Jornal do Velhote do Penedo
Terça-feira, 10 de dezembro de 2013 – Nº 16.
Um jornal a serviço de ideias desabusadas
Sem
tapetão, Dinamite!
Eu estava no Rio de Janeiro, era um sábado,
e o Vasco da Gama ia jogar contra o Manchester United. Logo, no Maracanã só
teria torcida do clube cruzmaltino, o que me dava a certeza de que não haveria
nenhum tipo de briga ou confusão. Sem companhia, fui sozinho.
Bem, foi a última vez que fui ao Maracanã,
pois eu vi facções da torcida do Vasco se hostilizando, vi brigas, vi
corre-corres, o diabo. Percebi, então, que nos estádios não brigam apenas
torcedores de clubes rivais, mas torcedores do mesmo esquadrão. Nunca mais
pisei no Maracanã, pois gosto de futebol pelo que ele tem de plástico, de arte,
de emoção. Jamais briguei pelo meu time, por seleção deste ou daquele país.
Quero o melhor para o meu país, mas não
transfiro tal sentimento para a seleção brasileira, ou seja, não acredito que o
desenvolvimento brasileiro passe pela seleção brasileira ou pela duvidosa
glória de ser campeão deste ou daquele torneio.
Também não vou me esgoelar por uma seleção
dirigida por um troglodita (Felipão) e por um serviçal da ditadura (Parreira),
que foi covarde e deselegante ao impedir, em 1994, a entrada do goleiro
Barbosa, na época com 73 anos, na concentração da Granja Comary.
Barbosa foi à concentração brasileira abraçar
e desejar boa sorte aos jogadores, mas Parreira barrou a entrada do velho
goleiro – e, pior ainda, não teve pejo de dizer que Barbosa, que era goleiro da
seleção brasileira de 1950, era “azarento”. Parreira é um cretino, um filhote
da ditadura. A Rede Globo tem um vídeo que conta essa história e mostra a
entrevista em que Parreira agride um idoso de 73 anos.
Repito: nunca briguei pelo Vasco da Gama.
Torço por ele, possuo camisas, bandeiras, canetas, chaveiros, flâmulas e livros
sobre o meu clube. Mas não brigo por ele.
A briga entre as torcidas do Vasco e do
Atlético Paranaense, domingo passado, em Joinvile, foi um horror, uma
demonstração de selvageria, mas é o retrato mais perfeito de uma sociedade
violenta, a brasileira.
Não é necessário procurar saber quem
começou a briga: as duas torcidas foram criminosas. Lamento, gostaria que não
tivesse acontecido, mas confesso que não fiquei com pena dos torcedores espancados.
Eles apenas levaram a pior na briga, mas eles estavam ali para bater ou
apanhar. Apanharam. Poderiam ter morrido. Mas eles fariam o mesmo que
tresloucados fizeram com ele.
O que aconteceu domingo em Joinvile nos dá
elementos para pensar:
1 – Todos sabem que as chamadas torcidas
organizadas são mantidas pelos clubes. Todos os presidentes de clubes
patrocinam as torcidas porque elas são os cabos eleitores dos candidatos, fazem
o trabalho sujo de diretorias irresponsáveis, muitas das quais levaram clubes
centenários à bancarrota.
2 – Tais diretorias fazem nos clubes o que
políticos fazem com empresas ou organismos públicos. Os políticos (muitos, mas
há exceções – poucas!) administram as empresas ou organismos públicos como se
eles estivessem gerindo galinheiros, pouco importando a eles se o que fazem
irão levar as empresas ou os organismos públicos à falência, à desmoralização
ou à morte administrativa. Vejam o caso, hoje, da Petrobrás, cujos prejuízos
são o resultado de gestões irresponsáveis e temerárias. São os casos também da
maioria dos clubes brasileiros.
3 – As torcidas organizadas são, em geral,
formadas por aquela categoria que Karl Marx classificou como a escória da
sociedade: o lumpensinato. São desempregados,
com baixa ou nenhuma escolaridade, muitos com passagem na polícia, a maioria
sem perspectivas ou planos de vida. Vi a briga e percebi que o biótipo dos
brigões se aproxima: são gordos, cabelos raspados, corpos cobertos de tatuagens,
algumas delas com símbolos indecifráveis ou sinistros, como caveiras. Não sei
se eles tinham suásticas, mas não me surpreenderia se tivessem.
3 – Brigam pelo prazer de brigar - e por
tudo que a agressão ao próximo significa: uma maneira de demonstrar poder,
força, dominação. Não tendo como se afirmar de outra maneira, não tendo condições
de pensar ou refletir sobre a vida, os trogloditas buscam na violência digerir,
superar e vencer as suas frustrações, que são muitas.
E para terminar.
Roberto Dinamite, que todos os vascaínos
decentes apoiaram, certos de que, com isso, estávamos superando a Era Eurico
Miranda, levou o Vasco duas vezes à segundona, vendeu dezoito jogadores,
empregou parentes e amigos e aumentou as dívidas do clube. Agora, tenta
consertar a lambança apelando para o tapetão, o que uma emenda pior que o
soneto.
O Velhote diz e declara: o Vasco, meu time,
tem que ir para a segundona, pois ao longo do campeonato não mostrou
competência. Azar de todos os vascaínos.
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