Jornal do Velhote do Penedo
Terça-feira, 8 de dezembro de 2014 – Nº 17.
Um jornal a serviço de ideias desabusadas
Um dos orgulhos do Velhote do Penedo é ter
orientado uma dissertação de mestrado sobre o sistema penitenciário brasileiro.
Orgulho por vários motivos: a qualidade do trabalho, que mereceu “menção
honrosa”, a defesa da mestranda (vamos chamá-la de Maria, só para facilitar) e
o nível da bibliografia que ela consultou. Além dos referenciais teóricos obtidos
nos campos da sociologia e da ciência política, Maria leu e estudou “Estação
Carandiru”, de Drauzio Varella e “Memórias do cárcere”, de Graciliano Ramos, e
deles soube recolher interessantes conclusões. Uma dissertação excelente, que
me veio à lembrança diante do noticiário (escabroso!) sobre o Complexo Penitenciário
de Pedrinhas, em São Luís, Maranhão, feudo dos Sarney.
Uma das conclusões da dissertação de Maria
era óbvia: as penitenciárias brasileiras são dominadas por facções criminosas e
se transformaram em verdadeiras universidades do crime. Pedrinhas, contudo,
pelo que se lê nos jornais, transformou-se numa unidade de excelência no crime
e na hediondez: assassinatos brutais de presos, estupro de familiares (esposas,
irmãs, filhas) de presos nos dias de visita (preço que garante a vida do condenado),
presença de mulheres (presas) nos pavilhões dos homens, doenças (AIDS, doenças
venéreas, tuberculose, entre outras doenças transmissíveis campeiam). Um horror.
Tudo isso, é claro, sob o olhar
desinteressado das autoridades estaduais, mais preocupados em desfrutar das delicias
do poder e das mesas fartas dos palácios. (“Tia” Dilma: cuidado, a posteridade
não a perdoará por sua aliança com o Sarney. Não falo do Lula porque ele está se
lixando para a posteridade).
Ontem, a governadora Roseana, após um
período de férias, disse que o relatório do Conselho Nacional de Justiça sobre
as condições de Pedrinhas só tem “inverdades” e “fraudes grosseiras”. Há uns
dois meses, quando os mensaleiros estavam em vias de serem presos, o ministro
da Justiça disse que preferiria morrer a ser encarcerado nos presídios
brasileiros. Roseana deve achar Pedrinhas uma maravilha, lugar de presos
comuns, pobres, negros, mulatos e mestiços. Ela se esqueceu de dizer isso na
sua entrevista coletiva.
Este ano, mais uma vez, tivemos chuvas,
mortes, famílias que perderam tudo. “Tia” Dilma interrompeu suas férias,
sobrevoou a região atingida e disse que vai encaminhar aos prefeitos um cartão “para
pequenas despesas”. Dito isso, voltou às praias baianas, onde foi fotografada
(de longe) de maiô peça única, preto e de boné branco.
O presidente da FIFA deu entrevista e disse
que as obras para a Copa do Mundo no Brasil estão atrasadas. Estão – e muito. “Tia”
Dilma respondeu que o Brasil vai fazer “a Copa das Copas” e que o “brasileiro
saberá receber os turistas”.
E pensar que o Brasil poderia ser uma
grande nação!
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"Sonho e saudade", de Tito Madi, uma das canções que o Velhote do Penedo selecionou no programa "Memória Musical", da Rádio Nacional FM.
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