Dizer que o Brasil é a sétima economia do mundo não significa rigorosamente nada. Vejam bem: o Brasil é o décimo consumidor de petróleo do mundo, mas isto significa consumir apenas 2,1% do óleo produzido no planeta.
Lembro-me, por exemplo, de um amigo cujo equipe de futebol ficou em último lugar num torneio de quatro equipes. Pois ele não dizia nunca que o seu time ficara em último lugar – e, sim, em quarto lugar! Último ou quarto lugar? No final, dá no mesmo, mas soa bem diferente dizer-se quarto colocado e, não, último colocado. A afirmação de que o Brasil se tornou a sétima economia do mundo não significa nada, pois isto corresponde a uma participação de apenas 2,6% do PIB mundial.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma medida composta de uma grande variedade de indicadores: expectativa de vida ao nascer, educação, PIB per capita (como um indicador do padrão de vida), recolhidos em nível nacional. O IDH é calculado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Semana passada, os últimos índices do IDH foram divulgados. Bem, o Brasil melhorou: passou do 85º lugar para o 84º entre 187 países. A verdade é que o IDH divulgado mostra à sociedade brasileira o quanto a propaganda do governo brasileiro é enganosa, isto para não dizer desonesta e falsa.
Vejam alguns dados: a pesquisa mostrou que 13 milhões de brasileiros, ou seja, 7% da população não dispõem de banheiros em suas casas. Menos da metade de todos os brasileiros (45%) tem rede de esgotos – e só 38% recebem algum tipo de tratamento sanitário. Bem verdade que os brasileiros estão comprando geladeira, televisão – graças às maravilhas dos créditos e do endividamento familiar. Penso que no Brasil não houve distribuição de renda, mas de crédito, o que vem gerando um aumento enorme (cerca de 30%) do endividamento das famílias – uma bomba de efeito retardado.
Mas a questão é: TV ou serviço sanitário decente? Na revista Época (edição 703), a articulista Ruth de Aquino foi precisa: “De que adianta ter televisão numa casa com crianças se, embaixo da janela ou junto à porta, passa uma vala de lixo, esgoto a céu aberto e uma multidão de ratazanas?” E eu acrescentaria: “As crianças assistem televisão, mas não vão à escola - e, se vão, são vítimas de um ensino de quinta categoria. As crianças vibram com o Faustão, mas correm o risco de morrer nos corredores dos hospitais desequipados”.
O IDH é particularmente duro ao mostrar a situação brasileira nos quesitos saúde e educação. Pouca gente sabe, mas em matéria de ensino superior, por exemplo, o que ocorre é dramático: como nos últimos anos inúmeras instituições de ensino superior brotaram como cogumelos em milhares de cidades (grandes, médias e pequenas) do Brasil (a maioria pertencente a senadores, deputados, industriais, etc.), hoje o número de vagas ofertadas é superior ao número da demanda de alunos. Na prática, o que isto significa? Significa que as instituições de ensino superior privadas têm como norma (não escrita, naturalmente) de “facilitar” a vida dos alunos, pois se exigir muito (leitura, estudo, provas, etc.) o aluno transfere-se para outra instituição, onde o jogo é mais fácil, pois há sempre vaga sobrando e a espera dos “transferidos”. Tenho um estudo comigo que mostra isso claramente aqui na capital federal.
O IDH divulgado semana passada nos obriga a pensar. Somos um país estranho, que hoje investe bilhões de reais numa Copa do Mundo que, a rigor, não tínhamos condições de bancar. Mas isto é outra história.
- Notícias -
· E a história do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) que foi obrigado a deixar o Brasil depois de presidir a CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro? A CPI incriminou mais de 200 pessoas, entre elas policiais e ex-policiais. O deputado teve que fugir devido às ameaças que vinha sofrendo. Enquanto políticos como Marcelo Freixo têm que fugir do país, os envolvidos no Mensalão estão soltos, alguns cumprindo mandatos ou ocupando cargos no governo da “tia” Dilma.
· O comentarista Júnior, ex-craque do Flamengo, disse a besteira da semana. Uma bola foi esticada para o jogador Neymar, do Santos, mas o beque Dedé, do Vasco, se antecipou e saiu com a bola nos pés. Quando o locutor narrou o lance, Júnior aproveitou para sapecar: “Ele (o Dedé) só tomou a bola do Neymar porque correu mais”. Ah, bom.
· Vale a pena ler no Le Monde Diplomatique - Brasil a entrevista de Eddie Cottle, autor do livro “Copa do Mundo da África do Sul: um legado para quem?”. Segundo Cottle, os sul-africanos acreditaram nas promessas de mais emprego, turistas e investimentos bilionários com a Copa, mas nada disso se materializou. A Copa do Mundo só enriquece a FIFA e seus parceiros, um deles, por exemplo, é a cerveja Budweiser, que terá exclusividade de venda nos estádios brasileiros.
· Outra entrevista interessante do Le Monde Diplomatique – Brasil: a de Carlos Vainer, da UFRJ, que demonstra como o “amor” dos brasileiros pela sua cidade e pelo futebol está sendo manipulada como forma de conquistar apoio para a realização da Copa do Mundo. É verdade. Aqui mesmo, em Brasília, onde o público médio nos jogos locais é da ordem de 2.000 pessoas, está sendo construído um estádio (por R$ 1, 4 bilhão) para 70.000 pessoas. Alguém, em sã consciência, pode afirmar que, terminada a Copa, uma partida do Brasiliense (4ª divisão do futebol brasileiro) contra o Taguatinga merece ser jogada num estádio tão caro?
- Os grandes da MPB (2) -
Nelson Sargento, nome artístico de Nelson Mattos. Nasceu no Rio de Janeiro, em 25 de julho de 1924. A música que ele canta: “Falso amor sincero”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário