1 - Todos sabem, ou
não sabem, ou fingem não saber: não votei no Bolsonaro, como não votei (nem
votaria jamais) no Haddad, no Ciro e na Marina. Haddad é sonso; Ciro,
desequilibrado; Marina, ausente. Com Haddad, estaríamos de joelhos perante
Maduro; com Ciro, teríamos um Jânio cearense, movido a destemperos verbais e
gestuais; com Marina, o país estaria sem rumo.
2 - Acontece que
Bolsonaro ganhou – e eu decidi, em respeito à minha idade e a todos os
problemas de saúde que enfrentei na vida, não me estressar com isso, nem buscar
ou requentar velhos e justos ressentimentos, mas dar minha contribuição ao
entendimento da realidade brasileira. Por isso escrevo meus textos, nos quais
busco analisar com seriedade o que vejo, leio e ouço, evitando xingos, juízos
preestabelecidos e bússolas ideológicas. Sou livre.
3 - Como professor,
tenho um orgulho: o de ter lecionado em todos os estados do Brasil, cursos
curtos de uma semana e cursos longos, no Rio, São Paulo, Brasília (UnB). Enfrentei
a ditadura e paguei por isso: fiquei durante três anos sem emprego, vivendo de
biscates clandestinos, assinando textos e traduções com pseudônimos. O SNI
vetava sempre meu nome, inclusive em empresas privadas. Não tive ajuda de
ninguém. Hoje, não sou de direita nem de esquerda, pois considero as duas
categorias superadas historicamente. Sou apenas um sujeito que pensa, escreve e
luta contra os dogmas sejam eles quais forem. Sou um sujeito que quer o melhor
para o seu país.
4 - Aos poucos, na
medida em que envelheço e mais aprendo, fui me libertando de ideologias
estáticas. Chamo de ideologia estática aquele tipo de visão do mundo que se
nega a encarar e enfrentar os novos desafios que a vida nos apresenta e impõe. Um
deles, sem dúvida, é o crescimento demográfico. Somos hoje um planeta que
abriga 8 bilhões de sujeitos a demandar comida e água, educação, saúde e
saneamento. Produzimos uma quantia inacreditável de lixo – e não sabemos o que
fazer com ele. Isto se agrava na medida em que se adensa a chamada “obsolescência
planejada e acelerada”, fenômeno que a chamada esquerda e os ecologistas de
meia-tigela não sabem o que significa.
5 - Em algumas
décadas seremos dez, doze, vinte bilhões. No meu tempo de faculdade, era pecado
de lesa-ideologia ler Malthus, mas hoje aconselho a meus alunos. O mundo hoje
consome mais natureza do que ela pode se regenerar. Este é o grande desafio da
humanidade.
6 - Outra questão a
ser enfrentada é a urbana. As esquerdas permanecem debatendo a reforma agrária,
prato que era servido a todos nós na década de 1960. Claro, na época, mais de 55%
da população vivia no campo, submetida ao latifúndio improdutivo e obscuro.
Hoje, porém, apenas 12% dos brasileiros são os rurícolas e o latifúndio
improdutivo foi substituído pelo agronegócio pujante, capitalista, moderno. Os
graves problemas, portanto, estão nas cidades, todas elas entupidas de gente
sem qualificação e emprego, favelas, violência. Só os municípios de São Paulo e
Rio de Janeiro, sem os seus entornos, abrigam mais de 20 milhões de almas.
As negativas
7 - Houve uma época
em que a esquerda brasileira negava a existência da globalização, vendo nas
referências a ela um mero discurso antipovo, neoliberal e pró imperialista.
8 - Negar a
globalização é algo delirante e, pior ainda, um absurdo conceitual. Negar a
globalização é negar o próprio marxismo. No Manifesto Comunista, publicado em
1848, Marx e Engels falam da mundialização do mercado mundial, das indústrias e
das comunicações. Há quase 200 anos Marx e Engels intuíram o que parte da
esquerda se recusa a ver.
9 - No meio da
esquerda tradicional brasileira, embora eu conheça gente brilhante, campeia o
desconhecimento de textos clássicos do marxismo, o que leva essa gente a errar
e ser incapaz de compreender e explicar o mundo de hoje. Alguém, com o mínimo
de discernimento, imagina que Benedita, Gleisi, Ivan Valente, Perpétua, Pimenta,
e muitos outros, tenham lido ou folheado os livros de Marx, Engels e Lênin?
Claro que não leram. Como Lula, a patota petista é incapaz de ler um reles
gibi.
10 - Numa postagem
recente, escrevi que grande parte dos nossos “esquerdistas” são pessoas cujos
cérebros são povoados de armadilhas ou prisões ideológicas, cuja validade
decorre apenas da repetição e da crença cega – e, não, da reflexão lúcida.
Repetem lugares comuns válidos nos anos 1930, 1940, como se o mundo não tivesse
mudado de lá para cá – e, sobretudo, posto diante de todos nós novas questões,
novas problemáticas, novos desafios. Em síntese, tentam explicar o novo através
do antigo, do velho, do carcomido. A esquerda tradicional teme que soluções
novas desmintam suas velhas visões de mundo. Recusam-se a pensar. Tal recusa,
claro, reflete o medo de verificar que as coisas não são mais como eram.
11 - Recebo
constantes postagens em que Bolsonaro é taxado de tosco, bronco, analfabeto,
burro, idiota, assim gratuitamente. Ora, será que os autores dessas postagens
são tão inteligentes – ou se julgam tão inteligentes assim - ao ponto de afirmar
que um presidente, eleito com mais de 57 milhões de votos, é bronco e burro?
Como um candidato bronco pôde enganar 57 milhões de pessoas? Será que os
autores de tais postagens estão afirmando, de forma indireta e covarde, que
burros e broncos são os 57 milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro?
12 - Quem tem o
hábito de chamar o próximo de burro ou bronco revela uma estrutura mental dominada
pelo preconceito contra os broncos e burros – e notem que não sou eu quem diz
isso, mas a psicologia. Geralmente, quem nunca foi nada na vida, ou se sente, mesmo
inconscientemente um derrotado, usa de termos como burro e bronco para
equilibrar a frustração dolorosa que sente por não ter sido nada ou não ter
sido aquilo que desejava.
13 - Bolsonaro é presidente,
mas é bronco e burro. Quem afirma ser Bolsonaro um bronco supõe-se ser inteligente.
Tão inteligente ao ponto de avaliar as ações, as palavras, os gestos de
Bolsonaro como típicas de quem é bronco. Ter recebido 57 milhões de votos é um
detalhe.
14 – Será que essas
pessoas pensam que estão fazendo política ao afirmar que Bolsonaro é bronco e
burro? Dizer que Bolsonaro é bronco não é uma afirmação política, mas uma
distorção de enfoque e uma tolice existencial de quem diz. O que se ganha com
isso? Repetir que Bolsonaro é bronco é renunciar à ideia de analisar a natureza
de sua prática política.
Picaretas
inamovíveis
14 - Há ainda
aqueles que dizem que Bolsonaro não sabe fazer política, haja visto o número de
tensões entre o executivo e o legislativo.
15 - Os críticos,
porém, não qualificam essas tensões, ou seja, não investigam sua natureza, o
seu significado e o que elas representam. O problema é que os políticos
brasileiros incrustados no legislativo estão acostumados (ou viciados) à
política de favores, de troca-trocas, de toma lá da cá, que Bolsonaro negou-se,
desde cedo, a praticar. As tensões entre executivo e legislativo nascem
justamente da fricção entre as propostas de venda de apoio (através da compra
de votos, cargos, nomeações) e as recusas sistemáticas do presidente. Chamavam
a isto de governabilidade ou de governo de coalizão, nomes elegantes atribuídos
à indecência.
16 - Vimos isso
agora, no caso da aprovação do relatório da reforma da previdência. Por falta
de um pacto de compra e venda, sugerido e defendido inclusive pelo presidente
da Câmara, Rodrigo Maia, o relator fez mudanças importantes no projeto enviado
pelo executivo. O relator não só se curvou diante da pressão de setores corporativos,
como excluiu estados e municípios do projeto. Como disse o ministro Paulo
Guedes, o relator virou as costas às futuras gerações.
17 - As mesmas
pessoas que, ontem, condenavam FHC, Lula, Dilma e Temer por distribuírem cargos
e outras benesses a deputados, senadores e partidos em troca de votos e apoios
no Congresso Nacional, são aqueles que, hoje, condenam Bolsonaro por se recusar
a fazer o que fez a gangue dos quatro. Se a reforma da previdência foi
maculada, a responsabilidade cabe aos deputados e partidos, viciados no
fisiologismo.
Em tempo:
Continuo – devemos
todos continuar – no aguardo do pronunciamento das emissoras de TV a respeito
da declaração do advogado do Adélio Bispo, Dr. Zanone de Oliveira, de que ele e
sua equipe são pagos por elas. O silêncio das emissoras é suspeito – e apenas
confirma o que disse o defensor de um notório criminoso.
Tido como débil mental,
Adélio Bispo foi pago por alguém, que lhe deu 3 celulares, laptop e cartões de crédito
internacionais, o que leva a crer que o assassino, caso conseguisse fugir, ia
para o exterior. Após ser preso, quatro advogados, liderados por Dr. Zanone de Oliveira,
desembarcou em Juiz de Fora, onde chegaram num jatinho fretado. Adélio é um
artista, um matador profissional, que se está passando, e convencendo alguns,
por débil mental.