terça-feira, 10 de abril de 2012

Leitura, textos inesquecíveis e vida que segue

Ler é fundamental (1ª parte)

Segundo a pesquisa “Retratos da leitura no Brasil”, realizada, em 2011, pelo Ibope Inteligência com o Instituto Pró-livro, o número de brasileiros que afirma ter lido pelo menos um livro a cada três meses diminuiu em relação a 2007. O número de livros lidos pelo brasileiro por ano, que inclui as obras indicadas pelas escolas, também caiu – de 4,7, em 2007, por pessoa para 4, em 2011. A verdade é que, entre os vinte países mais ricos do planeta, o Brasil é o que lê menos. Na América Latina, o brasileiro lê menos que o cubano, o argentino, o chileno e o mexicano.

E, no entanto, não há alternativa à leitura. E por que ler é fundamental? Esta pergunta exige três ordens de considerações.

1 – Hoje, uma quantidade imensa de informação (via TV, internet, redes sociais, rádios, jornais, revistas, etc.) encontra-se ao nosso alcance. A informação circula pelo mundo numa velocidade impressionante, até mesmo em tempo real. Mas a informação, apenas ela, basta à nossa compreensão do mundo? Apenas a informação é suficiente para compreendermos o que se passa ao nosso redor? In formação, sabemos, é essencial – mas apenas a informação nos permite mergulhar no entendimento dos fatos?

A verdade é que, embora essencial, a informação, ela apenas, não nos permite compreender o mundo. Mesmo em grande volume, a informação não basta nem é suficiente à nossa compreensão do mundo. À vezes, o excesso de informação (afora, é claro, a informação truncada e deformada) serve apenas para nos confundir ainda mais.

Precisamos possuir, portanto, um atributo a mais, que nos permita, de fato, interpretar e ir além da mera informação ou daquilo que nos diz a informação.

Que atributo é esse? Esse atributo é a “clarividência”.

É essencial que o indivíduo seja capaz de “decantar” a informação que recebe, buscando, com clarividência, os meios necessários para interpretá-la corretamente. A informação só é útil quando devidamente interpretada. Contudo, o indivíduo somente poderá interpretar corretamente a informação que recebe, na quantidade que recebe, se possuir um mínimo de clarividência.

Dito de outra maneira: a clarividência nos permite purificar ou decantar a informação que recebemos. A clarividência nos ensina a buscar na informação os elementos essenciais e indispensáveis ao nosso esforço de entendimento da realidade que nos cerca.

Mas, afinal, o que é clarividência.

Clarividente é a pessoa que vê com clareza. Logo, clarividência é a capacidade de ver com clareza, ou seja, é não se deixar envolver pelo “nevoeiro das aparências”, que, em geral, encobre o significado verdadeiro dos fatos e das coisas. Não esqueçam: é próprio do pensamento científico a capacidade de distinguir entre a aparência e a essência dos fenômenos.

A aparência, em geral, nós captamos através dos nossos sentidos. Ver apenas os fenômenos, ou seja, se submeter à aparência dos fenômenos, não nos garante compreender o significado real dos fenômenos. A essência nós só captamos mediante um processo cognitivo superior, que nos conduz à interpretação do fenômeno e à compreensão do seu significado real. Como disse Karl Marx: “Se a aparência e a essência dos fenômenos coincidissem perfeitamente, a ciência seria desnecessária”.

Todos os homens são potencialmente clarividentes. Podemos até dizer que todos os homens são, mais ou menos, clarividentes. Se a clarividência não é (como a visão, o tato, o olfato) um sentido humano, podemos dizer que ela é, de fato, uma criação (melhor: uma conquista) do homem, que se efetiva em algo que lhe é inerente ou potencial. A clarividência, portanto, pode ser criada e desenvolvida. Ou seja: a clarividência é a matéria-prima da criação do saber.

Clarividência é algo que só se adquire através da leitura. A leitura dos bons livros, dos bons autores nos permite acumular uma capacidade especial. Que capacidade é essa? É a capacidade de refletir, de perceber, em meio à aparência, o real significado (a essência) dos fenômenos. Esta maior capacidade de refletir, de perceber e de interpretar o real constitui o que chamamos de clarividência – e dela deriva a criação do saber, do conhecimento.

A leitura dos bons livros e dos bons autores dá ao indivíduo capacidade de refletir e interpretar a realidade. Tal capacidade adquirida pela leitura é a clarividência. Nada, portanto, substitui a leitura. Sem boas leituras, que formam a clarividência, o indivíduo fica à mercê da enxurrada de informações que se recebe diariamente.

(Continua)

***

Textos que dizem tudo (1)

Os textos abaixo fazem parte de uma coleção que faço há décadas. São textos de autores da língua portuguesa, textos que eu gostaria de ter escrito. Textos que são pérolas. Curtam comigo. E, se assim desejarem, mandem suas sugestões.



1. Quincas Borba, do Machado de Assis.

Ao vencedor, as batatas.

2. Versos Íntimos, de Augusto dos Anjos.

Apedreja essa mão vil que te afaga.

Escarra nessa boca que te beija.

3. Via Láctea, de Olavo Bilac.

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto,
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite enquanto

A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E ao vir do Sol, saudoso e em pranto
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado-amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem pode ter ouvido
Capaz de ouvir e entender estrelas”.

4. Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade.

Meus ombros suportam o mundo
E ele não pesa mais que a mão de uma criança

5. Pneumotórax, de Manuel Bandeira.

A vida que podia ter sido... e não foi.

6. A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães.

O coração é livre, ninguém pode escravizá-lo, nem mesmo o próprio dono.

7. Soneto da fidelidade, de Vinícius de Moraes.

... E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angustia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama...

(...)

Que não seja imortal, posto que é chama,

Mas que seja infinito enquanto dure.

8. Poeminha do contra, de Mario Quintana.

Todos esses que aqui estão atravancando o meu caminho, eles passarão... e eu passarinho!

9. Poema isto, de Fernando Pessoa.

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação,
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

10. O tempo e o vento, de Érico Veríssimo.

Era uma noite fria de lua cheia. As estrelas cintilavam sobre a cidade de Santa Fé, que de tão quieta e deserta parecia um cemitério abandonado. Era tanto o silêncio e tão leve o ar, que se alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse até escutar o sereno na solidão.

11. Mundos oscilantes, de Adalgysa Nery.

Estavas tão imóvel dentro da tua tristeza

Que o vento balançou tua cabeleira

E tu não sentiste.

12. Viagem, de Cecília Meireles.

Eu canto porque o instante existe

E a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

Sou poeta.



*****



Y así pasan los días (2)

1.   Segundo os jornais e relatórios oficiais, 57,8% das famílias estão endividadas e mais de 20% inadimplentes. Enquanto isso, “tia” Dilma defende, no Brasil e no exterior, o crescimento via “consumo”, o que, em última análise, significa mais endividamento.



2.   Novas chuvas na região serrana. Um ano e três meses depois da maior tragédia natural do Brasil – a enxurrada que deixou um saldo de mais de 900 mortos na Região Serrana -, as casas populares prometidas para os moradores de áreas de risco não foram entregues. Só em Teresópolis, onde cinco pessoas morreram com os desabamentos provocadas pelas chuvas recentes, há dez mil famílias vivendo em regiões sujeitas a deslizamentos e transbordamentos de rios. Quando “tia” Dilma e o governador Sérgio Cabral estiveram na região, ano passado, prometeram mundos e fundos. Agora, nenhum dos dois deu as caras.



3.   Levantamento feito pelo Conselho Nacional de Justiça revela que 43% dos jovens que cumprem medidas socioeducativas são reincidentes e cometeram infrações mais graves no momento da segunda internação.



4.   Membros da Comissão de Ética do Senado: Lobão Júnior, Gim Argello, Renan, Jucá – e por aí vai. Bonito mesmo foi o Sarney dizendo que as acusações contra Demóstenes Torres eram muito graves e mereciam apuração.



5.   E o Mensalão? Vai ou não vai ser julgado pelo STF?



6.   E o STJ, heim? Absolveu um sujeito acusado de estuprar uma menor de 12 anos sob a alegação que a menina “fazia comércio do corpo”. Podemos acreditar na justiça brasileira?

***


Hoje, com vocês, Adoniran Barbosa, nas vozes dos Demônios da Garoa.


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