domingo, 11 de novembro de 2012

Crise européia


 
Estive na Europa (Portugal, Espanha e França) e vi de perto a crise que assola aquele continente. Como faço sempre que viajo, andei pelas ruas – e pude conversar com pessoas, jovens e velhos, homens e mulheres. Senti o que eles pensam da crise.

Como de hábito, a crise não foi provocada diretamente pelo povo e, sim, pelos governantes, banqueiros e pelos grandes empresários em geral. Contudo, governantes, banqueiros e grandes empresários estão empurrando para o povo (eles acreditam!) a solução dos problemas gerados pela crise.

Governantes, banqueiros e industriais querem resolver a crise pelo desemprego do povo (principalmente dos jovens), pela redução dos salários, pela redução à metade dos salários dos aposentados, pela desesperança. Em Portugal e Espanha ouvi vozes saudosas do salazarismo (“Em Portugal, falta hoje um novo Salazar”, me disse uma mulher) e do franquismo. “Hoje, sequer temos um partido de esquerda”, lamentou-se um jornaleiro lisboeta. “Não temos alternativas”, me afirmou uma estudante espanhola.

“Público”, jornal português, apresentou matéria (28/10/2012) cujo título diz tudo: “Não estudam nem trabalham. O que fazem (e no que pensam) estes jovens?” A matéria apresenta ainda depoimentos de alguns jovens, que podem ser assim resumidos:

Mário Cardoso, 27 anos, licenciado em Design Gráfico: “É deprimente ir ao centro de emprego. São filas enormes de pessoas a lamentarem-se”. (...) “A minha mãe também ficou desempregada e fica em casa enterrada na depressão. Procuro fugir, tomar café com amigos, trocar umas ideias. Desisti de ver notícias, para não me deprimir”.

Patrícia Marques, 29 anos, nível médio: “Acho que a frase que tenho dito mais vezes às minhas filhas é: ‘Não pode ser, a mãe não tem dinheiro...’ “Fujo de pensar porque, se me puser a pensar, só me apetece fazer asneiras” (...) “Voto, ainda voto, mas já não acredito que o país possa melhorar”.

João Costa, 27 anos, formado em Gestão Hoteleira: “Parece que mundo ficou dividido entre os escravos do trabalho e os que, como eu, não conseguem trabalhar”. (...) “Estou sem fazer nada há mais de um ano, mas vou procurando emprego”.

Ana Gabriela, 27 anos, nível médio: “Cansei-me de ver noticiários. Só falam de coisas que nos põem para baixo e para isso já basta eu sentir que não tenho lugar.” (...) “A minha mãe era gestora na Mattel Portugal, a empresa das Barbies, mas foi despedida na véspera do Natal. Ligaram-lhe de Espanha a dizer que queriam falar com ela no aeroporto, despediram-na e voltaram a levantar voo”. (...) “Despediram-me do posto de combustíveis em outubro de 2011 e nunca mais arranjei emprego”.

Um estudo publicado em 26 de outubro de 2012 por uma agência da União Européia estima em 14 milhões o número de jovens europeus com idades entre 15 e 29 anos que estão fora do sistema de ensino e sem lugar no mercado de trabalho.

Tanto em Lisboa, como em Madri e Paris, vi mendicância nas ruas, gente dormindo debaixo das marquises. Tal como acontece no Brasil, apesar dos dircursos ufanistas e tolos da “tia” Dilma.

Para concluir: quando desempregados e afetados pela crise européria vão protestar nas ruas, a Globo News abre sempre suas reportagens com uma frase cínica e desumana: “Manifestantes vão à rua protestar contra as medidas de austeridade”.

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