O romance Bom-Crioulo,
de Adolfo Caminha, está completando, em 2015, 120 anos desde que foi lançado. É
um acontecimento, mas não apenas um acontecimento literário. A sua atualidade é
indiscutível. Por isso, merece ser lido.
Bom-Crioulo foi o primeiro grande romance
brasileiro sobre homossexualidade, mas, apesar de sua qualidade literária, foi
ignorado pelos dois principais jornais da época, O País e Gazeta de Notícias.
Os poucos comentários publicados foram hostis à obra. Valentim Magalhães,
membro fundador da Academia Brasileira de Letras, afirmou, em A Notícia (21 de novembro de 1895), que
“Bom-Crioulo excede tudo quanto se
possa imaginar de mais grosseiramente imundo”.
No Jornal do Comércio (27 de novembro
de 1895), José Veríssimo asseverou que “Bom-Crioulo
é pior do que um mau livro: é uma ação detestável, literatura à parte”. O
crítico não poupou o livro de Caminha. Qualificou-o de “detestável”,
“repugnante” e, por fim, apostrofou a homossexualidade como “nauseante crime
contra a natureza”.
Bom-Crioulo conta a história de um escravo negro
fugido, Amaro, apelidado de Bom-Crioulo, que ingressa como marinheiro na
Marinha brasileira. A bordo, Amaro conhece um grumete branco de quinze anos,
Aleixo, por quem se apaixona e seduz. Após um período em que os dois vivem
juntos no quarto de uma pensão da Rua da Misericórdia, Aleixo tornou-se amante
de Dona Carolina, uma lavadeira portuguesa bem mais velha que ele. Abandonado,
Amaro deixa-se consumir por um sentimento misto de amor, ódio e ciúmes. Fora de
si, Bom-Crioulo agride Aleixo – e lhe dá um golpe fatal em seu pescoço com uma
navalha. A cena final do romance mostra a prisão de Amaro.
É um livro denso. Na época em que foi lançado, Bom-Crioulo provocou escândalo. Depois
disso, Adolfo Caminha foi quase esquecido. Poucos críticos têm-no estudado – e
os que escreveram a seu respeito não fizeram jus à qualidade da obra e ao
talento do autor.
Em tempo.
Antes
de publicar Bom-Crioulo, Adolfo
Caminha escreveu outro grande romance, A
Normalista, que trata da sedução de uma jovem por seu tutor. Era, sem
dúvida, não só um grande escritor, como um intelectual corajoso.
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