Um adendo ao
que publiquei ontem no meu blog - sob o carinhoso título de “Horror brasileiro”.
No Brasil, há
gente capaz de tocar planos, programas. O plano de segurança pode ser levado
adiante, mas as máquinas burocráticas dos governos federal e estaduais são tão
complicadas, tão cheias de idas e vindas, que acabam levando a que pouco ou
nada seja feito. Um exemplo é a lei que regula as licitações públicas, a
notória lei 8.666. Ela é tão minuciosa, exige tanto das empresas, permite os
mais diversos recursos, que caem nos escaninhos da justiça, podendo inclusive
chegar ao Supremo. Nenhuma obra urgente aguenta a citada lei – e a construção
de novas penitenciárias cai, como uma luva, nesse caso. O cidadão comum não
conhece os mistérios dessa lei, mas em razão dela, por exemplo, institutos de
pesquisa são obrigados a adquirir reagentes ou outros apetrechos no Brasil se
houver “similar nacional” – mesmo que o similar nacional seja uma porcaria.
Há ainda a
corrupção, que eu falei, ontem, da seguinte maneira: “a coisa vem lá de cima,
chegando, em cascata, aos guardas penitenciários”. Quando digo “lá de cima”,
falo de governadores, secretários, juízes, procuradores, promotores, advogados,
diretores de presídios. Não estou fazendo uma acusação generalizada, mas
enquanto eu não souber como um sofá entrou no presídio de Manaus e foi parar na
cela do Garrote, não retiro uma só palavra do que disse e digo. Lembrem-se do
Massacre do Carandiru, que até hoje rola na primeira instância da justiça, enquanto
os militares acusados estão soltos.
Outro ponto desejo
assinalar: ontem, eu vi na TV (eles inclusive foram entrevistados) dois casais
e senhoras saindo da praia (Arpoador e Ipanema) depois de dois ou três
arrastões, apesar do policiamento ostensivo, tanto nas calçadas como nas areias.
Os entrevistados estavam com medo. A praia estava cheiíssima, o que facilitava
a vida dos futuros hóspedes das penitenciárias cariocas.
A
desagregação social no Brasil é patente. Nós acumulamos historicamente heranças
malditas na formação do caráter brasileiro, como foram as matanças dos
aborígenes pelos portugueses, a ideologia da “casa grande & senzala”, o
jaguncismo, o fanatismo, a ideologia da corrupção como prática tolerada, a
falta de respeito entre as pessoas, a ideia de que vale tudo contra os movimentos
contestadores (Praieira, Palmares, Inconfidência Mineira, Confederação do Equador,
Cabanada, Revolução Farroupilha, Canudos, nos quais cabeças foram decepadas), a
ideia de que tudo pode ser conseguido na “moleza” e no “jeitinho”. Nós
convivemos com a miséria numa boa, não é mesmo? Claro, reclamamos, denunciamos,
mas quando nos pedem sacrifícios mínimos e algum esforço só sabemos gritar “pelos
nossos direitos” – direitos que, na verdade, são privilégios.
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