quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Álvaro Vieira Pinto, um grande homem


Há uns três anos escrevi para o jornal O Globo o artigo abaixo sobre uma das pessoas mais notáveis que conheci: o professor Álvaro Vieira Pinto. Não, não convivi com ele, mas a ele fui apresentado por um amigo após uma palestra dele na Associação Brasileira de Imprensa, ABI. Isso foi em 1963. No ano seguinte, os milicos botaram os tanques na rua – e o Brasil submergiu, lentamente, na escuridão da ditadura.
Nunca mais vi Álvaro Vieira Pinto, que, ameaçado de prisão, exilou-se. Foi cassado, proibido de dar aulas, proibido de trabalhar. Homem de grande estatura moral, não se abateu. Quando voltou ao Brasil, além dos processos por subversão que teve que responder, sobreviveu escrevendo artigos, verbetes para enciclopédias, traduziu livrinhos pífios (sob pseudônimo). Recebia uma aposentadoria mínima. Levou uma vida de grandes restrições materiais, mas pôde escrever uma obra de grande valor intelectual, que, fôssemos um país sério, seria cultuada. Vieira Pinto faleceu no Rio de Janeiro, em 11 de junho de 1987.

Álvaro Vieira Pinto e o conceito de tecnologia
Há alguns anos, durante palestra numa conceituada universidade brasileira, Darcy Ribeiro afirmou que o veto ditatorial a determinados intelectuais, políticos e escritores funcionara admiravelmente. E deu o seguinte exemplo: alunos da casa faziam mestrado ou doutorado em filosofia sobre Heidegger, Kant e Hegel, entre outros sábios, mas nada sabiam sobre Álvaro Vieira Pinto, “o único filósofo ativo que havíamos produzido”. Na plateia, ao meu lado, um jovem professor virou-se para mim e perguntou, em voz baixa: “Mas, afinal, quem foi esse Álvaro Vieira Pinto?” Não se surpreendam, mas há professores universitários que não sabem quem foi e o que escreveu o autor de O conceito de tecnologia.
Comecemos pelo básico. Álvaro Vieira Pinto nasceu na cidade de Campos (RJ), em 1919. Tinha 68 anos quando morreu no Rio de Janeiro. Foi catedrático da Faculdade Nacional de Filosofia da então Universidade do Brasil (hoje UFRJ) e responsável pelo departamento de filosofia do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). O golpe militar de 1964 levou-o ao exílio e submeteu-o a vários processos: era, segundo os militares, um perigoso agente da subversão. As coisas eram assim, naqueles idos: um filósofo tornara-se um perigoso agente da subversão; militares armados, alguns dos quais iriam se destacar na prática da tortura contra presos políticos, eram cristãos e democratas.
Vieira Pinto era homem de vasta erudição e enorme modéstia. Referia-se a si mesmo como “filósofo pobre de um país subdesenvolvido”, embora fosse chamado de “meu mestre” por Paulo Freire. Era, na acepção da palavra, um sábio. Deixou uma obra da mais alta qualidade, que, com a publicação de O conceito de tecnologia, começa a ser resgatada. Falemos de três livros seus, em atenção à curiosidade do leitor – que, afinal, precisa saber “quem foi esse Álvaro Vieira Pinto”.
Consciência e realidade nacional, editado em 1960, é um dos textos clássicos de Vieira Pinto. Nele, discutiu a dramaticidade de ser brasileiro imerso nas difíceis opções da história. O debate proposto pelo autor girava em torno da relação recíproca entre consciência e o ser da nação, a partir da oposição entre consciência ingênua e consciência crítica, as quais expressavam visões antagônicas da realidade e dos rumos do desenvolvimento nacional. O debate é ainda atual.
A consciência ingênua apoia-se muitas vezes nos mitos e na sacralização dos fatos, perdendo-se, na expressão de Manoel Bomfim, no nevoeiro das aparências. “O Brasil é assim mesmo”, “o brasileiro não quer nada”, “o brasileiro é preguiçoso” – são algumas das verdades consagradas pela consciência ingênua, que elegeu Macunaíma, o herói sem caráter, e Jeca Tatu, o caipira fatalista e preguiçoso, como os arquétipos do homem brasileiro. “O brasileiro não tem jeito mesmo”, eis o pensamento síntese dos que temem qualquer tipo de mudança.
A consciência crítica, por outro lado, é inquietadora, na medida em que tem por exigência essencial a sua adequação às mudanças que ocorrem na sociedade. A consciência crítica pressupõe a valorização da consciência de nacionalidade voltada para um projeto de desenvolvimento próprio, ou seja, para um projeto nacional, contrário a quaisquer outros projetos impostos de fora para dentro ou que condene a nação a uma espécie de modernização conservadora - e, como tal, excludente e imobilizadora.
Obra-síntese do nacionalismo brasileiro em seu tempo, Consciência e realidade nacional é, ainda hoje, obra válida, na medida em que os impasses brasileiros – logo, os problemas ainda não resolvidos da nossa realidade – se localizam, como origem, no plano das opções de desenvolvimento que adotamos, ou fomos/somos forçados a adotar ao longo da nossa trajetória histórica.
Em Ciência e existência, escrito em 1967, durante o seu exílio no Chile, Vieira Pinto desenvolveu longa e erudita reflexão sobre os problemas filosóficos da pesquisa científica. “A ciência – disse ele – só pode tornar-se um instrumento de libertação do homem e do seu mundo nacional se for compreendida por uma teoria filosófica que a explique como atividade do ser humano pensante e revele o pleno significado da atitude de indagação em face da realidade natural e social”. Um país, como o Brasil, que necessita emancipar-se política e economicamente, precisa adquirir, segundo Vieira Pinto, capacidade de construir ideias e conhecimentos, a partir das quais possa compreender a si mesmo e explorar o mundo que lhe pertence, em benefício de si mesmo, ou seja, da sociedade brasileira. Com o lançamento, agora, de O conceito de tecnologia, os estudos de Vieira Pinto sobre o fenômeno científico ganham dimensão especial, projetando-se como um facho de inteligência sobre os debates corriqueiros onde atualmente se estiolam.
Em Por que os ricos não fazem greve? – livro que integrava o projeto “Cadernos do povo brasileiro”, da editora Civilização Brasileira, que Vieira Pinto dirigia juntamente com Enio Silveira – desenvolveu a tese de que os ricos não fazem greve porque os trabalhadores as fazem por eles. Numa sociedade como a nossa, observou Vieira Pinto, os eventuais ganhos dos trabalhadores grevistas são imediatamente repassados para a sociedade, sob diversas formas, inclusive a de reajustes de preços das mercadorias, de modo a recompor os ganhos do patronato. Isto, evidentemente, com o beneplácito dos governos. As greves, assim, se anulam e, no fundo, derrotam os próprios grevistas. Estamos falando de greve no regime capitalista.
O conceito de tecnologia reabre, em muitos aspectos, os debates propostos por Vieira Pinto nos seus livros anteriores, inclusive os não referidos neste artigo, como A questão da universidade e Ideologia e desenvolvimento nacional. Vieira Pinto não demoniza a tecnologia como não fecha os olhos para o avanço das técnicas, as quais, segundo o pensamento crítico, são potencialmente libertadoras, pois se integram no processo do desenvolvimento histórico universal da razão.
As técnicas são as formas da ação produtiva humana, racionalizada em virtude de obedecer ao conhecimento dos corpos e das forças naturais. Nesse sentido, elas são mediações, na medida em que o ser humano pensante é, através do seu trabalho, o verdadeiro autor do seu destino.
Vieira Pinto descarta o conceito de “era tecnológica” - ou, o que dá na mesma de “civilização tecnológica” - como definidor do mundo atual. Isso porque os apologistas da “era ou civilização tecnológica”, embasados no pensamento ingênuo, negam, com isso, a idéia de formação social como totalidade. A expressão “era ou civilização tecnológica”, aplicada aos tempos atuais, significa desconhecer ou negar o fato de que toda época possui a tecnologia que lhe é própria e de que a história é um processo contínuo de transformações. Cada momento histórico de qualquer formação social define-se, portanto, como uma era tecnológica específica, não cabendo, portanto, qualquer referência especial aos tempos atuais.
O deslumbramento tecnocrata pela “era tecnológica” resulta, antes de tudo, da falsa ideia de que a história é um produto da técnica. “A criação tecnológica de qualquer fase histórica”, observou Vieira Pinto, “influi sobre o comportamento dos homens, sem por isso, entretanto, haver o direito de considerá-la o motor da história. Apenas explica um estado de assombro e desnorteamento, e a correlata crise de valores, por motivo das profundas modificações nos hábitos sociais, nas formas de convivência e comunicação e nas respectivas maneiras de pensar”. Traço específico da consciência ingênua, a valorização da tecnologia é ideológica, no sentido em que busca glorificar a dominação dos chamados detentores das “tecnologias de ponta”.
Opondo-se aos críticos da tecnologia, entre os quais aqueles que a veem como “inimiga do homem, de causa do esmagamento dele”, Vieira Pinto nota que a vinculação da técnica com a figura de “terrível dragão postado à entrada do Paraíso”, tem principalmente por função impedir o aceso equitativo da maioria dos homens aos bens que produzem. “Opera como processo social seletivo”, concluiu. O mesmo se pode dizer sobre os indivíduos que defendem a renúncia à tecnologia, propondo um ingênuo “retorno” às origens, como se no passado ou no primitivo não existissem técnicas – e delas eles estivessem “livres”.
Vieira Pinto desenvolve, sobretudo no volume II de O conceito de tecnologia, ampla reflexão acerca da dicotomia entre as metrópoles e as nações subdesenvolvidas. “A mais corrente das teorias metropolitanas sobre as desigualdades de desenvolvimento tecnológico no campo das relações internacionais consiste em pretender que unicamente os povos adiantados têm condições para fazer progredir a ciência, porquanto o saber cresce em função do próprio crescimento”.
Tal concepção, muito em voga no meio tecno-científico, implica em considerar os cientistas e pesquisadores nativos eternos aprendizes. Bem verdade que a notável riqueza dos desenvolvidos lhes garante ponderáveis vantagens sobre os pobres. Contudo, os desenvolvidos não possuem o monopólio da inteligência e do talento. “Fazendo crer que a tecnologia fornece o instrumento da revolução pacífica do desenvolvimento, e ao mesmo tempo insinuando aos povos marginais a impossibilidade de engendrarem a técnica em quantidade e qualidade requeridas, os ideólogos do mundo alto convencem as populações atrasadas da prática inviabilidade de saírem por si mesmas da miserável condição onde vegetam”.
Este elixir de bruxas (a expressão é de Vieira Pinto) entorpece a consciência das nações pobres, abrindo espaço às variadas formas de “ajudas financeiras e técnicas”, que, ao contrário do que supõe o pensamento ingênuo, não leva ao desenvolvimento – e, sim, à dependência irremediável e à pobreza, como, aliás, provam as histórias dos países periféricos.
Enfim, O conceito de tecnologia é, sem dúvida, o mais consistente ensaio sobre algo que está presente no cotidiano humano: a tecnologia. São 1.328 páginas sobre o tema, embora o texto seja tão claro e límpido quanto a linha de raciocínio do autor.
O conceito de tecnologia é leitura indispensável a todos que pretendem compreender o esforço do homem pensante em dominar as condições de sua própria existência.
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Da série: “apenas para não esquecer” (I)
O governador Sérgio Cabral decretou luto pela morte do jornalista Rodolfo Fernandes. Merecido, sem dúvida. Agora, por que não fez o mesmo pela morte das cinco pessoas do bondinho de Santa Teresa? Aliás, o governador, até hoje, 31 de agosto de 2011, não fez qualquer declaração pública a respeito das mortes em Santa Teresa.
E por falar nisso...
O secretário de Transportes do Rio de Janeiro, Júlio Lopes, disse estranhar que o motorneiro, Nelson Correa da Silva, um dos cinco mortos no acidente, não tenha levado o bonde para oficina após pequena colisão antes da tragédia. Na entrevista, Júlio Lopes fez a insinuação maldosa: “Não queremos tirar e não tiraremos qualquer conclusão precipitada, qualquer ilação. Não se sabe por que motivo Nelson não levou o bonde para a oficina”.
É mole acusar um morto, que não pode se defender.
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Ricardo Gomes
Como vascaíno e sujeito que gosta de futebol, estou torcendo pelo restabelecimento do Ricardo Gomes, um cara digno, sério, responsável. Nós, vascaínos, esperamos que ele possa reassumir as suas funções em breve.


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Frases sobre o Brasil
Há anos coleciono frases sobre o Brasil. Tenho centenas delas – que tratam como gentes, aparências, situações, política. Tenho para mim que às vezes uma frase diz mais sobre o Brasil que um ensaio sociológico. Escolhi dez frases que traçam um retrato 3 X 4 deste país.
·         O Brasil é um país onde a esperteza passou a ser chamada de competência (Antonio Ermírio de Moraes).
·         Afinal, se a corrupção não for organizada no Brasil, o que vai ser? (Luís Fernando Veríssimo).
·         Viver lá fora é bom mas é uma merda; viver no Brasil é uma merda mas é bom (Tom Jobim).
·         Reparem como o brasileiro se espanta cada vez menos (Nelson Rodrigues).
·         Querem saber de uma coisa? No Brasil, tudo é possível (Lima Barreto).
·         Vomitar no Nordeste é símbolo de status (Ivan Lessa).
·         De quinze em quinze anos o brasileiro esquece os últimos quinze anos (Ivan Lessa).
·         Disse e repito: não entendo essa onda toda a respeito dos nossos problemas carcerários. São facílimos de resolver: é só botar na cadeia gente de melhor gabarito social (Millôr Fernandes).
·         Dormia a nossa pátria-mãe tão distraída, sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações (Chico Buarque).
·         Eu não tinha entendido o termo “capitalismo selvagem” até que um representante do FMI desceu em Brasília, pediu que carregassem sua bagagem e um ministro da área econômica disse: “Sim, bwana” (Luís Fernando Veríssimo).

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Essa “gracinha” ao meu lado é a cantora Ademilde Fonseca, 90 anos, a Rainha do Chorinho, durante o lançamento do meu livro “As Divas do Rádio Nacional”, em julho de 2010, no teatro Baden Powell, no Rio de Janeiro. Dói reconhecer: eu pareço mais velho que ela.
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domingo, 28 de agosto de 2011

Gol de Romário na Câmara dos Deputados
Romário (PSB-RJ) fez, no último dia 22 de agosto, um excelente discurso na Câmara dos Deputados, sobre os impactos das obras da Copa e das Olimpíadas na questão da moradia. Foi um discurso firme, bem fundamentado e humano, que deve ser registrado. Um discurso curto, mas que diz tudo Não só foi um golaço do Baixinho, como, principalmente, deveria servir de exemplo aos, segundo disse o Lula, mais de 300 picaretas do Congresso. Dá-lhe, Romário!
O texto do discurso do Romário segue abaixo, na íntegra:

Senhor Presidente,
Nobres colegas:
Quem me conhece, quem acompanha minha atuação como parlamentar, sabe que eu, como milhões de brasileiros, estou na torcida para que o país realize da melhor maneira possível a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
É por isso, inclusive, que tenho demonstrado preocupação e cobrado publicamente explicações das autoridades para os atrasos nos preparativos para esses eventos.
Por outro lado, assim como vários colegas da Comissão de Turismo e Desporto, tenho procurado chamar a atenção para a necessidade de que esse processo seja conduzido com absoluta transparência, com espírito cívico, e também para que não deixemos em momento algum de ter em mente o legado desses eventos esportivos, isto é, o que vai ficar para a nossa população depois que o circo for embora.
Por isso, Senhor Presidente, é que venho acompanhando com apreensão as notícias sobre o modo como têm sido realizadas, em alguns casos, as desapropriações para a realização das obras. Há denúncias e queixas sobre falta de transparência, falta de diálogo e de negociação com as comunidades afetadas, no Rio de Janeiro e em diversas capitais.
Há denúncias também de truculência por parte dos agentes públicos.
Isso é inadmissível, Senhor Presidente, e penso que esta Casa precisa apurar essas informações, debater esse tema.
Não podemos nos omitir.
Diante desse quadro, nosso país foi objeto de um estudo das Nações Unidas, e a relatora especial daquela Organização chegou a sugerir que as desapropriações sejam interrompidas até que as autoridades garantam a devida transparência dessas negociações e ações de despejo.
Um dos problemas apontados se refere ao baixo valor das indenizações.
Ora, nós sabemos que o mercado imobiliário está aquecido em todo o Brasil, em especial nas áreas que sediarão essas competições.
Assim, o pagamento de indenizações insuficientes pode resultar em pessoas desabrigadas ou na formação de novas favelas.
Com certeza, não é esse o legado que queremos.
Não queremos que esses eventos signifiquem precarização das condições de vida da nossa população, mas sim o contrário!
Também não podemos admitir, sob qualquer pretexto, que nossos cidadãos sejam surpreendidos por retroescavadeiras que aparecem de repente para desalojá-los, destruir suas casas, como acontece na Palestina ocupada.
E, como frisou a senhora Raquel Rolnik, relatora da ONU, “remoções têm que ser chave a chave”. Ou seja, morador só sai quando receber a chave da casa nova.
É assim que tem que ser.
Tenho confiança de que a presidente Dilma deseja que os prazos dos preparativos para a Copa e as Olimpíadas sejam cumpridos, mas não permitirá que isso seja feito atropelando a Lei e os direitos das pessoas, comprometendo o futuro das nossas cidades. Espero que ela cuide desse tema com carinho.
É hora, Senhor Presidente, nobres colegas, de mostrarmos ao mundo que o Brasil realiza eventos extraordinários, sem faltar ao respeito com a sua população.
Era o que tinha a dizer. Muito obrigado.



Celly Campelo, a menina bonita
Falo de Celly Campelo no meu último livro, “Guia do passado”. Falo da moça bonita que, no auge do sucesso, abandonou a carreira, casou-se e foi cuidar da vida e dos filhos. Celly foi um baita sucesso nos anos 1950, Quem não se lembra das músicas “Estúpido Cupido”, “Lacinhos cor-de-rosa”, “Tammy”, “Broto legal” e “Túnel do amor”?
Celly Campelo faleceu em 2003 de câncer. No vídeo abaixo, Celly Campelo canta “Tammy”, uma das músicas mais belas do seu repertório. A canção “Tammy” foi música tema do filme “Tammy and the Bachelor” (A flor do pântano), e quem a interpretou primeiro foi a atriz Debbie Reynolds.



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A bela Lyris Castellani
Em 28 de janeiro de 1987, Caio Fernando Abreu publicou no Caderno 2 de O Estado de S. Paulo a crônica (abaixo) sobre a atriz e dançarina Lyris Castellani, que no período 1957-1963 atuou e dançou em nove filmes, entre os quais Absolutamente certo (1957), Fronteiras do inferno (1959), A morte comanda o cangaço (1961) e A ilha (1963).
Lyris Castellani nasceu na cidade de São Paulo, em 22 de novembro de 1934, e seu verdadeiro nome era Liris Cecília da Costa e Silva. No meu “Guia do passado” coloco Lyris na minha lista das dez mais belas do Brasil nos anos 1950. Lyris desapareceu em 1961. Ninguém nunca mais soube dela. Onde esteve? Onde estará?
Leiam a crônica de Caio Fernando Abreu – e depois se regalem com o desempenho e a bela estampa (e coxas!) de Lyris no papel da Zezé (música de Humberto Teixeira e Caribé da Rocha) ao som das vozes afinadas e homogêneas do Trio Irakitan.
Onde andará Lyris Castellani?
Caio Fernando Abreu
Jamais esquecerei Lyris Castellani. Mas eu tinha esquecido que jamais esqueceria Lyris Castellani. Só há duas semanas, comecei a lembrar outra vez. Deve ter sido provocado por uma crônica de Marcos Rey, perguntando por Elvira Pagã, mas certamente continuou com um encontro casual com Wladir Dupont. Há alguns anos, num jantar, conversando sobre essas deusas misteriosamente desaparecidas – entre mais de dez pessoas (todas versadas nesse ramo da cultura inútil), só o velho e bom Wladir se lembrava dela. A minha deusa para sempre preferida: Lyris Castellani.
Não que tivéssemos tocado no assunto, Wladir e eu. Nem uma palavra. Deixei-o na chuva e saí pensando em Lyris – onde andará? Onde andará? – assim, numa voragem vertiginosa. Eu precisava saber se havia algo no arquivo do jornal sobre ela: ridículo escrever sobre Lyris sem uma foto. E havia: nem uma linha de texto, mas quatro fotos preciosas – esta escolhida a dedo -, embora nenhuma delas seja daquelas que eu recortava e colecionava, com paixão e estranheza, entre os 12 e os 15 anos. E lá se vão tantos, tantos. De roldão, sem Lyris.
Jamais vou lembrar exatamente da primeira vez que a vi. Mas deve ter sido nas páginas de O Cruzeiro ou Cinelândia. O que Lyris tinha para me enlouquecer tanto? Eu conto, embora doa: tinha olhos verdes profundo-abissais, tinha lábios carnudos de pecado, tinha a cintura fina de vespa e – acima de tudo, antes de nada – Lyris tinha COXAS. Ah, que coxas! Tão grossas e sólidas que merecem este detestável ponto de exclamação que acabo de usar. As coxas de Lyris eram tão monumentais que, aos poucos, consegui iniciar e seduzir meu irmão Gringo e meu primo Beco nos mistérios de Lyris. E Lyris deixou de ser nome próprio para se tornar substantivo, sinônimo de: coxas. Quando a gente espiava um par especial delas, nos comunicávamos em código: “Que Lyris, heim?”
Aos poucos, descobri tudo sobre ela. Lyris era bailarina de O Beco, em São Paulo (e eu lá, nos cafundós da fronteira com a Argentina!), depois foi lançada por Walter Hugo Khoury como atriz séria em A Ilha, ao lado de Eva Wilma e Luigi Picchi, filmado em Bertioga. Andei à cata do filme durante anos. E valeu o encontro: guardo gravada a fogo na memória a imagem de Lyris encostada numa rocha áspera. Com as coxas à mostra. Aquelas coxas. Lembro-me dela num pequeno papel, em Fronteiras do Inferno, tropical e demoníaca, e de uma cena forte de estupro num filme de cangaço (seria A Morte Comanda o Cangaço?). Em todos eles: olhos verdes fundos como o mar, cintura que se podia fechar numa mão. E coxas. Coxas de coluna grega, coxas morenas de mel e mal, coxas alucinantes onde qualquer um, fácil, poderia perder-se para sempre. Como Ulisses perdeu-se entre as sereias. Como eu me perdi até hoje.
Nunca mais soube dela. Nem Abelardo ou Laurinha Figueiredo souberam informar. Posso imaginá-la casada com um conde austríaco, morando em Viena. Ou numa casinha com quintal, quem sabe em Vila Mariana, entre roseiras. Se quero me doer, penso nela empapuçando-se de gim pelas bocas da vida, com um recorte amarelado de jornal na bolsa, entre vidros de diempax. Que morta não estará, pois Lyris é imortal. Mas prefiro imaginá-la feliz: as coxas de Lyris eram a garantia mais segura de um futuro daquele tipo feliz para sempre. Que certamente ela teve.
Mas eu a quero de volta. De alguma forma irracional, como se quer o tempo que se foi. Por favor – como Drummond procurava Luísa Porto, eu procuro Lyris Castellani. Procurem, procurem. Até achar. Só não me digam nada se, por ventura, ela teve um destino infeliz. Então prefiro não saber. Melhor guarda-la até o momento de minha morte para sempre assim como a tive, tantas vergonhosas vezes, na minha adolescência. Escrevam-me, me telefonem, me deem notícias de Lyris Castellani. Se por acaso cruzarem com ela na feira, no elevador, no bar da esquina ou no Gallery, digam a Lyris que mando meu mais carinhoso beijo. E que jamais a esquecerei. Domingo último, enlouquecido, casei com ela no altar criado por Mira Haar, em A Trama do Gosto. Casei três vezes. Casaria dez, casaria cem, casaria mil vezes.




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Febeapá - Festival de besteira que assola o país, vulgo Bananão (I).
Sérgio Porto, o inesquecível Stanislaw Ponte Preta, criou o Febeapá (Festival de besteiras que assola o país), a partir das besteiras ditas por políticos, governantes, milicos, estrelas, astros, famosos ou não. Sérgio Porto morreu, mas o besteirol pátrio continuou mais firme e, digamos, mais denso e constante do que nunca. Vejam:
O comentarista Neto, da Band, afirmou que um determinado jogador tem tanto fôlego, mas tanto, que “parece ter dois pulmões”. Ao ser chamado a atenção da besteira que disse, Neto explicou: “Não sou médico”.
É preciso não esquecer também aquela do Lula, que se sente em condições e no direito de falar sobre tudo, principalmente sobre o que não entende - o que não é pouco. Ao falar sobre a poluição brasileira, Lula pontificou:
“Se a Terra fosse quadrada e não girasse a poluição do hemisfério norte ficaria por lá. Mas como a Terra é redonda e gira a poluição do hemisfério norte escorrega até o hemisfério sul”.
Explicação notável, não?
Sérgio Porto/Stanislaw Ponte Preta


 Sérgio Porto/Stanislaw Ponte Preta

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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

As boas lembranças de Saramago


Declaração de Saramago
O texto abaixo é do escritor José Saramago. Beleza de texto, que todos devem ler e refletir a respeito. Vamos ao texto:
Na “Sagrada Família”, de Marx e Engels, existem umas quantas palavras que, para mim, são uma regra de ouro, e eu quase diria que todo o pensamento humanista está condensado ali em dez, doze ou quinze palavras: Se o homem é formado pelas circunstâncias, então é necessário formar as circunstâncias humanamente. Jamais se disse tanto em tão poucas palavras.
Para gerar seres humanos, é preciso de circunstâncias humanas. Eu diria que o capitalismo não quis fazê-lo, e o comunismo não soube fazê-lo. A situação saiu publicada há alguns meses na imprensa e parece que ninguém se deu conta: as 225 pessoas mais ricas do mundo possuem mais de quarenta por cento da riqueza mundial. Isso significa que elas têm mais dinheiro que 2,5 bilhões de seres humanos. Isso para mim não é formar as circunstâncias humanamente.
Ser comunista coerente é ter isso na cabeça e no coração. O Papa João Paulo II herdou a Inquisição e é Papa... e eu sou herdeiro de todos esses horrores também, mas ainda assim creio que um dia poderemos viver neste planeta dignamente. Porque não tem sentido que os Estados Unidos enviem a Marte um aparelho para ver como são as rochas do planeta, enquanto existem pessoas morrendo de fome aqui na Terra... é mais fácil chegar a Marte que a nosso semelhante.
Esse é um mundo onde se pode viver? Eu não sei se o socialismo e o comunismo algum dia poderão resolver isso, mas eu gostaria que isso acontecesse.
A única coisa que tenho certeza é que o capitalismo não o conseguirá.
 
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Da série: “O Brasil que jamais desejei” (I)
Salvatore Cacciola ganha habeas-corpus e deixa a prisão. Cumprirá o resto da pena (nove anos) em liberdade. Pela segunda vez Cacciola é beneficiado por um habeas corpus. Da primeira vez, ele fugiu para a Itália. Fará agora o mesmo? Ou ficará, usufruindo as delícias do patropi, vulgo Bananão?
No país da impunidade, onde os mensaleiros estão soltos, os corruptos dos Correios, do Ministério dos Transportes, do Ministério do Turismo, do Ministério da Agricultura e muitos outros corruptos só foram demitidos, estão soltos e não foram obrigados a devolver o que roubaram. Cacciola, cujas negociatas custaram aos nossos impostos quase dois bilhões, tem mesmo é que ficar por aqui. Quem sabe no próximo carnaval ele não seja destaque no desfile das escolas de samba?
Enquanto isso professores públicos de diversos estados que recebem por mês uma merreca estão em greve. Querem ganhar 5% a mais do que ganham.

Políticos jubilosos

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Da série: “O Brasil que jamais desejei” (II)
Em Belém, uma gestante, prestes a dar a luz, procurou a Santa Casa, mas foi barrada sob a alegação que a UTI infantil estava superlotada. Tentou outro hospital público – e, da mesma forma, não foi atendida. Acabou dando a luz a gêmeos dentro da ambulância dos bombeiros. As duas crianças morreram. Pois é. Morreram!
O governador mandou abrir sindicância, que, claro, não vai dar em nada.
Mas em compensação os paraenses, inclusive os pais dos gêmeos mortos, vão ter que votar no plebiscito sobre a divisão do território do Pará em três estados. Ou seja: em três governadores, três bancadas de deputados federais, nove senadores (três por estado), três Assembleias Legislativas, três poderes judiciários, três conjuntos de secretários de estado, e assim por diante.

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Da série: “O Brasil que jamais desejei” (III)
Brasília está construindo um estádio de futebol de dar inveja aos países ricos do mundo. Vai custar, segundo os últimos cálculos, a bagatela de 1 bilhão e 400 milhões! Depois da Copa, o magnífico e caríssimo estádio de futebol de Brasília, capaz de receber a um público de 70 mil torcedores, vai servir como palco das emocionantes partidas entre as equipes do Guará, Ceilândia, Brasiliense, entre outras notáveis agremiações. Equipes que nos últimos três anos levaram, aos estádios de Brasília, em média, menos de quatro mil pessoas por partida.
Enquanto isso a educação, a saúde, o transporte público de Brasília...


Em breve, Arranca Toco versus Forrobodó, o clássico brasiliense!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Estão destruindo o Velho Chico
Em novembro de 2006, estive na minha terra natal – Penedo, Alagoas -, onde recebi a Comenda da Ordem do Mérito Barão de Penedo, Grau de Comendador. Uma honra.
Na oportunidade, a convite da Fundação Casa do Penedo, entidade fundada e dirigida pelo meu amigo Francisco Sales, fiz, no Theatro Sete de Setembro, um prédio de estilo arquitetônico neoclássico, fundado em 1884, uma palestra sobre Francisco Inácio de Carvalho Moreira, o Barão de Penedo, “o mais notável dos diplomatas brasileiros do Império”, conforme afirmou Oliveira Lima no livro “Memórias (Estas minhas reminiscências...)”.
A foto abaixo mostra bem a beleza interior do Theatro Sete de Setembro, recentemente restaurado.


Após a palestra, fui conversar com pescadores do Rio São Francisco, que me falaram, com emoção, sobre o lastimável estado do chamado “rio da integração nacional”: escassez de pescado, desaparecimento de espécies, destruição das várzeas, assoreamento, redução da sua profundidade.
As grandes barragens do alto e do médio curso do Velho Chico produziram uma redução drástica da vasão do rio no seu baixo curso. As várzeas arrozeiras, que se alongavam por ambas as margens (principalmente de Propriá até a foz), e que era o fato geográfico mais característico do Baixo São Francisco, desapareceram.
Nas várzeas arrozeiras, durante as cheias, depositava-se material orgânico trazido pelo rio, o que garantia uma fertilização natural, da qual resultava uma produtividade da ordem de três toneladas de arroz por hectare, equivalente à produção do arroz irrigado do Rio Grande do Sul. Em 1962, o geógrafo Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro dirigiu uma pesquisa de campo, da qual resultou o relatório “Aspectos geográficos do Baixo São Francisco”, que trata desse assunto.
Hoje, as antigas várzeas estão ocupadas, em parte, por uma população pobre e carente, que sofre os rigores das enchentes quando as barragens médio curso do Velho Chico são obrigadas a abrir suas comportas, provocando verdadeiros tsunamis, que invadem e destroem suas casas.
Devido ao rebaixamento da lâmina d’água do Velho Chico, as águas do mar, a partir da sua foz, avançam rio acima, a ponto de alterar a composição química da água. Em boa parte do seu curso, a água do Baixo São Francisco, antes doce (como costumam ser as águas dos rios), agora é salobra e amarga.
Com o rebaixamento do nível da água do Rio São Francisco, é possível enxergar grandes bancos de areia em toda a extensão do baixo curso. Vejam as fotos abaixo.





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Fui ver o Velho Chico. Fiquei assustado. Acreditem: sob a ponte que liga Propriá (Sergipe) a Porto Real de Colégio (Alagoas), o assoreamento e bancos de areia permite que as pessoas atravessem o rio, de uma margem a outra, a pé, com a água abaixo dos joelhos!
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Quando eu era garoto, eu passava quase todas minhas férias de fim-de-ano em Penedo. Vi navios de grande porte navegar no Baixo Rio São Francisco, levando e trazendo produtos do Rio de Janeiro, Salvador e Recife.
Sim, pelos portos de Penedo e Propriá, a região exportava produtos do sertão, como o algodão, o fumo, o coco, o arroz, couro, tecidos (produzidos na fábrica de Neópolis) entre outros. Mais: pelos portos de Penedo e Propriá, a região recebia produtos do sul do país. Hoje, os portos estão desativados, inclusive por falta de calado.
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O Velho Chico, portanto, está doente. E sobre esse organismo debilitado que o governo brasileiro, apoiado em pareceres e estudos de tecnocratas que jamais viram o Rio São Francisco, levar adiante o projeto da transposição. Um projeto desnecessário, descabido, caro, que ameaça o meio ambiente, que agride bom senso, sustentado em argumentações e premissas falsas de tecnocratas arrogantes que não conhecem a região, mas são capazes de falar sobre ela nos gabinetes refrigerados de Brasília.
Sou contra a transposição do Rio São Francisco, mas a favor de um projeto de salvação do Velho Chico.
Li inúmeros textos, alguns contrários, outros favoráveis à transposição.
Muitos dos argumentos favoráveis, inclusive aqueles que emanam das chamadas altas autoridades, são eminentemente ideológicos. Apresentam a transposição como algo milagroso, capaz de resolver todos os problemas do semiárido. Prometem que, através da transposição, haverá água permanente às casas da população pobre do sertão, o que é, antes de tudo, propaganda enganosa: primeiro, porque menos de 10% da população pobre de quatro dos dez estados do semiárido brasileiro poderão ser beneficiados; segundo, porque a transposição avisa a atender às necessidades dos ricaços locais, pois a água transportada visa a atender, de fato, ao cultivo do camarão (para exportação), ao agronegócio, ao parque industrial e, sobretudo, à irrigação – de produtos, esses sim inacessíveis à mesa dos pobres da região. Não foi à-toa que o presidente da associação industrial de Pernambuco, dono de vastas extensões de terras em pelo menos dois estados nordestinos, declarou o seu “irrestrito apoio ao projeto da transposição”.
Afora tudo isso (e muito mais), há as questões ecológicas.
Na antiga União Soviética, um burocrata local propôs a (êpa!) transposição dos rios Sirdaria e Amudaria, que alimentavam o Mar do Aral, que, até 1960, era o quarto maior lago do mundo, com um volume estimado de mais de 1.000 quilômetros cúbicos. O Mar de Aral cobria, então, 68 mil quilômetros quadrados. Pois bem, a transposição dos rios Sirdaria e Amudaria provocou grave acidente ecológico na região: hoje, o Mar do Aral está reduzido a menos de 10% da área original, a salinidade ultrapassou 100 g/l. O Mar do Aral está morto, sem vida fluvial. A população que vivia da pesca no Aral foi obrigada a emigrar.
As fotos abaixo ilustram a morte do Mar do Aral. Na primeira, a redução do volume da água. Na segunda, a melancólica transformação do quarto maior lago do planeta num cemitério de barcos.

Um dia eu conto para vocês, meus amigos, o que aconteceu no rio Colorado, no México e no rio Amarelo, na China.
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Um dia, debatendo com um defensor do projeto da transposição das águas do Velho Chico, fiz de público a pergunta:
- E se houver um desastre ecológico na região? – Provoquei: - Quem vai preso?
- Como?
Repeti a pergunta. O tecnocrata me disse apenas:
- Ora, Dr. Ronaldo, o senhor bem sabe que acidentes podem ocorrer em qualquer obra... Mas eu tenho fé que nada vai acontecer de ruim na região.
Provoquei mais ainda:
- Fé ou certeza?
O tecnocrata não me respondeu.
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Recomendo a todos a leitura de três livros que tratam dos mais variados aspectos do projeto da transposição das águas do Velho Chico.
Caso não tenham tempo, nem disposição para ler os três livros, leiam os dois (curtos) artigos abaixo.
O primeiro artigo foi elaborado pelo professor emérito da Universidade de São Paulo, geógrafo Aziz A'Saber. O segundo foi escrito pelo engenheiro agrônomo João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife.
Para lê-los, basta clicar no título do artigo.

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 Livros sobre a transposição do Rio São Francisco. 
Quintiere, Marcelo de Miranda Ribeiro. Transposição do São Francisco – uma análise dos aspectos positivos e negativos do projeto. Curitiba, Juruá, 2010.


Suassuna, João. Transposição do Rio São Francisco na perspectiva do Brasil Real. São Paulo, Porto das Ideias, 2010.


Coelho, Marco Antonio Tavares. Os descaminhos do São Francisco. São Paulo, Paz e Terra, 2005.


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