quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Rosa Branca, Thomas Mann e o desafio do nazismo


 

Jornal do Velhote do Penedo

Número 7

Quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Um jornal a serviço de ideias desabusadas

Livros e filmes

O Velhote do Penedo leu, em sequência, dois livros preciosos: “Discursos contra Hitler – Ouvintes alemães!”, de Thomas Mann, e “A Roas Branca – A história dos estudantes alemães que desafiaram o nazismo”, de Inge Scholl, organizado por Juliana P. Perez e Tinka Reichmann.

“Discursos contra Hitler” reúne pequenos discursos de Thomas Mann em que ele comentava os acontecimentos da guerra – e procurava influenciar o povo alemão contra o regime nazista e “o sujeito miserável que ainda se diz o Führer da Alemanha”. Thomas Mann, ganhador do Nobel de literatura (1929), estava exilado nos Estados Unidos, onde gravava os seus discursos, que eram enviados a Londres – e daí transmitidos, em ondas curtas, para a Alemanha. Thomas Mann, na opinião de Otto Maria Carpeaux, era um autor clássico, talvez o maior escritor da Alemanha, autor de obras-primas como “A montanha mágica” (Ed. Globo, 1953), “Os Buddenbrooks” (Nova Fronteira, 2000), “Doutor Fausto” (Saraiva, 2007). Perseguido pela barbárie nazista, Mann refugiou-se nos Estados Unidos, mas jamais deixou de tentar influenciar os alemães na direção das convicções que ele expressou na sua obra.

Thomas Mann foi um lutador tenaz contra o nazismo, contra o qual usou a única e poderosa arma que dispunha: a voz e os argumentos sempre bem colocados e veementes. Tinha certeza que Hitler seria derrotado – e a Alemanha iria, cedo ou tarde, retornar à humanidade. Na Alemanha, os livros de Thomas Mann foram queimados em praça pública por ordem direta de Hitler, que o odiava.

Enquanto Thomas Mann fazia sua guerrilha oral contra o nazismo, quatro estudantes de medicina e uma de biologia, cujas idades variavam entre 22 e 26 anos, e um professor de filosofia – todos da Universidade de  Munique -, escreviam e distribuiam panfletos que denunciavam as mentiras e atrocidades do nazismo. Rosa Branca, como os estudante chamavam o núcleo que formaram em pleno coração da Alemanha totalitária, tornou-se um dos símbolos da resistência alemã. Ficou conhecida no exterior por iniciativa do grupo que cometeu o frustrado atentado contra Hitler, em 20 de julho de 1944 (Operação Valquíria).

Os estudantes Hans Scholl (25 anos), Christoph Probst (24 anos), Alexander Schmorell (26 anos), Willi Graf (25 anos), Sophie Scholl (22 anos) e o professor Kurt Huber (50 anos) foram presos em fins de 1942 – e executados em fevereiro de 1943. Foram guilhotinados.

O livro “A Rosa Branca” reúne um magnífico ensaio de Inge Scholl, irmã de Hans e Sophie Scholl, reproduz os panfletos produzidos pelo grupo, transcreve as sentenças do Tribunal do Povo (maneira torpe com que os nazistas chamavam seus tribunais de exceção) e mostra relatos e testemunhos diversos.

Os dois livros são duas grandes lições de luta contra a infâmia. Eles se unem mais estreitamente no discurso pronunciado por Thomas Mann em 27 de junho de 1943, cujo desfecho é uma bela homenagem aos membros da Rosa Branca: “Corajosa e magnífica juventude! Vocês não terão morrido à toa, não serão esquecidos. Os nazistas erigiram monumentos para arruaceiros imundos e criminosos comuns – a revolução alemã, a verdadeira, vai derrubá-los e eternizará em seu lugar o nome daqueles que, quando a noite ainda escurecia a Europa e a Alemanha, anunciaram: nasce uma nova fé na liberdade e na honra!

Em tempo: dois filmes fixaram a história da luta dos jovens estudantes: “A Rosa Branca”, de Michael Verhoeven (1982), e “Uma mulher contra Hitler”, de Marc Rothemund (2005). Vale a pena assistir a ambos. O Velhote do Penedo viu e se emocionou.

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