Tragédias visíveis e previsíveis
O Velhote do Penedo tinha acabado de
publicar a matéria “A trágica realidade” quando leu o texto do Zuenir Ventura
(reproduzido abaixo). Vale a pena ler, pois, de certa forma, os dois textos (do
Velhote e do Zuenir) se complementam.
ZUENIR
VENTURA
No
Brasil — no Rio principalmente — as calamidades são em geral previsíveis e anunciadas.
Não são necessariamente um capricho perverso da natureza, nem uma fatalidade.
Elas até já viraram efemérides. Assim como há Natal, réveillon e carnaval,
temos as tragédias de fim/começo do ano, com seus responsáveis. Tom Jobim
cantou, como "promessas de vida", as águas de março que fecham o
verão. As de dezembro, que abrem a estação, são quase certezas de morte. Há uns
20 dias, estando em Nova Friburgo para o lançamento de um livro e depois em
Belford Roxo para uma festa de formatura escolar, pude constatar a triste
situação da região serrana e da Baixada Fluminense. Na serra, as marcas das
chuvas de janeiro de 2011 eram como feridas ainda abertas nas encostas à espera
de nova tragédia, que afinal veio. Na Baixada, as pirâmides de lixo nas
calçadas e as crateras nas ruas obrigavam o carro a dar voltas e pegar desvios
para chegar ao destino. Era fácil imaginar o que iria acontecer, e aconteceu,
quando chovesse. Nada daquilo era por acaso, mas premeditado; era uma sórdida
vingança dos prefeitos Alcides Rolim, de Belford Roxo, e Zito, de Caxias, que
não tinham conseguido se reeleger e, em represália, entregaram seus municípios
aos ratos, literalmente. Em Caxias, a maldade ficou evidente, porque a única
rua sem lixo e sem buracos era justamente a da casa do prefeito.
Dessa vez, pelo menos, os responsáveis vão ter que se explicar na Justiça. Em Friburgo, o Ministério Público denunciou o prefeito afastado Demerval Barbosa Neto e 19 auxiliares por desvio de verbas federais (R$ 234 milhões) destinadas às vítimas das chuvas de 2011, quando morreram 423 pessoas. Os acusados responderão por fraude em licitações, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, sendo que alguns desses crimes foram cometidos até doze vezes. Em Caxias, por causa do lixo, o ex-prefeito Zito recebeu multa que pode chegar a R$ 2 milhões, sem falar na condenação a seis anos e três meses de prisão por ter deixado de fazer licitação numa obra pública em 2001.
Dessa vez, pelo menos, os responsáveis vão ter que se explicar na Justiça. Em Friburgo, o Ministério Público denunciou o prefeito afastado Demerval Barbosa Neto e 19 auxiliares por desvio de verbas federais (R$ 234 milhões) destinadas às vítimas das chuvas de 2011, quando morreram 423 pessoas. Os acusados responderão por fraude em licitações, corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica, sendo que alguns desses crimes foram cometidos até doze vezes. Em Caxias, por causa do lixo, o ex-prefeito Zito recebeu multa que pode chegar a R$ 2 milhões, sem falar na condenação a seis anos e três meses de prisão por ter deixado de fazer licitação numa obra pública em 2001.
Resta
saber se as penas serão cumpridas.
Em
Caxias, por causa do lixo, o ex-prefeito Zito recebeu multa que pode chegar a
R$ 2 milhões, sem falar na condenação a seis anos e três meses de prisão por
ter deixado de fazer licitação numa obra.
Publicado no Globo (8 de janeiro de 2013) .
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