Mensalão
Começou o julgamento dos mensaleiros.
Ontem, enquanto o Velhote do Penedo trabalhava, a televisão estava ligada (sem
som). De vez em quando, eu dava uma espiada. O dia de ontem caracterizou-se
apenas pela iniciativa protelatório de um dos ministros, que, todos sabem, usa
debaixo da toga um escudinho do PT. Os mensaleiros precisam ser condenados,
senão os brasileiros vão perder, de vez, a sua crença na justiça.
A mim me parece claro que o Brasil não será
o mesmo depois do julgamento do mensalão. Se os mensaleiros forem condenados,
os brasileiros voltarão a ter alguma crença nas instituições do país, mormente
nas instituições jurídicas e políticas; se os mensaleiros forem absolvidos, os
brasileiros deixarão, de vez, de acreditar nas instituições, na democracia, na
justiça e na crença de que o político não pode roubar, comprar votos, desviar
recursos, etc.
Lula, que não perde a oportunidade de dizer
uma impropriedade, perguntado se iria acompanhar o julgamento, disse que “tem
coisas mais importante para fazer”. E possível: tomar umas pingas, fazer
cafunés na “senhora”, ouvir Zeca Pagodinho e verificar se o BNDES está
liberando os recursos para a construir de um ente privado, o Corinthians, time
pelo qual o Lula torce.
Quando
o escândalo do mensalão explodiu, Lula, em pânico, correu a dizer que não sabia
de nada, que isso era coisa dos aloprados do partido. Em entrevista dada em
Paris, Lula reconheceu que os fatos existiam e que os culpados seriam punidos.
Bem, 7 anos depois, Lula meteu o macacão da arrogância – e diz outra impropriedade,
como, aliás, é do seu feitio.
Vamos acompanhar o julgamento dos
mensaleiros – e verificar se ainda podemos ter, mesmo longinquamente, esperança
no Brasil.
***
Adeus ao paraíso
Com o título acima, o Velhote do
Penedo escreveu um livro sobre a internacionalização da Amazônia. Nos meus
tempos de ginásio no colégio municipal Souza Aguiar, no Rio de Janeiro, tive um
professor extraordinário, combativo defensor da Amazônia. Chamava-se ele
Orlando Valverde – e foi uma das mais brilhantes inteligências que conheci na
vida.
É bom que se diga que quando o Velhote
fala em internacionalização não está se referindo, necessariamente, em ocupação
militar. A internacionalização da Amazônia – a meu ver, em curso – é um
processo quase silencioso, levado a efeito pelo capital internacional investido
na região, pela ação de ONG’s financiadas por instituições e por governos
estrangeiros e pela cumplicidade de muitos brasileiros. É isso.
Leiam um trecho do prefácio que, na
época, escrevi:
Quando aceitei a sugestão do meu amigo
Marcel Bursztyn para escrever o presente livro, o título Amazônia, adeus me veio imediatamente à cabeça. Um amigo, emérito
cientista recentemente falecido, pediu-me, por intermédio de um amigo comum,
que não fosse tão enfático. Não entendi. Ele explicou-me. O título escolhido,
segundo ele, poderia transmitir a idéia de um fato consumado, a melancólica
certeza de que a internacionalização da Amazônia tornara-se irreversível. Era
necessário, acrescentou, injetar um pouco de esperança nos leitores,
principalmente nos jovens. Sugeriu-me, então, colocar uma interrogação no
título. Amazônia, adeus? Seria, a seu
ver, o título mais adequado e mais conveniente do livro.
Não tive tempo de pensar na sugestão,
pois descobri, a tempo, que o título Amazônia, adeus não era inédito,
razão pela qual tive de abandoná-lo. Fixei-me, então, no título Adeus ao
Paraíso: a internacionalização da Amazônia, evidentemente inspirado em Euclides
da Cunha. O autor de Os sertões, como se sabe, esteve na Amazônia em
1905, participando de uma comissão mista formada por representantes brasileiros
e peruanos. Euclides, como tantos que por lá estiveram, ficou pasmo diante da
exuberância da floresta amazônica. Chamou-a de o paraíso perdido, pois via ali,
naquela imensidão, a origem do paraíso bíblico. Daí, tirei o título do presente
livro.
Escrevi Adeus ao Paraíso movido
pela incômoda certeza de que, caso nada seja feito, e imediatamente, a Amazônia
será internacionalizada, tal e tantos são os interesses políticos, econômicos e
geoestratégicos que a região atrai. Admito que muitos dirão que a afirmação é
audaciosa e improvável, mas afirmado está. Nesse sentido, o título do livro,
embora possa parecer politicamente incorreto, pretende ser uma espécie de
desafio, principalmente ao espírito de luta dos meus leitores mais jovens. O
título Adeus ao Paraíso não
significa, em si, uma derrota, nem uma rendição. Significa, antes de tudo, um
alerta, um chamamento, talvez uma esperança. Não gosto de frases eloquentes,
mas vá lá: a esperança é, na verdade, irmã siamesa da nossa coragem de
enfrentar os nossos desafios históricos. E a preservação da Amazônia é, hoje,
um dos maiores desafios do povo brasileiro.
Cabe deixar claro que este livro, como
os outros que escrevi, pertence ao campo da sociologia crítica, com a qual me
identifico no plano das idéias e das ações. Defender posições políticas que
considero justas é o pouco que ainda me sinto em condições de fazer contra uma
realidade social e política que, em última análise, me causa repugnância. Da
minha mesa de trabalho, derradeira e frágil trincheira de luta, mando as minhas
honestas e sinceras brasas, sem receio das críticas e das censuras que me podem
ser feitas.
Apesar de tudo, inclusive dos meus
tantos fracassos políticos, ainda encontro forças para acreditar nas idéias -
estas, sim, capazes de construir alternativas possíveis para um mundo que, a pretexto
de grandes conquistas, teima caminhar para a autodestruição.
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Aqui, vemos e ouvimos Lenine cantando "Qui nem jiló", de Luiz Gonzada e Humberto Teixeira. O Velho Professor do Penedo acha essa música do balacobaco!
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