A chapa vai esquentar ainda mais
Quando começou a história de
impeachment, Dilma rechaçava a ideia dizendo-se honesta. Ela nunca teria se
envolvido na roubalheira – “sou uma mulher honesta, e ninguém, ninguém, vai
encontrar um deslize na minha vida”. O bordão “não ao golpe” ainda não tinha
entrado em cena.
Quando o pedido de impeachment foi
aceito, e soube-se que não se acusava a presidente de ser ladra – e sim de ser
inepta e incompetente, pois violara a Constituição, a Lei de Responsabilidade
Fiscal, entre outras, Dilma passou a negar o que, de fato, fizera. Os primeiros
ecos do bordão começaram a ecoar.
Dizia-se: se ela não burlara a
Constituição e não desrespeitara a Lei de Responsabilidade Fiscal, o pedido de
impeachment era injustificado, pois de nada se podia acusar a presidente. O
bordão “não ao golpe” passou a ecoar pelo país, pois ninguém, nem mesmo os
ditos intelectuais e acadêmicos, se deram ao trabalho de ler o pedido de
impeachment e consultar a Constituição e a Lei de Responsabilidade.
As falas dos ditos intelectuais e
acadêmicos são de uma pobreza sem tamanho – a eles basta apenas gritar o bordão,
que, em si, ganhou valor absoluto. São péssimos intelectuais e acadêmicos,
inclusive porque não entendem o que se passa no Brasil, não sabem explicar o
Brasil, são incapazes de ir fundo nas suas análises, digo, palpites.
Conseguiram a proeza de explicar o Brasil mediante o bordão “não ao golpe”. Mas
de que golpe estão falando? Não importa. O importante é o bordão.
Agora, surge, como figura premiada, a
professora de filosofia (ela se autoproclama “filósofa”) Marilena Chauí. Depois
de informar que odeia a classe média (classe da qual ela e seus colegas de
academia pertencem), descobriu que o juiz Sérgio Moro é agente da CIA, quer
vender o Pré-Sal, entregar nossas riquezas aos americanos, fazer tráfico humano,
de armas e de drogas e o escambau.
Não vou me estender, pois a “filósofa”
não merece, tão estapafúrdios são seus palpites. Só colegas e alunos
idiotizados pela cegueira pseudoideológica levam-na a sério. Chauí foi, anos
atrás, acusada por José Guilherme Merquior de transcrever trechos – sem aspas –
do livro “Cultura e democracia”, de Claude Lefort. Depois foi acusada de copiar
palavra a palavra um texto do espanhol Julián Marías. Sobre o assunto escreveu
Roberto Romano o artigo “O silencio palavroso de Marilena Chauí”. Leiam se
puderem o artigo; é didático.
Ontem, quinta-feira, 31 de março,
Dilma reconheceu, finalmente, que deu as tais pedaladas e fez tudo que consta
do pedido de impeachment, mas que as acusações não configuram crime de
responsabilidade – até porque, acrescentou, todos os presidentes fizeram isso.
Dilma criou, portanto, uma jurisprudência: se todos foram criminosos, ela
também pode ser.
Enquanto Dilma dizia isto no
“showmício” do Planalto, o ministro Barbosa, no congresso, diante da comissão
do impeachment, negava as pedaladas. Quem estava mentindo? Eles não fazem
coincidir o discurso, mas repetem o bordão. Afinal, repetir bordões não exige
raciocínio.
Em tempo: esta matéria já estava
escrita quando desabou sobre o país mais uma etapa da operação Lava-Jato, que
trouxe de volta o assassinato de Celso Daniel. Uma lambança.
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