Ninguém
é brasileiro impunemente
1 - A ONG Iara, que
significa Instituto de Advocacia racial move ações contra “Caçadas de Pedrinho”
e “Negrinha”, sob a alegação que o autor, Monteiro Lobato, defende nas citadas
obras ideias racistas. De modo a fundamentar tais ações, um cidadão chamado Humberto
Adami, do Iara, cita trechos das obras, o que é, no mínimo, uma bobagem. Caso
prevaleçam os argumentos de Adami, amanhã livros de Euclides da Cunha
(inclusive “Os sertões”, uma obra-prima) e Silvio Romero poderam ser proibidas,
tal como músicas como “Samba do crioulo doido” e “O teu cabelo não nega”. Uma
pena. No começo do século passado, os argumentos de diferenciação das raças eram
tidos como científicos, basta ler “Os sertões”. Eram ideias datadas. Hoje, tais
verdades científicas não mais prevalecem, mas daí, a partir de hoje, censurar
ideias expressas noutro contexto, é tolice e cheira à censura. Devemos combater
o racismo, inclusive denunciando o valor científico que lhe era atribuído.
Renegar, censurar, denunciar Monteiro Lobato não é lutar contra o racismo: é
defender a tolice.
2 – O julgamento do mensalão
será o grande fato político do Brasil em 2012. Eu disse, há tempos, que o
Brasil não será o mesmo depois do mensalão: a condenação dos envolvidos no
escândalo sinalizará à população brasileira, principalmente aos jovens, as
ideia de que o Brasil poderá dar certo. É só uma questão de jeito.
3 – A respeito do crítico
Alvaro Lins, transcrevo abarixo a carta que enviei ao embaixador de Portugal em
Brasília, Dr. Francisco Knobfli, em 29 de maio de 2000. Dias após o envio da
correspondência, fui procurado pelo Adido Cultural da embaixada portuguesa, que
me informou que o embaixador fôra simpático à mensagem da carta. Depois disso,
o silêncio.
Brasília,
DF. - 29 maio de 2000.
A
Sua Excelência o Senhor Embaixador de Portugal em Brasília
Dr. Francisco Knobfli
Senhor Embaixador
Faz parte da história comum dos povos
português e brasileiro o episódio do asilo concedido ao general Humberto
Delgado pelo governo do Brasil, em 1959.
Contudo, muito mais que o ato de
concessão de asilo, muito mais que a personalidade e o perfil político do
asilado, tomou vulto naquele episódio a atitude corajosa do então embaixador
brasileiro em Lisboa, professor ALVARO LINS, que soube resistir às pressões das
autoridades portuguesas e brasileiras da época no sentido de encorajar o general Delgado a renunciar
ao pedido de asilo, o que significaria, na prática, entregá-lo à PIDE. Os
pormenores desse episódio acham-se perfeitamente documentados no livro Missão em Portugal, escrito pelo
professor ALVARO LINS logo após o seu regresso ao Brasil.
Por força da resistência do embaixador
brasileiro, o governo português viu-se na contingência de fornecer ao general
Humberto Delgado o salvo-conduto que o trouxe, em segurança, para o Brasil. Tão
logo isso ocorreu, o professor ALVARO LINS renunciou às suas funções e aos seus
compromissos pessoais e políticos com o governo brasileiro, retornando ao
Brasil e às suas atividades docentes, jornalísticas e de escritor. Aqui chegando,
tratou logo de devolver ao governo de Portugal, por intermédio do então
embaixador português no Rio de Janeiro, Manuel Rocheta, a condecoração que
recebera, em 1957, no grau máximo da Grã-Cruz da Ordem de Cristo.
Naquela oportunidade, em carta que dirigiu
ao embaixador Rocheta, o professor ALVARO LINS esclareceu que o seu ato,
"significando
repúdio ao governo salazarista, representa, consequentemente, homenagem e
solidariedade ao povo português, oprimido na vida interna do seu país, e
deslustrado, na situação internacional, pela mais antiga ditadura existente
sobre a face da terra".
O professor ALVARO LINS ainda
acrescentou, sem esconder a sua esperança:
"Mais tarde,
quando Portugal for restituído, democraticamente, a si próprio, isto é, ao
nobre, generoso e admirável povo português, com um governo legítimo e
representativo, então, se vier, novamente, a merecer essa mesma condecoração e
distinção honorífica, eu a receberei, e ostentarei as suas insígnias, com
ufania, desvanecimento e gratidão".
Lamentavelmente, o professor ALVARO
LINS não viveu o bastante para acompanhar a derrocada do regime salazarista,
pois veio a falecer a 4 de junho de 1970. Tenho certeza, porém, que ele saberia
viver o fim da ditadura em Portugal com a mesma profunda e bela emoção vivida
pelos portugueses e brasileiros democratas em todo o mundo.
Senhor Embaixador,
Desconheço se os governos democráticos
de Portugal tomaram qualquer iniciativa no sentido de resgatar o que, com todo
o respeito, considero ser um compromisso moral e político para com a atitude do
professor ALVARO LINS.
Admirador sincero da Nação portuguesa,
da qual orgulhosamente descendo, tomo a liberdade de sugerir ao governo de Portugal,
por seu intermédio, a restituição post-mortem
da Grã-Cruz da Ordem de Cristo ao professor ALVARO LINS, em justa homenagem à
sua contribuição ao processo de democratização da terra lusitana. Ele, hoje, a
ostentaria com orgulho e gratidão, segundo disse na carta citada ao então
embaixador Manuel Rocheta.
Creio que este ato significaria não
apenas um testemunho de reconhecimento pessoal, mas, sobretudo, um ato de maior
aproximação entre os povos de Portugal e do Brasil em prol do fortalecimento
dos nossos ideais comuns de democracia e justiça perenes em nossos países.
Agradecendo a atenção e a acolhida de
V. Excia., aproveito para transmitir-lhe, Senhor Embaixador, os meus sinceros
votos de felicidade e as minhas respeitosas saudações.
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