quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Dona Dilma, a indecifrável

Dona Dilma tem uma particularidade. Quando discursa de improviso, ela nem sempre conclui um raciocínio. Às vezes, ela sequer termina uma frase. Em consequência, o pensamento dela paira sempre entre o dúbio e o indecifrável. A mensagem que pretende (ou não) transmitir chega aos ouvintes prenhe de hiatos, lacunas, vazios.


Um amigo me disse, sério, que talvez ela faça isso intencionalmente. Seria uma maneira de não se comprometer a ideias, propostas ou compromissos. Os políticos são assim mesmo, pontificou esse amigo meu. Será? Não creio. Acho que é a obscuridade do discurso da Dona Dilma nasce precisamente da sua dificuldade de entender o momento histórico que o mundo vive - marcado por uma crise econômico-financeira braba (que apenas se avizinha) e mudanças políticas complicadas. Dona Dilma não é política como seu antecessor e apenas estudou economia, mas não é economista. Não sei se me entendem.
Ontem (seis de setembro) ela ocupou uma rede nacional (rádio e televisão) e disse, pelo menos, três coisas – digamos – que confirmam o meu diagnóstico:
1 – Ela disse que para enfrentar a carência de recursos humanos altamente qualificados, que afeta as indústrias e, em consequência, o próprio esforço de desenvolvimento brasileiro, o governo criará mais quatro universidades federais.
Dona Dilma demonstrou possuir uma visão simplista de um problema sério. Não basta criar universidades para que recursos humanos altamente qualificados brotem como capim. É preciso tempo, muito investimento em bibliotecas atualizadas, laboratórios, equipamentos e, principalmente, em professores capacitados. Uma universidade leva tempo para amadurecer.
A verdade é que Dona Dilma deveria criar um Programa de Formação de Recursos Humanos Altamente Qualificados em Áreas Estratégicas nas melhores universidades brasileiras, ou seja, nas universidades em condições de formar profissionais capacitados.
Criar uma universidade em Borogodó da Serra, outra em Tapioca do Sertão, jamais resolverá a carência de gente qualificada, pois esta carência é de hoje, isto é, afeta hoje a economia brasileira.
2 – Em seu discurso, Dona Dilma nos informou (às 19 horas) que a inflação brasileira estava controlada.
São os azares dos discursos gravados com antecedência, pois, pela manhã, o IBGE tinha informado ao grande público brasileiro que a taxa inflação tinha batido recorde.
Em 12 meses, a taxa de inflação ficou em 7,23%, muito longe da meta de 4,5% do governo. É claro que a ameaça da inflação sair do controle é longínqua, mas não se deve dar vacilo algum. Todo cuidado é pouco, como diria Conselheiro Acácio, o sábio.
3 – Disse ainda Dona Dilma que o governo não permitirá que produtos importados, principalmente da China, prejudiquem as indústrias brasileiras.
A elevação de tarifas de importação de produtos chineses apenas vai elevar o preço desses produtos para o consumidor. Os chineses dominam hoje diversos setores industriais no Brasil, como o de sapatos, porcelanato, bicicletas, brinquedos, pneus – e vai por aí afora.
Vi, recentemente, uma entrevista de um empresário do ramo de guarda-chuvas. Ele dizia, por exemplo, que alguns anos atrás ele exportava seus produtos para dez países. Hoje, não só deixou de exportar como perdeu parte do mercado interno brasileiro. Segundo ele, foi obrigado a demitir dois terços dos seus funcionários.
E há outra questão a considerar. A economia brasileira é hoje amarrada às exportações para a China, especialmente de soja e minério de ferro, as chamadas commodities, que no meu tempo de estudante eram chamadas de matérias-primas. E se a China não gostar da elevação de tarefas dos seus produtos importados – e decidir replicar?
Enquanto isso, Dona Dilma nos diz que não permitirá que isso aconteça. Podemos dormir em paz, portanto.
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Orquestra Juvenil da Bahia
E para fugir da aridez da nota acima, vejam que bela apresentação da Orquestra Juvenil da Bahia. Ela executa Rhapsody in Blue, de George Gershwin. Com regência e solo do maestro Ricardo Castro, o concerto foi realizado em 18 de julho de 2010, no Auditório Cláudio Santoro, em Campos do Jordão, São Paulo.
O velho professor do Penedo recomenda que ouçam até o fim.


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