Depois
de ter escrito um livro sobre um crime de morte ocorrido, em 1952, no Rio de
Janeiro, começo a reunir material para mais um livro. Um livro sobre uma
rebelião popular, que se confundiu com uma tentativa frustrada de golpe militar,
no início do século passado.
Hoje,
por exemplo, li duas crônicas de Olavo Bilac sobre o tema – ambas publicadas na
“Gazeta de Notícias”. Conhecido mais como poeta, Bilac foi também um homem de
imprensa, escrevendo crônicas e artigos para vários jornais do Rio de Janeiro e
de São Paulo. Todos os assuntos o interessavam, desde os literários aos políticos,
aos históricos, aos científicos, aos acontecimentos diários da vida. Acompanhou
as transformações urbanas ocorridas na cidade que amou. Em 1893, durante o
governo de Floriano Peixoto, Bilac passou quatro meses nos calabouços da
Fortaleza da Lage, uma ilhota na entrada da Baía da Guanabara. Em setembro
daquele ano, já solto, Bilac apoiou o almirante Custódio de Melo, que liderou uma
rebelião contra Floriano. Bilac foi levado mais uma vez à prisão. Após prestar
esclarecimentos, Bilac foge e homizia-se em Minas Gerais, território não
atingido pelo estado de sítio baixado por Floriano. Bilac foi um sujeito extraordinário. Um dos cinco
maiores poetas brasileiros.
Bilac
era um cronista clássico, na linha de Rubem Braga, Antônio Maria, Paulo Mendes
Campos. Era um observador, e não só da cidade em que vivia. Não se preocupava
com que a maioria pensava, mas buscava sempre ver os meandros dos
acontecimentos. Deixou-nos uma obra extensa e valiosa.
Como
pretendo concluir a pesquisa e o livro até dezembro de 2019, vou me afastar uns
tempos do facebook. Não vou suspender minha página, nem deixar de escrever
quando julgar necessário ou imprescindível. Sei que muita gente gosta do que
escrevo, como sei que muita gente detesta o que ponho na telinha. Não me
importa. Aos primeiros, meus agradecimentos; aos segundos, meu silêncio.
Antes,
porém, gostaria de deixar registrado meu ponto-de-vista sobre o momento que
vivemos.
Devo
dizer, de início, que considero a mídia social um belo instrumento de troca de
conhecimentos e de informações, embora ele esteja, hoje, dominado pelas
sequelas da divisão político-ideológica que domina a vida brasileira. Uma
divisão que enveredou perigosamente para o campo da irresponsabilidade e do
conflito, insuflando, em muitos casos, o que há de pior no chamado ser humano.
Na
rede social virtual o que domina, hoje, são as mentiras, a disseminação de
boatos, as agressões, os xingos, o mau humor, a torpeza. Ninguém respeita o
direito de opinar e falar do outro. Entra-se no espaço de qualquer um, com a
intenção apenas de ofendê-lo e desmerecê-lo pelo simples fato de que o outro
pensa diferente. Tais invasões nem sempre são acompanhadas de comentários
coerentes, sérios.
O
grau de ensandecimento que domina o facebook está atingindo a níveis
insuportáveis, e isto me preocupa em particular. Quero dizer com isso que se
avançou celeremente para o desrespeito da lógica, do bom senso e da civilidade,
na suposição de que todos podem falar o que quiser, quando quiser, sem medir a
verdadeira dimensão do que fala. Outro dia li uma postagem tão absurda quanto
irresponsável: dizia o autor que “o Exército brasileiro estava dominado pelas
milícias”, que é, como se sabe, uma organização criminosa. Tal afirmação é
inaceitável por que é uma baita mentira, uma enorme tonteria, uma suposição que
afronta a democracia brasileira. Trata-se, na verdade, de uma provocação torpe
e irresponsável. Como a rede social aceita tudo, a postagem foi lida por
milhares de pessoas, que a transmitiram, que a transmitiram, que a transmitiram.
Todos
sabem – e se não sabem estão sabendo agora – que não votei no Bolsonaro. Mas
declarei, desce cedo, que estava curioso. Não escrevi uma só linha atacando o
capitão, mas também não escrevi nada a favor dele. Preferi aguardar, embora um
terceiro amigo meu tenha escrito que estava “decepcionado” comigo. Não
respondi, pois a decepção do meu amigo é, na verdade, prova que estamos vivendo
uma era de equívocos.
Mas
tenho lido as postagens de amigos meus combatendo o governo, inclusive
atribuindo a ele ações e atitudes não praticadas. Tudo isto me levou a uma
certeza: muitos que atacam Bolsonaro são movidos pelo medo de que seu governo
dê certo. E não me digam que estou errado. Muitos temem que o governo Bolsonaro
dê minimamente certo.
Eu,
de minha parte, espero que o governo Bolsonaro dê certo, não por causa dele.
Bolsonaro é um homem de direita – e o Velhote do Penedo continua sendo,
penosamente, sofridamente, um homem que acredita no ideal socialista. Quero que
o governo Bolsonaro dê certo por causa dos 13 milhões de desempregados, dos
doentes que morrem nas filas dos hospitais, das crianças e jovens que recebem
uma educação pífia, da falta de infraestrutura – e por aí afora. Se nada mudar
no Brasil, ao cabo dos próximos anos os miseráveis estarão mortos, os
remediados serão miseráveis – e os ricos estarão nas Bahamas, usufruindo as
delícias da vida.
Se
o governo Bolsonaro der certo, reconheço que perdi a minha guerra ideológica,
mas o grosso da população terá o direito de fazer três refeições por dia, de
dormir sob um teto, de não morrer nos corredores de hospitais infectados. E seus
filhos, ao invés de soldados do tráfico, estarão nas escolas.
Meus
amigos, até breve.