domingo, 18 de dezembro de 2011

Educação, mais uma vez.

(Estas notas são uma homenagem aos grandes Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro).
O velho professor do Penedo já escreveu neste Papo de Amigos sobre a educação brasileira. Nunca é demais insistir em alguns pontos.
A revista Veja (nº 2.248) publicou interessante matéria sobre a educação na China – e faz algumas observações que merecem ser pensadas. Em primeiro lugar, o rigor e a seriedade dos professores e alunos chineses. Segundo o autor da matéria, na China, ao contrário do que acontece no Brasil, não se confunde ordem e autoridade com autoritarismo, nem desordem e bagunça com liberalismo.
(O velho professor do Penedo quando era coordenador de ensino num Centro Universitário privado foi chamado de “autoritário” porque exigiu de seus professores que cumprissem, eles próprios, o horário das aulas, e exigissem o mesmo dos alunos).
Diz a matéria que Xangai, província chinesa, tirou o primeiro lugar em todas as áreas aferidas (matemática, ciências e leituras) no Pisa (edição de 2009), teste internacional de ensino e aprendizado, realizado a cada três anos pela OCDE. 64 países (mais Xangai) participaram da citada edição: o Brasil ficou na rabeira – entre a 53ª e a 57ª posições!
O fato é que sem uma educação elevada, de alto nível, desde o ensino básico ao ensino superior, nenhum país se desenvolve. Desenvolvimento plantado sobre um modelo educacional caduco e estropiado como o brasileiro, é, como dizia Zeca Pagodinho, a quem Lula recorria quando desejava fazer uma citação “douta”, papo furado.
(Bem verdade que, no Brasil, há ilhas de excelência, mas estas são exceção – ou, como o nome diz, são ilhas, apenas).
Outro fato destacado na reportagem: em 2009, o governo chinês gastou 3,6% do PIB em educação. O Brasil, nos últimos sete anos, o gasto educacional evoluiu de 4,1% para 5,3% do PIB. Como se vê, o Brasil gasta relativamente mais que a China, mas os seus resultados são pífios. Na verdade, a questão não é mais ou menos recursos – é utilizá-los de maneira eficiente, o que parece não ser o caso brasileiro.
Na China, o professor é o centro de todo o sistema educacional, não em termos de salários, que são baixos, mas em termos de “meritocracia”, prêmios pelo bom desempenho e motivação.
(Anos atrás, o velho professor do Penedo ministrou um curso – oito sábados – a uma turma de professores do segundo grau da rede pública de Brasília. No primeiro dia de aula, quis saber dos “mestres” que livro eles tinham lido nos últimos seis meses. A resposta: silêncio. Sem graça, mudei a pergunta: quem leu um livro – qualquer livro – no último ano. A resposta foi a mesma: silêncio. Fiz, então, a derradeira pergunta: quem na turma lera um livro nos últimos dois anos? Uma professora levantou timidamente o dedo. Indaguei: que livro você leu? A resposta: não foi propriamente um livro, mas trechos da Bíblia).
A reportagem de Veja deve ser lida. É claro que o exemplo da China não pode ser imediatamente transplantado para o Brasil. Há fatores históricos, psicológicos e políticos próprios, que não podem ser copiados.
A verdade é uma só: o Brasil precisa ter um projeto próprio, mas contínuo, que não se altere com a mudança de governos. Um projeto de longo prazo, que envolva os três níveis de ensino, o básico, o secundário e o superior. Tal projeto deve ser entendido como parte de um projeto nacional, que não se subordine a partidos, a ideologias (que, segundo Marx, é falsa consciência), a grupos, a quaisquer tipos de pressão, que não seja aquelas que valorizem a qualidade, o mérito, o desempenho. Um projeto que tenha um horizonte amplo, que perceba que os primeiros resultados só aparecerão no médio prazo.
(Em 9 de janeiro de 2009, o velho professor do Penedo enviou a seguinte carta ao Correio Braziliense:
 “Muitos ensinamentos de Maquiavel são negligenciados pelos políticos brasileiros. Um deles: o príncipe deve sempre dar bons exemplos. Note bem: bons exemplos. Discute-se hoje o fato de que Lula não lê nem jornais nem livros, quanto mais livros. Qual é o espanto? Vi, tempos atrás, Lula dizer a um auditório de crianças que ler era muito chato. Ninguém disse, na época, que o presidente deve saber quando o silêncio é de ouro. Se isso for impossível, então ele deveria ter mentido e dito para as crianças: ‘Ler é uma maravilha. Eu adoro ler’. Não disse. E não ficou calado. Preferiu fazer o oposto do que Maquiavel recomendou: deu mau exemplo. Ao fundo, assessores petistas riam e pareciam estar satisfeitos com a sinceridade do líder”.)
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Você sabia?...
... Que a dívida externa brasileira, em 2010, atingia a módica quantia de US$ 198,2 bilhões ou R$ 357 bilhões?
... Que todos os brasileiros, homens e mulheres, velhos e crianças, devem, por isso mesmo, US$ 1.000,4 ou R$ 1.900,8 aos bancos internacionais?
... Que a carga tributária brasileira equivale a 35,02% do PIB?
... Que as exportações brasileiras representavam, em 1954, 2,01% das exportações mundiais?
... Que, em 2009, tal percentual era da ordem de 1,28%, quase a metade do de 1954.
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Os grandes da MPB (10)
Trago, hoje, dois vídeos do conjunto vocal “Quatro Ases e Um Coringa”. Foram sucesso nos anos 1940 e 1950. As músicas são: “Cabelos brancos”, de Herivelto Martins e “É com esse que eu vou”, de Pedro Caetano.





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