domingo, 4 de setembro de 2011

A programação televisiva e o comportamento do expectador

Introdução - Televisão, ou melhor, a programação televisiva educa ou deseduca? A programação televisiva influencia ou não o comportamento do expectador? A programação televisiva cria maneiras de agir, de ser, de se postar diante do mundo e das pessoas? A programação televisiva é capaz de criar hábitos, cacoetes, gostos, idiossincrasias, os quais, num processo inconsciente, são absorvidos pelo expectador?
Se você, meu caro leitor, pensa que não, explique ao velho professor do Penedo o seguinte: porque a programação televisiva é tão carregada em anúncios comerciais? Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostrou que uma criança aos 12 anos terá assistido mais de 100 mil anúncios! Quantas ela verá ao longo da vida? Isto influi ou não na sua formação, nos seus gostos, na sua cultura?
Dito de outra maneira: a propaganda televisiva (como as demais propagandas midiáticas) cria ou não no expectador a “vontade” de possuir um carro (aquele carro!), de beber uma cerveja ou um refrigerante (aquela cerveja, aquele refrigerante!), de vestir uma calça ou uma camisa de marca (aquela marca!)?
Este velho professor do Penedo acredita que sim. E é da opinião que a programação televisiva influencia e manipula o expectador, fazendo-o gostar disto ou daquilo, a repetir certas expressões (ou bordões) e a amar ou desprezar determinados homens públicos.
A chamada liberdade de escolha, portanto, não é absoluta, mas relativa e condicionada.
Há um depoimento do escritor Antônio Cândido que diz tudo. Certa ocasião, viajando pelo interior de Goiás com Caio Prado Júnior, ele ouviu uma mocinha do lugar dizer ao telefone a palavra “paixão” ao se dirigir ao seu interlocutor. “Sabe, paixão, fui ontem ao cinema”. “Pois é, paixão, o filme era sensacional”. “Até manhã, paixão”! “Outro para você, paixão”!
Antônio Cândido riu muito, pois a mocinha nada mais fazia que repetir o bordão (“paixão”) que uma personagem da novela da Globo usava quando contracenava.
Pesquisa – O velho professor do Penedo não acredita que a origem da violência seja a pobreza. É claro que ela contribui, mas nada é absoluto na sociedade nem, tampouco, os fenômenos sociais são o resultado de uma mera relação de causa e efeito. A violência é um produto de variados fatores, que agem de maneira diversa e em determinadas circunstâncias.
Os programas televisivos, as novelas, filmes e programas humorísticos não são responsáveis, em si, pela violência em nossa sociedade, mas eles contribuem, inclusive por que, ao transmitir violência, os programas televisivos “banalizam” a violência.
Certa ocasião, durante uma aula, o velho professor do Penedo perguntou a uma aluna: “quantos assassinatos seu filho já assistiu?” A aluna levou um susto e disse: “Nenhum. Ele só tem doze anos”. Eu insisti: “Ele não vê televisão?” A aluna não entendeu e eu expliquei o motivo da minha pergunta.
Em 1992, no período compreendido entre os dias 5 e 11 de janeiro, uma equipe de estudantes sentou-se diante da televisão (TV Globo) e assistiu 77 programas (filmes, seriados, novelas, humorísticos, variedades, noticiários e programas infantis). Foram, ao todo, 114 horas e 33 minutos de programas.
A pesquisa apontou que nos seis dias de pesquisas foram mostrados:
·         244 homicídios (tentados ou consumados);
·         397 agressões;
·         190 ameaças de morte ou de agressão;
·         11 sequestros, dos quais dois resultaram na morte dos sequestrados;
·         5 crimes sexuais com violência ou ameaça;
·         26 crimes sexuais de sedução, entre os quais 8 de menores;
·         60 casos de condução de veículos com perigo para terceiros ou sob efeito de drogas ou álcool;
·         52 casos de formação de quadrilhas;
·         14 roubos;
·         11 furtos;
·         5 estelionatos;
·         E mais 137 outros, entre os quais: tortura (12), corrupção (4), crimes ambientais (3), apologia do crime (2), suicídios (3).
A pesquisa apontou ainda outros detalhes:
·         Cenas de violência nos desenhos animados: 58 cenas (em média) por dia;
·         150 cenas de violência nas novelas, o que significa 11,2 cenas (em média) por dia;
·         Programação humorística: foram vistas 74 cenas de violência por semana (principalmente agressões, o que dá uma média diária de 10,5 cenas de violência).
Outra pesquisa, essa realizada nos Estados Unidos, nos mostra que um jovem do 7º ano do 1º Ciclo terá assistido, em média:
·         8.000 assassinatos pela TV (filmes e demais programas);
·         100.000 atos de violência
É evidente – é bom repetir – que seria uma simplificação sem tamanho atribuir a violência social à programação televisiva. Mas me parece certo que uma programação como a que foi detectada na pesquisa, no mínimo, “banaliza” a violência, tornando-a aos olhos das crianças, jovens e adolescentes algo natural.
Da mesma forma que a propaganda da cerveja não significa que todos irão tomar cerveja, a violência estampada na programação televisiva não induz necessariamente os jovens e os adolescentes ao crime. A programação televisa apenas transforma a violência em algo aceito como natural, banal, corriqueiro.
Tal qual é natural e banal saborear uma boa cerveja.
***
Para concluir o resultado de uma pesquisa realizada no Brasil, que compara o tempo médio que o jovem brasileiro permanece diante da TV e o tempo médio de leitura desse mesmo jovem.
Tempo médio diante da TV:
·         3 horas por dia, o que equivale a:
·         1.095 horas por ano, o que equivale a:
·         45,6 dias por ano.
·         Se este jovem viver 75 anos terá passado 9,4 anos diante da TV.
·         A este tempo, deve-se acrescentar o tempo que o jovem passa diante do computador.
Tempo médio de leitura:
·         4 minutos por dia, o que equivale a:
·         1460 minutos por ano, o que equivale a:
·         24,3 horas por ano ou um dia por ano.
·         Se este jovem viver 75 anos terá lido na vida apenas por 75 dias (dois meses e meia).
Ver tanta televisão e ler tão pouco não pode fazer bem.
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