sábado, 18 de maio de 2013

Não dá para esquecer


Vi, ouvi, cheirei e não gostei

Esta semana fiz algo que não costumo fazer. Pela TV Câmara, assisti as sessões que resultaram na aprovação da MP da Modernização dos Portos. Muitas coisas me chamaram a atenção. Vou resumi-las:

1 – Primeiro, a desfaçadez da maioria dos políticos: todos repetiam que a modernização dos portos é essencial para o Brasil, mas era evidente que todos estavam ali para “negociar” o seu voto em troca de uma fatia dos 2 bilhões que o governo prometeu aos chamados “partidos aliados”, caso a MP fosse aprovada.

2 – Pelo que se sabe a negociação corria solta, nos gabinetes e no próprio plenário, às escancaras, pois houve um momento nas sessões que os deputados e emissários do governo deixaram de lado qualquer resquício de pudor. É bom não esquecer que os 2 bilhões que o governo resolveu doar aos deputados, são produtos do imposto que todos nós, brasileiros e idiotas, pagamos.

3 – O Parlamento brasileiro é uma verdadeira zona! É o único, em todo mundo, onde os deputados não se sentam em seus lugares: ficam amontoados em torno de um microfone de pé, em frente à Mesa Diretora. Todos falam ao mesmo tempo, ninguém se entende – mas prá quê? Aquilo tudo é jogo de cena mesmo.

4 – Num dado instante o deputado Ronaldo Caiado subiu à tribuna e fêz um discurso candente contra o deputado Garotinho. Caiado chamou Garotinho de porco, de ladrão, de chefe de quadrilha e, para culminar, chamou-o à briga, lá fora. Garotinho retrucou dizendo apenas que nada daquilo o atingia, mas foi, subitamente, interrompido por um deputado (maluco!) de Minas Gerais, que desfraldou uma faixa (que ninguém conseguiu ler) e tumultuou ainda mais a sessão. Enquanto era agarrado por seguranças da casa, Garotinho aproveitou a oportunidade – e sumiu. Jamais saberemos se ele ia encarar o deputado Ronaldo Caiado, lá fora. Certamente não.

5 - A sessão da Câmara dos Deputados varou a noite – e o Velho Professor do Penedo resolveu ir dormir.

6 – Dia seguinte, O Globo estampou fotos de deputados, no Plenário, dormindo (de boca aberta e babando) como se tivessem cumprido seus deveres para com a cidadania.
7 - Uma vez, Leonel Brizola disse, na TV, uma frase que jamais esqueci: "A política é uma atividade nobre, mas no Brasil ele possui a enorme capacidade de atrair gente ordinária!" Brizola estava certo.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Uma crônica: A vida como ela é

Um amigo que se deu bem
 
Numa livraria, encontro um amigo que não via desde o início do primeiro governo Lula. Na época, o meu amigo era sindicalista e filiado ao PT. Era magro, pobre e esquerdista. Na livraria, a sua nova aparência me surpreendeu: vestia um terno impecável e bem cortado. Foi logo me dizendo que continuava filiado ao PT. Perguntei o que andava fazendo.
A resposta dele me surpreendeu: sou do conselho da Petrobrás, da Eletrobrás e do Banco do Brasil. E riu, riu muito. E acrescentou: hoje, ganho muito bem.
Provoquei: mas, você entende de petróleo, eletricidade e finanças? A resposta dele, juro, foi a seguinte: e precisa? E riu muito, alto, exageradamente.
O papo do meu amigo mudara desde a última que eu o encontrara, tinha uns dez anos. O meu amigo elogiou os industriais, que compreenderam, segundo ele, o sentido do petismo e do lulismo. Indaguei qual era esse sentido. A resposta foi surpreendente:
- Eles compreenderam que o Lula buscava a conciliação de classes, em benefício da classe trabalhadora. O nosso socialismo, hoje, é esse. Muito mais viável para as condições brasileiras.
Provoquei mais uma vez:
- E a corrupção? E o mensalão?
- Uma bobagem. A imprensa burguesa fez um escarcéu perfeitamente desnecessário.
- Mas, afinal, houve ou não houve mensalão?
- Não acredito. Nós, do PT, não roubamos.
Mudei de assunto:
- Comprando um livro?
- Não. Não tenho mais tempo de ler! E você?
- Acabei de comprar o livro do Casagrande.
- Ah!
Conversamos mais um tempo. O meu amigo se despediu - e foi embora. Meu amigo, como já disse, era magro, pobre e esquerdista. Hoje, ele é gordo, rico e direitista. Em nome do socialismo do Lula, que nem sabe exatamente o que é isso.