sábado, 2 de abril de 2016

Se eu tenho um bordão, porque pensar?


 A chapa vai esquentar ainda mais

 

Quando começou a história de impeachment, Dilma rechaçava a ideia dizendo-se honesta. Ela nunca teria se envolvido na roubalheira – “sou uma mulher honesta, e ninguém, ninguém, vai encontrar um deslize na minha vida”. O bordão “não ao golpe” ainda não tinha entrado em cena.

Quando o pedido de impeachment foi aceito, e soube-se que não se acusava a presidente de ser ladra – e sim de ser inepta e incompetente, pois violara a Constituição, a Lei de Responsabilidade Fiscal, entre outras, Dilma passou a negar o que, de fato, fizera. Os primeiros ecos do bordão começaram a ecoar.

Dizia-se: se ela não burlara a Constituição e não desrespeitara a Lei de Responsabilidade Fiscal, o pedido de impeachment era injustificado, pois de nada se podia acusar a presidente. O bordão “não ao golpe” passou a ecoar pelo país, pois ninguém, nem mesmo os ditos intelectuais e acadêmicos, se deram ao trabalho de ler o pedido de impeachment e consultar a Constituição e a Lei de Responsabilidade.

As falas dos ditos intelectuais e acadêmicos são de uma pobreza sem tamanho – a eles basta apenas gritar o bordão, que, em si, ganhou valor absoluto. São péssimos intelectuais e acadêmicos, inclusive porque não entendem o que se passa no Brasil, não sabem explicar o Brasil, são incapazes de ir fundo nas suas análises, digo, palpites. Conseguiram a proeza de explicar o Brasil mediante o bordão “não ao golpe”. Mas de que golpe estão falando? Não importa. O importante é o bordão.

Agora, surge, como figura premiada, a professora de filosofia (ela se autoproclama “filósofa”) Marilena Chauí. Depois de informar que odeia a classe média (classe da qual ela e seus colegas de academia pertencem), descobriu que o juiz Sérgio Moro é agente da CIA, quer vender o Pré-Sal, entregar nossas riquezas aos americanos, fazer tráfico humano, de armas e de drogas e o escambau.

Não vou me estender, pois a “filósofa” não merece, tão estapafúrdios são seus palpites. Só colegas e alunos idiotizados pela cegueira pseudoideológica levam-na a sério. Chauí foi, anos atrás, acusada por José Guilherme Merquior de transcrever trechos – sem aspas – do livro “Cultura e democracia”, de Claude Lefort. Depois foi acusada de copiar palavra a palavra um texto do espanhol Julián Marías. Sobre o assunto escreveu Roberto Romano o artigo “O silencio palavroso de Marilena Chauí”. Leiam se puderem o artigo; é didático.

Ontem, quinta-feira, 31 de março, Dilma reconheceu, finalmente, que deu as tais pedaladas e fez tudo que consta do pedido de impeachment, mas que as acusações não configuram crime de responsabilidade – até porque, acrescentou, todos os presidentes fizeram isso. Dilma criou, portanto, uma jurisprudência: se todos foram criminosos, ela também pode ser.

Enquanto Dilma dizia isto no “showmício” do Planalto, o ministro Barbosa, no congresso, diante da comissão do impeachment, negava as pedaladas. Quem estava mentindo? Eles não fazem coincidir o discurso, mas repetem o bordão. Afinal, repetir bordões não exige raciocínio.

Em tempo: esta matéria já estava escrita quando desabou sobre o país mais uma etapa da operação Lava-Jato, que trouxe de volta o assassinato de Celso Daniel. Uma lambança.

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