domingo, 16 de junho de 2019

Picaretagem no Brasil é mato



1 - Todos sabem, ou não sabem, ou fingem não saber: não votei no Bolsonaro, como não votei (nem votaria jamais) no Haddad, no Ciro e na Marina. Haddad é sonso; Ciro, desequilibrado; Marina, ausente. Com Haddad, estaríamos de joelhos perante Maduro; com Ciro, teríamos um Jânio cearense, movido a destemperos verbais e gestuais; com Marina, o país estaria sem rumo.
2 - Acontece que Bolsonaro ganhou – e eu decidi, em respeito à minha idade e a todos os problemas de saúde que enfrentei na vida, não me estressar com isso, nem buscar ou requentar velhos e justos ressentimentos, mas dar minha contribuição ao entendimento da realidade brasileira. Por isso escrevo meus textos, nos quais busco analisar com seriedade o que vejo, leio e ouço, evitando xingos, juízos preestabelecidos e bússolas ideológicas. Sou livre.
3 - Como professor, tenho um orgulho: o de ter lecionado em todos os estados do Brasil, cursos curtos de uma semana e cursos longos, no Rio, São Paulo, Brasília (UnB). Enfrentei a ditadura e paguei por isso: fiquei durante três anos sem emprego, vivendo de biscates clandestinos, assinando textos e traduções com pseudônimos. O SNI vetava sempre meu nome, inclusive em empresas privadas. Não tive ajuda de ninguém. Hoje, não sou de direita nem de esquerda, pois considero as duas categorias superadas historicamente. Sou apenas um sujeito que pensa, escreve e luta contra os dogmas sejam eles quais forem. Sou um sujeito que quer o melhor para o seu país.
4 - Aos poucos, na medida em que envelheço e mais aprendo, fui me libertando de ideologias estáticas. Chamo de ideologia estática aquele tipo de visão do mundo que se nega a encarar e enfrentar os novos desafios que a vida nos apresenta e impõe. Um deles, sem dúvida, é o crescimento demográfico. Somos hoje um planeta que abriga 8 bilhões de sujeitos a demandar comida e água, educação, saúde e saneamento. Produzimos uma quantia inacreditável de lixo – e não sabemos o que fazer com ele. Isto se agrava na medida em que se adensa a chamada “obsolescência planejada e acelerada”, fenômeno que a chamada esquerda e os ecologistas de meia-tigela não sabem o que significa.
5 - Em algumas décadas seremos dez, doze, vinte bilhões. No meu tempo de faculdade, era pecado de lesa-ideologia ler Malthus, mas hoje aconselho a meus alunos. O mundo hoje consome mais natureza do que ela pode se regenerar. Este é o grande desafio da humanidade.
6 - Outra questão a ser enfrentada é a urbana. As esquerdas permanecem debatendo a reforma agrária, prato que era servido a todos nós na década de 1960. Claro, na época, mais de 55% da população vivia no campo, submetida ao latifúndio improdutivo e obscuro. Hoje, porém, apenas 12% dos brasileiros são os rurícolas e o latifúndio improdutivo foi substituído pelo agronegócio pujante, capitalista, moderno. Os graves problemas, portanto, estão nas cidades, todas elas entupidas de gente sem qualificação e emprego, favelas, violência. Só os municípios de São Paulo e Rio de Janeiro, sem os seus entornos, abrigam mais de 20 milhões de almas.

As negativas

7 - Houve uma época em que a esquerda brasileira negava a existência da globalização, vendo nas referências a ela um mero discurso antipovo, neoliberal e pró imperialista.
8 - Negar a globalização é algo delirante e, pior ainda, um absurdo conceitual. Negar a globalização é negar o próprio marxismo. No Manifesto Comunista, publicado em 1848, Marx e Engels falam da mundialização do mercado mundial, das indústrias e das comunicações. Há quase 200 anos Marx e Engels intuíram o que parte da esquerda se recusa a ver.
9 - No meio da esquerda tradicional brasileira, embora eu conheça gente brilhante, campeia o desconhecimento de textos clássicos do marxismo, o que leva essa gente a errar e ser incapaz de compreender e explicar o mundo de hoje. Alguém, com o mínimo de discernimento, imagina que Benedita, Gleisi, Ivan Valente, Perpétua, Pimenta, e muitos outros, tenham lido ou folheado os livros de Marx, Engels e Lênin? Claro que não leram. Como Lula, a patota petista é incapaz de ler um reles gibi.
10 - Numa postagem recente, escrevi que grande parte dos nossos “esquerdistas” são pessoas cujos cérebros são povoados de armadilhas ou prisões ideológicas, cuja validade decorre apenas da repetição e da crença cega – e, não, da reflexão lúcida. Repetem lugares comuns válidos nos anos 1930, 1940, como se o mundo não tivesse mudado de lá para cá – e, sobretudo, posto diante de todos nós novas questões, novas problemáticas, novos desafios. Em síntese, tentam explicar o novo através do antigo, do velho, do carcomido. A esquerda tradicional teme que soluções novas desmintam suas velhas visões de mundo. Recusam-se a pensar. Tal recusa, claro, reflete o medo de verificar que as coisas não são mais como eram.
11 - Recebo constantes postagens em que Bolsonaro é taxado de tosco, bronco, analfabeto, burro, idiota, assim gratuitamente. Ora, será que os autores dessas postagens são tão inteligentes – ou se julgam tão inteligentes assim - ao ponto de afirmar que um presidente, eleito com mais de 57 milhões de votos, é bronco e burro? Como um candidato bronco pôde enganar 57 milhões de pessoas? Será que os autores de tais postagens estão afirmando, de forma indireta e covarde, que burros e broncos são os 57 milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro?
12 - Quem tem o hábito de chamar o próximo de burro ou bronco revela uma estrutura mental dominada pelo preconceito contra os broncos e burros – e notem que não sou eu quem diz isso, mas a psicologia. Geralmente, quem nunca foi nada na vida, ou se sente, mesmo inconscientemente um derrotado, usa de termos como burro e bronco para equilibrar a frustração dolorosa que sente por não ter sido nada ou não ter sido aquilo que desejava.
13 - Bolsonaro é presidente, mas é bronco e burro. Quem afirma ser Bolsonaro um bronco supõe-se ser inteligente. Tão inteligente ao ponto de avaliar as ações, as palavras, os gestos de Bolsonaro como típicas de quem é bronco. Ter recebido 57 milhões de votos é um detalhe.
14 – Será que essas pessoas pensam que estão fazendo política ao afirmar que Bolsonaro é bronco e burro? Dizer que Bolsonaro é bronco não é uma afirmação política, mas uma distorção de enfoque e uma tolice existencial de quem diz. O que se ganha com isso? Repetir que Bolsonaro é bronco é renunciar à ideia de analisar a natureza de sua prática política.

Picaretas inamovíveis

14 - Há ainda aqueles que dizem que Bolsonaro não sabe fazer política, haja visto o número de tensões entre o executivo e o legislativo.
15 - Os críticos, porém, não qualificam essas tensões, ou seja, não investigam sua natureza, o seu significado e o que elas representam. O problema é que os políticos brasileiros incrustados no legislativo estão acostumados (ou viciados) à política de favores, de troca-trocas, de toma lá da cá, que Bolsonaro negou-se, desde cedo, a praticar. As tensões entre executivo e legislativo nascem justamente da fricção entre as propostas de venda de apoio (através da compra de votos, cargos, nomeações) e as recusas sistemáticas do presidente. Chamavam a isto de governabilidade ou de governo de coalizão, nomes elegantes atribuídos à indecência.
16 - Vimos isso agora, no caso da aprovação do relatório da reforma da previdência. Por falta de um pacto de compra e venda, sugerido e defendido inclusive pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o relator fez mudanças importantes no projeto enviado pelo executivo. O relator não só se curvou diante da pressão de setores corporativos, como excluiu estados e municípios do projeto. Como disse o ministro Paulo Guedes, o relator virou as costas às futuras gerações.
17 - As mesmas pessoas que, ontem, condenavam FHC, Lula, Dilma e Temer por distribuírem cargos e outras benesses a deputados, senadores e partidos em troca de votos e apoios no Congresso Nacional, são aqueles que, hoje, condenam Bolsonaro por se recusar a fazer o que fez a gangue dos quatro. Se a reforma da previdência foi maculada, a responsabilidade cabe aos deputados e partidos, viciados no fisiologismo.

Em tempo:

Continuo – devemos todos continuar – no aguardo do pronunciamento das emissoras de TV a respeito da declaração do advogado do Adélio Bispo, Dr. Zanone de Oliveira, de que ele e sua equipe são pagos por elas. O silêncio das emissoras é suspeito – e apenas confirma o que disse o defensor de um notório criminoso.
Tido como débil mental, Adélio Bispo foi pago por alguém, que lhe deu 3 celulares, laptop e cartões de crédito internacionais, o que leva a crer que o assassino, caso conseguisse fugir, ia para o exterior. Após ser preso, quatro advogados, liderados por Dr. Zanone de Oliveira, desembarcou em Juiz de Fora, onde chegaram num jatinho fretado. Adélio é um artista, um matador profissional, que se está passando, e convencendo alguns, por débil mental.