quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Vale a pena ler!


 Tragédias visíveis e previsíveis

O Velhote do Penedo tinha acabado de publicar a matéria “A trágica realidade” quando leu o texto do Zuenir Ventura (reproduzido abaixo). Vale a pena ler, pois, de certa forma, os dois textos (do Velhote e do Zuenir) se complementam.

ZUENIR VENTURA


No Brasil — no Rio principalmente — as calamidades são em geral previsíveis e anunciadas. Não são necessariamente um capricho perverso da natureza, nem uma fatalidade. Elas até já viraram efemérides. Assim como há Natal, réveillon e carnaval, temos as tragédias de fim/começo do ano, com seus responsáveis. Tom Jobim cantou, como "promessas de vida", as águas de março que fecham o verão. As de dezembro, que abrem a estação, são quase certezas de morte. Há uns 20 dias, estando em Nova Friburgo para o lançamento de um livro e depois em Belford Roxo para uma festa de formatura escolar, pude constatar a triste situação da região serrana e da Baixada Fluminense. Na serra, as marcas das chuvas de janeiro de 2011 eram como feridas ainda abertas nas encostas à espera de nova tragédia, que afinal veio. Na Baixada, as pirâmides de lixo nas calçadas e as crateras nas ruas obrigavam o carro a dar voltas e pegar desvios para chegar ao destino. Era fácil imaginar o que iria acontecer, e aconteceu, quando chovesse. Nada daquilo era por acaso, mas premeditado; era uma sórdida vingança dos prefeitos Alcides Rolim, de Belford Roxo, e Zito, de Caxias, que não tinham conseguido se reeleger e, em represália, entregaram seus municípios aos ratos, literalmente. Em Caxias, a maldade ficou evidente, porque a única rua sem lixo e sem buracos era justamente a da casa do prefeito.

Dessa vez, pelo menos, os responsáveis vão ter que se explicar na Justiça. Em Friburgo, o Ministério Público denunciou o prefeito afastado Demerval Barbosa Neto e 19 auxiliares por desvio de verbas federais (R$ 234 milhões) destinadas às vítimas das chuvas de 2011, quando morreram 423 pessoas. Os acusados responderão por fraude em licitações, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, sendo que alguns desses crimes foram cometidos até doze vezes. Em Caxias, por causa do lixo, o ex-prefeito Zito recebeu multa que pode chegar a R$ 2 milhões, sem falar na condenação a seis anos e três meses de prisão por ter deixado de fazer licitação numa obra pública em 2001.

Resta saber se as penas serão cumpridas.

Em Caxias, por causa do lixo, o ex-prefeito Zito recebeu multa que pode chegar a R$ 2 milhões, sem falar na condenação a seis anos e três meses de prisão por ter deixado de fazer licitação numa obra.

Publicado no Globo (8 de janeiro de 2013) .

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