As lágrimas da “tia” Dilma: há sinceridade nisso?
“Tia” Dilma chorou ao se despedir de Luiz Sérgio, substituído por Marcelo Crivella no Ministério da Pesca. Por quê?
Os indefectíveis comentaristas políticos da Globo News fizeram mil conjecturas a respeito e, como de hábito, só falaram abobrinhas. Claro, o Velho Professor do Penedo não vai se arvorar a explicar as lágrimas presidenciais, mas gostaria – gostaria mesmo! – que Dilma tivesse chorado por se lembrar da Dilma de anos atrás, da Dilma de esquerda, da Dilma real, que jamais aceitaria a idéia de compor politicamente com Delfim Netto, Sarney, Crivella, Jader Barbalho, Renan, Collor. “Tia” Dilma não é mais aquela.
Por que “tia” Dilma chorou? Minha hipótese é que ela chorou de vergonha. Bem feito.
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Besteirol (1)
Quando Luiz Sérgio assumiu o Ministério da Pesca, disse que tinha intimidade com a atividade pela simples razão de ter nascido em Angra dos Reis, “cidade litorânea, logo pesqueira”, afirmou. No mesmo diapasão, Crivella informou ao Brasil que “sequer sabe prender uma minhoca no anzol”, mas se “sentia preparado para exercer o cargo”.
Besteirol (2)
Cristina Lobo, a cronista social dos palácios brasilienses, estranhou que o Brasil tivesse mais de 500 mil pescadores registrados. Achou um exagero.
Um país do tamanho do Brasil, com tantas bacias hidrográficas enormes (Amazonas, São Francisco, Paraná-Paraguai), lagos e lagoas, um litoral de mais de 8 mil quilômetros, e a Lobo estranha existirem pescadores no Brasil?
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Ruanda (ontem); Sudão do Sul (hoje)
Entre os meses de abril e junho de 1994, uma guerra civil matou mais de 1 milhão de pessoas. O grupo étnico hutu, a maioria da população ruandense, promoveu uma matança sistemática do grupo étnico tutsi, minoria no país.
Tal massacre não foi um fato isolado e muito menos recente na história daquele país. A rivalidade entre as duas etnias era anterior à chegada dos colonialistas europeus ao continente africano, mas foi potencializada quando os belgas se aliaram aos tutsis para dominar a população hutu. Com as idas e vindas das políticas nacionais africanas, os hutus reverteram a situação, tornaram-se dominantes e foram para a desforra. Este, em síntese, é o resumo da tragédia ruandense, que foi conta no cinema (Hotel Ruanda, Genocídio em Ruanda e Aperte as mãos do diabo) e em livro (Uma temporada de facões: relatos do genocídio de Ruanda, do jornalista francês Jean Hatzfeld, e Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias, de Philip Gourevitch).
Ano passado, mediante plebiscito acompanhado pela ONU, o antigo Sudão dividiu-se em dois países: Sudão (erroneamente chamado de Sudão do Norte), com a capital em Cartum, e Sudão do Sul, com capital e, Juba).
A divisão trouxe aos dois países alguns sérios problemas, aos quais se somam as contradições ancestrais. Ao contrário do Sudão, o Sudão do Sul possui grandes reservas petrolíferas, mas o escoamento da produção depende do Sudão, que o vem bloqueando desde a criação dos dois países. Como observou Linda Bishal, especialista em gerenciamento de conflitos da United States Institute of Peace (Usip), “não existe uma forma de refinar e transportar o petróleo, sem que seja através do Sudão. Os dois vizinhos têm entrado em desacordo sobre o pagamento de taxas para o uso de um oleoduto passando pelo território sudanês”.
Acontece que o Sudão do Sul, apesar de possuir petróleo, é reconhecidamente um dos países mais miseráveis do planeta, com elevados índices de mortalidade geral e materna, com a maioria das crianças fora da escola e um índice de analfabetismo que chega a 84% entre as mulheres.
A verdade é que no Sudão do Sul o dinheiro praticamente inexiste – e as transações básicas entre as pessoas se faz na base da troca. A criação de gado é a principal atividade econômica do Sudão do Sul.
Desde dezembro passado, o país vive submerso num conflito interétnico regido por uma espiral de vingança.
Tudo começou no dia 23 de dezembro de 2011, quando 6 mil integrantes do tribo Lou Nuer marcharam até a região de Pibor, onde investiram contra integrantes da etnia Murle. O massacre foi terrível: 3 mil murles foram mortos, 60 mil foram desalojados, 1,8 mil mulheres e crianças foram sequestradas e uma centena de cabeças de gado roubadas. A desforra veio em seguida: centenas de murles invadiram aldeias “inimigas”, incendiaram todas as casas, executaram mulheres, homens e crianças. Tudo isso, claro, sob o silêncio das agências noticiosas e da ONU. Tal como ocorreu na época do massacre de Ruanda.
A lógica do conflito entre as duas etnias envolve um aspecto dilacerante, além, é claro, da busca pelo poder. Os Murle padecem de uma epidemia crônica de sífiles, o que os leva a ter alto índice de esterilidade. Em consequência, os Murle especializaram-se no rapto de crianças Lou Nuer. O rapto de bebês e crianças aumenta a animosidade entre eles – e os ataques violentos de uns contra os outros. Os jovens raptados são usados como escravos no pastoreio do gado.
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Mariana Bernardes
Quando escrevi “As Divas do Rádio Nacional” tive que deixar de fora do livro algumas grandes cantoras brasileiras, como Dóris Monteiro, Carmélia Alves, entre outras tantas. Hoje, talvez eu tivesse dificuldade de reunir 14 divas em exercício. Bem, uma grande cantora, infelizmente pouco conhecida chama-se Mariana Bernardes, que apresento hoje cá nesse Papo de Amigos. Caso vocês queiram conhecê-la melhor, escutem o magnífico CD duplo “O Samba é Minha Nobreza”, da Biscoito Fino. Mariana Bernardes canta o fino!
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