Há uma frase de Carlito Rocha que resume o que pretendo escrever neste artigo: “Brasil? Fraude explica”!
Todos os dias, lemos nos jornais notícias (algumas surpreendentes) sobre novos e evidentes escândalos, que, em geral, por força da pressão da mídia, resultam na queda do ministro envolvido. Já foram, se a minha memória não falha, cinco ou seis ministros defenestrados por razões de improbidade ou grossa bandalheira. Só um, o ministro Jobim, foi punido por ser um boquirroto. A bola da vez, tudo indica, será o ministro Lupi, do Trabalho.
Sejamos justos: tais escândalos (ou malfeitos, como prefere “tia” Dilma) não são uma marca exclusiva do atual governo. Tais escândalos são, na verdade, uma herança (podre!) do governo Lula, que, nos oito anos em que foi hóspede do Planalto, foi complacente com a corrupção, mesmo quando ela era feita nas suas barbas – ou seja, na sala ao lado, na Casa Civil. Lula, ao longo dos oito anos, tudo fez para negar, desmentir e desqualificar as acusações que manchavam o seu governo, enquanto os veios de corrupção estavam sendo construídos e utilizados à farta na máquina governamental.
Lula e, agora, Dilma, estruturou o seu governo de uma maneira que só podia levar ao que levou. Eles (Lula e Dilma) “feudalizaram” o governo: o ministério X é do partido A; o partido B fica com o ministério Y; a agência Z vai para o partido C; o partido W leva a estatal D; e assim por diante, numa orgia de nomeações e distribuição de “nichos”, onde o mérito não contava e, sim, o cacife político ou a utilidade política. Tudo isso foi feito com vistas à montagem de uma maioria composta de deputados vorazes por cargos, influência e grana. No fundo, não temos um governo orgânico, mas uma malha de “feudos” que não se articulam entre si, pois cada um deles está a serviço do partido que o domina.
A corrupção não é um mero roubo de dinheiro público. Esta é sua manifestação explícita, externa. A corrupção tem outro significado: ela é, também, um mecanismo implícito de cumplicidade e, ao mesmo tempo, de subordinação dos agentes envolvidos (na corrupção) com a força política dominante, que criou as condições para que a corrupção prosperasse. O PT tem um projeto “duro” de poder – e para levá-lo adiante tudo vale - inclusive a convivência (e a aquiescência) com a corrupção.
Claro, tal equação gera inúmeras questões. Primeiro, o envolvimento de gente do PT com a corrupção (foi o caso do “mensalão”), que mela a isenção que a cúpula governamental gostaria de ter; segundo, o papel da mídia na denúncia dos chamados (pela “tia” Dilma) “malfeitos”, o que bagunça a equação política do governo. A mídia é, de fato, um espinho na garganta dos detentores do poder, pois deixam expostas as entranhas de um projeto de poder com viés autoritário. Daí as propostas que surgem, amiúde, de criação de mecanismos de “controle” dos meios de divulgação. É preciso enquadrar a mídia – e impedir a publicação das denúncias.
O modelo de governo do PT nada mais produziu (além do que foi dito acima) que uma aguda e irreversível descaracterização política dos partidos aliados – os partidos “enfeudados”. Que identidade própria (política e ideológica) tem, por exemplo, o PMDB? E o PCdoB, que a Época chamou de PCdoBolso? Vejamos o caso do PDT, que é o partido do Lupi.
O PDT nasceu sob a inspiração do trabalhismo e do nacionalismo, cuja raiz tinha origem em Getúlio Vargas, Jango, Alberto Pasqualini e Leonel Brizola. Depois da morte de Leonel Brizola, o PDT ficou órfão – e, literalmente, perdeu sua identidade. Alguém, em sã consciência, acredita que um sujeito como Lupi tenha envergadura política para liderar e levar adiante as bandeiras do trabalhismo e do nacionalismo?
O PDT era um partido forte em dois estados (Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) e estava crescendo em outros, como Santa Catarina, Ceará e Mato Grosso do Sul, entre outros. Após a morte de Brizola, a coisa toda degringolou. No Rio de Janeiro, por exemplo, o PDT, nas últimas eleições, sequer teve candidato para as vagas de senador. Em nome de uma aliança espúria, o PDT (de Lupi) apoiou Sérgio Cabral (que sempre desprezou Brizola). E não só isso: onde estão as grandes prioridades do PDT? Como está a “prioridade das prioridades”, como diziam Brizola e Darcy, quando se referiam à educação? Alguém já viu ou ouviu o Lupi defendendo os Cieps? O PT – o Lula, em especial – sempre foi um inimigo declarado dos Cieps e da educação em tempo integral. Tanto que o Lula ficou no poder durante oito anos – e a educação no Brasil é um descalabro.
Lupi, no fundo, é um sujeito bem sucedido: chegou longe demais, sem possuir grandeza, competência e mérito para tanto. Vai cair com desonra – e periga levar o PDT com ele.
Ao PDT só resta dois caminhos: expulsar o Lupi e abandonar a frente que apoia o governo do PT. Seria uma maneira de o partido do Brizola, do Darcy, do Doutel de Andrade, do Brandão Monteiro, de tantos outros verdadeiros trabalhistas e nacionalistas, iniciar o penoso (mas necessário) caminho de volta às suas origens.
Uma nota final
Petistas e agregados costumam dizer que as histórias que surgem quase diariamente de corrupção não passam de “denuncismo”, que seria, segundo eles, uma prática da direita. Tolice. O PT quando era oposição vivia denunciando os governantes e tentava vender uma imagem de “vestal da moralidade”. O PT quer que todos nós nos calemos (e sejamos cúmplices, por omissão) da corrupção que campeia no Brasil?
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