Estive na Europa
(Portugal, Espanha e França) e vi de perto a crise que assola aquele
continente. Como faço sempre que viajo, andei pelas ruas – e pude conversar com
pessoas, jovens e velhos, homens e mulheres. Senti o que eles pensam da crise.
Como de hábito, a crise
não foi provocada diretamente pelo povo e, sim, pelos governantes, banqueiros e
pelos grandes empresários em geral. Contudo, governantes, banqueiros e grandes
empresários estão empurrando para o povo (eles acreditam!) a solução dos problemas
gerados pela crise.
Governantes, banqueiros e
industriais querem resolver a crise pelo desemprego do povo (principalmente dos
jovens), pela redução dos salários, pela redução à metade dos salários dos aposentados,
pela desesperança. Em Portugal e Espanha ouvi vozes saudosas do salazarismo (“Em
Portugal, falta hoje um novo Salazar”, me disse uma mulher) e do franquismo. “Hoje,
sequer temos um partido de esquerda”, lamentou-se um jornaleiro lisboeta. “Não
temos alternativas”, me afirmou uma estudante espanhola.
“Público”, jornal
português, apresentou matéria (28/10/2012) cujo título diz tudo: “Não estudam
nem trabalham. O que fazem (e no que pensam) estes jovens?” A matéria apresenta
ainda depoimentos de alguns jovens, que podem ser assim resumidos:
Mário Cardoso, 27 anos,
licenciado em Design Gráfico: “É deprimente ir ao centro de emprego. São filas
enormes de pessoas a lamentarem-se”. (...) “A minha mãe também ficou
desempregada e fica em casa enterrada na depressão. Procuro fugir, tomar café
com amigos, trocar umas ideias. Desisti de ver notícias, para não me deprimir”.
Patrícia Marques, 29 anos,
nível médio: “Acho que a frase que tenho dito mais vezes às minhas filhas é: ‘Não
pode ser, a mãe não tem dinheiro...’ “Fujo de pensar porque, se me puser a
pensar, só me apetece fazer asneiras” (...) “Voto, ainda voto, mas já não
acredito que o país possa melhorar”.
João Costa, 27 anos,
formado em Gestão Hoteleira: “Parece que mundo ficou dividido entre os escravos
do trabalho e os que, como eu, não conseguem trabalhar”. (...) “Estou sem fazer
nada há mais de um ano, mas vou procurando emprego”.
Ana Gabriela, 27 anos,
nível médio: “Cansei-me de ver noticiários. Só falam de coisas que nos põem
para baixo e para isso já basta eu sentir que não tenho lugar.” (...) “A minha
mãe era gestora na Mattel Portugal, a empresa das Barbies, mas foi despedida na
véspera do Natal. Ligaram-lhe de Espanha a dizer que queriam falar com ela no
aeroporto, despediram-na e voltaram a levantar voo”. (...) “Despediram-me do
posto de combustíveis em outubro de 2011 e nunca mais arranjei emprego”.
Um estudo publicado em 26
de outubro de 2012 por uma agência da União Européia estima em 14 milhões o
número de jovens europeus com idades entre 15 e 29 anos que estão fora do
sistema de ensino e sem lugar no mercado de trabalho.
Tanto em Lisboa, como em Madri
e Paris, vi mendicância nas ruas, gente dormindo debaixo das marquises. Tal
como acontece no Brasil, apesar dos dircursos ufanistas e tolos da “tia” Dilma.
Para concluir: quando
desempregados e afetados pela crise européria vão protestar nas ruas, a Globo News
abre sempre suas reportagens com uma frase cínica e desumana: “Manifestantes
vão à rua protestar contra as medidas de austeridade”.
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