domingo, 5 de março de 2017

Dez milhões num envelope? Nem a pau!

Torno a repetir: o tal “envelope” ou “pacote” entregue ao Yunes, que o teria repassado ao Padilha, não continha 10 milhões nem a pau. Cheque? Impossível: é fácil de rastrear. Recibo de depósito ou de transferência? Também é fácil de rastrear. O que havia então no “envelope” ou no “pacote”? É a pergunta mais importante – e quem vai, ou pode, respondê-la é o inquérito, ou seja, os peritos e a polícia federal. O resto é especulação e forte dose de irresponsabilidade.

A imprensa televisiva gosta mesmo é de especulação. Os jornalistas da Globo News adoram fazer comentários dúbios, insinuantes, matreiros, enroscados como rabo de porco. Como os telejornais são longos e repetitivos, cada comentarista ou repórter acrescenta, a cada aparição, um novo ingrediente, que irá justificar o comentário seguinte – numa sucessão de insinuações, “ouve-se dizer”, “Temer pensa”, “comenta-se em Brasília”, "uma fonte", por aí. Tais comentários, por sua vez, reverberam nas redes sociais, que, por sua vez, acrescentam um novo ingrediente à “notícia” ao sabor da visão política e ideológica de cada um. A pergunta que se impõe é a seguinte: esta ciranda é democrática? Ou melhor: ela faz bem à democracia?

Não sou contra a imprensa, mas absolutamente contra o falso jornalismo, o jornalismo delinquente. Não defendo – e nunca defenderei a censura, a restrição ao noticiário, a definição de normas, regras, que pretendam restringir a liberdade de imprensa. Mas é certo que o jornalismo que se pratica hoje no Brasil, sobretudo na TV, é abusivo, calhorda e canalha. Os jornalistas televisivos têm um instrumento importante a seu favor, mas os demais cidadãos não têm como se defender. Outro dia, um hacker afirmou que tinha colhido informações dos meios eletrônicos da Primeira Dama, que, se divulgados, enlamearia a biografia do presidente. Um crime, agravado pelo fato de que o hacker tentou chantagear o presidente. Dois crimes. Pois eu vi a Renato Lo Prete sugerir que a informação sobre Temer devia aparecer, no que o seu entrevistado (um professor) disse que não podíamos coonestar com um duplo crime. A jornalista calou-se. Como calou-se diante do João Dória, quando este a colocou em seu devido lugar.

Repito o que venho dizendo: um sujeito citado numa delação premiada não se transforma em réu, nem pode ser tratado como tal. Li e ouvi que o sujeito da Odebrecht tinha jantado com Temer, e recebeu um pedido de grana. O depoimento vazou e o sujeito da Odebrecht não tinha dito nada disso. O jantar tinha sido apenas um jantar, no qual não se falou em dinheiro.

Durante a ditadura havia a figura do “dedo-duro”. O Velhote do Penedo foi vítima de dedo-duro – e sabe do que está falando. Delação premiada é um instrumento legal, a ser usado pela justiça, que reúne muitas informações, cruzando-as, a fim de chegar a uma conclusão. O jornalismo brasileiro usa informações vazadas de modo irresponsável, canalha – e o fazem com total inconsequência e idiotia.

A imprensa brasileira, principalmente a televisiva, sobretudo a da GN, me dá a impressão de que perdeu o juízo. Como muitos jornalistas estão sendo demitidos, todos procuram o “furo”, o “que somente eu sei”, e congêneres. Querem talvez garantir o seu emprego.

Repito a pergunta: esse tipo de jornalismo é democrático? Faz bem à democracia?

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