O conteúdo do
citado artigo e o fato de ter sido ele divulgado no Vermelho, logo com a chancela
do PCdoB, merecem algumas considerações.
O PCdoB
surgiu, a rigor, como uma dissidência do velho partidão (PCB) criado em 1922.
Tal dissidência se deu no bojo de uma crise do movimento comunista
internacional, crise esta desencadeada a partir das denúncias dos crimes de
Stalin, feitas por Nikita Krushov durante o XX Congresso do Partido Comunista
da União Soviética, em 1956. A dissidência era liderada por figuras como João
Amazonas, Maurício Grabois e Pedro Pomar. O PCdoB foi criado em 1962. Assim, o
Brasil passou a conviver com dois partidos comunistas: o Partido Comunista
Brasileiro, vulgarmente conhecido como Partidão, e o PCdoB.
O PCdoB teve
uma trajetória particular, pois seguiu, ao longo do tempo, diversas linhas
políticas. Opondo-se à União Soviética, às voltas com o chamado processo de
desestalinização, o PCdoB, de início, declarou-se seguidor do legado de Stalin,
a quem chamava de “Guia Genial dos Povos”. Nos anos 1960, o partido adota a
chamada linha maoísta, alinhando-se com o Partido Comunista Chinês. Em 1978, o
PCdoB rompe com o PC da China e se une ao Partido Albanês do Trabalho (comunista),
na época liderado por Enver Hoxha. O Partido Albanês do Trabalho era descrito
nos documentos do PCdoB como o “Farol da Humanidade”. A idiotice sempre foi o
apanágio do PCdoB.
Não lembro
quem disse que ser stalinista é como ser Flamengo: “uma vez stalinista sempre
stalinista”. Hoje, o PCdoB se afirma como um partido democrático, defensor do
estado democrático de direito, o que é um contrassenso, pois a lógica do
partido segue sendo stalinista: centralismo, intransigência intelectual e reducionismo
político e ideológico.
O artigo de
Thomas de Toledo, tão marcadamente antissemita, evidencia outra herança do
stalinismo, cujo histórico está disponível em inúmeros livros que tratam da
época. Destaco uma das faces mais abjetas do antissemitismo de Stalin. Quando a
Alemanha nazista e a URSS assinaram o chamado pacto Molotov-Ribbentrop, de
agosto de 1939, e o Tratado de Amizade entre Alemanha e URSS, de novembro do
mesmo ano, as duas mais cruéis máquinas repressivas, a NKVD (russa) e a RSHA
(alemã), começaram a trocar informações e, em breve, prisioneiros. Foi nessa
época que Stalin entregou a Hitler inúmeros judeus, que faziam parte de uma
lista de 5524 nomes de antifascistas alemães e austríacos que viviam (tinham
pedido exílio) na URSS.
O antissemitismo
foi, na era stalinista, uma política periodicamente utilizada como forma de
expurgar os antisstalinistas e os opositores das políticas oficiais da URSS. Os
expurgos não aliviaram ninguém, nem mesmo os velhos quadros políticos do
bolchevismo. Vários revolucionários da velha guarda, como Trotski, Zinoviev,
Kamenev, judeus de origem, foram presos, condenados e executados, quando não
liminarmente sumidos ou assassinados, sob os mais diversos pretextos. Stalin
não admitia oposição.
O lastro
antissemita, portanto, está nas origens do PCdoB, razão pela qual o artigo de
Thomas de Toledo foi postado no Vermelho. Um trecho: “Poucos se atentaram ao
fato de que Israel passou a controlar três setores-chave do governo golpista:
Defesa (Raul Jungmann), Inteligência (Sérgio Etchegoyen) e Banco Central (Ilan
Goldfajn)”.
Escrevi este
artigo por dois motivos: primeiro, pelo assunto em si, pois o antissemitismo me
provoca náuseas; segundo, por que não vi um repúdio público ao artigo de Thomas
de Toledo. Claro, houve protestos individuais, como o do editor Ari Roitman e
Carlos Minc, ambos judeus, mas onde estão os artistas, intelectuais,
professores universitários e líderes dos movimentos sociais? Gostaria de entender
o silêncio de todos aqueles que protestaram contra a incorporação da Cultura ao
Ministério da Educação, que falam em golpismo, que vertem lágrimas quando se
trata da prisão de um larápio que tungou dinheiro de servidores e aposentados.
Por fim, me
ocorre uma pergunta: e se fosse o Bolsonaro o autor do artigo publicado no Vermelho?
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