O texto abaixo foi publicado no blog do jornalista Juca Kfouri. O Velhote do Penedo ia publicar aqui outro texto, mas diante da importância do texto abaixo preferiu dar prioridade ao Juca. Creio que todos que passeiam pelo Penedo sairão ganhando. 5ª feira, dia 21 de março, público o meu texto.
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O deputado Romário (PSB-RJ), acaba de discursar novamente na tribuna da Câmara Federal.
Agradeceu o apoio e pediu audiência à ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, uma nova tabelinha Ro-Ro, que pode golear.
Citou o jornalista Zuenir Ventura, que se referiu à macabra ironia de o homem da Copa do Mundo no Brasil, José Maria Marin, admirador do torturador Sérgio Paranhos Fleury, poder estar ao lado da presidenta Dilma Rousseff, torturada pela ditadura, na abertura do megaevento.
Citou os patrocínios milionários da CBF e exigiu transparência, por ser a CBF a entidade que comanda a Seleção Brasileira, time verde e amarelo e que leva o hino do país aos quatros cantos do mundo.
Exigiu, ainda, a publicação do secreto estatuto da CBF, como fazem outras entidades esportivas.
Mais um gol de Romário.
Que se referiu à petição feita por Ivo Herzog, filho do Vlado, e informou que já conta com mais de 40 mil assinaturas. É verdade.
Mais de 43 mil, para ser mais preciso.
Ou quase 44 mil como se pode constatar AQUI.
Eis o discurso, inteiro:
Senhor Presidente, Senhoras e senhores parlamentares:
Foi com grande satisfação que li a notícia sobre a manifestação da ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, em apoio ao discurso que euproferi na semana passada, defendendo que sejam investigadas as possíveis relações entre o presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Senhor José Maria Marín, e os órgãos de repressão do regime militar.
Como todos sabem, o Senhor Marín militou naARENA, o partido da ditadura, e pode ter tido participação, mesmo que indireta, nos eventos que levaram ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-CODI.
Na condição de presidente da CBF, José Maria Marin estará ao lado da presidente Dilma Rousseff na recepção aos chefes de Estado que virão para a Copa das Confederações, em junho deste ano, e paraCopa do Mundo, no ano que vem.
E eles dividirão,possivelmente, a mesma tribuna de honra nos eventos esportivos.
Acho que essa proximidade será meioconstrangedora para nossa Presidente, pois ela conheceu de perto, muito perto, a brutalidadedaquele regime que prendia e torturava, à margem da lei, contando com o apoio do ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-vice-governador de São Paulo, Senhor José Maria Marin.
Como afirmou o jornalista Zuenir Ventura, em artigo no Globo, chega a ser irônico que um admirador do torturador Sérgio Paranhos Fleuryesteja à frente do nosso futebol, quando o país é presidido por uma pessoa que sofreu nas mãos dos torturadores.
Eu diria, Senhor Presidente, que esse é o tipo de ironia que não tem a menor graça.
Eu gostaria de transcrever uma parte da fala daMinistra Maria do Rosário, como foi reproduzida no jornal O Globo, para que fique registrada nos anais desta Casa.
Ela disse o seguinte(abre aspas):
“Eu penso que todas as pessoas que comprovadamente estiveram envolvidas em situação de morte, tortura e desaparecimentos forçados não devem ocupar funções públicas no país. Porque os que cometeram – e se cometeram comprovadamente estes atos –, traíram qualquer princípio ético de dignidade humana e não devem ocupar funções de representação”. (Fecha aspas)
Por isso, vou solicitar audiência com a Senhora Ministra, para agradecer pessoalmente essamanifestação muito oportuna e bem-vinda, pois se trata do primeiro apoio público do Governo Federal à campanha que se realiza em todo o país, com o objetivo de sabermos, efetivamente, sobre o passado político do atual presidente da CBF e sua ligação com a ditadura militar, de triste memória.
Eu soube hoje que o Senhor Wadih Damous,presidente da Comissão Nacional dos Direitos Humanos da OAB e da Comissão Estadual daVerdade do Rio de Janeiro, declarou considerar“correta e urgente” a convocação do presidente da CBF pela Comissão Nacional da Verdade, a fim de que ele possa explicar as suas ligações com a ditadura militar no Brasil.
Ele disse o seguinte:
“Marín era membro do partido que dava sustentação parlamentar à ditadura e, à época do suplício deVladimir Herzog, o atual dirigente da CBF proferiu discursos agressivos e com nítido caráter de delação contra o jornalista”.
Aliás, tem ganhado corpo a campanha que a família Herzog lançou nacionalmente, com vistas ao afastamento de José Maria Marín da presidência da CBF.
Até o momento, já foram coletadas mais de 40 mil assinaturas pela internet.
Trata-se de um movimento que merece nossa atenção e adesão.
Eu quero deixar aqui registrado o meu apoio e convidar os colegas deputados edeputadas, e todos os brasileiros, a fazerem o mesmo, em nome da democracia e dos direitos humanos, que são direitos de todos e cada um de nós.
A essa preocupação que eu tenho manifestado,Senhor Presidente, se somam outras.
Não podemos esquecer que o Senhor Marin, à frente da CBF, tem sob o seu comando a principal manifestação esportiva de nosso país, que é o nosso futebol.
A nossa Seleção é mais do que um time, é uma manifestação cultural acompanhada de modo apaixonado nos quatro cantos do Brasil, como eu pude testemunhar bem de perto.
A seleção leva, por onde passa, o nome do Brasil, a nossa bandeira, as nossas cores, o nosso hino – e, principalmente, os nossos jogadores.
Tem gente que conhece muito pouco do nosso país, da nossa cultura, mas conhece o futebol e os jogadores do Brasil.
Por isso, não seria exagero dizer que ela é um símbolo nacional. Nélson Rodrigues dizia que a paixão dos brasileiros pelo futebol é tão forte, que não seria exagero dizer que o Brasil é “a pátria de chuteiras” – uma expressão feliz, que, aliás, se tornou o slogan oficial da Copa de 2014.
Senhor Presidente, Na última semana eu comentei sobre a parceria daCBF com a poderosa multinacional Nike.
Insisto neste assunto, pois entendo que, ao explorar a imagem desse símbolo do nosso país, a CBF deveprestar contas e ter transparência nas suas ações. Eu insisto, por exemplo, em conhecer a destinação desses patrocínios à Seleção Brasileira.
Quem ganha e quanto ganha?
Quem se beneficia da comissão de mercado nessas transações milionárias?
Além da Nike, outras empresas investem no uniforme da Seleção, como a Ambev, o Banco Itaú,Gillette, Vivo etc.
Consta que, depois da Nike, que destina, em média, R$ 70 milhões anuais à CBF, a Ambev é a principal investidora.
Conforme o contrato, são 15 milhões de dólares anuais, mais de 30 milhões de reais.
Estamos falando, aqui, de uma instituição gigantesca, que opera com valores vultosos, mas cuja transparência não existe, sabe-se lá por quê.
Dessa forma, crescem as suspeitas sobre o destino dos patrocínios milionários.
Afinal, quem se beneficia dessas somas, captadas em nome do nosso maior patrimônio esportivo, a Seleção Brasileira?
Ao pedir “transparência” na CBF, que é gestora de um futebol deficitário, com público cada vez mais reduzido nos estádios, indago também sobre outras ações dessa empresa comandada José Maria Marin.
Por exemplo, por que o estatuto da CBF não é documento público?
Por que a CBF não publica o estatuto no seu site, como fazem outras instituiçõesesportivas?
Eu gostaria de saber se foi com base nesse estatutodesconhecido que se realizou a última eleição na CBF, quando o senhor Ricardo Teixeira foi eleitopresidente, com José Maria Marín de vice.
Que normas, que exigências tem esse estatuto, quepossam nos dar garantias de que aquela eleição atendeu a todos requisitos da legalidade.
Foram cumpridas todas as formalidades legais, desde a convocação da assembleia, registro de chapaetc, até o voto de todos os eleitores?
Essa ata está disponível para que se possa comprovar a lisura do pleito? São muitas questões, Senhor Presidente, que precisam ser respondidas o quanto antes, principalmente porque estamos entrando no momento de maior exposição do nosso futebol e até mesmo do nosso País.
Acho que o povo brasileiro, que tanto torce, sofre, chora e vibra com a nossa Seleção, tem o direito de exigir um pouco de transparência, um mínimo de respeito.
Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.
Muito obrigado.