terça-feira, 24 de março de 2015

Adolfo Caminha, um grande escritor

Bom-Crioulo


O romance Bom-Crioulo, de Adolfo Caminha, está completando, em 2015, 120 anos desde que foi lançado. É um acontecimento, mas não apenas um acontecimento literário. A sua atualidade é indiscutível. Por isso, merece ser lido.

Bom-Crioulo foi o primeiro grande romance brasileiro sobre homossexualidade, mas, apesar de sua qualidade literária, foi ignorado pelos dois principais jornais da época, O País e Gazeta de Notícias. Os poucos comentários publicados foram hostis à obra. Valentim Magalhães, membro fundador da Academia Brasileira de Letras, afirmou, em A Notícia (21 de novembro de 1895), que “Bom-Crioulo excede tudo quanto se possa imaginar de mais grosseiramente imundo”.  No Jornal do Comércio (27 de novembro de 1895), José Veríssimo asseverou que “Bom-Crioulo é pior do que um mau livro: é uma ação detestável, literatura à parte”. O crítico não poupou o livro de Caminha. Qualificou-o de “detestável”, “repugnante” e, por fim, apostrofou a homossexualidade como “nauseante crime contra a natureza”.

Bom-Crioulo conta a história de um escravo negro fugido, Amaro, apelidado de Bom-Crioulo, que ingressa como marinheiro na Marinha brasileira. A bordo, Amaro conhece um grumete branco de quinze anos, Aleixo, por quem se apaixona e seduz. Após um período em que os dois vivem juntos no quarto de uma pensão da Rua da Misericórdia, Aleixo tornou-se amante de Dona Carolina, uma lavadeira portuguesa bem mais velha que ele. Abandonado, Amaro deixa-se consumir por um sentimento misto de amor, ódio e ciúmes. Fora de si, Bom-Crioulo agride Aleixo – e lhe dá um golpe fatal em seu pescoço com uma navalha. A cena final do romance mostra a prisão de Amaro.

É um livro denso. Na época em que foi lançado, Bom-Crioulo provocou escândalo. Depois disso, Adolfo Caminha foi quase esquecido. Poucos críticos têm-no estudado – e os que escreveram a seu respeito não fizeram jus à qualidade da obra e ao talento do autor.
 



Em tempo.
Antes de publicar Bom-Crioulo, Adolfo Caminha escreveu outro grande romance, A Normalista, que trata da sedução de uma jovem por seu tutor. Era, sem dúvida, não só um grande escritor, como um intelectual corajoso.

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