Um fato não muito edificante (contada em três
atos)
1º Ato
No dia
1º de abril de 1964, telefonemas ameaçadores foram dados para minha casa. Todos
eles, atendidos por minha mãe, diziam que eu iria ser preso, torturado, morto –
e, como era praxe, meu corpo seria jogado no rio da Guarda.
Minha
mãe, claro, ficou em pânico – e em pânico ligou para o meu pai, que nessa época
morava em Três Pontas, Minas Gerais. Eles estavam, na época, separados. Meu pai
disse que ia me buscar, mas que eu saísse de casa, que fosse me esconder.
Não deu
dez minutos, o telefone tocou na minha casa. Eu atendi. Era um amigo do meu
pai, dono de uma usina de cana em Três Pontas, onde meu pai trabalhava. Ele me
disse que meu pai estava muito nervoso e que ele – sim, um fazendeirão – iria me
buscar no Rio. Marcamos o ponto. Eu me mandei de casa, com o apoio de meus
amigos dos Bancários (que tinha sido invadido pela polícia naquela madrugada).
Vaguei
pela cidade durante várias horas e acabei indo para a casa de um amigo, pois eu
tinha muitas horas de espera pela frente.
Nessa
época eu militava na Polop, que estava totalmente desestruturada, com muitos
quadros presos e escondidos. A situação estava uma loucura.
Na hora
marcada, lá estava o amigo do meu pai me esperando. Eram 12 horas. O ponto
tinha sido marcado em frente à Igreja Nossa Senhora da Glória, no Largo do
Machado. Entrei no carro e partimos. Fiquei em Três Pontas por sete meses,
sempre protegido pelo amigo do meu pai. Nunca li tanto na minha vida.
2º Ato
Tempos
depois, a democracia já restaurada no Brasil, eu já morava em Brasília.
Uma
tarde, fui, com colegas do CNPq, ao Congresso. Era época da Constituinte, logo
o Congresso estava apinhado de lobistas, sindicalistas, índios, gente de toda a
espécie – todos interessados em introduzir na Constituição em montagem artigos
do interesse dos seus grupos e povos.
Num
dado momento, uma coleguinha do CNPq, petista roxa, daquelas que usa (ou usava,
não sei) brincos do PT, colar do PT, gritava e xingava um grupo de cidadãos,
todos eles de terno. Eles ouviam os xingamentos em silêncio, espantados. A petista
chamava-os de “assassinos, assassinos, assassínios”.
Eram
representantes do agronegócio, hoje aliados ao PT, cuja presidenta CNA é
ministra e afilhada de casamento da outra presidenta, a Dilma. As voltas que o
mundo dá.
Entre
os que estavam sendo xingados estava o amigo do meu pai, que evitara a minha
prisão em 1964.
Entrei
no “barraco” de rijo, afastei quase a muque a petista raivosa, pedi desculpas
aos cidadãos e entabulei um longo papo com o amigo do meu pai. Meu pai já tinha
morrido. Foi a última vez que estive com o amigo do meu pai.
3º Ato
Esta
semana o prefeito Haddad e o ex-senador Suplicy foram hostilizados na Livraria
Cultura, de São Paulo. Recebi inúmeras mensagens, mormente de petistas, criticando
os que xingaram os dois. São mensagens que falam em nazismo, fascismo, em
direita, em golpe, violência.
Bem, eu
nunca hostilizei ninguém. Jamais participei de atos hostis contra políticos, jamais
ameacei ninguém - e sou contra o que fizeram com Haddad e Suplicy, duas figuras
que, embora do PT, eu pessoalmente respeito. Quem me conhece sabe disso.
O que
eu quero dizer por fim é o seguinte: que os petistas não me venham dar uma de
vestais, ofendidos com o que aconteceu na livraria Cultura. Eles cansaram de
fazer isto, contra todos os políticos que não pensam como eles. A incivilidade
não é uma prerrogativa de ninguém, mas os petistas são especializados em linchamentos morais.
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