Vamos nos repensar?
Estou achando ótimo, embora
apreensivo, o esquema de delações e gravações que ora torna os nossos dias e
noites divertidos. Apreensivo porque deixa claro o nível de apodrecimento da
vida política brasileira.
Como não sou de nenhum
partido, nem tenho admiração por eles, quero que os políticos corruptos e
ordinários se lasquem – e terminem as suas gloriosas carreiras atrás das
grades. Se gente do governo Temer estiver envolvida, que seja substituída. Há
no Congresso (e na sociedade brasileira) muitos parlamentares (e profissionais)
competentes e honestos, que podem perfeitamente ocupar cargos - e auxiliar
Temer a atravessar o Rubicão.
O Velhote do Penedo não
votou na Dilma (logo, também não votou no Temer: a chapa é indivisível) no 1º e
2º turnos. No primeiro, votei na Luciana Genro; no segundo, exerci um direito
que os meus 73 anos me asseguram: não fui votar. Os eleitores da Dilma,
portanto, não reclamem: eles, no fundo, são responsáveis pelo Temer, que
assumiu, constitucionalmente, no lugar da presidente impedida. Quem votou na
Dilma, votou também no Temer – ponto final. Se a Dilma sofresse um infarte
fulminante, quem assumiria era o Temer.
As delações e gravações
divulgadas mostram uma coisa: um golpe – mas golpe mesmo! - estava em curso,
contra Dilma e contra a operação Lava-Jato. Lideranças do PMDB e gente do PT,
sobretudo Lula (mas não só ele), bolavam um plano sórdido de “afastar” a Dilma
das suas funções, embora ela permanecesse no cargo, imobilizada, com o Lula, na
Casa Civil, “tocando” o país em associação com os peemedebistas históricos
(Sarney. Renan, Jucá, entre outros). Ao mesmo tempo, a operação Lava-Jato seria
esvaziada, livrando a cara do Lula, da própria Dilma e da liderança do PMDB. Em
minha opinião, Temer e seus amigos mais próximos estavam à margem da trama, por
duas razões principais: 1) a queda da Dilma - via impedimento - o beneficiaria;
2) ele e Renan não se tocam - nunca se tocaram - e o presidente do Senado era
um dos líderes do golpe.
O golpe enfrentava uma
dificuldade: convencer o Teori (e outros ministros do STF) a se engajar na
trampa. A arquitetura do golpe era complexa, mas que estava em curso, estava.
Em algum momento, porém, o golpe foi abortado – e agora posto à luz pelas
delações e gravações. É bom lembrar que as gravações foram feitas em fevereiro
e março, bem antes do impedimento da Dilma e da subida do Temer.
Agora, um equívoco (não vou
chamar de golpe porque quem defende essa solução não é golpista) está em curso,
embora alguns dos envolvidos não tenham consciência do erro: “as eleições já”.
É equívoco porque, constitucionalmente, o governo Temer, que sucedeu a
presidente impedida, é legal, queiramos ou não, aceitemos ou não. Essa é a
regra do jogo, por mais que não gostemos dele. Temer era o vice, escolhido e
votado pelos que votaram em Dilma. Logo, é ele, legitimamente, o sucessor da
presidente afastada. Além disso, “eleições já” implicam em reforma
constitucional, que exige quorum qualificado de três quintos em dois turnos,
afora quebra de cláusulas pétreas. Pedir “eleições já” é jogar gasolina na
fogueira política brasileira. Daí eu considerar a proposta um equívoco.
O Velhote já disse aqui: o
PT desmoralizou a esquerda – ou a ideia da esquerda no poder. Hoje, queiramos
ou não, esquerda está identificada como incompetência e corrupção. Nós, de
esquerda, perdemos – e precisamos saber perder com dignidade. O PT nos conduziu
ao fosso que estamos. Não devemos nos desforrar via palavrões, cusparadas ou xingos.
Precisamos curar nossas feridas, que são fundas e sérias.
A esquerda precisa se
repensar, se modernizar, encontrar um discurso para o século XXI. Temos que
aprender com os clássicos, mas trazer ao balaio um pensamento atualizado. O
pior é as nossas universidades são incapazes de liderar esse processo. A
esquerda e as universidades envelheceram – pensam como se nós ainda
estivéssemos na primeira metade do século XX.
O título poderia ter sido "O verdadeiro golpe". Excelente sua análise deste momento podre da nossa história.
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