domingo, 18 de setembro de 2011

O grande Pancetti

Li, ontem, um livrinho muito bom: "Pancetti", de Medeiros Lima (Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura - Serviço de Documentação, 1960). Livro raro, quase impossível de ser encontrado, eu o comprei num sebo quando da minha última ida ao Rio.

José Pancetti foi um dos principais pintores modernos do Brasil. Nasceu em Campinas, em 18 de junho de 1902. Faleceu no Rio de Janeiro, em 10 de fevereiro de 1958.

Antes de ser pintor, Pancetti foi pintor de paredes e marinheiro. Amava o mar. Como pintor, suas principais peças eram marinas, mas não exclusivamente as marinas formam sua obra: pintou pequenas cidades e lugarejos do interior (principalmente da Bahia), cenas do cotidiano popular.

Trecho do livro de Medeiros Lima:

"Arrebatado pela natureza, amando-a como um romântico e contemplativo, Pancetti fixou como ninguém a paisagem brasileira, suas pequenas cidades do interior, simples e decadentes, suas praias do litoral paulista de tons baixos, encoberto de brumas e frios, e a exaltação luminosa das regiões fluminenses. Por fim, deixa-se arrebatar pelo sensualismo plástico do litoral baiano, depois de haver pintado alternadamente as praias cheias de sol e de areia de Angra dos Reis, de Cabo Frio, de Mangaratiba, de Saquarema".

E mais:

"Não se pode falar muito seriamente de influências com relação à pintura de Pancetti". (...) "Pancetti atinge seus objetivos guiado por um sentimento instintivo, que o conduz à descoberta de uma expressão própria". (...) "Pancetti é moderno sem o saber e sem que disto se dê conta, pelo menos ao alçar seus primeiros voos". (,,,) "Pancetti é um instintivo, um emocional. Sua arte é, antes de tudo, trabalhada pelo sentimento, do qual resulta tudo mais. Nisto é sempre sincero, espontâneo, igual. Seu comportamento, sob muitos aspectos, nos faz lembrar os conselhos de Corot, quando escrevia: 'Que votre sentiment seul vous guide' [Que vosso sentimento seja seu único guia]".

Ao escreveu o "Guia do Passado" falei da morte de Pancetti. Quando o câncer já o consumia, internado no Hospital Central da Marinha, Pancetti escreveu um diário onde se podia ler esta tristeza:

"Passo o dia inteiro em repouso. Estando reduzido apenas a ossos, meu corpo não suporta nem o leito. Conto minutos e horas dos dias e das noites do meu martírio. Será que não há um meio, um gesto supremo de uma junta médica para pôr fim ao meu sofrimento? À noite, após a injeção, às 21 horas, apaguei a luz e fiquei olhando o céu estrelado".

Segue, abaixo, uma pequena mostra da obra de Pancetti.


Autorretrato


Lavadeiras do Abaeté


Natureza morta


Marina - Sem nome


Pescador

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