quinta-feira, 28 de julho de 2016

Algumas notas sobre a miséria política brasileira


1 - Lula entrou com ação na ONU contra a União, ou seja, contra o Brasil. Sua queixa: violação do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos. O advogado de Lula é cobra criada: foi defensor de grandes figuras internacionais, inclusive Mike Tyson. Deve cobrar uma nota preta, pretíssima.

Agora, as perguntas que não querem calar: quanto está custando a brincadeira? Quem pagou? Ele próprio? Lula é tão rico assim? Como reuniu esse dinheiro? Com palestras? Com salários? Com propinas? A imprensa precisa cobrar estas informações.

Petistas e achegados, claro, não vão pensar nisso. Continuarão cegos e bloqueados mentalmente?

2 – Cidinha Campos, líder do movimento feminista, vai ser vice na chapa de Pedro Paulo, o espancador de mulher. Depois não digam que eu não avisei.

3 – O presidente Erdogan prende e tortura jornalistas na Turquia. Jornais, revistas e emissoras de rádio e TV são fechados. Não li uma declaração do PT, do PCdoB e do PDT a respeito. Eles que se dizem defensores da democracia, falam em golpe, em “estado democrático de direito” fazem silêncio, pois a prisão de jornalistas e o fechamento de órgãos de imprensa são o sonho dourado do tríplice partidário citado.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Cuidado com as aparências, amigos!


 
Certa vez, Karl Marx escreveu uma frase que gosto muito: “Se as aparências explicassem a essência dos fenômenos, a ciência seria desnecessária”.

Em 1982, eu estava em casa (nessa época eu morava num apartamento de quarto e sala entulhado de livros, papéis, discos, revistas antigas – além, é claro, dos meus pecados) quando fui visitado por uma comissão do PDT. Eles queriam que eu assinasse um manifesto de apoio aos militares argentinos que tinham invadido as Malvinas. O texto do manifesto era um primor de equívocos: falava contra o colonialismo inglês, transformava os milicos argentinos em patriotas, proclamava os povos sul-americanos à rebelião contra o imperialismo.

Eu me recusei a assinar o manifesto. Expliquei: em minha opinião, os milicos invadiram as Malvinas para incendiar o patriotismo interno e garantir a sua permanência no poder. Na época, citei o meu grande mestre Manoel Maurício, que ensinou história, literatura, música a várias gerações – a minha, inclusive: “Quando as contradições se acirram, os governantes tendem a exportá-las”. Era isto precisamente o que os milicos argentinos desejavam: exportar as contradições que comiam a sociedade argentina.

Semana passada, ocorreu na Turquia uma tentativa de golpe militar. Amigos meus, alguns bastante muito afobados, escreveram contra o golpe, Dilma (sempre confusa e equivocada) aproveitou para comparar a tentativa de golpe militar na Turquia com o processo de impeachment que ela está respondendo. Não se poderia esperar outra coisa de Dilma.

O golpe não durou 24 horas. O presidente Recep Tayyip Erdogan aproveitou o ensejo e partiu para a construção da sua ditadura. Milhares de pessoas foram presas, certamente torturados, o estado de emergência garante poderes absurdos a Erdogan. Um horror. Hoje, mesmo, 42 jornalistas foram presos. Jornais, revistas e emissoras de TV que faziam oposição, foram fechados. Tenho certeza de mais cedo ou mais tarde, a Turquia mergulhará numa guerra civil, tão sanguinária quanto a da Síria e Iraque.

Para terminar: antes que um cérebro mirim me acuse de defender o golpe militar na Turquia, golpe que não chegou a se consolidar, eu aviso: fui contra, como acho o regime de Erdogan um horror absoluto.

domingo, 24 de julho de 2016

A burrice tem seus ônus


Certa ocasião, em Cuba, a Força Naval americana começou a fazer manobras em torno da ilha. Eu estava em Havana - e do Malecón a gente podia ver os navios americanos na linha do horizonte.  Houve uma mobilização geral em Cuba, tanto das Forças Armadas Rebeldes como da população, que era treinada nas praças públicas e era instruída sobre o que fazer em caso de invasão, que acabou, é claro, não ocorrendo. Quando o cerco acabou, e os navios desapareceram do horizonte, Fidel foi à TV falar com a população e disse uma frase certeira: “O custo da nossa mobilização foi altíssimo. Não importa. Sempre que houver ameaça, faremos mobilização. E é isto o que nos garante, pois no dia em que nos descuidarmos, eles invadirão”.

Lembrei-me do episódio quando li mensagens de alguns petistas calhordas, ideologizados, que não pensam, tenham feito pouco da prisão dos alegados terroristas brasileiros. Nunca é demais lembrar que, diante do quadro mundial e das Olimpíadas, todos os sinais, indícios, suspeitas, devem ser atacados pelos órgãos de segurança - e os envolvidos, presos. Se os terroristas não iam fazer nada ou estavam só brincando, pior ainda: a burrice tem seus ônus.

domingo, 17 de julho de 2016

Outra vez, a falácia petista


Não há como negar: em treze anos, o PT deu uma demonstração inequívoca de que não estava preparado para o exercício do poder. Faltou-lhe substância, traquejo e competência – e sobrou-lhe esperteza malandra e sede pela grana pública. Só as mentes ideologizadas e tacanhas pensam o contrário. (Li, outro dia, que só em Brasília mais de 46 mil pessoas recebiam bolsa-defeso durante o governo Dilma. Será que existem tantos pescadores profissionais em Brasília? Claro que não. Só para comparar: 46 mil habitantes é a população do Leblon, bairro carioca).

Uma das grandes bandeiras do PT, aquela velha e cansativa cantilena da distribuição de renda, aquele papo furado de ter tirado milhões de pessoas da miséria, mostrou-se ser uma falácia, um mero truque estatístico. César Benjamin publicou recentemente um sério estudo sobre o assunto – um estudo que demonstra que nada mudou. O Brasil segue sendo um dos países de renda mais concentrada do planeta. O estudo de César Benjamin foi publicado no Boletim de Conjuntura Brasil nº 4, junho de 2016, órgão da Fundação João Mangabeira. (Lembro que um sujeito me mandou uma mensagem, na qual não só me espinafrava como me assegurava que Lula e Dilma tinham elevado mais de 100 milhões de brasileiros à classe média. Como eu podia ser contra isso? – indagava-me a criatura).

Houve no Brasil um fenômeno muito particular: facilitação de crédito e estímulos governamentais à aquisição de automóveis e bens domésticos, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar, o que fomentou a ilusão de vivíamos num mundo de maravilhas. As famílias, hoje, estão endividadas, 60% delas com nomes sujos no Serasa, afora o desemprego que atinge 12 milhões de pessoas. O governo Dilma, em particular, foi um horror: desonerações absurdas, incapacidade de dialogar, inclusive com aliados. Um horror.

O ideal da casa própria (Minha Casa Minha Vida) mostrou-se ser outra falácia. As casas são de péssima qualidade, sem rede de esgoto, em alguns lugares a milícia tomou conta e, pior, o número de casas construídas sequer atingiu 10% do que estava inicialmente previsto. Reforma agrária? Neca. Reforma política? Neca. Reforma tributária? Neca. Não quero ser debochado, mas o que se aproveitou da Dilma foram seus impagáveis discursos, seus elogios à mandioca, ao vento estocado, à mulher sapiens e à descoberta de que atrás de uma criança vem sempre um cachorro.

Tenho certeza de uma coisa: um levantamento criterioso mostraria que os treze anos de PT somou o maior número de obras inacabadas, inúteis (ou de utilidade duvidosa) e caras – cujos custos foram reajustados sistematicamente, pois as exigências das propinas atingiram níveis inacreditáveis – a companheirada era insaciável. Já se sabe, hoje, com todas as certezas possíveis, que os estádios da Copa foram superfaturados e que, como foi falado na época em que estavam sendo construídos, transformaram-se em elefantes brancos. O mesmo se aguarda das obras das Olimpíadas.

Repito o que já escrevi: nada tenho a favor do Temer. Quem o escolheu para vice de Dilma – ou foi a própria ou o PT. Se Dilma tivesse um enfarte fulminante, ele seria o presidente. Ela fez besteiras, caiu na malha fina da Constituição que prevê o impeachment do presidente em caso de crimes de responsabilidade, que ela os cometeu à farta, certa de que ficaria impune. Dilma não quis, nem soube perceber o que as ruas, desde junho 2013, diziam. Lascou-se. Temer assumiu, ainda provisoriamente (até agosto), em razão de um preceito constitucional. Ponto. (No passado, eu quis eleger o Brizola, que era um estadista. O povo preferiu Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma. Paciência. Consola-me o fato de que não votei em nenhum deles).

Para concluir, repito o que escrevi recentemente neste espaço: há, hoje, no Brasil 12 milhões de desempregados. Vamos dizer que a metade desse contingente tenha família: isto perfaz algo em torno de 30 milhões de pessoas afetadas, aos quais temos que somar a outra metade de seis milhões. Ou seja, o desempregado de 12 milhões atinge cerca de 36 milhões de pessoas. Este, no julgamento do Velhote do Penedo, é a questão essencial a ser enfrentada.

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Em tempo (1): A barbárie terrorista é crime contra a humanidade. Nada o justifica. O que aconteceu em Nice evidencia, mais uma vez, o grau de irracionalidade que domina no planeta. O pior é que a violência cresce a cada dia. Não podemos, porém, esquecer que no Brasil a violência, como a corrupção, tornou-se epidêmica. O Brasil é líder mundial em número de homicídio: somos responsáveis por 10% dos casos mundiais. Entre 1980 e 2012, quase 900 mil pessoas morreram por armas de fogo no Brasil.

domingo, 10 de julho de 2016

A esquerda brasileira envelheceu mas pensa que ainda é broto


Maquiavel explica. Explica?

Escrevi várias vezes que os petistas desmoralizaram as esquerdas – e estas, hoje, estão sem discurso, pois a tábua de salvação em que se agarraram é o velho discurso dos anos 1950 e 1960. As esquerdas não sabem o que dizer à sociedade. O recente racha no PSTU é prova da falta de rumo das esquerdas. É velha a tradição das esquerdas brasileiras se fragmentarem em momentos de crise, embora tais fragmentações não produzam nada de novo, apenas ecoam o velho.

O PT demonstrou que não estava preparado para o exercício do poder. O desafio histórico de assumir o cargo maior da República foi demais para o núcleo central do PT, que se afundou na incompetência, na falta de traquejo e, pior ainda, na corrupção generalizada. Nelson Rodrigues, numa de suas peças, diz que há sempre um momento em que as famílias apodrecem; no caso, a corrupção sistêmica apodreceu o PT.

Faltou ao PT o que Maquiavel chamava de “virtú”. Virtú seria, em palavras simples, capacidade de governança (capacidade de atender as necessidades dos “súditos”) e ficar longe da corrupção, que Maquiavel condenava rigorosamente. O príncipe (ou seja, aquele que está no poder) deve, sempre, dar bons exemplos aos súditos (ou seja, aos governados) – eis um dos ensinamentos básicos do maquiavelismo. “Nada torna um príncipe mais estimado do que ele realizar grandes empreendimentos e dar altos exemplos através de sua conduta” (Maquiavel, cap. XXI).  

A “fortuna” (outra expressão cunhada por Maquiavel) é a “sorte”, as circunstâncias que permitem ao príncipe exercer a “virtú”. A fortuna fornece ou proporciona as condições da ação, as possibilidades de ação em prol dos súditos. O homem de virtú é justamente aquele que sabe extrair dos momentos propícios (fornecidos pela fortuna) as orientações certas para as iniciativas. É possível supor que o primeiro governo Lula tenha sido guiado (ou beneficiado) pela fortuna, a despeito da ausência de virtú do nosso grande líder. No segundo governo, a fortuna do governo Lula começou a escorrer pelo ralo. A era Dilma, então, foi um desastre completo: faltou-lhe fortuna e virtú. Chegamos, enfim, ao caos, ao elogio à mandioca e à defesa ao estoque do vento.

Ao PT faltou capacidade política e estratégica (virtú) para aproveitar as circunstâncias que desfrutou (principalmente nos cinco, seis primeiros anos da sua era) e realizar as reformas políticas e econômicas que o Brasil exige. Jacques Wagner, figurão do PT, afirmou que “nunca imaginamos que estávamos nos aliando a um grupo que se revelou o que há de mais conservador na política brasileira”. Não é possível que a liderança petista fosse assim tão ingênua, como faz supor a frase de Wagner. A verdade é que o PT pensou que exerceria o poder “a despeito” do PMDB (e o “usaria” a seu bel-prazer, mediante cargos e benesses), o que evidencia autossuficiência e absoluta carência de virtú. Fazer política supondo ser mais esperto que os demais, é estupidez.

O PT chora hoje sobre o leite que derramou na doce ilusão de que o estava sorvendo. O leite, no caso, não é só o seu governo, mas a ideia de esquerda, que está na UTI, sem perspectivas quaisquer de alta ou, na pior das hipóteses, de cura. Temos agora um governo do PMDB – azar o nosso? Mas não vou ficar aqui lamentando o fato nem exigindo do PMDB, de um governo do PMDB, o que ele não é nem pode ser. O PT gerou 12 milhões de desempregados, além de inflação alta, déficits crônicos, e por aí vai. O PMDB, claro, vai tentar resolver essas questões, mas ao seu modo. Como no samba, de uma coisa eu tenho certeza: o modo petista de governar não deu certo. Acabou. O cantor Jorge Goulart, velho quadro do Partidão, me disse uma frase exemplar: a esquerda nunca aceita a sua derrota.

Outro dia, conversando com um amigo, ele não economizava acusações e xingos contra Temer, repetindo o discurso de sempre (digo: do PT e do PCdoB), como se os treze anos de governo do PT tivesse sido propriamente de esquerda ou tivesse realizado algum tipo de mudança no país. Claro, esse amigo teve o bom senso (talvez o bom gosto) de não citar nem a Chauí nem o Sader ou o Janine. Mas o discurso desse amigo – eu disse a ele – é velho, saudosista, não cola mais. Afirmei que a esquerda – melhor: aqueles que ainda acreditam no socialismo democrático, pluripartidário – deveria buscar um discurso mais articulado com os tempos atuais. Não precisamos excluir Marx, os clássicos, mas precisamos estudá-los em face do mundo atual. Em 1848, Marx e Engels escreveram sobre a globalização, que eles chamavam de internacionalização. Mas a esquerda brasileira ainda faz o discurso do tempo da guerra fria, um discurso dicotômico, que sequer reconhece a globalização como um fato real. Em tempo de internet a esquerda ainda usa máquina de escrever.

É evidente que discordar da esquerda envelhecida não significa descambar para a direita. Aliás, não vejo o mundo dividido mais em direita e esquerda, polarizado, mas em políticas que reduzam as disparidades e ampliem os níveis de oferta das políticas sociais, como saúde, educação, mobilidade urbana, cultura, por aí. Classes sociais ainda existem, mas em sociedades complexas elas se interligaram, havendo entre as pontas extremas (os 10% mais ricos e os 10% miseráveis) uma enorme variedade de grupos e camadas sociais. Tal complexidade reflete-se também na educação, na saúde (índices de sanidade), cultura. A nossa missão é uma só: podar as duas pontas. Tornar as distâncias sociais política e moralmente aceitáveis.

Precisamos pensar a complexidade social e procurar elaborar a partir daí um discurso de esquerda que seja moderno, aberto, não restritivo. A esquerda brasileira, em geral, envelheceu, mas não se deu conta disso. Eu, de minha parte, aviso: não vou ficar aqui, em nome de valores ultrapassados, patrulhando o governo Temer, embora não o apoie e lamente que tenhamos chegado a ele. Ele vai mexer na previdência? Vai. Mas Lula e Dilma mexeram, ao criarem descontos dos aposentados e o fator previdenciário. Temer vai criar a CPMF? Vai. Mas Dilma também queria criar esse imposto. Temer vai privatizar? Vai. Mas Lula e Dilma também privatizaram, embora utilizando outros nomes. Nada de novo no front.

A culpa pela existência do governo Temer é do núcleo dirigente do PT: primeiro, porque se aliou ao PMDB; segundo, porque se lambuzou na incompetência e na corrupção quando tinha a faca e o queijo na mão para fazer reformas em benefício do país.

Bem, esse debate vai longe.