terça-feira, 30 de julho de 2013

O cinismo de Sérgio Cabral. Só acredita quem quer.




Jornal do Velhote do Penedo
* Edição Extra *
Terça-feira, 30 de julho de 2013

Um jornal a serviço de ideias desabusadas

Não votem nele! 
Ontem, o governador Sérgio Cabral reuniu a imprensa e fez um compungido ato de fé: disse que estava arrependido da violência da polícia que ele comanda, das acusações (falsas) que fez a presos desarmados e espancados e informou que não mais usará os helicópteros do Estado nos seus alegres passeios familiares.

Disse, fingindo emoção, que aprendera com o Papa a ouvir o outro lado. “Estava me faltando humildade”, confessou. Sobre o superfaturamento das obras do Maracanã, nada disse. Nem sobre as vítimas da região serrana, até hoje desassistidas, quatro anos após  os deslizamentos e enchentes que mataram mais de 500 pessoas e destruíram mais de 200 casas.
 
 

Pediu aos manifestantes que não fizessem mais agitação em frente ao prédio que reside, numa das ruas mais nobres do bairro mais nobre do Rio de Janeiro. Concluiu dizendo que “não era um ditador”. Como todo político disse acreditar piamente na democracia.

Assim se resume a entrevista do governador Sérgio Cabral. O Velho Professor do Penedo está convicto de que ela foi, antes de tudo, uma farsa. Sérgio Cabral é um político da pior tradição: é cínico, já demonstrou não ter nenhum respeito pelo povo. Um farsante. Um crápula. Na própria manifestação pública no Rio não hesitará – como não hesitou até hoje – a enviar a sua tropa de meganhas baixar o cacete no povo. Sem dó, sem piedade e sem humildade.

Povo do Rio de Janeiro: todo cuidado é pouco!

sábado, 27 de julho de 2013


Jornal do Velhote do Penedo

Um jornal a serviço de ideias desabusadas

Segunda-feira, 29 de julho de 2013

Editorial

O mundo tecnológico garantiu ao ser humano uma série de possibilidades e facilidades – a maior delas, talvez, seja a de lhe permitir comunicação fácil e direta com a humanidade, através da Internet, Facebook e outros mecanismos das redes sociais. Sou de um tempo, ainda estudante universitário, que o nosso principal meio de comunicação era o mimeógrafo (nem xerox tínhamos!) e a sua distribuição era sempre mão a mão.

Lutei muito na minha vida contra todos os tipos de injustiças. Lutei contra a ditadura. Lutei com a miséria do povo brasileiro, lutei contra a deseducação e contra uma rede pública de saúde vergonhosa e humilhante para quem dela necessita. Lutei contra tudo aquilo que julguei injusto. Talvez, por isso, vivo de uma aposentadoria e só possuo um bem, a casa onde moro adquirida mediante de um financiamento bancário.

Não sei se minhas lutas foram em vão. Tornei-me professor universitário na presunção de que minha voz, em sala de aula, tivesse o poder de conquistar jovens aliados. Desisti de ser professor porque percebi que o ensino superior, com as exceções de praxe, transformou-se numa máquina de produção e distribuição de diplomas, e não de um centro de geração de conhecimentos e disseminação de saber. O capitalismo é isso aí: transforma tudo em mercadoria – e a mercadoria transformou-se numa delas.

Fiz muitas coisas na minha vida: casei, tive três filhos, tenho três netos, escrevi dez livros e dezenas de artigos e ensaios, fiz muitos amigos queridos, jamais prejudiquei ninguém nem abusei de subalternos e de gente mais fraca que eu. Cultivei o sentimento da solidariedade e nunca deixei de ajudar àqueles que precisaram de mim.

Não sou um ser perfeito, nem um poço de virtudes. Tenho ódio (a palavra é essa mesma!) de todos que torturaram na ditadura e torturam nos presídios e cadeias, desprezo todos que abusaram de crianças e estupraram mulheres. Não defendo a pena de morte, mas todos esses criminosos deveriam estar encarcerados pelo resto da vida, sem direito a qualquer tipo de visita. Político corrupto deveria ser condenado sumariamente a devolver o que roubou – e cumprir prisão perpétua, sem direito a recurso.

Hoje disponha apenas de uma trincheira: meu computador. Com ele converso e mando minha mensagens aos meus amigos, com ele escrevo meus livros, mando minhas brasas, com meu computador escrevo meu blog e, agora, dentro do meu blog escrevo o Jornal do Velhote do Penedo. Ele circulará uma vez por semana, sempre às segundas-feiras. Espero que meus leitores gostem. E contribuam.

Da série: O que é vandalismo?

1 – Deu no O Globo (21/07/2013). Há 89 mil brasileirinhos entre 5 e 9 anos trabalhando o Brasil, a maioria em condições desumanas. Enquanto isto, o cachorrinho Juquinha do governador Sérgio Cabral passeia de helicóptero adquirido com o dinheiro dos nossos impostos. Isto, sim, é vandalismo – ou não é?

2 – O presidente nacional do PT, Rui Falcão, declarou (O Globo: 13/07/2013) que os militantes do seu partido não foram às ruas durante as manifestações porque agora estão empregados. O Velhote do Penedo não se surpreendeu com tal declaração: de fato, após 10 anos de governo petista, a antiga militância do PT ocupou mais de trinta mil cargos comissionados criados justamente por Lula e Dilma para abrigar os “aliados”. Vandalismo?

3 – Segundo o Correio Braziliense (14/07/2013), prefeituras forjam licitações para “reconstruir” edificações e embolsam mais da metade dos 4,5 milhões de reais repassados pela União. A roubalheira campeia no Brasil. Roubalheira, sim, é vandalismo.

4 – A jornalista Leilane Neubarth tem uma com pulsão incontrolável de dizer besteira. Comentando a viagem do Papa Francisco ao Brasil ela nos informou que a viagem foi longa e que o avião que trazia Francisco atravessou “oceanos para chegar ao Brasil”. Bem, eu aprendi que entre a Europa e o Brasil só existe um oceano: o Atlântico.

Prêmio Guilhotina de Ouro
O Jornal do Velho do Penedo instituiu o Prêmio Guilhotina de Ouro a ser outorgado aos políticos e dirigentes públicos brasileiros. O prêmio será mensal e premiará ao político ou dirigente público mais calhorda do mês. Os leitores poderão votar livremente.

Um livraço

Trata-se do livro Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo, do jornalista Mário Magalhães (São Paulo, Companhia das Letras, 2012, 732 p.).
Embora o livro seja centrado na biografia de Marighella, ele é também uma bela e bem informada história do Brasil do século XX. Não é também um livro de loas ao guerrilheiro, mas uma análise a mais isenta possível da sua vida de militante, dos tempos de estudante em Salvador à noite de 4 de novembro de 1969, quando que foi covardemente assassinado pelo torturar Sérgio Paranhos Fleury e seus asseclas. A tocaia surpreendeu Marighella desarmado e sentado no banco de trás de um fusca.

Aqui e ali pode-se fazer algumas ressalvas ao livro. Um exemplo: ele pouco fala no racha de 1958 do Partidão, do qual surgiu o Partido Comunista do Brasil, PcdoB, que viria, em fins dos anos 1960, desencadear a Guerrilha do Araguaia, uma das mais importantes lutas contra a ditadura brasileira.

Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo é um livro que recomendo a todos interessados em conhecer uma fase crítica da história brasileira. Por ele, além de Marighella, desfilam figuras notáveis da luta conta contra a ditadura, como Zuleika Alambert, Mário Alves (morto na tortura), Diógenes Arruda, Gregório Bezerra, Leonel Brizola, Apolônio de Carvalho, Marcos Antônio Braz de Carvalho (morto na tortura), Clara Charf (mulher de Marighella), Joaquim Câmara Ferreira (o 2º de Marighella na ALN, morto na tortura), Carlos Eugênio Coelho Sarmento da Paz (autor do livro Viagem à luta armada: memórias da guerrilha, Zilda Paula Xavier Pereira (que perdeu dois filhos na guerrilha, Alex e Iuri Xavier Pereira) e Virgílio Gomes da Silva (moto na tortura), entre muitos outros mortos e vivos).


20 anos da Chacina da Candelária

Na madrugada do dia 23 de julho de 1993, aproximadamente à meia-noite, vários carros pararam em frente à Igreja da Candelária. Dos carros desceram pelo menos 4 homens (policiais) e, sem dizer uma só palavra, abriram fogo contra mais de 70 crianças e adolescentes que dormiam nas proximidades da Igreja. 8 jovens morreram e diversas outras ficaram feridas. Nomes e idades dos mortos:

·         Paulo Roberto de Oliveira, 11 anos;

·         Anderson de Oliveira Pereira, 13 anos;

·         Marcelo Cândido de Jesus, 14 anos;

·         Valdevino Miguem de Almeida, 14 anos;

·         “Gambazinho”, 17 anos;

·         Leandro Santos da Conceição, 17 anos;

·         Paulo José da Silva, 18 anos;

·         Marcos Antônio Alves da Silva, 19 anos.

Apesar de todas as dificuldades possíveis (afinal, todos eram policiais) quatro policiais foram indiciados pela chacina:

·         Marcus Vinicius Borges Emmanuel – Foi condenado a 309 anos de prisão em primeira instância. Recorreu a sentença e, num segundo julgamento, foi condenado a 89 anos. Insatisfeito com o resultado, o Ministério Público pediu novo julgamento e, em fevereiro de 2003, Emmanuel foi condenado a 300 anos. No entanto, o assassino foi liberado da prisão em 29 de junho de 2012.

·         Nélson Oliveira dos Santos – Foi condenado a 243 anos de prisão pelas mortes da chacina. Recorreu, sendo absolvido pelas mortes, mesmo a após ter confessado o crime. O Ministério Público recorreu e, em 2000, Nelson foi condenado a 45 anos. Nelson Oliveira Santos, contudo, está solto, em liberdade condicional.

·         Marcos Aurélio Dias Alcântara – Foi condenado a 204 anos de prisão, inclusive porque, além de matar, estuprou um adolescente. No final de 2010, contudo, conseguiu indulto e também foi libertado.

·         Arlindo Lisboa Afonso Júnior – Condenado a apenas 2 anos por ter em seu poder uma das armas usadas bo crime.

Não indiciado:

·         Carlos Jorge Liaffa – Não foi indiciado, mesmo tendo sido reconhecido por um sobrevivente.

A Chacina da Candelária, como se sabe, foi um crime bárbaro, covarde e cruel. Todos os assassinos estão soltos, o que é uma prova cabal que a justiça brasileira (e não só a justiça) precisa passar por profunda reformulação.


As manifestações e o governador Sérgio Cabral

O povo pode e deve ir às ruas sempre que se sentir lesado, ofendido e humilhado. E não só isso: se parte do povo for lesado, ofendido e humilhado, a outra parte do povo deve se juntar a ele – e demonstrar nas ruas, nas praças e avenidas que a ofensa e a humilhação que atinge alguns atinge, na verdade, a todos. A solidariedade é o mais belo sentimento humano – e é ele, mais que tudo, que deve unir o povo.

Desde a época que minha geração enfrentava os belequins da ditadura militar, sabemos que a violência, em geral, parte sempre da própria polícia ou de policiais infiltrados entre os manifestantes.

Isto, é claro, não ocorre por acaso: a intenção da polícia e dos agentes infiltrados é justificar a própria violência desenfreada da polícia, que não trepida em agredir jovens de ambos os sexos, prender, ameaçar, atirar bombas de efeito moral (vencidas!) e disparar balas de borracha, contando com o apoio e aplauso da mídia, principalmente da Rede Globo e da GloboNews, cujos comentaristas e repórteres, entre asneiras e disparates, limitam-se exclusivamente a denunciar – horror! – a violência dos manifestantes e a ação – horror! – apaziguadora da polícia.

Semana passada, por exemplo, o jornalista Ancelmo de Góes, de O Globo denunciou que há quase 100 mil crianças entre 5 e 11 anos trabalhando no Brasil, alguns em condições precárias. Não vi os comentaristas da Rede Globo nem da GloboNews falarem um só para palavra a respeito dessa denúncia. Como o Velhote do Penedo tem dito aqui sempre: “vandalismo” é isso! E mais: o Velhote não se surpreenderia se parte dessa criançada infeliz trabalhasse, como escravos, em fazendas de políticos!

Na semana passada prenderam o estudante Bruno Ferreira Telles nas imediações do Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio. A alegação era a de que ele portava 11 coquetéis molotov em sua mochila. O estudante foi espancado, preso e seviciado por um grupo de policiais. Ocorre que ficou constatado que o jovem Bruno Ferreira Telles não trazia nenhum artefato explosivo com ele. Foi solto sem receber sequer um pedido de desculpas.

Bruno era uma das centenas pessoas que protestavam contra o governador Sérgio Cabral, um sujeito que já demonstrou não possuir condições morais de permanecer no cargo de governador do Rio de Janeiro. Além de esbanjar cerca de 1,4 bilhão na reforma do Maracanã. Sérgio Cabral adquiriu um helicóptero, cuja serventia é levar sua família às quintas-feiras para Mangaratiba, família da qual faz parte o cachorrinho Juquinha. Segundo um piloto do helicóptero que não quis se identificar, o helicóptero serve de transporte à manicure da madame, esteticista, amiguinhos do casal, coleguinhas dos filhos do casal. Um dia, o helicóptero fez uma viagem extra ao Rio para buscar um vestido da madame Cabral que o havia esquecido.

Enquanto isso, hospitais, escolas, creches mantidos pelo estado estão caindo aos pedaços.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Exemplos práticos de vandalismo


O nosso Gheto de Varsóvia

Brasília, Rio e São Paulo — No mesmo ritmo em que as obras para a Copa do Mundo avançam, milhares de brasileiros são notificados, todos os dias, para que deixem suas casas. O “progresso” que passa à porta avisa que vai levar também janela, teto e o que mais não for retirado dentro do prazo estabelecido. Série de reportagens do Correio Braziliense mostra como o país do futebol tem preparado terreno para o Mundial do próximo ano.
Sem nenhuma explicação, funcionários de prefeituras das cidades sedes usam um método quase padrão e, no mínimo, questionável para delimitar o espaço das desapropriações: as casas que precisam sair do caminho são marcadas com tinta. No caso mais emblemático, a Secretaria Municipal de Habitação do Rio de Janeiro provocou pânico em diversas comunidades que viram, da noite para o dia, suas casas serem carimbadas com as iniciais do órgão SMH (Secretaria Municipal de Habitação) e um número.
“Eles chegam ameaçando todos os moradores, colocando prazo e dizendo que vão demolir as casas. Recebemos denúncias de que, em alguns casos, eles até dizem aos moradores que a prefeitura não os receberá se estiverem acompanhados por advogados”, acusa Maria Lúcia de Pontes, defensora pública do Rio de Janeiro. “O dever do poder público é incentivar as pessoas a procurarem os seus direitos, e o que é feito é justamente o contrário”, critica.
A prefeitura da cidade afirma ter feito 19.754 remoções até o momento, justificando que a maioria foi em áreas de situação de risco, onde — argumenta — “não há como negociar”. Ela também diz que conversa com vários moradores, por meio das subprefeituras, até que as possibilidades se esgotem. Os relatos de entidades que atuam em prol das comunidades, no entanto, são diferentes. As denúncias são de irregularidades no processo de remoção e abusos, como indenizações baixas, falta de diálogo, coação e uso de violência psicológica.

Notas que dizem tudo

1 – O ex-governador de Alagoas Ronaldo Lessa foi considerado culpado por desvio de R$ 5 milhões. Condenado a 13 anos e 4 meses de prisão, Ronaldo Lessa, que continua solto, disse que vai recorrer. Além de Lessa, foram condenados quatro funcionários alagoanos e o empresário Zuleido Veras, dono da construtora Gautama, que tocava a obra que gerou a roubalheira.

2 – Ficou provado que a Polícia Militar do Rio de Janeiro atacou, com bombas de efeito e tiros de borracha, cidadãos e crianças que estavam n uma lanchonete no bairro das Laranjeiras, no Rio. Os meganhas invadiram também a Casa de Saúde Pinheiro Machado, ferindo pessoas que estavam no estabelecimento, inclusive uma senhora cardiopata.

sábado, 13 de julho de 2013


Afinal, o que é vandalismo?

Durante as manifestações populares, a TV Globo e a Globonews deram destaque às ações dos chamados “vândalos”. O Velhote do Penedo, cá com seus botões, resolveu dizer o que ele considera ser verdadeiramente vandalismo no Brasil:

1 – Vandalismo é a corrupção, endêmica e generalizada no Brasil. Ninguém vai preso no Brasil por ser corrupto. Os mensaleiros foram condenados, mas estão por aí, soltos e fagueiros, dois dos quais pertencem à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Isto, sim, é vandalismo.

2 -  Vandalismo é o despejo constante, diário e massivo de rejeitos industriais e químicos nos rios brasileiros. Tal como ocorre nos rios Tietê e Paraíba do Sul.

3 – Vandalismo é o desmatamento da Amazônia, cujos responsáveis não são punidos. Alguns deles, inclusive, são congressistas. Isto é vandalismo.

4 – Vandalismo é a poluição das praias brasileiras e a agressão sistemática de ecossistemas.

5 – Vandalismo é condenar milhões de trabalhadores a passar horas seguidas em transportes coletivos cheios, sujos, desconfortáveis e caindo aos pedaços. As autoridades não fazem nada, até porque os proprietários de empresas de transportes coletivos são financiadores de suas campanhas eleitorais. Isto, sim, é vandalismo.

6 – Vandalismo é a inflação, que corrói o salário dos mais pobres. Inflação que o governo nega ou tenta minimizar, mas que todos sentem quando vão aos mercados.

7 – Vandalismo é o trânsito caótico das cidades brasileiras, mormente o das grandes cidades. São os engarrafamentos monstros e permanentes, cujos custos em combustíveis importantados, depreciação da frota e perda de produtividade das pessoas paradas no trânsito chegam, só em São Paulo, a 8 bilhões de reais por ano. Enquanto os transportes coletivos em São Paulo são caóticos, o número de automóveis em São Paulo pulou de 3,4 milhões em abril de 2004 a 4,9 milhões em abril de 2013, entupindo ruas e avenidas. Isto, sim, é um vandalismo.

8 – Vandalismo é o descaso das autoridades, que, diante de deslizamentos de encostas, mortes e enchentes, prometem providências e não as cumprem. Tal como aconteceu (e vem acontecendo todos os anos) na região serrana do Rio de Janeiro, onde, em 2010, mais de 600 pessoas morreram.

9 – Vandalismo é dar prioridade à Copa do Mundo, torrar 30 bilhões em estádios - e virar as costas aos graves problemas do povo brasileiro. Isto, sim, é vandalismo.

10 – Vandalismo é o ministro da Educação do Brasil dizer: “O que museu tem a ver com educação?” Vandalismo é o ex-presidente Lula dizer, numa solenidade em que estavam presentes alunos das escolas públicas de São Paulo: “Ler é muito chato!” E o ministro da Educação, presente à solenidade, rir como se Lula tive contado uma piada.

11 – Vandalismo é o ex-presidente Lula se tornar um dos homens mais ricos do Brasil (apud Hélio Bicudo em entrevista postada no Youtube: vejam e ouçam!).

12 – Vandalismo são os índices de criminalidade, os índices de analfabetismo e os índices de morte por doenças perfeitamente curáveis no Brasil.

13 – Vandalismo é a desinformação, mentiras e tolices veiculados pelos meios de comunicação, sobretudo pela TV Globo e a Globonews, com o intuito de destorcer os fatos em favor dos grandes interesses econômicos.

14 – Vandalismo é o derramamento de petróleo, que destroi a fauna marinha. Isto, sim, é vandalismo.

15 – Vandalismo são os juros escorchantes que os brasileiros têm que pagar aos bancos e financeiras (além das taxas de serviços, é claro), enchendo as burras dos banqueiros e dos nababos das finanças.

16 – Vandalismo é o comportamento da maioria dos políticos brasileiros, que desmoralizam e enxovalham a atividade política e, em consequência, põem em perigo a própria democracia, que foi uma conquista do povo brasileiro, que lutou contra a ditadura. Isto, sim, é vandalismo.

***

 Em tempo: desde os sábios gregos aos grandes pensadores, aprendemos que a política é a arte da convivência nobre entre os homens, os grupos sociais e as nações. Pena que, no Brasil, a política, com as exceções de praxe, tenha a capacidade incoercível e infinita de atrair gente ordinária, desonesta e sem escrúpulos.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O povo pode e deve ir às ruas


O Velhote do Penedo reproduz artigo anterior, com correções e acréscimos necessários. Creio que os comentários anteriores ficaram mais claros. Agradeço a paciência dos meus leitores,
 
As manifestações populares

As manifestações populares que se espalharam – e continuam a se espalhar - como um rastilho de pólvora pelo Brasil, surpreenderam e, até certo ponto, assustaram governos, meios de comunicações, políticos e partidos.

Afinal, todos eles supunham que o povo sentia-se no melhor dos mundos: o futebol (Copa das Confederações e, ano que vem, a Copa) estava aí mesmo para cumprir o seu papel entorpecedor, apesar dos evidentes sinais de insatisfação que há meses se manifestavam aqui e ali. O tsunami se aproximava – mas as elites brasileiras não estavam nem aí, tal a certeza de que tudo podiam e que o povo é um mero sujeito que, de quatro em quatro anos, comparece às juntas eleitorais para votar neles, ou seja, no tudo igual como antes.

Vi um governador informar a uma população sem educação digna, sem hospitais públicos decentes, sem transporte coletivo de qualidade, uma população, enfim, sem segurança e sem perspectivas, o custo do estádio de futebol no seu estado. Só faltou repetir o finado prefeito Mendes de Moraes que, ao inaugurar em 1950 o Maracanã disse: “Eu vos dei este estádio!” Pois o governador de hoje afirmou estar orgulhoso dos trabalhadores que “ajudaram naquela empreitada”. A verdade é que o Brasil, até agora, já gastou 30 bilhões em estádios luxuosos, alguns dos quais, finda a Copa, se transformarão em elefantes brancos. As elites estavam certas de que a beleza dos estádios padrão Fifa faria o povo relevar superfaturamentos, malandragens e corrupção.

Quando os primeiros manifestantes saíram à rua, políticos e autoridades governamentais arrogantes limitaram-se a dar de ombros, ao ponto de Alkmin e Haddad afirmarem que não voltariam atrás nos aumentos das tarifas. O ministro da Fazenda declarou que o governo não tinha como desonerar as tarifas de ônibus, tidas como a reivindicação única de um movimento que se espalhava por todo o país, chegando, inclusive, a cidades de 20 e 30 mil habitantes. Mantega, Alkmin e Haddad esnobaram o pleito dos manifestantes sem perceber que estavam – e estão – sentados num braseiro. Tenho relativa experiência com os jovens universitários ou não – e sei que o jargão deles nada tem a ver com o jargão dos políticos ou com a palavreado algo idiotizado dos comentaristas dos meios de comunicação, mormente os da televisão.

Fui, com minha neta e o namorado dela, às passeatas de Brasília. Por curiosidade sociológica, prestei bastante atenção nas “reivindicações” que os jovens expunham em toscos, mas criativos, cartazes de cartolina - e eles não se limitavam a pedir a redução das tarifas. O aumento das tarifas foi o pingo d'água que fez a insatisfação transbordar. O desprezo pelos políticos, a certeza de que eles são safados e a convicção de que os governantes são uma corja de bandidos que desprezam o povo – tudo isto eu ouvi, durante anos, em sala de aula. Os cartazes que a garotada empunhava apenas expressava o que eles (há anos) já diziam a quem se dispunha a ouvi-los.

Claro, havia “reivindicações” específicas, inclusive contra a gastança em estádios superfaturados. Um cartaz dizia: “O Brasil não precisa de estádios, precisa de educação e saúde”. Alguém duvida disso? Pois as autoridades duvidam, dizem os jovens. Um cartaz em especial chamou a minha atenção: “Os políticos são o câncer da nação”. Pode-se discutir se o comentário é ou não correto do ponto de vista sociológico ou, mesmo, da ciência política, se o comentário é de direita ou de esquerda, se é conservador ou progressista. O importante, para mim, é que o comentário reflete um sentimento enraizado. O desprezo e a descrença nos políticos, na política e nos partidos são, a meu ver, o motor das manifestações.

O custo absurdo, a suntuosidade dos estádios e o cinismo com que as autoridades falavam de sua importância para o país, foi uma espécie de cusparada no rosto de uma população sem educação, saúde, transportes coletivos, segurança e esperança. Uma população que, diariamente, ouve falar das “tenebrosas transações” envolvendo autoridades, políticos e empresários.

(Duas observações complementares:

·        A presidente Dilma, ao inaugurar o Estádio Mané Garrincha, em Brasília, afirmou que os “estádios que estavam sendo construídos eram uma demonstração do poder criativo do povo brasileiro e que o Brasil fará a mais bela e melhor Copa do Mundo de todos os tempos”. Os manifestantes gostariam que ela falasse isso em relação a escolas e hospitais.

·        Ontem, 5 de julho de 2003, vimos o lamentável e vergonhoso espetáculo de os Presidentes da Câmara (Henrique Alves) e do Senado (Renan Calheiros) e um ministro de Estado (Garibaldi Alves) devolverem dinheiro aos cofres públicos por uso indevido e imoral de avião da FAB em programas pessoais. Garibaldi Alves usou um avião da FAB para sair do Nordeste e ir ao Rio de Janeiro assistir a final da Copa das Confederações. Os políticos brasileiros, com raras exceções, são inescrupulosos e vadios.)

Engana-se, porém, quem pensa que os manifestantes formam uma massa homogênea do ponto de vista social – e que todos estão preocupados com política ou com reivindicações específicas ou genéricas, como democracia, reforma política, direitos humanos, valores republicanos. Os manifestantes (digamos, a categoria social total presente nas ruas da cidades brasileiras, unidos pelas) talvez tenham em comum a faixa etária, o que é em parte verdade. Há de tudo nas manifestações: jovens e coroas da pequena burguesia, jovens e coroas de classe média baixa e alta, estudantes secundários e universitários, não estudantes, trabalhadores e desempregados, aposentados, moradores de rua, punks, skinheads e jovens ligados às organizações criminosas. Mas esta é, pelo menos, uma parte significativa da sociedade brasileira – a sociedade que nós criamos ao longo de 513 anos de exploração, insensibilidade e covardia.

Os “vândalos”, palavra tão enraizada pelos comentaristas da TV Globo e da GloboNews quando reportam as manifestações, não são apenas estudantes e trabalhadores de classe média enfurecidos e impacientes, como o estudante de arquitetura que ajudou a destruir um caixa eletrônico. “Vândalos” são também, no extremo oposto, moradores de rua e jovens marginais (bandoleiros ou ex-bandoleiros do narcotráfico) que, em última análise, são as grandes vítimas de um histórico sistema social que, desde a colonização, atende apenas aos filhos da classe média alta e das elites.

Jovens de classe média universitária protestam expurgando políticos e governantes – ou, eventualmente, jogando pedras em agências bancárias; os “vândalos do PCC”, como disse uma conhecida e equivocada cronista do Correio Braziliense, que se misturaram às manifestações (eles também têm do que protestar!), estão, por assim dizer, protestando à maneira deles – ou seja, pondo fogo, quebrando e saqueando lojas, bancos e pontos de ônibus.

(Outra observação paralela:

·        Os chamados “vândalos do PCC” e os jovens que moram nas ruas, abandonados e marginalizados pelo poder público, favelados encurralados em ghetos que os políticos só vão visitar nas épocas eleitorais, também podem protestar. Ou não podem? Será que a segregação social brasileiro também atinge o direito de protestar? Será que só os bem nascidos podem protestar e se manifestar?)

Afinal, que significado tem para os “vândalos do PCC”, semianalfabetos e desempregados, que sabem que vão morrer cedo fuzilados pela polícia, residentes em favelas e áreas degradadas (onde o Estado jamais se fez presente) – que significado, repito, tem para esses jovens marginalizados e largados à própria sorte expressões polidas como “bem público”, “direito de ir e vir”, “democracia representativa”, “valores republicanos”, “reivindicações legítimas”? Se para um “vândalo do PCC” tais expressões não significam nada, por sua vez para o jovem universitário bem nascido de classe média tais expressões não passam de “papo de político que quer engabelar o povo”. As elites, os políticos e os comentaristas da TV Globo e da GloboNews (principalmente) não sabem – ou fingem – não saber disso. Por isso, dizem e repetem tantas sandices.

É bom não esquecer: na sexta feira, 21 de junho, os “vândalos” que quebraram e roubaram revendedoras de automóveis na Barra da Tijuca eram jovens marginalizados da Cidade de Deus, um dos “ghettos” mais sórdidos do Rio de Janeiro, criado via a transferência violenta e compulsória de favelados nos anos 1960. Sem escolas decentes, os jovens marginalizados foram educados sob a lógico da violência. Muitos desses “vândalos do PCC” têm passagem na polícia – por roubo, assalto e tráfico de drogas, das quais, é bom lembrar, muitos das elites são usuários.

Os meios de comunicação, especialmente TV Globo e a GloboNews, mostraram indignados quando “bens públicos e  privados foram danificados pelos vândalos. E trataram de auxiliar a polícia na identificação dos “desordeiros”. Muito bem. Em Ribeirão Preto, um motorista, raivoso com as manifestações, jogou o carro com os estudantes: matou um, levou 5 ao hospital, dois em estado grave; no Entorno do DF, outro motorista, nas mesmas circunstâncias, matou duas jovens, uma das quais estava grávida. Prestei atenção ao noticiário da Globo e da GloboNews: os dois motoristas não foram chamados de “assassinos, o que eles são, nem seus nomes não foram divulgados. E não só: estão soltos porque fugiram e não houve flagrantes.

A presidente Dilma, em rede nacional, afirmou que apoia o clamor das ruas, desde que pacíficos e ordeiros. Afirmou que é contra a corrupção; ora, estranho mesmo seria ela dizer que é a favor. Disse que vai reunir-se com governadores, prefeitos e ministros para definir grandes planos para a educação, saúde, transportes públicos – logo ela que estimou o consumo de automóveis, nunca se importando com o povão que diariamente é obrigado a viajar em ônibus imundos, que não cumprem horários, ônibus caindo aos pedaços, que quebram e deixam os passageiros na rua, ao sol ou à chuva.

O PT está no poder há dez anos – e só agora, quando o povo foi às ruas, o governo, pela voz da presidente, prometeu enfrentar os problemas que todos sabíamos que existiam, inclusive os governantes que, agora, estão assustados. O PT não priorizou a educação e deixou a saúde pública de lado – estava convicto de que a bolsa família era uma espécie de panacéia geral para todos os males da sociedade. Dilma – creio piamente – não é corrupta, mas como disse Luis Fernando Veríssimo, o ímpeto anticorrupção do início do seu governo não se sustentou. Os arranjos governamentais – outra palavra mágica dos políticos: “governabilidade” – cobraram muito de Dilma: ela está cercada de políticos espertalhões e ministros incompetentes, que estão no cargo apenas para cobrir a famigerada “cota” da “base de sustentação” (mais uma palavra mágica do vocabulário político).

Há quem acuse que as manifestações espontâneas são perigosas porque se distanciam e substituem a política, podendo inclusive ser manejadas. É possível. É certo que a demonização e a desmoralização da política e dos políticos põe em risco a própria democracia. Mas quem demonizou e desmoralizou a política senão os próprios políticos? Quando o governador Sérgio Cabral usa - como se fosse seu - o helicóptero do governo do estado do Rio de Janeiro, quando autoridades se deslocam em jatinhos da FAB, quando governantes e deputados são flagrados recebendo propinas, quando governadores se preocupam em construir estádios suntuosos e deixam de lado as necessidades da população – quem está, de fato, demonizando e desmoralizando a política e, no limite, demonizando e desmoralizando a política?

Dilma falou ainda em reforma política e em lutar contra a corrupção – e, vejam só, convocou Eduardo Alves, Renan Calheiros e José Sarney para debater temas tão candentes. Esqueceu de convocar o companheiro Maluf e a turma do mensalão, que certamente teriam muito a dizer a respeito do tema.

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Em tempo: ocorreu-me agora que os moradores da região serrana do Rio de Janeiro estão, desde 2004, esperando as providências que “tia” Dilma prometeu no auge das enchentes e das mais de 400 mortes dos últimos três anos. O povo não é trouxa: sabe que “tia” Dilma esta manietada por interesses escusos e baixos, os quais ela desprez, mas dos quais não tem ou não quer se libertar. Foi a chave de cadeia que Lula (e cúmplices) armaram para ela.

Pior para ela, que, enebriada pelo poder e pela arrogância de quem penas que é professora, gerentona, supôs ser a estadista que o Brasil, há 500 anos, esperava. Tal devaneio – melhor: tal delírio - vem custando caro ao povo brasileiro.