolha de Regina Duarte para a
secretaria de Cultura. Ana de Holanda, que foi, sem deixar saudade, ministra da
Cultura no governo Dilma, afirmou ainda:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<i><span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">“Não posso comemorar o fato de Regina Duarte assumir, pois eu
esperava dela um posicionamento mais firme em relação às declarações de
Bolsonaro, de quando ele fala de filtro e faz defesa da censura”.<o:p></o:p></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">O Velhote do Penedo é contra a censura – e se ela for, um dia,
proposta pelo governo brasileiro, pela ONU, pelo Papa, por Jesus Cristo ou
todos juntos, ele será o primeiro a reagir e usar as armas de que dispõe para
combatê-la. Embora septuagenário, o Velhote irá para as ruas, fará pichações,
escreverá e divulgará pelos meios disponíveis a sua repulsa à censura ou ao
cerceamento da liberdade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Não entendi os comentários de Ana de Holanda – logo ela que fez
parte de um governo que defendia abertamente, através do seu ministro da
Comunicação Social, Franklin Martins, o “controle social da mídia”, eufemismo
ou sinônimo petista de censura. Martins era companheiro de Ana na estrutura
governamental; ela, porém, nunca disse nada a respeito – nem mesmo de que
estava ou ficaria “assustada”. Lembrem-se todos que o “controle social da
mídia” consta do programa do PT, partido pelo qual a família Buarque de Holanda
parece ter verdadeiro xodó.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Tudo isso parece muito estranho ao Velhote do Penedo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Quando o jornalista e professor universitário Paulo César de
Araújo escreveu “Roberto Carlos em detalhes” houve – para desgosto de todos nós
– um movimento favorável à censura do citado livro. Tal movimento, fomentado
pela ação que Roberto Carlos moveu na justiça contra o autor da biografia,
contou com o apoio público e escancarado, entre outros, de Paula Lavigne,
Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento, Fafá de Belém, Chico
César, Lenine, Erasmo Carlos e – eis: - Chico Buarque, irmão da assustada Ana
de Holanda. Tais artistas, que sempre posaram de democratas e progressistas,
alinharam-se no episódio – imaginem! – a Maluf, Feliciano e Bolsonaro, na época
simples deputado federal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Como se dizia no passado a respeito do futebol, a vida é uma
caixinha de surpresa: enquanto Chico Buarque defendia a censura ao livro de PC
Araújo, ouviu-se a voz encantadora de Valesca Popozuda, enfaticamente contrária
à censura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Aliás, a participação de Chico Buarque no episódio foi
particularmente acabrunhante. Chico não só defendeu a censura como negou, em
artigo publicado em “O Globo”, ter dada a PC Araújo um depoimento sobre Roberto
Carlos. Paula Lavigne, no programa “Saia Justa”, da Globonews, reiterou as
declarações de Chico Buarque – e aproveitou a ocasião para, muito cheia de si,
desqualificar o livro (que não lera), o autor (que não conhecia) e a editora
Planeta (que sequer sabia o que era).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">A verdade é que, ao negar que tenha dado um depoimento ao PC
Araújo, Chico Buarque, citado entre aspas em “Roberto Carlos em detalhes”,
declarou que o autor da biografia do Rei era um mentiroso e, pior, um
criminoso, pois forjara declarações que ele não dera. Contudo, viu-se que se
havia um mentiroso no episódio este seria o Chico, pois <i>PC Araújo divulgou a
fita e o vídeo da entrevista que o compositor havia lhe concedido</i>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Chico Buarque, diante das evidências, admitiu que errara,
afirmando que tinha esquecido da entrevista que dera a PC Araújo. A desculpa
foi esfarrapada – mas apenas mostrou que o caráter de Chico Buarque estava a
exigir uma lanternagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">O livro “Roberto Carlos em detalhes” encontra-se até hoje
proibido. É hoje raridade bibliográfica. Os exemplares que já haviam sido
distribuídos, foram recolhidos das livrarias e do depósito (mais de 20 mil
exemplares). Depois, foram levados ao crematório, onde foram incinerados por
ordem de Roberto Carlos – e aplauso dos progressistas que defenderam a operação
nazista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri light" , sans-serif; font-size: 13.0pt;">Entenderam agora por que o Velhote do Penedo, ao ler o comentário de Ana de Holanda, se lembrou da
expressão usada por seu irmão?<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/MbblJTpgcdo/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/MbblJTpgcdo?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-69028305274158010972019-06-16T16:24:00.000-07:002019-06-16T16:24:50.107-07:00Picaretagem no Brasil é mato<br />
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">1 - Todos sabem, ou
não sabem, ou fingem não saber: não votei no Bolsonaro, como não votei (nem
votaria jamais) no Haddad, no Ciro e na Marina. Haddad é sonso; Ciro,
desequilibrado; Marina, ausente. Com Haddad, estaríamos de joelhos perante
Maduro; com Ciro, teríamos um Jânio cearense, movido a destemperos verbais e
gestuais; com Marina, o país estaria sem rumo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">2 - Acontece que
Bolsonaro ganhou – e eu decidi, em respeito à minha idade e a todos os
problemas de saúde que enfrentei na vida, não me estressar com isso, nem buscar
ou requentar velhos e justos ressentimentos, mas dar minha contribuição ao
entendimento da realidade brasileira. Por isso escrevo meus textos, nos quais
busco analisar com seriedade o que vejo, leio e ouço, evitando xingos, juízos
preestabelecidos e bússolas ideológicas. Sou livre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">3 - Como professor,
tenho um orgulho: o de ter lecionado em todos os estados do Brasil, cursos
curtos de uma semana e cursos longos, no Rio, São Paulo, Brasília (UnB). Enfrentei
a ditadura e paguei por isso: fiquei durante três anos sem emprego, vivendo de
biscates clandestinos, assinando textos e traduções com pseudônimos. O SNI
vetava sempre meu nome, inclusive em empresas privadas. Não tive ajuda de
ninguém. Hoje, não sou de direita nem de esquerda, pois considero as duas
categorias superadas historicamente. Sou apenas um sujeito que pensa, escreve e
luta contra os dogmas sejam eles quais forem. Sou um sujeito que quer o melhor
para o seu país. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">4 - Aos poucos, na
medida em que envelheço e mais aprendo, fui me libertando de ideologias
estáticas. Chamo de ideologia estática aquele tipo de visão do mundo que se
nega a encarar e enfrentar os novos desafios que a vida nos apresenta e impõe. Um
deles, sem dúvida, é o crescimento demográfico. Somos hoje um planeta que
abriga 8 bilhões de sujeitos a demandar comida e água, educação, saúde e
saneamento. Produzimos uma quantia inacreditável de lixo – e não sabemos o que
fazer com ele. Isto se agrava na medida em que se adensa a chamada “obsolescência
planejada e acelerada”, fenômeno que a chamada esquerda e os ecologistas de
meia-tigela não sabem o que significa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">5 - Em algumas
décadas seremos dez, doze, vinte bilhões. No meu tempo de faculdade, era pecado
de lesa-ideologia ler Malthus, mas hoje aconselho a meus alunos. O mundo hoje
consome mais natureza do que ela pode se regenerar. Este é o grande desafio da
humanidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13pt;">6 - Outra questão a
ser enfrentada é a urbana. As esquerdas permanecem debatendo a reforma agrária,
prato que era servido a todos nós na década de 1960. Claro, na época, mais de 55%
da população vivia no campo, submetida ao latifúndio improdutivo e obscuro.
Hoje, porém, apenas 12% dos brasileiros são os rurícolas e o latifúndio
improdutivo foi substituído pelo agronegócio pujante, capitalista, moderno. Os
graves problemas, portanto, estão nas cidades, todas elas entupidas de gente
sem qualificação e emprego, favelas, violência. Só os municípios de São Paulo e
Rio de Janeiro, sem os seus entornos, abrigam mais de 20 milhões de almas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">As negativas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">7 - Houve uma época
em que a esquerda brasileira negava a existência da globalização, vendo nas
referências a ela um mero discurso antipovo, neoliberal e pró imperialista.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">8 - Negar a
globalização é algo delirante e, pior ainda, um absurdo conceitual. Negar a
globalização é negar o próprio marxismo. No Manifesto Comunista, publicado em
1848, Marx e Engels falam da mundialização do mercado mundial, das indústrias e
das comunicações. Há quase 200 anos Marx e Engels intuíram o que parte da
esquerda se recusa a ver.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">9 - No meio da
esquerda tradicional brasileira, embora eu conheça gente brilhante, campeia o
desconhecimento de textos clássicos do marxismo, o que leva essa gente a errar
e ser incapaz de compreender e explicar o mundo de hoje. Alguém, com o mínimo
de discernimento, imagina que Benedita, Gleisi, Ivan Valente, Perpétua, Pimenta,
e muitos outros, tenham lido ou folheado os livros de Marx, Engels e Lênin?
Claro que não leram. Como Lula, a patota petista é incapaz de ler um reles
gibi. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">10 - Numa postagem
recente, escrevi que grande parte dos nossos “esquerdistas” são pessoas cujos
cérebros são povoados de armadilhas ou prisões ideológicas, cuja validade
decorre apenas da repetição e da crença cega – e, não, da reflexão lúcida.
Repetem lugares comuns válidos nos anos 1930, 1940, como se o mundo não tivesse
mudado de lá para cá – e, sobretudo, posto diante de todos nós novas questões,
novas problemáticas, novos desafios. Em síntese, tentam explicar o novo através
do antigo, do velho, do carcomido. A esquerda tradicional teme que soluções
novas desmintam suas velhas visões de mundo. Recusam-se a pensar. Tal recusa,
claro, reflete o medo de verificar que as coisas não são mais como eram. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">11 - Recebo
constantes postagens em que Bolsonaro é taxado de tosco, bronco, analfabeto,
burro, idiota, assim gratuitamente. Ora, será que os autores dessas postagens
são tão inteligentes – ou se julgam tão inteligentes assim - ao ponto de afirmar
que um presidente, eleito com mais de 57 milhões de votos, é bronco e burro?
Como um candidato bronco pôde enganar 57 milhões de pessoas? Será que os
autores de tais postagens estão afirmando, de forma indireta e covarde, que
burros e broncos são os 57 milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">12 - Quem tem o
hábito de chamar o próximo de burro ou bronco revela uma estrutura mental dominada
pelo preconceito contra os broncos e burros – e notem que não sou eu quem diz
isso, mas a psicologia. Geralmente, quem nunca foi nada na vida, ou se sente, mesmo
inconscientemente um derrotado, usa de termos como burro e bronco para
equilibrar a frustração dolorosa que sente por não ter sido nada ou não ter
sido aquilo que desejava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">13 - Bolsonaro é presidente,
mas é bronco e burro. Quem afirma ser Bolsonaro um bronco supõe-se ser inteligente.
Tão inteligente ao ponto de avaliar as ações, as palavras, os gestos de
Bolsonaro como típicas de quem é bronco. Ter recebido 57 milhões de votos é um
detalhe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">14 – Será que essas
pessoas pensam que estão fazendo política ao afirmar que Bolsonaro é bronco e
burro? Dizer que Bolsonaro é bronco não é uma afirmação política, mas uma
distorção de enfoque e uma tolice existencial de quem diz. O que se ganha com
isso? Repetir que Bolsonaro é bronco é renunciar à ideia de analisar a natureza
de sua prática política.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Picaretas
inamovíveis<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">14 - Há ainda
aqueles que dizem que Bolsonaro não sabe fazer política, haja visto o número de
tensões entre o executivo e o legislativo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">15 - Os críticos,
porém, não qualificam essas tensões, ou seja, não investigam sua natureza, o
seu significado e o que elas representam. O problema é que os políticos
brasileiros incrustados no legislativo estão acostumados (ou viciados) à
política de favores, de troca-trocas, de toma lá da cá, que Bolsonaro negou-se,
desde cedo, a praticar. As tensões entre executivo e legislativo nascem
justamente da fricção entre as propostas de venda de apoio (através da compra
de votos, cargos, nomeações) e as recusas sistemáticas do presidente. Chamavam
a isto de governabilidade ou de governo de coalizão, nomes elegantes atribuídos
à indecência. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">16 - Vimos isso
agora, no caso da aprovação do relatório da reforma da previdência. Por falta
de um pacto de compra e venda, sugerido e defendido inclusive pelo presidente
da Câmara, Rodrigo Maia, o relator fez mudanças importantes no projeto enviado
pelo executivo. O relator não só se curvou diante da pressão de setores corporativos,
como excluiu estados e municípios do projeto. Como disse o ministro Paulo
Guedes, o relator virou as costas às futuras gerações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">17 - As mesmas
pessoas que, ontem, condenavam FHC, Lula, Dilma e Temer por distribuírem cargos
e outras benesses a deputados, senadores e partidos em troca de votos e apoios
no Congresso Nacional, são aqueles que, hoje, condenam Bolsonaro por se recusar
a fazer o que fez a gangue dos quatro. Se a reforma da previdência foi
maculada, a responsabilidade cabe aos deputados e partidos, viciados no
fisiologismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Em tempo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Continuo – devemos
todos continuar – no aguardo do pronunciamento das emissoras de TV a respeito
da declaração do advogado do Adélio Bispo, Dr. Zanone de Oliveira, de que ele e
sua equipe são pagos por elas. O silêncio das emissoras é suspeito – e apenas
confirma o que disse o defensor de um notório criminoso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 13.0pt; line-height: 107%; mso-ascii-font-family: Calibri; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-hansi-font-family: Calibri;">Tido como débil mental,
Adélio Bispo foi pago por alguém, que lhe deu 3 celulares, laptop e cartões de crédito
internacionais, o que leva a crer que o assassino, caso conseguisse fugir, ia
para o exterior. Após ser preso, quatro advogados, liderados por Dr. Zanone de Oliveira,
desembarcou em Juiz de Fora, onde chegaram num jatinho fretado. Adélio é um
artista, um matador profissional, que se está passando, e convencendo alguns,
por débil mental. <o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-8133024125848048212019-02-05T12:06:00.002-08:002019-02-05T12:06:40.516-08:00Meus amigos, até breve<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">Depois
de ter escrito um livro sobre um crime de morte ocorrido, em 1952, no Rio de
Janeiro, começo a reunir material para mais um livro. Um livro sobre uma
rebelião popular, que se confundiu com uma tentativa frustrada de golpe militar,
no início do século passado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Hoje,
por exemplo, li duas crônicas de Olavo Bilac sobre o tema – ambas publicadas na
“Gazeta de Notícias”. Conhecido mais como poeta, Bilac foi também um homem de
imprensa, escrevendo crônicas e artigos para vários jornais do Rio de Janeiro e
de São Paulo. Todos os assuntos o interessavam, desde os literários aos políticos,
aos históricos, aos científicos, aos acontecimentos diários da vida. Acompanhou
as transformações urbanas ocorridas na cidade que amou. Em 1893, durante o
governo de Floriano Peixoto, Bilac passou quatro meses nos calabouços da
Fortaleza da Lage, uma ilhota na entrada da Baía da Guanabara. Em setembro
daquele ano, já solto, Bilac apoiou o almirante Custódio de Melo, que liderou uma
rebelião contra Floriano. Bilac foi levado mais uma vez à prisão. Após prestar
esclarecimentos, Bilac foge e homizia-se em Minas Gerais, território não
atingido pelo estado de sítio baixado por Floriano<span style="color: black; mso-themecolor: text1;">. Bilac foi um sujeito extraordinário. Um dos cinco
maiores poetas brasileiros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Bilac
era um cronista clássico, na linha de Rubem Braga, Antônio Maria, Paulo Mendes
Campos. Era um observador, e não só da cidade em que vivia. Não se preocupava
com que a maioria pensava, mas buscava sempre ver os meandros dos
acontecimentos. Deixou-nos uma obra extensa e valiosa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Como
pretendo concluir a pesquisa e o livro até dezembro de 2019, vou me afastar uns
tempos do facebook. Não vou suspender minha página, nem deixar de escrever
quando julgar necessário ou imprescindível. Sei que muita gente gosta do que
escrevo, como sei que muita gente detesta o que ponho na telinha. Não me
importa. Aos primeiros, meus agradecimentos; aos segundos, meu silêncio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Antes,
porém, gostaria de deixar registrado meu ponto-de-vista sobre o momento que
vivemos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Devo
dizer, de início, que considero a mídia social um belo instrumento de troca de
conhecimentos e de informações, embora ele esteja, hoje, dominado pelas
sequelas da divisão político-ideológica que domina a vida brasileira. Uma
divisão que enveredou perigosamente para o campo da irresponsabilidade e do
conflito, insuflando, em muitos casos, o que há de pior no chamado ser humano.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Na
rede social virtual o que domina, hoje, são as mentiras, a disseminação de
boatos, as agressões, os xingos, o mau humor, a torpeza. Ninguém respeita o
direito de opinar e falar do outro. Entra-se no espaço de qualquer um, com a
intenção apenas de ofendê-lo e desmerecê-lo pelo simples fato de que o outro
pensa diferente. Tais invasões nem sempre são acompanhadas de comentários
coerentes, sérios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
grau de ensandecimento que domina o facebook está atingindo a níveis
insuportáveis, e isto me preocupa em particular. Quero dizer com isso que se
avançou celeremente para o desrespeito da lógica, do bom senso e da civilidade,
na suposição de que todos podem falar o que quiser, quando quiser, sem medir a
verdadeira dimensão do que fala. Outro dia li uma postagem tão absurda quanto
irresponsável: dizia o autor que “o Exército brasileiro estava dominado pelas
milícias”, que é, como se sabe, uma organização criminosa. Tal afirmação é
inaceitável por que é uma baita mentira, uma enorme tonteria, uma suposição que
afronta a democracia brasileira. Trata-se, na verdade, de uma provocação torpe
e irresponsável. Como a rede social aceita tudo, a postagem foi lida por
milhares de pessoas, que a transmitiram, que a transmitiram, que a transmitiram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Todos
sabem – e se não sabem estão sabendo agora – que não votei no Bolsonaro. Mas
declarei, desce cedo, que estava curioso. Não escrevi uma só linha atacando o
capitão, mas também não escrevi nada a favor dele. Preferi aguardar, embora um
terceiro amigo meu tenha escrito que estava “decepcionado” comigo. Não
respondi, pois a decepção do meu amigo é, na verdade, prova que estamos vivendo
uma era de equívocos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas
tenho lido as postagens de amigos meus combatendo o governo, inclusive
atribuindo a ele ações e atitudes não praticadas. Tudo isto me levou a uma
certeza: muitos que atacam Bolsonaro são movidos pelo medo de que seu governo
dê certo. E não me digam que estou errado. Muitos temem que o governo Bolsonaro
dê minimamente certo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Eu,
de minha parte, espero que o governo Bolsonaro dê certo, não por causa dele.
Bolsonaro é um homem de direita – e o Velhote do Penedo continua sendo,
penosamente, sofridamente, um homem que acredita no ideal socialista. Quero que
o governo Bolsonaro dê certo por causa dos 13 milhões de desempregados, dos
doentes que morrem nas filas dos hospitais, das crianças e jovens que recebem
uma educação pífia, da falta de infraestrutura – e por aí afora. Se nada mudar
no Brasil, ao cabo dos próximos anos os miseráveis estarão mortos, os
remediados serão miseráveis – e os ricos estarão nas Bahamas, usufruindo as
delícias da vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Se
o governo Bolsonaro der certo, reconheço que perdi a minha guerra ideológica,
mas o grosso da população terá o direito de fazer três refeições por dia, de
dormir sob um teto, de não morrer nos corredores de hospitais infectados. E seus
filhos, ao invés de soldados do tráfico, estarão nas escolas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Meus
amigos, até breve.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-49074601856286362712019-01-29T15:37:00.001-08:002019-01-29T15:37:33.068-08:00O mundo é um vasto hospício - e eu sou um hóspede<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Não
sou engenheiro. Não sou arquiteto. Não sou especialista em meio ambiente. Não
sou, sequer, “especialista em situações de risco” ou “especialista em
gerenciamento de crise”, titulações adotadas por acadêmicos para falar sobre a
tragédia de Brumadinho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sou,
como todos sabem, um observador desencantado da vida – e é nessa condição que
vou dizer o que penso sobre o ocorrido naquela cidade mineira. Antes, porém,
conto uma história.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Juscelino
Kubitschek foi eleito para cumprir um mandato de cinco anos. Na época, não
havia reeleição. JK pretendia construir Brasília no seu primeiro mandato.
Assim, logo que foi empossado, em 31 de janeiro de 1956, o presidente
encaminhou ao Congresso o projeto de lei de construção da nova capital,
definindo prazos, custos, fontes de financiamento. Antes de virar lei, o projeto
rodou no Congresso durante dois anos, o que significa que Brasília foi
construída (precariamente) e inaugurada (com pompa) nos três anos finais do
mandato presidencial. JK temia que o seu sucessor reduzisse a velocidade da
obra ou simplesmente a paralisasse, como prometia Jânio Quadros, que, a partir
de 1961, viria a ser seu substituto no cargo. JQ odiava Brasília (e desprezava
JK, diga-se), a respeito da qual usava os mais variados impropérios e xingos,
entre os quais um que usou ao renunciar: “cidade maldita”. JK concluiu que era
preciso correr – e criar o chamado fato consumado, diante do qual nada poderia
ser feito. Estive em Brasília em 1959 – e fiquei impressionado com duas coisas:
a poeira e o fato de que a cidade não dormia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Resido
em Brasília há 39 anos – e quando aqui cheguei a cidade tinha 19 anos e não era
nem sombra do que é hoje. A Asa Norte, bairro onde moro, tinha pouquíssimas
construções. Residi numa quadra, a 316, que era um verdadeiro pântano nos meses
de chuva e um Saara nos meses de seca. Brasília, que tinha sido inaugurada em
1961 era ainda uma cidade inacabada, pois suas obras não eram mais tocadas no
ritmo dos tempos de JK. Eu vinha do Rio e de São Paulo (onde morei oito anos) –
e, em tais condições, achei Brasília um horror: passei dez anos para me
acostumar com a vida na capital brasileira. Hoje, vivo bem em Brasília, apesar
de que, se eu pudesse, estaria vivendo no Penedo, cidade alagoana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
construção apressada de Brasília e a falta de manutenção ao longo do tempo criaram
enormes problemas, que hoje, 2019, estão pondo a cabeça de fora. Obras feitas
de supetão é a melhor forma de vê-las se deteriorar no curto e médio prazos.
Vimos recentemente uma ponte do Eixo principal de Brasília desabar devido a
defeitos de construção, falta de gestão e conservação e fluxo excessivo de
veículos. Há quem diga que outros problemas existem em muitos outros trechos do
Eixo. Será? Saberemos quando houver outros desabamentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Brasília
foi construída sob a égide de alguns equívocos políticos, um deles foi a
rapidez, ditada por um jogo político mesquinho: JK queria se candidatar
novamente em 1965 e Brasília seria o seu porta-estandarte eleitoral. Outro foi
o projeto fundado em preceitos ideológicos. A Praça dos Três Poderes é um bom
exemplo. Inspirada na Praça Vermelha (Moscou) e na Praça da Paz Celestial
(Pequim), a Praça dos Três Poderes é um imenso quadrilátero de cimento e pedra,
sem uma só árvore, sem uma só sombra, onde ninguém pode ir sem ter a impressão
de estar num forno micro-onda. Não nego a beleza arquitetônica de Brasília, mas
discuto muito a funcionalidade da cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pensava-se
que Brasília, no auge, teria uma população máxima de 450 mil habitantes; hoje,
porém, ela tem mais de 2 milhões. Se Brasília foi construída para ter uma
população cinco vezes menor que a atual, conclui-se que a cidade está subdimensionada
em ruas (extensão e largura), praças, avenidas, estacionamentos, espaços
públicos. Brasília, 58 anos após ter sido inaugurada, possui graves problemas
de trânsito. Na cidade circulam mais de 1,5 milhão de carros, afora ônibus,
caminhões e motocicletas. Há engarrafamentos absurdos, que seriam piores não
fosse suas largas avenidas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">As
duas represas de rejeitos – a de Mariana e a de Brumadinho – não estouraram
porque, em si, são inadequadas. Podem até ser, mas não é implausível pensar que
ambas foram afetadas pela má construção e a absoluta ausência de gestão e
manutenção. Só em Minas, dizem, há mais 450 barragens iguais às de Mariana e Brumadinho.
São 450 bombas-relógio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Bombas-relógio
não faltam no Brasil. No Rio de Janeiro, a ciclovia Tim Maia desabou devido a
um projeto muito mal feito, que não levou em conta o movimento das marés, o que
seria óbvio em vista da localização da obra. Houve também má construção, uso de
material de segunda, ausência de manutenção. Tudo porque o prefeito Eduardo
Paes estava sôfrego em fazer e inaugurar a obra em tempo recorde. Político vive
disse.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
São Paulo, dois viadutos, num prazo de três meses, sofreram desnivelamento,
interrompendo o fluxo do trânsito e alertando para os perigos da vida urbana na
Capital paulista. O problema dos dois viadutos é coincidente: a pista cedeu,
provocando degraus de dois metros, pois as vigas de sustentação tinham defeitos
sérios.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Vamos
ver quais as consequências do acidente em Brumadinho. Um sujeito do Psol pediu
a reestatização da Vale, outros pediu o seu fechamento. São dois gaiatos: a
Vale tem cem mil trabalhadores e é a principal responsável pela exportação de
ferro, segundo produto da pauta brasileira de vendas externas. Tudo pode e deve
ser feito para que episódios como este não ocorram, mas deve-se evitar a
estupidez e loucuras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Acidentes
como esses de Brumadinho e Mariana não são uma exclusividade brasileira. Eles
já ocorreram na Espanha, na Romênia, nos Estados Unidos e no Canadá, para citar
alguns países apenas. No Canadá, em 2004, na província da Colúmbia Britânica, uma
barragem contendo rejeitos tóxicos da extração de cobre e ouro rompeu-se,
despejando milhões de metros cúbicos de lama contaminada. Foi o maior desastre
ambiental da história da mineração no Canadá. O rejeito transbordou o Lago
Polley, avançou pelo rio Hazeltine e atingiu o lago Quesnel. Terra, sistemas
hídricos e habitats de reprodução de salmão foram destruídos. O povo Secwepemc,
em cujo território a mina está localizada, perdeu terras e seus meios
tradicionais de sustentação, que estavam integralmente associados às suas
terras. Ocorrido em 2004, os danos causados pela mina Mount Polley, ainda estão
presentes na vida da região.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
avanço da economia mundial, a necessidade que os países têm de produzir tudo
cada vez em maior quantidade, o afã do consumo em escala planetária – vem
levando o planeta a desastres semelhantes a cada dia, com maior frequência e
dimensão. Discursos ecológicos e discursos anticonsumistas não levam a nada,
pois quem irá convencer os bilhões de seres humanos que querem possuir bens e consumir
adoidado, dependendo da riqueza mineral do planeta? Escrevo textos como esse,
mas juro que não conheço nem sei responder as questões que formulei. Como disse
no início do texto, sou apenas um sujeito desencantado da vida, que ao pensar
nos problemas da nossa época é dominado pela velha depressão suicida. <o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-64637214196133471522019-01-20T18:00:00.000-08:002019-01-21T01:27:28.348-08:00Não há incompatibilidade entre teoria evolucionista e crença religiosa<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">A
mim me parece que a mídia e o meio acadêmico elegeram a ministra Damares Regina
Alves como o elo fraco do governo, a ser combatido sem descanso. Vejo
jornalistas e acadêmicos deitarem sapiência a partir de frases da ministra,
como se eles fossem a cume do saber filosófico – ou, como diz o neto do Velhote
do Penedo, os “reis da cocada preta”. Muitos acadêmicos e muitos jornalistas gostam
de palpitar sobre o que não sabem ou sabem superficialmente. Alguns deles eu
conheço pessoalmente, e manjo como eles agem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
Brasil não tem uma oposição política capaz de propor e debater alternativas às
políticas governamentais. Dias atrás, li, com espanto, um artigo de um
economista cujo título diz tudo: “A burrice no poder”. O economista, que se
assume como importante intelectual, adotou a categoria “burrice” para explicar
a visão dos outros, dos inimigos, dos adversários, dos que não pensam como ele,
pois a dele seria enquadrada (e o foi, por ele mesmo, claro) na categoria
“inteligência”. Na opinião do economista, políticas não concatenadas à esquerda
não funcionam – e, com um exemplo, pontifica: “austeridade é burrice”.
Inteligência, segundo o economista, seria o esbanjamento, a gastança, o
déficit. Segundo ele, é disso que o capitalismo gosta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">É
assim que a chamada esquerda brasileira vê aqueles que eles enquadram no campo
da direita. Esquerda seria sinônimo de inteligência; direita, de burrice. Assim
caminha a humanidade, assim o mundo se explica, assim a esquerda brasileira
será engolida por Bolsonaro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Li,
hoje, uma postagem no Facebook em que o redator fala do suposto despreparo do
Bolsonaro (usou, inclusive, a palavra “burrice”), lamentando, de antemão, o
papel ridículo que ele fará em Davos. Bobagem. Nenhum chefe de governo vai a
uma reunião dessas sem um corpo de assessores que o oriente e, inclusive,
escreva seus depoimentos. Aliás, o principal desse tipo de reunião ocorre nos
bastidores, onde ministros e assessores debatem e fazem os seus acertos.
Acordos nascem sempre em tais ambientes fechados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Creio
que os partidos, jornalistas e acadêmicos que se apresentam como de esquerda
foram surpreendidos com a vitória de Bolsonaro, mas, por pura arrogância, não
admitem isso – e transformaram em ódio a sua frustração política. Foram a nocaute
– e não sabem o que fazer, a não ser debater picuinhas, miudezas – e, vemos
agora, lançar sobre os vencedores o epíteto de “burros” com a autoridade
própria dos “inteligentes”. Soube hoje que a modelo Giselle Bündchen, que
certamente jamais leu um livro, acusou o atual governo de pregar e estimular o
desmatamento. A brasileirada que se apresenta como donatária das questões
ambientais ganhou, enfim, uma líder – com a vantagem de ser bonita, rica,
sensual e viver nas doçuras europeias. O Velhote do Penedo lamenta apenas que,
na era PT, época em que foram desmatados quase 300 mil quilômetros quadrados, a
ambientalista Bündchen tenha mantido um silêncio ensurdecedor sobre o assunto. Percebam
o seguinte: os 300 mil quilômetros quadrados desmatados na era PT equivalem às
áreas somadas dos estados do Paraná (199 mil) e Santa Catarina (95 mil). Onde
estavam os ambientalistas e os sustentabilistas enquanto tal monstruosidade
ocorria? Onde estão os ambientalistas e os sustentabilistas que não denunciam a
destruição do baixo Rio São Francisco, agravada com as obras insanas da
transposição? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
mais de 13 anos no poder, o PT não levou a cabo nenhum grande projeto, a não
ser aqueles sustentados em estatísticas manipuladas por economistas partidários
e nas mágicas dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, os quais estão,
desde março de 2017, cumprindo pena de prisão domiciliar. O PT sequer fez a
reforma agrária, projeto que esteve sempre na linha de frente do discurso
petista. Os sem-terra que no início do governo Lula estavam acampados à beira de
estradas, continuam por lá, à míngua. Mas o tiro de misericórdia que matou o
PT, no entanto, foi o lodaçal de corrução no qual se atolou – e afundou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
última carga contra a ministra Damares teve como mote algo que ela disse em
2003 ou 2013 sobre a teoria evolucionista ter chegado às escolas. Notem: uma
frase tola, sem profundidade, que não significa nada, mas que deu pretexto a
uma enxurrada de tolices e infantilidades. Uma frase que, por sua
desimportância, não mereceria crítica ou comentário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">As
convicções religiosas da ministra são pessoais – e ela, aceitemos ou não, tem o
direito de ser católica, protestante, budista, vascaína, umbandista, vegetariana,
vegana, fumante, pastora e ministra. O que se espera da ministra é que ela seja
eficiente em assuntos da mulher, família e direitos humanos, que são, estes
sim, os objetivos da pasta que lhe cabe gestar. Otto Maria Carpeaux, Alceu
Amoroso Lima (Tristão de Athayde), Hélio Silva, extraordinários intelectuais,
eram religiosos e criam em Deus – e seria estupidez negar qualidade e mérito em
seus livros e opiniões.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
próprio Charles Darwin reconheceu que religião e evolucionismo não se
misturavam e, mais ainda, não se excluíam. Vejam o que ele escreveu em “A
origem das espécies”: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">“Quanto aos meus
sentimentos religiosos, acerca dos quais tantas vezes me têm perguntado,
considero-o como assunto que a ninguém possa interessar senão a mim mesmo.
Posso adiantar, porém, que não me parece haver qualquer incompatibilidade entre
a aceitação da teoria evolucionista e a crença em Deus”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Darwin
jamais opôs ou conciliou seus estudos científicos à religião que professava. Jamais
fez proselitismo político ou científico – nem procurou explicar a evolução
natural como produto da engenhosidade de Deus, que teria dado à natureza
“poderes” de evoluir e se transformar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
Velhote do Penedo conheceu e conviveu com inúmeros cientistas das áreas
naturais, biológicas, físicas e químicas, que jamais negaram a existência de
Deus e da importância da religião na vida das pessoas. Não são poucos os
cientistas e filósofos da antiguidade ou clássicos que jamais esconderam a sua
religiosidade. Descartes e Galileu eram cristãos confessos. Max Planck, físico
alemão, pai da física quântica e ganhador do Prêmio Nobel de 1928, foi
taxativo:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">“Para onde quer
que se dilate o nosso olhar, em parte alguma vemos contradição entre Ciências
Naturais e Religião; antes, encontramos plena convergência nos pontos
decisivos”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Karl
Marx, ao afirmar que a “religião é o ópio do povo”, não estava rotulando a
religião como mecanismo de dominação ideológica ou instrumento de subordinação
política. Os partidos comunistas adotaram o materialismo – ou o ateísmo – como
única linha filosófica articulada ao marxismo. Em alguns momentos, inclusive,
foram perseguidos e punidos os comunistas e simpatizantes que não se assumissem
ateus. O obscurantismo e a intransigência ideológica eram traços marcantes dos
partidos comunistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Marx
chegou a dizer que a religião era “uma realização fantástica da essência
humana”, pois se tornara a razão geral de consolo e justificação face um mundo
cruel, “um mundo sem coração, pelo espírito de uma época sem espírito, pela
miséria real”. A religião não seria, portanto, um mecanismo de alienação
humana, oposta ao marxismo, mas um refúgio humano contra as mazelas da vida. “A
angústia religiosa”, acentuou Marx, “é ao mesmo tempo a expressão da dor real e
o protesto contra ela. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração
de um mundo sem coração, tal como o é o espírito de uma situação sem espírito”.
A comparação da religião com o ópio e a visão de que a religião incapacita o
homem a enfrentar a realidade é equivocada, típica de um compreensão torta do
fenômeno social. Quando se lê Marx, aprende-se muita coisa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
comparação da religião com o ópio já aparece em escritos de Immanuel Kant,
Johann Herder, Ludwig Feuerbach, Bruno Bauer, Heinrich Heine. Este último, em
1840, no seu ensaio sobre Ludwig Börne, observou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; margin-left: 1.0cm; margin-right: 0cm; margin-top: 0cm; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">“Bendita seja a
religião, que derrama no amargo cálice da humanidade sofredora algumas doces e
soporíferas de ópio espiritual, algumas gotas de amor, fé e esperança”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Se
a religião, tomada como uma compreensão imutável da vida, bloqueou durante
séculos o avanço do conhecimento, não se pode esquecer, ou deixar de lado, a
intransigência dos heréticos comunistas, como bem lembrou A. da Silva Mello, em
“Religião: prós e contras”, cujos métodos e propaganda “é uma repetição do que
ocorreu em épocas de intolerância religiosa”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Enfim,
a teoria da evolução chegou às escolas, disse Damares, e isto é verdadeiro.
Perfeito. Mas o Velhote do Penedo se sente no direito de perguntar: era
necessário, em contrapartida, expulsar o ensino e o debate religioso do nosso
convívio?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Por que não introduzir o
ensino e o debate religioso, de modo a entendermos a religião como um protesto
e uma forma de refúgio contra a miséria real em que o homem vive? <o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-83800802683912049082019-01-09T09:05:00.000-08:002019-01-09T09:38:20.532-08:00O Velhote, aos pedaços<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">1
- Tenho um amigo que não aceita o fato de viver num país capitalista. Busca compensações,
pois supõe equivocadamente que privilégios de corporações garantidos ou
subvencionados pelo Estado benevolente, muitas vezes concedidas por governos
populistas, são conquistas “do povo unido”, aquela velha história do lento
passo da formiguinha rumo ao glorioso mundo do socialismo. Meu amigo ainda
acredita nisso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Meu
amigo não entende que certas conquistas são privilégios porque não são
generalizáveis, mas restritos a uma parcela minoritária da sociedade. Não são
conquistas ou direitos de todos; são privilégios de alguns, de algumas
corporações. Em síntese: direito é direito, mas alguns direitos são privilégios
corporativos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">2
- Convivi ao longo de minha vida com muita gente de esquerda, de variáveis idades, graus de instrução, tendências, organizações. Com alguns deles, lutei
contra a ditadura. Com alguns deles, fui punido pela ditadura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">3
- A nossa luta era uma luta impossível de ser vencida, embora não tivéssemos
consciência disso. Enfrentamos a ditadura de peito aberto, talvez porque não
nos restasse outro caminho ou outra maneira de lutar. Não tínhamos como entrar
na vida política (como a entendemos hoje), os canais possíveis estavam
inteiramente bloqueados. Partidos, sindicatos e organizações estudantis ou
estavam sob intervenção ou estavam fechados – e os que estavam abertos viviam
no colo da ditadura. Só havia dois partidos: um, a Arena, de apoio aos
militares; outro, o MDB, de oposição consentida. Só quem viveu naquele tempo
sabe o que é isso. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">4
- Há anos, durante um papo, o meu amigo marxista-leninista defendeu Stalin – e,
por consequência, de forma indireta, os crimes cometidos pelo “guia genial dos
povos” –, sob a alegação de que a URSS estava cercada, tinha o socialismo a
construir e a história por fazer. Se isto implicasse, como implicou, na morte
de milhões de pessoas, os resultados se justificavam por si mesmos. Meu amigo
duvidava dos números que apresentavam Stalin como um genocida. Segundo ele, era
uma campanha patrocinada pelo imperialismo, cujo objetivo final era a
desmoralização do socialismo e do grande líder.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">5
- Os argumentos do meu amigo eram insustentáveis, mas sempre houve gente que a
pretexto de defender um ideal generoso (na sua origem), não estava nem aí para
os crimes cometidos em nome desse mesmo ideal ou da sua deturpação. (Não vou
discutir a questão agora, mas o stalinismo só foi possível porque antes dele
houve o leninismo, que cravou as bases do totalitarismo soviético).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">6
- Na faculdade, namorei uma jovem filha de um ricaço e de uma dondoca deformada
pelas inúmeras plásticas que fizera no rosto, nos braços, nos peitos, na bunda.
Minha namorada me contou que o pai tinha uma amante, a quem deu um apartamento
na Barra e onde eles se encontravam. Disse também que a mãe trepava com um
garotão, um fanchono dos bares de Copacabana, que arrancava uma grana preta da
velha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">7
- Minha namorada morava no Leblon. Um apartamento enorme, de dois andares. O
quarto de minha namorada lembrava uma butique, tantos eram os echarpes,
sapatos, calças, vestidos, joias, calcinhas e sutiãs que ela possuía. Na
faculdade, andava sempre de calças jeans desbotadas, sandálias e blusinhas
básicas. Não usava pintura. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">8
– Era (ou dizia-se) do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão. Minha namorada
nunca leu um só livro dos clássicos do marxista: tentei fazê-la ler, para
início de conversa, “Teoria do desenvolvimento capitalista”, de Paul M. Sweezy,
um sujeito brilhante, diretor da Monthly Review, onde também despontavam Leo
Huberman, C. Wright Mills, Tom Bottomore, entre outros. Minha namorada não só
não leu o livro, como perdeu o meu exemplar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">9
- Um dia, depois de alguns drinques e sexo, minha namorada confessou-me que
sentia profundo sentimento de culpa ao ver e pensar na miséria do povo
brasileiro – ela, que tinha tudo em quantidades superlativas. Tal sentimento de
culpa perante a miséria dos outros é mais generalizado no meio da nossa chamada
esquerda do que se possa imaginar. E explica muita coisa, como a ação
irracional de parte da esquerda brasileira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">10
- Volto ao meu amigo marxista-leninista. Gosto dele. Trata-se de um excelente
professor de sociologia, muito bem visto pelos alunos. Escreveu alguns livros.
Não suporta o capitalismo. Não se conforma viver num país onde prevalece o
mercado, o lucro e – nojo supremo – a exploração do homem pelo homem. Ou seja:
tudo aquilo que garante o crescimento da China.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
Velhote do Penedo viveu também o mesmo drama e angústia do seu amigo professor
de sociologia. Com a idade, porém, e com os percalços vividos nos últimos
trinta anos pelo ideal socialista, o Velhote aprendeu que não devia mais se
autoinfringir com um tipo de dor para o qual não há solução. Ou seja, sem
abandonar o ideal (abstrato), o Velhote passou a compreender que viver numa
sociedade capitalista implica, obviamente, na convivência com as práticas
capitalistas – e que o apelo à intervenção estatal não significa
necessariamente prática socialista ou de esquerda, mas forma e instrumento de
gestão de privilégios. Não vou sofrer com a existência do lucro na sociedade em
que vivo, pois o lucro é inerente à sociedade em que nasci e devo morrer. Isto
não é aceitar o lucro (como um valor absoluto) nem possuir uma visão resignada
do mundo, mas compreender que não é possível negar o óbvio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quero
deixar claro que capitalismo é capitalismo, lucro é lucro, mercado é mercado.
Outro amigo meu admite o liberalismo, mas despreza o neoliberalismo, o que no
fundo é uma tolice ou, melhor, uma forma consciente ou inconsciente de aceitar
a exploração capitalista “dentro de certos limites”. Não há meio capitalismo,
como não há meio lucro ou meio mercado. Mas a China nos ensina que há meio
socialismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">11
- Na época em que o Velhote era estudante, e sonhava em derrubar na marra a
ditadura cruel que nos oprimia, o discurso anticorrupção era vista com extremo
desprezo, era sinônimo de “lacerdismo”, prática de ação política do político
Carlos Lacerda. Repetia-se à exaustão que a corrupção era inerente ao modo de
produção capitalista. De outra maneira: o capitalismo, para sobreviver, impunha
a corrupção que era uma forma de entorpecer a atrair pessoas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">12
- Portanto, o fundamental, segundo a nossa catatonia infanto-juvenil, era lutar
contra o capitalismo, o mal de todos os males, o gerador de todas as porcarias,
inclusive a corrupção. Com o socialismo, a corrupção desapareceria. Era o que
nós pensávamos na época. Hoje, sabemos que a corrupção na estrutura de poder da
URSS – e nas entranhas dos países socialistas do Leste europeu – era, no
mínimo, da mesma grandeza que a corrupção nos países capitalistas. Pensávamos
que lutar e denunciar a corrupção era coisa de “pequeno burguês alienado”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">13
- O Velhote do Penedo considera a luta contra a corrupção uma prática sob
certas circunstâncias progressista, um esforço constante de exercício ético, um
luta pela cidadania e respeito pelos outros. Corrupção é crime que equivale à
tortura – esta é a opinião do Velhote, cujo amigo, professor de sociologia,
discorda; para ele, denunciar a corrupção é coisa de pequeno burguês moralista.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">14
- Tudo se conserta na vida, menos a natureza do homem. Freud observou, num
ensaio trágico, que todos nós temos um instinto de morte, o desejo e o medo de
morrer, e que esses dois sentimentos nos aterrorizam, o que nos faz
convertê-los em agressão ao próximo. Uma inversão paranoica do medo da morte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Alguns
freudianos rejeitaram essa concepção, mas até marxistas (do período
esperançoso), como Rosa Luxemburgo, perceberam isso, mas à maneira deles. Rosa,
por exemplo, afirmou que a alternativa ao socialismo era a barbárie. Os marxistas
(de todos os tons que conheço) sofrem até hoje com a derrocada do socialismo
mundial, principalmente porque, consciente ou inconscientemente, não sabem o
que fazer. Muitos viveram grande parte de sua vida embalados na esperança do
socialismo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">15
- Disse antes que no íntimo mais profundo do ser humano a ideia da morte é a
fonte de seu sofrimento inconsciente e explica muitas das suas reações
irracionais. O que torna a nossa vida razoavelmente suportável, disse
Baudrillard, é o esquecimento da morte. O sociólogo francês sacou que seria
insuportável viver com a ideia de que vamos morrer a martelar permanentemente a
nossa cabeça. Nelson Rodrigues, que certamente não conhecia Baudrillard, foi
mais direto: somos perecíveis, mas esquecemos que somos perecíveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">É
esta sensação de que somos perecíveis, somada à derrocada de nossos ideais de
vida, que nos empurra gloriosamente à inquieta consciência de que viver é um
absurdo, pois lutamos por coisas que acreditamos sem que tenhamos chance alguma
de usufruir delas. Meu amigo marxista-leninista sofre porque o socialismo
acabou. Sofre porque jamais viverá num país socialista. Sofre porque não aceita
viver num país capitalista, sabendo, ainda por cima, de que o socialismo
acabou. “Se Deus não existe, tudo é permitido”, escreveu Dostoiévski em “Irmãos
Karamazov”. Se o socialismo acabou, nada mais resta na vida, diria o meu amigo
marxista-leninista.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">16
- Entendo, claro, o que nos empurrou em direção ao nada: nossa incapacidade de
sobreviver sem crenças, mitos e paixões. Alguns seguem os caminhos da
religiosidade, outros da crença em líderes messiânicos ou em ideais. Não foi
por outro motivo que Albert Camus, em “O mito de Sísifo”, assinalou que “só
existe um problema filosófico realmente sério: o suicídio”. Mas esta é outra
história.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-3216532541265673512018-12-23T14:23:00.001-08:002018-12-23T14:23:30.434-08:00O futuro de PT e a oposição brasileira<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">Não creio
que o PT, como partido, tenha futuro: ou ele definha de vez, como uma batata podre, ou se
transforma num partidozinho suburbano. O destino do PT, a meu ver, é ficar
repetindo o “Lula livre”, grito monocórdio que não tem significado político
nenhum – e que um dia será esquecido por sua inutilidade. Amigos meus, de
esquerda, acham que Lula está no lugar certo, mas isto eles não dizem de
público.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Lula é um criminoso
e, por isso, foi condenado. Ficará na cadeia pelo resto dos seus dias. Um
epílogo amargo de um sujeito que tinha tudo para ser um líder cultuado, um
líder da dimensão de Mandela, Lumumba e Ben Bella, que lutaram pela liberdade e
democracia em seus países. Lula, ao contrário dos três líderes africanos
citados, deixou-se tragar pelo que há de pior na vida pública. Diante de tantos
grandes exemplos políticos, Lula preferiu aproximar-se de Maduro, Obiang e
Gaddafi. Tornou-se um deles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mandela,
atuando como estadista, saiu da cadeia com a missão de conciliar o país,
reduzindo a quase nada o grau de antagonismo entre grupos étnicos e classes na
África do Sul. Sepultou de vez o apartheid. Lula, como chefe de uma organização
criminosa, tornou-se um dos homens mais ricos do país, mas na cadeia não terá
como usufruir a grana que tungou em conluio com outros políticos, grandes
empreiteiras e ditadores africanos e sul-americanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Na época
em que o Velhote era um estudante idealista, que sonhava em derrubar a ditadura
cruel que nos oprimia, o discurso anticorrupção era vista com extremo desprezo.
O Velhote, repetindo o discurso de esquerda da época, considerava que a
corrupção era inerente ao modo de produção capitalista, logo lutar contra a
corrupção era uma estratégia diversionista. O fundamental, segundo nossa
vesguice, era lutar contra o capitalismo, o mal de todos os males. Com o
socialismo, a corrupção desapareceria. Era o que nós pensávamos na época. Hoje,
sabemos que a corrupção na URSS e nos países socialistas do Leste europeu – era
superior à corrupção nos países capitalistas. Pensávamos que lutar e denunciar
a corrupção era coisa de “pequeno burguês alienado”. Hoje, o Velhote do Penedo
considera a luta contra a corrupção uma prática política necessária e correta,
um esforço constante de exercício ético.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O combate
à corrupção, <i style="mso-bidi-font-style: normal;">et pour cause</i>, não faz
mais parte do discurso petista. No poder, o PT uniu-se ao que há de pior na
política brasileira, meteu-se em conchavos com o empresariado, não fez reforma
agrária, não fez reforma previdenciária, não fez reforma política – ou seja,
jogou no lixo todas as suas propostas históricas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quando
vejo a Gleisi, o Lindenberg, a Maria do Rosário, o Suplicy, a Benedita repetindo,
aos berros, o “Lula livre” compreendo as causas profundas do nosso atraso político.
Os citados – e não só os citados, mas acadêmicos, jornalistas, artistas –
assumiram o monopólio do discurso de esquerda, sem perceber, como disse Anthony
Giddens, que não há, hoje, como traçar linhas divisórias fáceis entre o
marxismo e a teoria social burguesa. “Sejam quais forem as diferenças que possam
existir, um e outra partilham certas deficiências comuns derivadas do contexto
de sua formação; acho que, hoje, ninguém pode se manter fiel ao espírito de
Marx ficando preso à letra das obras de Marx”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Esta, para
mim, é uma questão vital: não é possível ler as obras de Marx e buscar,
diretamente nelas, explicações para o que sucede nos dias atuais. Quando Karl
Marx e F. Engels escreveram, no Manifesto, que “a história de todas as
sociedades existentes até hoje é a história das lutas de classe” estavam se
referindo um conceito genérico, universal, nem sempre aplicável em todas as
sociedades, em todos os tempos. A sociedade capitalista, hoje, é um emaranhado,
uma complexidade de classes sociais, estamentos, grupos sociais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No
Manifesto, Marx e Engels afirmaram: “homem livre e escravo, patrício e plebeu,
senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em resumo, opressores
e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora
franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre ou por uma transformação
revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em
conflito”. Como se percebe, o conceito de luta de classes de Marx e Engels era,
antes de tudo, um paradigma, mediante o qual, falando de coisas evidentes, eles
utilizavam como referência à cadeia de relações de dominação e oposição entre
classes sociais e estamentos. É preciso destacar que “escravos” não formavam
sociologicamente uma classe social. Mestre de corporação, segundo esclareceu o
próprio F. Engels em 1888, era um membro da guilda, o chefe interno, o gerente,
uma espécie de mestre de obra - e não seu dirigente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Escrevi o
presente texto com um objetivo específico. Precisamos construir um discurso de
oposição ao governo que vem aí. Os partidos que se apresentam como de oposição
têm uma visão tacanha, reducionista e, sobretudo, desfocada da realidade. Não
se pode contar com eles.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Outro dia,
num debate, um grupo de moços e moças gritava loas ao PCdoB e “aos jovens do
Araguaia”. Quando a história da guerrilha do Araguaia for escrita, todos
compreenderão que o movimento, conforme mostra Hugo Studart em “A lei da selva”
e, principalmente, em “Borboletas e lobisomens”, foi uma soma de tragédias,
heroísmos, equívocos e covardias. Jovens, cuja idade média era de, vinte e poucos
anos, abandonaram suas famílias e cidades – e embrenharam-se nas matas do
Araguaia (onde nunca tinham ido antes) na doce ilusão de que iriam sublevar o
povo da região, enfrentar e derrotar tropas militares equipadas e treinadas,
tal qual fizera o companheiro Mao durante a Grande Marcha, na China. Lideranças
do PCdoB, com exceção de Maurício Grabois (cego e doente, morto em combate), que
estavam por lá deram no pé quando os primeiros tiros foram dados. Nos confortos
das cidades, alguns escreveram sobre a guerrilha, pondo nas alturas o partido. Como
dizia meu avô, “pimenta no rabicó dos outros é doce de mangaba”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O Brasil –
este país enlouquecido - precisa construir uma oposição séria, consistente. O
“Lula livre” é uma piada e, além disso, evidencia a carência política e
ideológico dos partidos e políticos de oposição. Imaginar que Gleisi é a nossa
Dolores Ibárruri é achincalhar a consciência brasileira. A oposição deve ser
montada através da ação espontânea de gente interessada. Não sei como se dará
isto, mas se ficarmos na comodidade aguardando algo de útil do PT, do PCdoB, do
Psol e do PDT, estamos fritos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Às vezes
chego a pensar que este é o nosso destino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">**********<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
tempo: a todos que leem os meus textos, desejo um feliz Natal e um próspero Ano
Novo. Sobretudo, espero que em 2019, o mundo e o Brasil comecem a entrar nos
eixos. Até lá.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-35794888223030117602018-12-07T16:17:00.003-08:002018-12-07T16:17:48.168-08:00O STF é uma vergonha<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Os
membros da Suprema Corte dos Estados Unidos mantêm, até por tradição e
história, um distanciamento formal das questões políticas. Ao contrário do que
acontece no Brasil, eles não legislam através de decisões jurídicas, eles não se
expõem diante de auditórios, não dão entrevistas, não questionam decisões do
executivo e do legislativa. Não lutam por aumentos de salários: afinal, não são
sindicalistas da causa própria. Ninguém ouve falar dos membros da Suprema Corte
dos EUA, que mantêm discrição e recato. Fazem apenas o que a Constituição pede
e exige. A Constituição dos Estados Unidos é curta, possui apenas sete artigos,
cada um deles divididos em Seções. Não é como a Constituição brasileira, que
regulamenta, inclusive, a doação de sangue.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No
Brasil, grande parte dos ministros do STF sofrem de compulsão expositiva:
diante de um microfone sentem-se no direito de falar e emitir juízos sobre
todos os assuntos, indo além de suas atribuições e intrometendo-se, inclusive
nas esferas de atuação dos demais poderes. Sentem-se como reizinhos e, como
tal, desprezam o povo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Agora
mesmo, o ministro Lewandowski vê-se no centro de um arranca-rabo com o advogado
Cristiano Caiado Acioli, cujo crime foi o de, num voo entre São Paulo e
Brasília, falar o que todos sabemos: “o STF é uma vergonha”. O advogado
dirigiu-se educadamente ao ministro, que, por sua vez deu-lhe voz de prisão. Lewandowski
justificou sua injustificável atitude da seguinte forma: “Presenciei uma
injúria ao Supremo, e, como membro da Corte, entendi que tinha o dever de
proteger a instituição e contatar a autoridade policial, para que, se ocorreu
algum descumprimento da lei, haja responsabilização”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Pois
é. Um ministro que solta o José Dirceu, que autoriza que um preso comum, Lula,
dê uma entrevista política, que desobedece a constituição e permite que Dilma
mantenha seus direitos políticos, que vota sempre em favor da organização
criminosa que assaltou o poder e transformou o Estado numa espécie de charco,
um ministro que tem o descaro de abonar a corrupção, sente-se injuriado quando
um cidadão lhe diz que “o STF é uma vergonha”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Diante
disso, uma organização desmoralizada como a Ordem dos Advogados do Brasil se
omite diante da truculência de Lewandowski. Um punhado de advogados, entre os
quais os que manejam as leis em defesa dos criminosos da Lava Jato, lançam uma
carta aprovando o ato de força do ministro. O Velhote do Penedo é de um tempo
em que, na aplicação das leis, pontificavam Vitor Nunes Leal, Evandro Lins e
Silva, Sobral Pinto, entre tantos outros, e, não, os morubixabas que
saracoteiam nos tribunais, sempre em defesa do que há de pior na nossa
sociedade e na vida política brasileira. Nunes Leal, Lins e Silva e Sobral viam
nas leis um fim em si mesmo; o tartamudos, por outro lado, só pensam naquilo,
no tilintar as trinta moedas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
Supremo Tribunal Federal sofre uma poderosa crise de credibilidade. Poucos
amigos meus falam do STF com respeito: o descrédito da instituição é um
pesadelo num país onde roubar é uma virtude. Claro, há sempre as exceções, mas
estas pouco podem fazer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
advogado Cristiano Caiado Acioli falou pelo povo brasileiro: o STF é uma
vergonha. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-61350984928534568092018-12-01T13:10:00.002-08:002018-12-01T13:10:41.358-08:00Das malas de um ditador<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">Um
país como o nosso não merece um Supremo Tribunal Federal como esse que nós
temos. Estou ouvindo agora o voto do decano, uma figura que a todo voto que
proclama, destila o chamado falso saber, repleto de citações, no melhor estilo
Marques de Maricá e Conselheiro Acácio. E a Weber? E o Lev? E o Totó? E o Gigi? E o Marquinho? O Brasil me exaure. Não preciso dizer mais nada. É preciso mudar de assunto,
pois o STF é contaminante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No
dia 14 de setembro de 2018, em meio à campanha eleitoral no Brasil, esteve
entre nós Teodorin Obiang, filho do ditador Teodoro Obiang, da Guiné
Equatorial. Em princípio, nada demais: o Brasil mantém relações diplomáticas e
comerciais com o país africano - e Teodorin Obiang, além de laços de parentesco
com o ditador, é também vice-presidente da Guiné Equatorial e será sucessor do
pai. Durante os governos petistas, a Guiné foi país muito próximo ao Brasil, ao
ponto de o presidente Lula ter servido de ponte entre empresas brasileiras e o
ditador Obiang, do qual resultaram obras públicas, superfaturamentos e
propinas. Mas isto é outra história.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Teodorin
Obiang, ao desembarcar no Brasil, foi flagrado com duas malas altamente
suspeitas: numa delas estavam guardados 1,4 milhões de dólares e na outra,
vários relógios de luxo, cujo valor superavam os 500 mil dólares. As duas malas
foram confiscadas – e Obiang permaneceu apenas dois dias no Brasil, pois tinha
um compromisso em Singapura. Ninguém vai me convencer que o Rio de Janeiro era
uma conexão entre Malabo (capital da Guiné) e Singapura. O ditador filho veio
ao Brasil por algum motivo, certamente inconfessável.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
história toda, portanto, é bem estranha, suspeita e misteriosa, pois não se
pode admitir que Obiang iria gastar aquele dinheirama todo em 48 horas. Como
não se supõe que ele usaria tantos relógios em estada tão curta. Como ele
viajava em avião particular não haveria razão para ele desembarcar com a
dinheirama. Podia deixa-la no cofre da aeronave. Que dinheiro e relógios,
enfim, eram aqueles? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Este
será mais um mistério da história brasileira. Será? Li esta semana que o PT irá
convocar seus militantes para cobrir os gastos de campanha de Haddad. Não sei a
quanto atinge o buraco, mas como o candidato do PT deslocava-se pelo Brasil num
jatinho alugado ele (o buraco) deve ser bem fundo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Falei
do ditador Obiang e suas misteriosas malas. Depois falei do rombo nas contas do
PT. As duas histórias têm algo em comum? <o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-89036881166225795232018-11-06T10:03:00.001-08:002018-11-06T10:03:05.420-08:00Amargas reflexões<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">Fazer
política no Brasil é ter vocação suicida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sabemos
que, ao longo do tempo, houve uma deterioração da vida política brasileira, ao
ponto de Sarney ser definido como “inatacável” pelo Lula, que foi definido, em
seguida, como “o grande líder da organização criminosa”, segundo as delações
que correm por aí. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Artistas
e intelectuais perderam a vergonha, e passaram a defender descaradamente bocas,
boquinhas e grandes bocas – e a isto chamam de defesa de democracia e da
cultura. Palavras como direita e esquerda não só perderam o sentido, como se
mesclaram, produzindo um tipo de posicionamento político que aceita e convive
com canalhices variadas. Impeachment de uma presidente incompetente, que nos
conduziu a uma crise econômica de difícil solução, que desrespeitou a
Constituição, ganha o nome de golpe, o que é, antes de tudo, uma leviandade
sociológica e gramatical. Intelectuais e acadêmicos repetem a tolice como se
estivessem recitando um dogma religioso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Acadêmicos
das áreas sociais, absolutamente estacionados no tempo, são incapazes de
elaborar estudos que expliquem o Brasil. Gostam de repetir fórmulas superadas,
conceitos inadaptados a um mundo tecnológico, no qual os meios eletrônicos de
comunicação desempenham papéis nunca antes imaginado. Darcy Ribeiro nos deixou
dois estudos importantes: “O povo brasileiro” e “O Brasil como problema”. Tais
estudos, pioneiros e ousados, ficaram por aí: nenhum gênio brasileiro se
interessou em aprofundá-los. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quando
uma pobre adolescente é currada por um bando de desajustados e infelizes ou uma
criança de três anos é violentada por seu padrasto, muitos se dão conta que a
sociedade brasileira está enferma, muito enferma, pois já houve casos iguais,
muitos, e tão escabrosos, em todo o território brasileiro. Claro, queremos que
os delinquentes sejam punidos – e severamente. Quando digo severamente estou me
candidatando ao bullying dos pretensos defensores dos recursos humanos – para quem
criminosos, estupradores e assassinos são recuperáveis mediante bons conselhos.
<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas
os crimes, sejam os de colarinho branco, sejam os demais, continuarão a prosperar,
pois ninguém, na verdade, se interessa em saber a origem de tudo isso. Somos um
povo que adora o lugar comum, nunca a busca inteligente de explicações e
saídas. Nenhuma universidade brasileira consta da lista das 200 melhores
universidades do mundo. Pensamos pouco. É muito melhor repetir chavões e
lugares comuns.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Somos
um país que vive de fantasias, muitas sobre nós mesmos, que custam caro e
penalizam os mais pobres. Todos sabiam que a Copa do Mundo e as Olimpíadas, por
exemplo, iriam nos custar o olho da cara, iriam permitir desvios e superfaturamentos
e nos tornar donos de imensos “elefantes brancos”. Todos sabiam, mas todos
acharam e acham “bacana” sermos anfitriões de jogos que nos custaram (e custam)
um mundo de grana. Os milhões de desempregados, os infectados por mosquitos
vagabundos, os analfabetos absolutos ou funcionais não entraram nas nossas
cogitações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Somos
todos culpados, sobretudo aqueles que se sentem portadores de verdades
históricas irremovíveis, próprias do século XIX. Enquanto alguns ficam gritando
contra o suposto “golpe” que apeou do poder um governo apodrecido e inepto, 12
milhões de brasileiros estão desempregados, 60 milhões são inadimplentes,
milhares estão fora da escola, pois as escolas são ficções educacionais, ruins
e superadas, os hospitais públicos assemelham-se a pardieiros ou a campos de
concentração, onde pessoas morrem nos corredores ou na fila de espera. 44% da
população do Brasil não lê; 30% nunca comprou na vida um livro sequer; 74% não
adquiriu um livro nos últimos três meses. Livrarias estão fechando, mas poucos
são os que se incomodam com isso: preferem shoppings. Enquanto isso, a filha de
Luiza Trajano, dona da rede de lojas Magazine Luzia, recebeu meio milhão, via
Lei Rouanet, para fazer um livro de receita. Maria Betânia recebeu um milhão e
meio para fazer um espetáculo em que recitava poemas. O projeto “Shows de
Cláudio Leite” papou 5,8 milhões e a “Turnê de Luan Santana”, 4,1 milhões. Até
casamentos receberam recursos da lei. Quando o novo governo diz que vai rever
os mecanismos da Lei Rouanet, pilantras saem a campo afirmando que a cultura
está ameaçada. Alguma coisa realmente está errada no país do futuro, que atolou
no presente – e dele não quer sair.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Somos
um povo que convivemos com a miséria, a estupidez, a ignorância e a violência,
achando que temos só direitos, nenhuma obrigação ou dever ou responsabilidade.
Herdamos e cultivamos ódios, ressentimentos, ressaibos, lutas sem sentido,
preconceitos e adoramos repetir trivialidades. Somos um povo generalizadamente
desinformado, mas gostamos de palpitar sobre tudo. Li, há tempos, um artigo de
José Sarney na Folha de S. Paulo, em que ele, do alto de sua sabedoria,
condenava – vejam! - a corrupção. Certa vez, vi, na TV, uma jogadora de
basquete palpitando sobre tráfego aéreo. Não desejamos qualidade, mas quantidade.
Não acreditamos no mérito, mas no jeitinho. Não gostamos de cumprir papéis, mas
de ver gente fazendo o que deveríamos estar fazendo. Não desejamos o saber nem
o conhecimento, mas o lugar comum, o clichê. Não amamos virtudes – e, sim, o
nepotismo, o fisiologismo e a canalhice, inclusive o nepotismo, o fisiologismo
e a canalhice disfarçados. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
maioria do povo brasileiro não vive, mas, como disse Cláudio Abramo, sobrenada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Com
estas amargas reflexões, encerro por hoje. A vida brasileira é repetitiva, mas
como escreveu Dias Gomes numa peça famosa, “no passado, pelo menos éramos
campeões do mundo!” Hoje, estamos condenados ao 7 x 1 do Felipão e às prédicas
tolas do Tite.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-16229723292650361662018-11-03T09:11:00.001-07:002018-11-03T09:11:07.753-07:00Bobageira não é sinônimo de oposição<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">Não
vou aceitar que o PT – nem ninguém - paute a minha oposição ao governo
Bolsonaro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">É
essencial que as esquerdas reconstruam um consistente projeto, sem as taras que
o PT plantou no cenário político do país. O PT provou nos seus 13 anos de
governo que não é um partido de esquerda, muito menos capacitado a administrar
o país. É um partido retórico, arrogante, incapaz de levar vida democrática e
aceitar que outros pensem de modo diverso. O PT é um partido autoritário. O seu
grande líder, o comissário Lula, está preso devido bandalheiras que patrocinou
e usufruiu. Vai cumprir 12 anos - e alguns outros mais, que a justiça logo
definirá ao julgar seus outros processos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
escolha do juiz Moro causou certo reboliço nas hostes petistas – e com razão.
Moro, na ministério da Justiça, aprofundará a luta contra a corrupção e irá
fundo na luta contra o crime organizado. Isto é intolerável para o PT e
asseclas, que desejam viver num mundo de impunidades. Esta é a origem da ânsia
petista pela soltura do Lula. Impunidade: seu nome é Lula livre.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Vi
o ex-deputado José Eduardo Cardoso, aquele pífio e medíocre advogado da ex-presidente
Dilma, dizer que a ida de Moro para um cargo executivo é inédita e depõe contra
a justiça. Muitos petistas repetiram a bobagem, o que demonstra um
desconhecimento compacto e generalizado da história brasileira. Nelson Jobim
foi ministro do STF e, depois, ministro da Defesa. Célio Borja foi do STF e, em
seguida, ministro da Justiça. No Império, Eusébio de Queiróz foi juiz e,
depois, ministro da Justiça, autor da lei que reprimia o tráfico de escravos. O
exemplo mais emblemático foi o de José Francisco Rezek, que pediu exoneração em
1990 (tinha sido nomeado em 1989) do cargo de ministro do STF e foi ser
ministro das Relações Exteriores, onde permaneceu até 1992. Muitos ministros se
transformaram em juízes, inclusive da suprema corte. Mudanças de lado a lado é
comum no Brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Até
agora, confesso docemente constrangido, os nomes indicados por Bolsonaro me
agradaram. E tem mais: queiramos ou não, Bolsonaro foi eleito e pode escolher
quem ele quiser para compor o seu ministro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sou
favorável à fusão dos ministérios da Educação e Cultura. Não há constrangimento
alguma nessa providência: leiam os livros “Tempos de Capanema” (Simon Schwartzman,
e outros, Paz e Terra) e “Gustavo Capanema” (Murilo Badaró, Nova Fronteira). Gustavo
Capanema foi um dos grandes ministros da Educação e da Cultura. Seu chefe de
gabinete era Carlos Drummond de Andrade. Criou o Serviço Nacional do Teatro e o
Instituto Nacional do Livro, entre muitos outros órgãos ligados às duas áreas. Digo
isto porque desejo reafirmar que não há incompatibilidade entre educação e
cultura, que podem formar um único ministério.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Não
votei no Bolsonaro e nem no Haddad. Aliás, nem fui lá: fiquei em casa lendo “A
ilha de Sacalina: notas de viagem” (Anton Tchékhon, Todavia). Mas eu sabia que
Bolsonaro seria eleito. Não perdi, nem vou perder o sono por isso. Nem acho que
a democracia corre perigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Por
fim, oposição não é baderna nem besteirol, muito menos essa tolice a que chamam
de “resistência”. É preciso que ela tenha conteúdo e objetivos consistentes,
sendo um deles, sem dúvida, a montagem de um projeto de esquerda,
pluripartidário, democrático, que permita a convivência dos contrários e a liberte
das taras e da corrupção. Concluo: não vou ser pautado pelo PT e muito menos
por gente como a Gleisi, o Lindenberg, Boulos et caterva. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Meu
único consultor é o Velhote do Penedo. Mesmo assim, ele às vezes me enche o
saco.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-56813298756566581712018-10-31T15:40:00.001-07:002018-10-31T15:40:19.921-07:00Oposição - e agora?<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">Bolsonaro
é o novo presidente da República. 58 milhões de brasileiros o escolheram. Não
vou discutir nem especular sobre o futuro governo. É cedo. Como a campanha é
coisa passada, é hora de esfriar a cabeça. De uma coisa estou certo: a
democracia não corre nenhum perigo, mas os problemas acumulados do país
continuam presentes.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Creio
que, agora, é importante começar a discutir a futura oposição ao governo
Bolsonaro. Conversei com um amigo petista, que foi peremptório: “vamos invadir
terras, prédios, bater muito no Congresso, vamos fazer manifestações, ocupações,
vamos pôr o povo na rua”. E concluiu: “temos que aguçar a luta de classes”. Gleisi
e Boulos falaram a mesma coisa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Meu
amigo, Gleisi e Boulos não têm poderes para decidir nada, embora os dois
últimos sejam dirigentes do PT e do Psol. Todos têm uma visão equivocada de
luta de classes e não compreendem que a oposição a Bolsonaro tem que ser, no
mínimo, inteligente (e não raivosa ou estúpida), inclusive porque muito mais
que oposição a um governo, a tarefa essencial e imediata é a reconstrução da
esquerda brasileira. Afinal, quem perdeu as eleições não foi Haddad nem o PT ou
o Psol: quem perdeu foi a esquerda, ou seja, todos - partidos e indivíduos -
que ainda creem no ideal socialista. A derrota da esquerda não foi apenas
eleitoral: foi uma derrota teórica, tática e estratégica. Uma derrota profunda.
Uma derrota quase mortal. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">No
Brasil, a esquerda vem batendo cabeça há anos. Há uma diferença essencial entre
o esfarelamento do Partido dos Trabalhadores e a crise da esquerda. O PT foi
vítima da sua inépcia e incapacidade de governar o país e da gula excessiva dos
seus principais quadros, que viram no governo uma espécie de caixa rápida, onde
bastava apertar o botão e recolher a grana. Em treze anos de governo, o PT
transformou-se num caso de polícia. E arrastou, com ele, a ideia de esquerda,
que passou a ser vista pelos brasileiros como sinônimo de bandalheira e caos
administrativo. Os equívocos dos governos petistas produziram 13 milhões de
desempregados e quase faliu a Petrobrás.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
ideal socialista foi aprisionado, no Brasil, por gente sem escrúpulos, que
repete, há anos, um discurso velho, caquético, inatual. Bem verdade que temos
gente como Ruy Fausto que através de artigos, ensaios e, especialmente, do
livro “Caminhos da esquerda: elementos para uma reconstrução” (Companhia da
Letras, 2017) procura estimular debates com todos aqueles que buscam uma saída
para a esquerda. Fausto sabe o que falar e sabe a quem se dirigir. Tanto que
alertou na abertura do livro para dois pontos essenciais: primeiro, o projeto
de esquerda misturou-se aos mais descarados populismos; é essencial que a
esquerda se dissocie da sua sombra vulgar, representado pelo discurso petista. Segundo,
a reconstrução da esquerda deve começar pelo reconhecimento de que o atual
projeto de esquerda brasileiro nada tem a ver com o que ele representou na
origem – daí a necessidade de sua reestruturação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
primeiro ponto atinge diretamente o PT, que não é partido de esquerda, mas
desde sua fundação assumiu essa (falsa) identidade. O PT precisa ser alijado de
um eventual projeto de esquerda, inclusive devido aos danos que causa e causou
ao tempo em que esteve no governo. Não se nega que haja no PT bons quadros, que
defendem posições corretas. Mas estes são minoria – e não apitam diante dos
flibusteiros que dominam a máquina partidária.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
segundo ponto defende uma ampla e profunda revisão dos meios e modos que a
esquerda adotou nos últimos tempos – e dos quais não soube, não quis e, parece,
não quer se livrar. A esquerda viveu enormes vicissitudes, que marcaram a ferro
e fogo a sua trajetória mundial. No Brasil, o projeto de esquerda foi sempre
conduzido por partidos burocratizados e totalitários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">É
preciso, portanto, esfriar a cabeça. Não se trata de aceitar o governo
Bolsonaro como fato consumado. Trata-se de responder a pergunta: e agora?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
que eu vejo e leio aqui no Facebook me produz depressão. Vi, inclusive, um
amigo meu, professor universitário, marxista-leninista, falar em Satanás,
demônio e outras tolices em relação ao futuro presidente. Se a oposição ao
Bolsonaro for assim, eu desisto. Vou criar galinhas. <o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-18324557731700595942018-10-26T12:52:00.002-07:002018-10-26T12:52:12.675-07:00Somos todos democratas<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">François
Villon é um dos grandes poetas franceses da Idade Média. Era um marginal:
ladrão, boêmio, beberrão. Por uma rivalidade amorosa, feriu mortalmente um
sacerdote e foi obrigado fugir de Paris. Escrevia em francês arcaico e cometia
erros de ortografia que eram atribuídos aos seus parcos estudos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quem
me apresentou ao poeta Villon foi Otto Maria Carpeaux, em artigo que escreveu
para mim, que o publiquei numa precária revistinha universitária. Um dos poemas
de Villon (“Ballade”) me parece ser uma definição bem precisa do PT. Cito, tal
como ele escreveu: “Je congnois tout, fors que moy mesmes” (“Conheço tudo,
exceto a mim próprio”). <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">É
verdade. O PT não se conhece, mas tem uma visão generosa de si mesmo. Brizola,
que não conhecia Villon, dizia que o PT e Lula eram arrogantes, cuja ideia que
tinham de si mesmos impediam que eles vissem corretamente a realidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Mas
não só sobre isso que eu quero falar. Na minha (longa) vida nunca vi tanto
democrata como vejo hoje. Folgo em saber que somos uma pátria que cativa o mais
importante bem humano: a liberdade. A turma da Globonews, por exemplo, é toda
ela democrata. Democracia é informação correta; por outro lado, informação
dúbia, truncada ou propositalmente errada não é democracia: é ditadura
midiática. Só que a turma da Globonews não acha isso. É uma turma que prefere a
dubiedade à clareza, a truncagem à correção, o erro ao acerto. Mas são todos
democratas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
PT é, hoje, o partido mais democrata do Brasil. Não apoia governos criminosos
como os de Maduro, do Ortega e as variadas autocracias e bárbaras ditaduras
africanas. O PT é o partido mais interessado em descobrir quem são os assassinos
do Celso Daniel, do Toninho do PT, do Roberto do PT (ex-prefeito de Ourolândia,
Bahia, que havia feito um pacto de delação sobre um desvio de 7 milhões de
reais dos cofres da Petrobrás, repassado ao PT) e quem pagou pelo atentado que
quase matou Bolsonaro (a dona da pensão e um hóspede morreram misteriosamente).
O PT nada tem a ver com as invasões de terras e com as invasões de imóveis
urbanos. O PT é, hoje, o partido mais democrata do Brasil. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Haddad
é inteligente, fala 150 línguas, foi o maior prefeito de São Paulo e, se
eleito, será o segundo melhor presidente brasileiro, abaixo é claro do seu
líder Lula, que se encontra, hoje, encarcerado por ter se apropriado de milhões
que não lhe pertenciam. Haddad investiu pesadamente em ciclovias e fez
discursos maravilhosos, originais, cheios de verve. Um homem bem-humorado. Sim,
Haddad gosta muito de rir. Um dia, o patrão dele, o preso Lula, discursou numa
cerimônia de estudantes de primeiro e segundo graus. Em meio ao discurso às
crianças, Lula disse que não lia, que não gostava de ler, que ler era chato. Os
aspones do PT, sentados ao fundo, riram muito do comentário do capo. Não é
mesmo muito divertido um presidente que não lê – e conta isso como uma vantagem?
Os aspones riram, mas quem mais riu, claro, foi o Haddad, na época ministro da
educação. Ler pra quê, deve ter pensado o homem responsável na ocasião pelo
ensino? Melhor que ler autores chatos como Guimarães Rosa, Drummond, Machado,
que nada têm a ensinar, é ouvir as sábias prédicas da Gleisi, da Dilma, do
Lindenberg. Haddad é um democrata com senso de humor, mas como disse Villon,
conhece tudo, exceto a si próprio. <o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-3522741015443693912018-10-18T17:32:00.001-07:002018-10-18T17:32:55.648-07:00A democracia não corre risco<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">Ninguém
me viu aqui lançar ofensas contra Haddad. Ninguém me viu tratar Marina com
desabono. Ninguém me viu aqui injuriar o Bolsonaro, o Ciro, o Alckmin, o Dias e
os demais candidatos. Não ataquei nem ironizei ninguém por apoiar esse ou
aquele candidato. Meus amigos têm o direito de defender e acreditar no que
quiser. Não vou entrar na sua página para agredi-lo ou ofendê-lo, mas muitas
pessoas me agridem e ofendem pelo que escrevi. Aristóteles diz, na “Ética a
Nicômano” diz que “pessoas obstinadas podem ser divididas em três categorias:
os dogmáticos, os ignorantes e os mal-educados”. Quem são os obstinados que me
visitam?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quando
escrevi sobre os candidatos procurei ser analítico – e os tratei como candidatos
à presidência da República. Sou de um tempo em que eu me levantava quando o
professor entrava em sala. Meu pai jamais admitiu que um filho se sentasse na
mesa sem camisa. Algumas coisas, transformadas, marcaram e marcam minha conduta
– e delas não me envergonho. Sempre tratei meu pai de senhor, minha mãe de
senhora, assim como pessoas de idade. Outro dia, numa banca de jornais, uma
dama de uns vinte, vinte e poucos anos, virou-se para mim – e sapecou: “Jovem,
vai levar a Piauí?” Olhei em torno: é, ela falava comigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Sou
contra a censura e contra a ditadura, inclusive aquelas invisíveis, opacas,
solertes. Fui um dos poucos que defendeu aqui no Facebook o escritor Paulo
Cesar de Araújo quando seu livro “Roberto Carlos, em detalhes” foi censurado, proibido,
teve os exemplares recolhidos e queimados, com o apoio dos democratas Chico
César, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Erasmo Carlos,
entre outros. Por isso, não levo a sério os manifestos que estes democratas
escrevem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quando
escrevi “Divas da Rádio Nacional” sofri um processo de um cavalheiro, parente
de uma das grandes cantoras brasileiras, que exigia de mim 500 mil reais e pedia
à justiça o recolhimento do meu livro das livrarias. Minha reação foi taxativa:
vou preso, mas não pago e vou vender o meu livro de bar em bar. No meu tempo de
Souza Aguiar, o professor Sylvio Guadagny censurou um artigo meu que ia ser
publicado no jornalzinho do colégio. Vivi parte da minha vida de traduções de
livrinhos de bolso, desses vendidos em banca de jornal. Usei um pseudônimo do
qual me envergonho até hoje.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Com
a anistia, abriu-se uma oportunidade às vítimas da ditadura de receber uma
indenização e/ou bolsa-ditadura. Eu me recusei a entrar com qualquer pedido
nesse sentido. Se eu sofri durante a ditadura foi porque eu lutei contra ela –
e disso não me arrependia nem me arrependo ainda hoje. Fiz o que me mandou a
minha consciência. Fui derrotado – ponto. Por que vou exigir que os vencedores me
indenizem? Eu não sei se os indenizaria se tivesse vencido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Muita gente não me
conhece, não sabe da minha trajetória política, não sabe o que a minha geração
passou quando decidimos desafiar e enfrentar o regime militar. Ajudei a fundar
o PDT, mas o PDT de Brizola, Darcy, Doutel, Brandão Monteiro – não o PDT de
bucaneiros. Não sou melhor que ninguém. Minha vida, de forma direta ou
indireta, está nos meus livros, principalmente em “Sobrevivente” (e-book,
Amazon). Leiam e fartem-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">As eleições são um bom
exemplo. Elas estão contaminadas pela dicotomia ou radicalização que tomou
conta da vida política brasileira. Ninguém escapa disso. Felizmente, algumas
vozes, como a do Gabeira, Gianotti, Marco Aurélio Nogueira, Antônio Risério,
perceberam que não há razão alguma de desespero – em razão da possível vitória
do candidato Bolsonaro. Segundo eles – e o Velhote do Penedo concorda com isso
– a democracia não está em risco. E não está em risco porque, hoje, a liderança
militar, como os escalões intermediários das forças armadas, não está
demonstrando nenhum interesse em partir para uma aventura, que já nos custou, a
todos, muito caro. A ditadura marcou a sociedade até hoje – e é isto o que nos
leva a temer e a esconjurar saídas ou caminhos políticos que neguem a
democracia. Claro, uma das missões do próximo governo é o de procurar
fortalecer as instituições, garantindo o equilíbrio entre os poderes. Se não
fizer isso, o país explode. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A derrota das forças de
esquerda deve ser aproveitada pela própria esquerda. Ao invés de partir para a
vingança contra o governo eleito, é necessário que a esquerda, sem abdicar do
ideal socialismo, aproveite a oportunidade para se reconstruir. Repensar sua
estratégia, livrar-se da visão sectária da vida social, compreender que o mundo
mudou, que a tecnologia está matando os empregos e que não se pode esperar
apenas do Estado o enfrentamento dessa questão. Escrevi recentemente que o
desafio brasileiro é proporcionar empregos, até 2030, a cerca de 150 milhões de
cidadãos com idade de 15 e 65 anos. Notem que estamos a apenas 12 anos de 2030.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A esquerda (se assim
podemos chamar) deve exercer a oposição ao governo que, parece, vem aí, mas sem
ódio. O mesmo cabe ao futuro governo. Deve baixar a guarda e investir tempo e
esforço no enfrentamento dos graves problemas brasileiros. O radicalismo – de que
lado seja – é o maior inimigo do povo brasileiro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">*****<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">1 – O meio acadêmica tem
demonstrado uma enorme incapacidade de explicar o que está ocorrendo na
política brasileira. Sugerem abstrações como “onda conservadora”,
“antipetismo”, “nazismo”. São abstrações que não explicam nada. Na verdade, o
meio acadêmico brasileiro, tal como a esquerda, precisa se repensar e abandonar
as fórmulas chapadas de explicação – que não explicam nada. Tanto na esquerda
como no meio acadêmico ouço coisas que eu ouvia nos anos 1960, quando eu
supunha que o mundo era explicável através do uso de duas ou três frases.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">2 -Wagner Moura negou-se
a desempenhar no cinema o papel do juiz Moro. E explicou: “Não interpreto papel
de gente sem caráter”. Está certo, mas aceitou desempenhar o papel de Pablo
Escobar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">3
– Vou reiterar: não voto no segundo turno. Não vou lá. Não sou obrigado a
votar.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-78886724736121881672018-10-16T13:51:00.000-07:002018-10-16T13:51:30.119-07:00Quem tem medo do Bolsonaro?<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12pt;">Sociologia
não é ciência. É uma tentativa genérica de buscar uma explicação da vida ou de
um fenômeno social. Não há uma sociologia, mas várias dependendo de todos
aqueles que, com maior ou menor talento, fizeram um esforço de explicação da
realidade. O que é difícil de aceitar é que a sociologia seja capaz de nos
indicar o futuro. O futuro é opaco – e se nega a ser decifrado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Afora
classes sociais, corporações e estamentos, a sociedade humana é um complexo de
pessoas heterogêneas, com biografias individuais, que absorveram em dosagens
variadas ensinamentos e influências, coordenadas por instituições construídas
por quem tem mais poder. A sociedade humana, portanto, é múltipla, modifica-se
constantemente, o que dificulta a sua apreensão. No meu tempo de estudante, o
estudante que se prezava mantinha os livros de Althusser debaixo do braço – sem
lê-lo, claro. Althusser foi superado (e em meio a um acesso de loucura,
confessou nunca ter lido Marx, embora o seu livro mais badalado fosse “Para ler
O Capital”). Vieram os intelectuais da Monthly Review (Paul Sweezy, Leo
Huberman, Harry Magdoff). Mais recentemente tivemos Bourdieu e Foucault. Conto
nos dedos os acadêmicos e os marxistas brasileiros que, de fato, leram Karl Marx.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Não
vejo nenhuma contribuição efetiva de explicação acadêmica do fenômeno
Bolsonaro. Nenhum sociólogo – e todo sociólogo assume que é de esquerda –
escreveu um texto, um comentário, uma frase que possa trazer alguma luz sobre a
questão. Ficam todos repetindo banalidades, lugares comuns, ideias
preconcebidas, jargões e/ou tolices. Em primeiro lugar, a democracia brasileira
não está em perigo, mas pode correr risco se as forças políticas perderem o
juízo – tal como ocorreu em 1964. Lembro-me de Prestes proclamando: “estamos no
governo; agora vamos tomar o poder”. Em março de 1964, uma dada organização
política afirmava que Jango aproveitaria o Comício da Central para dar um
golpe. Não deu, nem pretendia: dezenove dias depois, Jango foi apeado da
presidência. O que dizer quando uma organização política diz uma besteira desse
tamanho? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">O
perigo, a meu ver, não está na eventualidade da eleição do Bolsonaro, mas na
fragilidade histórica das instituições brasileiras e na idiotia de parte da
nossa esquerda. Não acredito na possibilidade de golpe, inclusive porque as
forças armadas não são, em si, golpistas. E não têm o menor interesse em aventuras
golpistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Quem
tem medo do Bolsonaro? Essa pergunta é essencial, pois vejo apenas o PT e o
petismo como forças que temem – ou têm motivo para temer - o candidato do PSL. A
eleição de Bolsonaro não significará apenas uma derrota do PT, mas o seu
esfarelamento. Não apenas por circunstâncias naturais, mas por uma série de
ações que poderão ser tomadas, no bom sentido, pelo governo Bolsonaro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Bolsonaro
é um sujeito polêmico, estourado e irritadiço. Diz coisas que muitos pensam,
mas não ousam falar. Fala também coisas que não se fala abertamente. Fala
errado sobre assuntos sérios. Creio que parte do que ele falou é mais jogo de
cena (dele) ou resposta a situações em que ele foi emparedado. Dou um exemplo. Assisti,
por acaso, o episódio entre ele e a deputada Maria do Rosário. Eu e um amigo íamos
passando pelo salão azul da Câmara. Vimos Bolsonaro dando uma entrevista a uma
emissora de TV. De repente, a deputada se aproximou e, interrompendo a
entrevista, chamou o Bolsonaro de “assassino” e de “estuprador”. Bolsonaro
revidou – e aí a Maria do Rosário disse que “dava na cara” do deputado, que
replicou: “se você bater na minha cara, eu dou na sua!” Aí Maria do Rosário fez
o tipo ameaçada e passou a gritar: “O que é isso? O que é isso?” E correu para
plenário, onde aos prantos disse que Bolsonaro havia ameaçado ela. Esse
episódio é usado até hoje contra Bolsonaro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Claro,
Bolsonaro não é nenhum santo. A defesa que fez do Brilhante Ustra, jogo de cena
ou não, é intolerável e inaceitável. A tortura é crime hediondo. É monstruoso.
Se Bolsonaro for eleito, espero que ele não fale mais em tortura e não cite
mais torturadores – e eu falo isto em benefício de sua gestão e da sua
biografia. A tortura é ainda uma ferida aberta que talvez jamais seja cicatrizada.
A pacificação brasileira passa pelo reconhecimento de que houve tortura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
luta armada contra a ditadura foi um erro político, mas tinha legitimidade na
medida que o próprio sistema impediu a ação política de parte expressiva do
povo brasileiro. Sem espaço de luta política, muitos optaram pelas armas. Todos
temos o direito de condenar a tortura, mas é preciso reconhecer que houve também
erros e crimes do lado de lá. Infelizmente, guerra é guerra – e é, em geral, nesse
momento que o homem, segundo Freud, libera o monstro irracional e insano que
ele guarda no seu íntimo inconsciente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Vi
a pesquisa divulgada hoje pelo Ibope. 46% do eleitorado feminino vota em
Bolsonaro e 40% em Haddad. Bolsonaro ganha em todas as faixas etárias e em seis
capitais nordestinas, inclusive Recife e Fortaleza. O PT transformou-se
definitivamente num partido político dos grotões. São informações sonegadas
pelos nossos comentaristas televisivos. Não só sonegadas: a Sadi, com sua
proverbial desonestidade intelectual, afirmou agora mesmo que as mulheres votam
mais no Haddad.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin-bottom: 6.0pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">A
sociedade brasileira e os próximos governos – e não só os de Bolsonaro ou
Haddad – têm um desafio a resolver: como proporcionar empregos de boa qualidade,
até 2030, a cerca de 150 milhões de cidadãos com idade de 15 e 65 anos,
levando-se em conta o avanço tecnológico que facilita nossas vidas e devora
empregos. É nisso que temos de pensar.<o:p></o:p></span></div>
<br />Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-70829618187464605222018-02-13T12:52:00.000-08:002018-02-13T12:52:06.195-08:00Brasil ingovernável
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">O
Brasil transformou-se num país ingovernável. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Qualquer
presidente (seja de que partido for) ao se decidir tomar uma medida (seja ela
qual for) é, imediatamente, bombardeado, ofendido, achincalhado pela mídia. As
redes sociais que criticam os meios de comunicação, nada mais fazem que
reproduzir o que disse a imprensa. Se a imprensa, em grande medida, é calhorda,
as redes sociais, em sua maioria, também o são.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Imprensa
e redes sociais se arvoram a dizer qualquer tolice em nome do direito (mais
um!) de opinar sobre tudo, inclusive sobre o que não sabem. A verdade que o
brasileiro é despolitizado, mas a participação em redes sociais lhe dá a falsa
idéia de que tem consciência política. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Ouço
e leio tantos absurdos (nos meios de comunicação e nas redes) que, às vezes,
penso em me isolar do mundo. Estou cansado de ler ou ouvir que o “político tal”
pensou, pensa, tem refletido, refletiu, como se o jornalista ou sujeito da rede
tivessem o poder de penetrar no pensamento do dito cujo.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Assisti
“The Post” – um belo manifesto em prol da liberdade de imprensa. Mas não só
isto: “The Post” é, em todos os sentidos, uma aula de jornalismo, pois, além da
liberdade de imprensa, mostra que o jornal defendeu o direito de divulgar <i style="mso-bidi-font-style: normal;">fatos dos quais ele dispunha de provas – e
não de suposições</i>. No Brasil, a imprensa e as redes sociais vivem de
suposições.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Dou
um exemplo. Outro dia, o Boechat falou que Temer recebeu o diretor da Polícia
Federal – e acrescentou malicioso: “fora da agenda”. Ora, o presidente pode
receber quem quiser, no momento que quiser, mas a malícia do “fora da agenda”
tinha um objetivo: se foi “fora da agenda”, a conversa girou em torno de alguma
coisa fora da linha. Foi a repercussão que li nas redes sociais.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Estamos
no carnaval. O prefeito Crivella, por exemplo, está sendo esquartejado porque
deu aos blocos e escolas de samba bem menos grana do que eles costumam receber.
Eu se fosse prefeito não daria um só centavo, mas como o brasileiro gosta de
viver à custa do dinheiro público. Assim, todos cobram de Crivella uma grana
que a prefeitura não tem. Quando o Brizola tomou posse, descobrimos que havia
um folguedo – “banho de mar à fantasia” – que recebia grana do estado. A verba
foi cortada – e um jornalista idiota disse que o Brizola era contra o carnaval.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Não
perco minhas horas de leitura e sono assistindo a Broadway das Escolas de
Samba. Minha neta, que veio almoçar comigo, disse que a Tuiuti e Beija-Flor
fizeram, para gáudio dos idiotas, protestos e críticas. Afora o fato de que o
desfile foi apropriado pela Rede Globo (tal qual o futebol brasileiro), nunca é
demais sambar que as escolas de samba são dominadas pela contravenção, pelo
crime organizado e foram cúmplices dos porões da ditadura. Tudo está bem
contado no excepcional “Os porões da contravenção – jogo do bicho e ditadura
militar: a história da aliança que profissionalizou o crime organizado”, de
Aloy Jupizara e Chico Otávio. Este é um livro que todos deveriam ler. Aliás,
todos já deveriam ter livro, pois é de 2015.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">As
críticas da Tuiuti e Beija-Flor são oportunistas e não merecem respeito. Não o
meu, pelo menos. Quem aplaudiu essas escolas – bateu palmas para o crime, a
corrupção e o desalinho político. <o:p></o:p></span></span></div>
Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-25567274416557808592017-09-02T06:56:00.001-07:002017-09-02T06:56:16.391-07:00Há cem anos a história andou
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Este texto
discute o que eu ouvi, vi e li sobre a Revolução Russa de 1917. Não é um
ensaio. Talvez seja um testemunho - ou um testamento.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">1 –</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Eu morava no
Edifício dos Bancários, um prédio imenso, bonito, sólido, excelentes apartamentos,
construído pelo IAPB, antigo Instituto de Aposentadorias e Pensões dos
Bancários. O Edifício tinha duas portarias, ambas grandiosas e iguais: Rua
Marques de Abrantes, 157 e Rua Senador Vergueiro, 200, Rio de Janeiro.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">As duas
portarias eram ligadas por duas passagens: uma externa, com lojas, usada pelo
público em geral; outra interna, com piso e paredes de mármore, exclusiva de
moradores e visitantes. O Edifício dos Bancários tinha nove elevadores, cinco
sociais e quatro de serviço.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Nos Bancários
e adjacências moravam muitos comunas, intelectuais e artistas, entre os quais
Agildo Barata, o filho Agildo Ribeiro, a psiquiatra Nise da Silveira, as
jornalistas Ana Arruda (que viria a ser esposa de Antônio Callado) e Leda
Barreto (autora de um livro sobre Francisco Julião), a atriz Luiza Barreto
Leite, o produtor José Sanz, a cantora (da Rádio Nacional) Heleninha Costa, o
compositor Alcir Pires Vermelho, o disc-jóquei Big Boy, que na época era apenas
o Nilton Gordo, asmático e pirado, vítima de nossas maldades. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Ainda da
Rádio Nacional, eram vizinhos dos Bancários (Rua Marques de Abrantes) a
radioatriz Isis de Oliveira (Ivete Savelli), o locutor e contrarregra Jairo
Argileu e o produtor e compositor Almeida Rego. Quem andava pelos Bancários,
onde tinha uma namorada, era o comediante Paulo Silvino, muito magro e
engraçadíssimo, que usava o pseudônimo de Brigitte Bijou nos livros de humor e sacanagem
que escrevia em cadernos escolares. Denis Menezes, repórter esportivo, aparecia
às vezes na minha casa, onde filava a minha máquina de escrever Remington. Elisete
Cardoso, a Divina, morava numa ruazinha sem movimento, atrás da igreja Santíssima
Trindade (Rua Senador Vergueiro), a uns duzentos metros dos Bancários. Manoel
Maurício de Albuquerque, historiador, maior vocação de professor que conheci na
vida, residia próximo. Uma tia de Ruy Castro, D. Naíde, tinha uma loja no corredor
externo dos Bancários. Ruy Castro, tal como José Ramos Tinhorão, morava também
na Marques de Abrantes. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Eu tinha um
amigo, cujo pai era da direção regional do PCB. Ainda menino, eu conversava muito
com ele (pai), que contava histórias sobre Graciliano Ramos e outras figuras do
partidão. Foi nos Bancários, em três de abril de 1964, que os capangas do
secretário de Segurança da Guanabara, coronel-aviador Gustavo Borges,
prenderam, espancaram, torturaram e roubaram os nove chineses, membros de uma
delegação oficial do governo da República Popular da China (V. a respeito: “O
caso dos nove chineses”, de Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo).</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Meus pais
falavam dos comunistas – e sempre se referiam às perseguições que sofriam: prisões,
torturas, longos períodos em que eles eram obrigados a viver longe de suas
famílias, na clandestinidade. Ser comunista no Brasil, antes e durante a
ditadura militar, era uma barra – uma vida de muitos sacrifícios e um sonho
(acalentado durante décadas) que nunca se efetivou.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">2 -</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Em 1956 (eu
tinha treze anos), o Relatório Krushev, apresentado durante o XX Congresso do
Partido Comunista da União Soviética, explodiu sobre os partidos comunistas do
mundo. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Nele, os
crimes cometidos por Stalin (já denunciados por dissidentes) eram contados em
detalhes. O Relatório, segundo meu pai, que o leu no Estadão, narrava
barbaridades, como os campos de concentração na Sibéria, o desaparecimento de
pessoas, os assassinatos, os expurgos, os “gulacs”, os julgamentos forjados, o
culto a Stalin, tido como o “pai dos povos”. Meu pai não era comunista, mas
tinha amigos que eram.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Agildo Barata
conta, em “Vida de um revolucionário”, que as revelações do Relatório produziram
nele tal choque, que teve “um intenso derramamento de bílis”, que o fez ser
hospitalizado. Algum tempo depois, Agildo viria a sofrer um AVC, que paralisou
o seu lado esquerdo e, depois, o levaria à morte. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O pai do meu
amigo, chocado com tudo o que dizia o Relatório Krushev, sofreu um infarte, que
quase o matou. Nunca mais foi o mesmo. Eu o vi uma ou duas vezes: em ambas, ele
estava sentado numa cadeira de balanço, magro, calado, olhando para o nada
através da janela. Não me atrevi a puxar conversa. Para ele, a vida perdera a
graça.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Em “Luís
Carlos Prestes – Um revolucionário entre dois mundos”, Daniel Aarão Reis conta
que na reunião do Comitê Central do Partidão, que debateu o Relatório, “houve
gente vomitando e chorando”. Anita Leocádia, na biografia que escreveu do pai -
“Luiz Carlos Prestes: um comunista brasileiro” -, deu nome aos bois: “Tanto
Arruda quanto Carlos Marighella, João Amazonas e Maurício Grabois chegaram a
chorar”. Comovente, claro, mas é no mínimo estranho supor que os citados,
comunistões históricos, dirigentes do Partidão, não soubessem ou sequer desconfiassem
do que se passava na terra-mãe do socialismo sob o tacão de Stalin, mas, enfim
– cala-te, boca!</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">João Falcão,
em “O partido comunista que eu conheci”, conta primeiro o choque que teve ao
saber, em 1953, da morte de Stalin (“uma grande sensação de perda invadiu a
minha alma. Ele era para todos os comunistas convictos um Pai e um Mestre”,
destacou Falcão). Os comunistas acreditavam que Stalin era eterno.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Três anos
depois, com o relatório, novo choque, que João Falcão definiu como de
“desespero e pânico”. Falcão, que, na época, estava em Moscou, citou ainda
alguns casos de deserções e suicídios, como foi o caso do escritor
Alexandrovitch Fadeiev, autor de “A derrota”, em que trata da guerra civil de 1919.
O presidente da Polônia, Boleslaw Bierut, embora fosse cúmplice de Stalin e
soubesse certamente das atrocidades apontadas no Relatório Krushev, tendo-as
praticado em seu próprio país contra seus compatriotas, sofreu um infarte
fulminante.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O depoimento
mais contundente e importante da época, contudo, foi dado por Osvaldo Peralva,
em “O retrato”, livro que conta a história das decepções do autor com a
organização política a que dedicara, segundo ele, os melhores anos de sua vida.
Peralva era do Comitê Central do PCB e vivia na época em Bucareste, onde
trabalhava para o Kominform, um comitê de informação que unificava a ação dos
partidos comunistas (sob o esquadro de Moscou, claro). O padecimento de Peralva
é contado em detalhes no livro. Ele não conseguia dormir, chorar, falar,
raciocinar, chegando a supor que ia enlouquecer – sim, enlouquecer. O
sofrimento de Peralva foi indescritível.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Sei de muitos
outros casos semelhantes, como sei de gente que sofreu e morreu (não aguentaram
o tranco) quando ocorreu em 1991 o colapso da URSS; afinal, foram 74 anos de um
sonho que virou escombro – ou melhor, pó. Na época, fui visitar um velho
comunistão, meu ex-professor, que ao abrir a porta me abraçou e, agarrado a
mim, chorou como uma criança. “Que será de mim? Que será do mundo?” – dizia e
repetia em voz alta, enquanto eu, morto de vergonha, temia que a cena estivesse
sendo observada à sorrelfa por vizinhos do inconsolável “tovaritch”.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">3 -</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Não é
possível, porém, discutir a derrocada da URSS sem reconhecer também os seus
grandes feitos, marcados pelo heroísmo, coragem e patriotismo, dos quais o povo
soviético deu inequívocas provas, desde 1917. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Em 1920, após
anos de guerra mundial, guerra civil e intervenção estrangeira, a indústria
russa (um pequeno enclave em Petrogrado) estava em ruínas, os estoques
esgotados, a sociedade totalmente desarticulada e exaurida. Milhões de russos
eram obrigados a queimar móveis nas ruas para se aquecer – com o agravante de
que a fome atingia parcela expressiva da população. A migração do campo para as
cidades era intensa, o que agravava os problemas de abastecimento – em absoluto
colapso. Como disse Ernest Mandel, “economicamente a sociedade russa regrediu
mais de meio século”.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Foi em tais
circunstâncias que a URSS, o primeiro Estado socialista, começou a se erguer e
a se construir, sofrendo boicotes e bloqueios de países europeus mais
desenvolvidos. É fácil imaginar o esforço humano cobrado nessa primeira fase.
Havia ainda as disputas políticas internas, as divergências quanto aos rumos da
economia – disputas e divergências que viriam a culminar na ascensão da
burocracia stalinista. Stalin, o líder supremo, eliminou os divergentes e dissidentes,
inclusive a velha guarda bolchevista, como Bukharin, Kamenev, Zinoviev, Rykov,
Preobrajenski, Smirnov, Antonov-Ovseenko, entre muitos outros – e enfrentou a
ferro e fogo as dificuldades econômicas da época. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Importante é
destacar que o socialismo na URSS foi construído sobre as carências e a pobreza
do subdesenvolvimento, ou, como diria o próprio Marx, sobre o desenvolvimento
insuficiente das forças produtivas do capitalismo russo. Marx jamais supôs que
o socialismo se erguesse em países pobres e atrasados – e foi justamente isto o
que aconteceu na URSS, o que deu origem às deformações do socialismo soviético.
A revolução soviética foi, portanto, uma revolução historicamente antecipada,
desengatada da história – isto na melhor concepção marxista. Conforme ensina o
materialismo histórico, tinha tudo para dar errado. E deu – apesar dos seus
ganhos.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O esforço
social do povo soviético foi gigantesco, em sofrimento e grandeza, mas, de
certa maneira, exitoso e heroico, apesar de o “salto do reino da necessidade
para o reino liberdade”, sonho do pensamento socialista clássico, não ter nem
de longe se realizado. A construção do socialismo na URSS, com todas as suas
deformações, foi realizada sob a cruel ditadura stalinista, que impôs ao país
um processo de acumulação primitiva a ferro e fogo e um sistema totalitário de
grandeza inimaginável. Poderia ser de outra forma? O próprio Isaac Deutscher,
historiador trotsquista, admitiu que, provavelmente, sem Stalin os avanços,
apesar de penosos, não seriam possíveis. A ditadura stalinista, que envenenou a
sociedade soviética e se propagou no tempo e no espaço, foi o resultado mais
palpável da tentativa de erguer o socialismo em países atrasados. Isto,
contudo, não justifica nem absolve a ditadura stalinista. Mas explica, em
parte, as agruras mundiais do socialismo.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Trotski e
Lênin tinham estudado Marx e, no início, desconfiaram da inviabilidade do
socialismo na Rússia caso dependesse unicamente de suas forças. Apostaram,
então, suas fichas e argumentos na Alemanha, que vivia uma fase
pré-revolucionária. Mas a revolução alemã morreu na praia – e os bolchevistas
concentraram-se no que tinham – uma Rússia exaurida, sem recursos, paupérrima,
dividida, tudo aquilo que Marx julgava ser a antítese de uma revolução socialista
bem sucedida.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">4 - </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Marx, como
Lênin e Trotski, sabia que a miséria não é necessariamente um estopim revolucionário.
A miséria quase sempre é alienante e contrarrevolucionária – e transforma o
povão em massa amorfa, submetida às manobras de populistas, tanto de direita
como de esquerda. A miséria pode produzir delinquência e explosões localizadas,
guiadas quase sempre por combustão espontânea: não tem rumo político nem
ideológico, a não ser em casos excepcionais. Na Rússia, o que salvou a
revolução foi o extremo profissionalismo revolucionário dos bolchevistas, que
lideraram o movimento e souberam orientar e guiar a tradição rebelde do povo
russo no sentido que desejavam.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">A assinatura
do acordo Molotov-Ribbentrop (ler a respeito o magnífico “Hitler/Stalin: o
pacto maldito”, de Joel Silveira e Geneton Moraes Neto), em 1939, provocou
perplexidade no mundo inteiro. O acordo não era apenas um compromisso de não
agressão entre os dois países, mas uma partilha secreta que garantia à URSS
parte da Polônia (que nos dias seguintes seria invadida pelos nazistas), a
totalidade das chamadas Repúblicas Bálticas – Lituânia, Estônia e Letônia – e o
“direito” de atacar e dominar a Finlândia, historicamente ambicionada pelos
russos. A verdade é que a aliança entre nazistas e comunistas provocou um clima
de confusão, frustração e amargura. A partir daquele pacto, a esquerda nunca mais
seria a mesma no mundo inteiro. O impacto do acordo assinado por Molotov e
Ribbentrop em Moscou, na sorridente presença de Stalin, que pacholamente fumava
seu cachimbo, foi quase semelhante ao que viria ser causado, anos mais tarde,
pelo Relatório Krushev.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">No Brasil,
especialmente nas fileiras do PCB, o acordo Molotov-Ribbentrop provocou efeitos
nefastos, embora alguns dirigentes, militantes e historiadores o tenham visto
como inevitável. “A União Soviética, nas circunstâncias de 1939, não tinha
alternativa”, justificou Jacob Gorender. Antonio Callado, que não pertencia ao
PCB, escreveu na época um artigo em que declarou “estar chocadíssimo e
decepcionado com a União Soviética”. Moacir Werneck de Castro, ligado ao PCB,
afirmou ter ficado desorientado: “Passei um período de total perplexidade,
trocando impressões nervosas e amarguradas com amigos que pensavam como eu”.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Não houve,
por parte da URSS e dos partidos comunistas, uma explicação plausível sobre o
acordo firmado com a Alemanha nazista. É possível que Stalin estivesse ganhando
tempo, pois havia uma certeza no mundo: que o ódio de Hitler aos comunistas o
faria, cedo ou tarde, atacar a URSS. Ante a perplexidade interna e externa, a
burocracia divulgou declarações exigindo disciplina e aceitação dos termos do
pacto.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">5 -</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Assinado em
23 de agosto de 1939, o pacto Molotov-Ribbentrop tinha um prazo: dez anos.
Ocorre que, em 22 de junho de 1941, para surpresa de Stalin, os nazistas – mais
de três milhões de soldados alemães, croatas, finlandeses, romenos, húngaros,
italianos e até espanhóis, invadiram a União Soviética, segundo estimativa de
Simon Sebag Montefiore, em “Stalin: a corte do czar vermelho”. Foi a chamada
operação Barbarossa. A opção das tropas soviéticas, de imediato, foi recuar
para o interior do país, como as tropas czaristas fizeram em face da invasão
napoleônica, em 1812. Em meio a tudo isso, Stalin ordenou a prisão e a execução
de inúmeros comandantes militares, acusando-os de traição, covardia e “ações
conspiratórias”.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O recuo das
tropas soviéticas tinha uma estratégia: a destruição simultânea das fábricas,
das áreas plantadas, dos rebanhos, das pequenas e médias cidades, de forma a
impedir que as tropas invasoras nazistas tivessem como se reabastecer e
alimentar. Represas, pontes e estradas foram dinamitadas, silos foram
incendiados, máquinas agrícolas foram danificadas – ou seja, tudo o que fora
construído entre 1917 e 1941 foi posto abaixo, inclusive a usina hidrelétrica
de Dniepropetrovski, uma das maiores do mundo.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>O esforço de guerra da URSS lhe valeu a perda de incalculável patrimônio
social e econômico - e algo em torno de 17,3% dos seus habitantes, dos quais
mais de 18 milhões eram civis. 46% do território da URSS foram ocupados pelos
nazistas e seus aliados. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O símbolo da
tenacidade russa foi a Batalha de Stalingrado, que mereceu de Carlos Drummond
de Andrade um poema de qualidade duvidosa, no melhor estilo do realismo
socialista (“Stalingrado, quantas esperanças!/Que flores, que cristais e
músicas o teu nome nos derrama!/Que felicidade brota de tuas casas!/.../Ó minha
louca Stalingrado”).</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Em toda a
área de Stalingrado, o Exército Vermelho sofreu um total de um milhão e
duzentas mil vítimas, dos quais cerca de 500 mil mortos. Foi a maior e mais
sangrenta batalha da Segunda Guerra Mundial – e tema de filmes e livros, entre
os quais “Stalingrado: o cerco fatal – 1942-1943”, de Antony Beevor,
“Barbarossa: a invasão da URSS pela Alemanha nazista”, de Will Fowler, e
“Stalingrado: a resistência heroica que destruiu o sonho de Hitler dominar o
mundo”, de Rupert Mathews.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">6 –</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Vale a pena
destacar: nenhum outro país, durante a guerra, sofreu perdas tão dramáticas como
a URSS. Afora as perdas humanas, algo em torno de 30 milhões de habitantes, a
URSS viu desmoronar, segundo cálculos confiáveis, mais de 70% da riqueza
nacional que construíra entre 1917 e 1941. Em contraste, os Estados Unidos
tiveram 417 mil mortos, sem batalhas dentro de suas fronteiras.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Com o fim da
guerra, portanto, a URSS, destroçada e com um imenso déficit humano, teve que
se reconstruir – e mais sacrifícios foram exigidos de sua população, que saíra
profundamente atingida do conflito mundial. Sacrifícios superiores aos exigidos
anteriormente, pois o fim da II Guerra Mundial marcou o início da Guerra Fria –
e a URSS assumiu responsabilidades sobre a vida dos países do Leste europeu,
que também estavam em escombros.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Mais uma vez
o povo soviético foi chamado a pagar a conta: escaldada pelo que acontecera
durante a II Guerra, a URSS desenvolveu, a partir daí, uma baita indústria armamentista,
período em que se tornou grande potência no ramo aeroespacial, na atividade
nuclear e no plano da qualificação cultural e científica. Não havia, porém, o
que consumir – sapatos e roupas eram de péssima qualidade, a crise de moradia
era gravíssima (três, quatro famílias dividiam um apartamento de dois quartos),
a escassez de alimentos era a rotina, o mercado negro e a corrupção dominavam
todos os escaninhos do Estado e da economia soviética. Um retrato vivo dessa
realidade pode ser encontrado no livro “Parque Gorky”, de Cruz Smith. Com ação
passada em Moscou, “Parque Gorky” oferece um retrato vibrante e convincente
sobre os motivos, a ideologia, o estilo de vida e a disseminada corrupção das
camadas médias da burocracia soviética. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O processo de
desestalinização, que se seguiu às denúncias do Relatório Krushev, pouco modificou,
de fato, a estrutura de poder de dominação da burocracia, que dera sustentação
ao stalinismo. A verdade é que o poder burocrático estendia-se a todas as
instâncias da vida soviética: ela, afinal, não só era responsável pela
administração do aparelho de Estado, como, também, pelo controle do enorme
aparelho produtivo e social da URSS, o que incluía fábricas, minas, fazendas
coletivas, redes de comunicação, de ensino e saúde, escritórios e serviços em
geral. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">A burocracia
confundia-se com o partido único e os órgãos repressivos, que, por sua vez,
eram os mecanismos através dos quais ela dominava o Estado e exercia o poder. A
ditadura do proletariado, que seria a dominação de classe, tornou-se, na
realidade, a ditadura da burocracia - sob a liderança de Stalin, o pai de todos
os comunistas do mundo.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Bem verdade
que os epígonos do stalinismo, através do Relatório Krushev, livraram o povo
soviético do terror absoluto, mas foram incapazes de inspirar-lhe esperança e,
como antes, não permitiram que ele expressasse pensamentos críticos. Na
verdade, tudo ficou como antes, mas sem o terror e os expurgos stalinistas.
Mas, havia uma explicação: os líderes da desestalinização eram oriundos da
burocracia e do poder que diziam combater.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">7 – </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">A
desestalinização não fez o PCUS – nem o Estado soviético - livrar-se da sua
natureza totalitária e opressora, pois as contradições históricas do país
continuavam vivas. Meses após as denúncias sobre os crimes de Stalin, tropas
soviéticas invadiram a Hungria, depondo um governo que pretendia estruturar um
governo democrático e socialista no país (V. a respeito: “Hungria, 1956”, de
Ladislao Pedro Szabo, organizador). Mas não foi só.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Em agosto de
1968, tanques do Pacto de Varsóvia, liderados por tanques soviéticos, esmagaram
a “Primavera de Praga”, que pretendia democratizar o país sob o comando do
líder reformista Alexander Dubcek.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Os dois
episódios tiveram efeitos perversos sobre a crença no ideal socialista.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">8 -</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O stalinismo
causou marcas tão penetrantes na sociedade soviética que a simples desestalinização
– e o modo como foi conduzida - foi incapaz de apagá-las, a não ser que ela
evoluísse na direção de um amplo, profundo e ativo movimento de regeneração do
poder. A expectativa que se tinha, conforme notou Ernest Mandel, é que as
lentas e rasas mudanças que se processavam na URSS tomassem, ao longo do tempo,
a forma de uma reação politicamente consciente das bases da sociedade. Não foi
o que aconteceu.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O
aparecimento no cenário político da União Soviética do grupo liderado por
Mikhail Gorbachev implicou numa tentativa de seguir um caminho inverso ao que
era seguido – e, mais importante, num esforço consciente de aprofundar reformas
políticas e econômicas. Com o intuito de promover a glasnost e a perestroika,
Gorbachev procurou o apoio do povo soviético, como forma de se opor aos setores
mais conservadores da burocracia, que ainda estavam presentes e atuantes no
cenário político da URSS. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">O “despertar”
do povo soviético, contudo, não se deu no sentido esperado por Gorbachev: ao
invés de buscar a assepsia da estrutura de poder, o povo soviético convergiu
para a negativa do socialismo. As propostas de restauração do capitalismo, que
a maioria não sabia o que era ou como funcionava, ganharam força na sociedade.
O irônico é que a transição foi realizada pelos que combatiam as propostas de
Gorbachev, ou seja, a liderança de remanescentes convertidos da própria
burocracia e da máquina repressiva do Estado, entre as quais a KGB. A rigor,
essa nova elite russa percebeu que o socialismo soviético tornara-se impossível
de ser sustentado - tantas e tão profundas eram as contradições que acumulara
ao longo de sete décadas. Putin, Medvedev e Sergey Lavrov, que comandam hoje o
poder russo, são egressos da KGB, são hábeis no uso do garrote. O mesmo se pode
dizer sobre os bilionários e chefes da Máfia russos. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Ironicamente,
a glasnost e a perestroika eram ferramentas que visavam reformar a estrutura do
poder, que, em última análise, se mostrou frágil – e que só se manteve em pé
durante 74 anos devido ao terror, a falta de liberdade e o medo. Enfim, “o
salto do reino da necessidade para o reino da liberdade”, a experiência
socialista da URSS chegava, de forma melancólica e surpreendente, ao seu fim.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">9 -</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Acabei de ler
um livro que vai fundo no sofrimento dos velhos comunistas russos pós-derrocada
da URSS. Trata-se de “O fim do homem soviético”, de Svetlana Aleksiévitch,
prêmio Nobel de literatura (2015). A experiência socialista durou 74 anos – e é
perfeitamente exato afirmar que milhões de “homens soviéticos” nasceram,
viveram e morreram sob um regime que iria desmoronar como um castelo de cartas.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">“A democracia
era para nós um animal desconhecido”, comentou um “homo sovieticus”, que ainda
afirmou não saber o que é democracia, capitalismo e liberdade. Um velho russo,
que lutou na Segunda Guerra, época em que perdeu a mulher e dois filhos,
assassinados por soldados nazistas, disse à Svetlana Aleksiévitch: “Ninguém nos
ensinou o que era liberdade. Só nos ensinaram a morrer pela liberdade”. Morrer
pela liberdade, para milhões de soviéticos, era morrer pela ditadura
stalinista, que parte considerável do povo soviético simplesmente venerava.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">“De onde
vieram esses russos milionários?” - indagou revoltada uma russa à Aleksiévitch.
Ela vivera na miséria durante o socialismo - e ainda hoje, em pleno capitalismo
russo, permanece paupérrima: vive de esmolas recolhidas na rua. Ela não
aceitava o argumento de que os russos milionários eram descendentes dos que
usufruíram as benesses do “socialismo real”. Os russos milionários teriam vindo
de fora – era o que repetia. O socialismo não podia ter criado os milionários
russos de hoje, afirmava ela.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Outro “homo
sovieticus” entrevistado por Svetlana observou que “os contrabandistas e os
cambistas tomaram o poder. E, ao inverso do que disse Marx, depois do
socialismo estamos construindo o capitalismo”. Sobre a URSS, o entrevistado
disse, com ar melancólico: “nunca vou esquecer o ar de liberdade daqueles dias...”
Ao visitar um casal de amigos, Svetlana ouviu o seguinte desabafo: “O
socialismo fazia as pessoas viverem na história. Fazer parte de algo
grandioso”. Outro comentário: “Nós não tivemos democracia, é bem verdade. E nós
aqui hoje somos lá democratas?”</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Ielena
Iúrievna e Anna Ilínitchna abriram um debate com Svetlana com a seguinte
observação: “faz tempo que eu quero que alguém me explique o que está
acontecendo conosco?” O comentário demonstra um sentimento típico do “homo
sovieticus”: a incompreensão das causas da derrocada da URSS e da atual
situação do país. </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Os soviéticos
alimentavam a certeza de que a URSS era sólida – afinal, era o produto
histórico de uma revolução dolorosa, de um processo de construção do socialismo
marcado pelo sofrimento, de uma guerra que destruiu o que fora construído, que
matou milhões de soviéticos, de uma reconstrução ainda mais difícil e sofrida.
Tudo isto, porém, desmoronara com uma rapidez impensável. Ielena e Anna não
compreendiam o sentido e o ritmo daquele processo social, pois, afinal, “o
socialismo não é só campo de trabalho forçado, não é só delação e cortina de
ferro; é também um mundo justo e limpo: dividir com todos, ter pena dos mais
velhos, ter compaixão e não juntar tudo para si”.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">Um dos mais
emocionantes depoimentos colhidos por Svetlana:</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 2cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">“Eu cresci em uma época totalmente
soviética. A mais soviética de todas. Sou cria da URSS. Mas a nova Rússia... eu
ainda não consigo entendê-la. Não consigo dizer o que é pior: o que temos agora
ou a história do PCUS [Partido Comunista da União Soviética]. A minha cabeça
tem uma forma soviética, tem essa matriz, passei metade da minha vida no
socialismo. Isso ficou em mim. Não tem como tirar. E não sei se quero me livrar
disso. Naquela época, a vida era ruim, mas agora a vida é terrível”.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Calibri;">“O fim do
homem soviético”, de Svetlana Aleksiévitch, é um livro dramático e, em última
análise, triste, muito triste: ele descreve nada mais que os escombros de um sonho
que não deu certo.</span></div>
<br />
<br />
Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-87469710502676078882017-08-27T12:58:00.002-07:002017-08-27T12:58:27.019-07:00Vamos mirar o alvo certo
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Quando trabalhei no governo Cristovam
Buarque, fiz, um dia, análise do orçamento do DF. Descobri, então, que 60% dos
gastos giravam em torno da praga chamada automóvel, caminhões, ônibus, por aí.
O cálculo foi simples: somei quanto custava o DETRAN, a Secretaria de Transportes,
os serviços e obras de construção, manutenção e recuperação de ruas, estacionamentos
públicos, de semáforos (incluí cortes e poda de árvores que atrapalham a visão),
pardais. Afora isto, admiti um percentual dos gastos em segurança (guardas de
trânsito). E fui por aí – juntando gastos e despesas.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Todos nós reclamamos dos serviços
públicos: a educação pública é ruim, escolas caem aos pedaços; a saúde pública
é precária, os hospitais são carentes. A segurança é péssima, os transportes
coletivos são uma vergonha. Eu, por exemplo, moro em Brasília, na Asa Norte, e
padeço dois dias semanais de racionamento d'água, afora os eventuais apagões.
Mas o Governo do Distrito Federal está fazendo, no final da Asa Norte, uma obra
enorme, que envolve ponte, viadutos, abertura de pistas, obra que se destina a
facilitar o escoamento do tráfico no sentido Lago Norte, Sobradinho e Granja do
Torto. Ninguém reclama do racionamento, mas li elogios à obra, apesar dos
transtornos e dos custos.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">A verdade é que temos uma visão
distorcida da relação cidadania/prioridades/gastos públicos. Não levamos em
conta que as receitas são limitadas, mas achamos que são infinitas quando estão
relacionadas com as nossas prioridades. Prioridades “nossas”, ou seja, de
classe, pois queremos ruas e estradas “europeias”, que facilitem no “nosso”
deslocamento. E isto custa - como constatei - 60% dos gastos do Distrito
Federal. O que sobra é destinada às prioridades “gerais”. Não sei se fui claro.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Hoje, todos culpam a corrupção pelas
nossas desgraças, mas os nossos males possuem outros componentes piores: a citada
relação cidadania/prioridades/gastos públicos é um deles. A corrupção é erva
daninha, deve ser combatida, os larápios devem ser presos. Mas a corrupção
sozinha não explica o que somos. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Apesar do racionamento d'água (minha
casa: dois dias/semana), vejo por aí os lavajatos funcionando a todo vapor: a
população do DF é da ordem de três milhões de habitantes; a frota de automóveis
é superior a 1,5 milhão, o que dá um carro/duas pessoas. Contudo, um estudo
local revelou que a média de veículos por família é de 4,2 carros. Isto
significa que a frota de carros de Brasília pertence a menos de 15% da
população. Vejam: uma obra faraônica está sendo feita, a lavagem de carros é
absurda, o gasto de água incalculável – mas disso ninguém <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>reclama. É uma das faces cruéis da relação cidadania/prioridades/gastos
públicos. Pior ainda: 60% das despesas orçamentárias do DF beneficiam 15% da
população.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">A verdade é que não percebemos
privilégios como esse. E como não percebemos, convivemos com eles. Às vezes
somos induzidos a desviar nossa atenção para outras questões, que, a rigor, são
menos graves que aquelas que não percebemos. Dou um exemplo: li, no facebook e
na mídia, imprecações contra os 3,6 bilhões que seriam destinados aos partidos
políticos. O Velhote do Penedo também é contra, embora aquela quantia represente
menos de 0,09% do orçamento federal – e menos de 1% dos 458 bilhões de
desonerações concedidos por Dilma desde 2011.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Eu ia escrever hoje sobre as perdas
que sofremos com a redução da hora-aula de 60 para 50 minutos. Prometi a alguns
amigos, a quem peço desculpas. Escreverei na terça.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: Calibri;">Penedense não vota no Lula!<o:p></o:p></span></span></div>
Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-82663554022490274992017-08-20T13:49:00.000-07:002017-08-21T12:05:51.068-07:00De dez em dez minutos, ampliamos o déficit cultural<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">No passado, a criança ia para colégio
aos sete anos. Dos sete aos onze, ela cursava o primário (quatro anos) e o
admissão (um ano) – espécie de curso preparatório para o ginásio (outros quatro
anos). O jovem, portanto, concluía o ginásio com quinze anos. Aí tinha que
fazer uma opção: ou ia para o clássico ou para o científico. Eram três anos –
de modo que o jovem concluía o ciclo com 18 anos. Estava apto para entrar na
faculdade. O Velhote fez o curso clássico porque queria estudar sociologia,
humanas. Se ele quisesse estudar física, faria o curso científico. A Reforma
Passarinho bagunçou tudo isso. Mas o Passarinho - e sua turma de tecnocratas -
não entendia nada de educação. Tinham apenas a força para impor sua reforma.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Fiz o curso primário no Colégio Santo
Antônio Maria Zaccaria, escola privada dos padres barnabitas. O ginásio e as
duas primeiras séries do clássico, no Colégio Sousa Aguiar, escola pública. O
último ano do clássico fiz no Pedro II. No Sousa Aguiar, tive excelentes
professores: Paulo Ronái (ensaísta, tradutor, introdutor de Balzac no Brasil, pai
da jornalista Cora Ronái); Orlando Valverde (geógrafo, conferencista, autor de
livros sobre a Amazônia); Bella Josef (especialista em literatura
latino-americana, com livros publicados em diversos países do nosso continente);
Almir Câmara de Matos Peixoto (um sábio: com quem, nas aulas de redação,
aprendi a escrever); Ernesto Faria (latinista, autor do melhor dicionário de
latim, hoje só encontrável em sebos); Leodegário Amarante de Azevedo Filho (da
Academia Brasileira de Filologia, organizador da obra de Cecília Meirelles, autor
de um belo livro sobre Camões); Edmundo Moniz (autor de “A guerra social de
Canudos”, “D. João e o surrealismo” e “O espírito das épocas”, editorialista do
“Correio da Manhã”); Silvio Edmundo Elia (latinista). No Pedro II, fui aluno de
uma das maiores autoridades em literatura, o acadêmico Álvaro Lins (autor de um
excelente estudo sobre Roquette-Pinto e da série “Jornal da crítica”, sete
volumes). Hoje, duvido que possamos encontrar na escola pública professores tão
qualificados como os que foram citados – afora os que ficaram fora da minha lista,
como Antônio José Chediak, Fernando Parga e Sylvio Guadagny.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Naquele tempo, só para dar um exemplo,
tínhamos seis horas semanais de português e outros seis de matemática. A
hora/aula tinha 60 minutos e, não, 50 minutos, como é hoje. Essa redução foi –
como direi - uma “conquista” discutível do movimento sindical dos professores.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Agora, entendam: em nome de não sei
quê direito, ao invés das 360 horas/aula de português e de matemática semanais,
passou-se a ter 300 horas/aula de cada disciplina. Dito de outra forma: com a
incorporação da “conquista”, do “direito” dos professores, todos os estudantes
perderam, por semana, uma hora de aula em cada disciplina. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Imaginem o déficit de conhecimento que
isso acarretou. Quantos milhões, bilhões, trilhões de minutos de aula, de
transmissão de conhecimento, se esfumaram ao longo do tempo, e vão continuar a se
esfumar – em nome de um “direito”, uma “conquista” no fundo bizarra de uma
corporação?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Reconheço que, como professor, desfrutei
do “direito”, sem nunca me ter dado conta de que ele era, no mínimo,
extravagante. Considero esse “direito” uma aberração, um privilégio. Fiquei
velho.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">O que eu quero dizer, em resumo, é o
seguinte: dez minutos a mais de aula não mata ninguém - professor ou aluno. Mas
se a hora/aula voltasse a ser de 60 minutos, a relação ensino-aprendizagem
seria substancialmente acrescida. O tempo de aprendizagem se ampliaria.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Não sei se hoje com computadores,
celulares, redes sociais, facebook, internet, o ensino melhorou. Eu suponho que
não, pois no passado os estudantes tinham que fazer um esforço enorme para
estudar e investigar - e isso o obrigava a ler, a ir a bibliotecas, a fazer
consultas, a escrever, a desenvolver capacidades de análise, a refletir, a trabalhar
em grupo. Nos dias atuais, basta consultar o Google. E imprimir.
Solitariamente. Depois reclamam do número crescente e assustador de analfabetos
funcionais no país. Afora, a quantidade absurda de feriados que atravancam o
ensino no Brasil.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">(Aproveito para contar um episódio:
certa vez mandei meus alunos lerem um livro da literatura brasileira. Eram 40
alunos. Distribui quarenta títulos, um para cada aluno. Eles teriam que
escrever uma resenha. Um aluno, que sentava no fundo da sala, entregou-me a resenha
– que claramente não era dele. Procurei no Google – e bingo! Em sala, elogiei o
trabalho dele, mas pedi que me desse o significado de cinco palavras que ele
“usara” no texto. Claro, ele não sabia. Dei-lhe zero, inclusive porque não lera
o livro. Hoje, esse menino, que desistiu de ser jornalista, é baterista de uma
banda heavy metall. Houve outros casos de cópia, mas basta o exemplo).<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Enfim, acho que as corporações adoram
falar em direitos, em conquistas, sem perceber que muitos são, a rigor,
privilégios corporativos. Mas isto é outra história, outra discussão.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";"><o:p></o:p></span></span> </div>
Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-2206315209353283382.post-4495805955808244672017-06-28T14:46:00.001-07:002017-06-28T16:26:21.414-07:00Picaretagem e golpismo<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Nunca
pensei em começar um texto afirmando que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
é um sujeito que costuma perder o senso de oportunidade em face de situações em
que dele se espera, no mínimo, equilíbrio, serenidade prudência. Diante de
fatos novos e tensos, FHC age como um perfeito picareta.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Vou
lembrar uma história. Quando Sarney era presidente, em 1986, FHC ocupou por um
tempo a liderança do governo no Senado. O país estava paralisado, a inflação
estava no topo, nada dava certo – e eis que FHC, no dia 27 de fevereiro de
1986, rompe subitamente com o governo e, por meio de uma entrevista coletiva,
lasca a ripa no presidente, “um sujeito indeciso, incapaz de reagir à crise”,
disse. FHC foi impiedoso: “O presidente é um homem sem grandeza”. Dito isto,
presumo que FHC e golpismo foi dormir com a alma lavada, certo de que os louros iriam
premiar sua atitude destemida, embora insensata. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">No
dia seguinte, 28 de fevereiro de 1986, o presidente Sarney surpreendeu o Brasil,
o mundo e o ex-líder do seu governo no Senado: lançou o Plano Cruzado, congelou
os preços, convocou o povo (“meus fiscais”) – tudo isso sob a batuta do
ministro Dilson Funaro, da Fazenda. Ou seja, a coisa foi planejada e ocorreu
sem que o líder FHC soubesse do que estava sendo bolado por Funaro. Sarney
calou a boca de FHC, da mesma forma que Mário Covas, anos depois, iria se opor
a FHC, que estava disposto a aderir ao governo Collor. Covas sabia que a adesão
do PSDB ao Collor era uma fria sem tamanho, enquanto FHC, tangido por presunção
de esperteza, estava disposto a consumar a aliança implausível. Covas evitou
que o PSDB entrasse numa fria.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Agora,
FHC dá uma entrevista – e, lembrando José Américo de Almeida na reunião
ministerial que fez Getúlio decidir pelo suicídio, falou que Temer devia
praticar um “gesto de grandeza”, renunciando ao mandato. O que FHC não pensou é
que, caso renunciasse, Temer estaria fazendo uma confissão de culpa. FHC é como
o velho samba de Noel: não sabe o que diz.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Dito
isto sobre o FHC, vamos ao que interessa: a denúncia do procurador Janot, cume
de uma manobra golpista e execrável contra Temer e, consequentemente, contra as
reformas e a Lavajato. Não digo isto por achar que Temer é uma maravilha. Não
é. Mas não é também esse sujeito abominável que Janot, a Rede Globo e os oportunistas
de plantão, muitos dos quais pendurados nas redes sociais, sugerem. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">O
que me espanta é a maneira torpe como Janot alicerça a denúncia contra o
presidente da República no depoimento de um delinquente. Joesly confessou ter
cometido mais de 200 crimes, subornado mais de 1800 pessoas – além de ampliar
sua riqueza com dinheiro público, que ele afanou. Obteve um baita empréstimo do
BNDES e o investiu nos EUA, o que é ilegal. Janot, no afã de atingir Temer, deu
a Joesly um indulto raro, livrando-o das penas dos crimes que cometeu. Isto
tudo me intriga: uma das condições da delação premiada é garantir o retorno aos
cofres públicos da grana roubada pelo delator. Janot, contudo, fez um acordo
que beneficia o delator, não o obrigando a ressarcir devidamente os cofres
públicos. O que me pergunto: pode um procurador geral fazer isto?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Papel
importante na trampa está sendo desempenhado pela Rede Globo – e sua tropa de
jornalistas delinquentes. Em alguns casos, o comportamento de alguns deles é
simplesmente miserável e canalha; noutros casos, o noticiário mergulha no
besteirol e na desonestidade simples. Bom, mas isto é uma questão de biografia:
cada um que cuide da sua.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">A
campanha contra Temer teve início logo que ele assumiu: primeiro, foi “acusado”
de não ter experiência administrativa; depois, surgiram ilações canalhas sobre
sua a mulher e filho. Ouviram-se críticas aos seus livros. Bem, a coisa foi
crescendo numa sucessão absurda: seus principais ministros foram afastados,
questionaram-se suas iniciativas, como a reforma do ensino médio, tendo a Rede
Globo estimulado, através de reportagens mal intencionadas, a invasão das
escolas e a destruição de bens públicos. Veio, enfim, a reforma – e o mundo não
veio a baixo. Estabeleceu-se um teto de gastos – e mais ataques, alguns
ridículos. A esquerda atrasada berrou: figuras grotescas, como o deputado Molon
(um frango que pensa que é um galo), despontaram; o senadorzinho do Acre,
Randolphe Rodrigues teve mais um dos seus habituais chiliques e achaques, não
se sabendo até hoje o que ele pensa sobre a vida, as pessoas e as coisas.
Gleisi, Lindenberg, Feghalli e Graziotin – o incrível quarteto que ainda adora
Stalin e Enver Hoxha se pôs a recitar palavras de ordem típicas dos anos 1950.
O controle de gastos, apesar de tudo, foi aprovado. Ano que vem – espero – esta
tropa será repudiada pelos eleitores.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Na
verdade, Temer foi atacado com uma voracidade espantosa. Houve o episódio da
carne, que nos custou, ou quase, posições importantes no ranking das
exportações mundiais do produto. Percebeu-se depois que o escândalo eclodira em
razão de ações precipitadas e erradas da Polícia Federal. Mas o estrago já fora
feito. Depois, falou-se que a ABIN, atendendo ordens diretas do presidente
Temer, estava espionando o Janot e o Fachin, o que, apesar do ruído, não se
confirmou. Acusaram-no de utilizar, em viagem familiar, o avião da JBS. Quilos
de cocaína foram apreendidos, com acusações torpes ao ministro da Agricultura. A
viagem de Temer à Rússia e à Noruega foi ridicularizada. Agora, a denúncia contra
o presidente, baseada na delação de um notório escroque, que auferiu no acordo
com Janot benesses e vantagens inacreditáveis.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Já
chamei a atenção dos verdadeiros absurdos da denúncia de Joesley, a qual foi
encampada por Janot e Rede Globo. A mais absurda é aquela que diz que os 500
mil da famosa mala fazia parte de um acordo, acertado entre Joesley e Temer, de
pagamento semanal do primeiro ao segundo, durante os próximos vinte anos. Ora,
o ano tem 52 semanas; logo, por ano, Temer receberia de Joesley, caso o acordo
fosse verdadeiro, cerca de 26 milhões, perfazendo, em vinte anos, a bagatela de
520 milhões, ou seja, meio bilhão de reais. Desculpem, mas só idiotas podem
acreditar nessa história. Temer tem pouco mais de um ano de governo: porque
então pagar 500 mil por semana, durante 20 anos?<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">Mas
a opinião pública, envenenada pelo jornalismo delinquente da Globonews, passou
a repetir a tolice, repetindo nas redes sociais informações nitidamente
mentirosas.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="font-family: "calibri";">*****<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 6pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "calibri";"><u><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">Em
tempo</span></u><span style="mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;">: por que a Polícia Federal suspendeu a emissão de passaportes no
dia seguinte ao pronunciamento de Temer? Aviso que não acredito em
coincidências e acasos. Algo há.<o:p></o:p></span></span></div>
Ronaldo Conde Aguiarhttp://www.blogger.com/profile/05739838130277900989noreply@blogger.com0