quarta-feira, 28 de junho de 2017

Picaretagem e golpismo


Nunca pensei em começar um texto afirmando que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso é um sujeito que costuma perder o senso de oportunidade em face de situações em que dele se espera, no mínimo, equilíbrio, serenidade prudência. Diante de fatos novos e tensos, FHC age como um perfeito picareta.

Vou lembrar uma história. Quando Sarney era presidente, em 1986, FHC ocupou por um tempo a liderança do governo no Senado. O país estava paralisado, a inflação estava no topo, nada dava certo – e eis que FHC, no dia 27 de fevereiro de 1986, rompe subitamente com o governo e, por meio de uma entrevista coletiva, lasca a ripa no presidente, “um sujeito indeciso, incapaz de reagir à crise”, disse. FHC foi impiedoso: “O presidente é um homem sem grandeza”. Dito isto, presumo que FHC e golpismo foi dormir com a alma lavada, certo de que os louros iriam premiar sua atitude destemida, embora insensata.

No dia seguinte, 28 de fevereiro de 1986, o presidente Sarney surpreendeu o Brasil, o mundo e o ex-líder do seu governo no Senado: lançou o Plano Cruzado, congelou os preços, convocou o povo (“meus fiscais”) – tudo isso sob a batuta do ministro Dilson Funaro, da Fazenda. Ou seja, a coisa foi planejada e ocorreu sem que o líder FHC soubesse do que estava sendo bolado por Funaro. Sarney calou a boca de FHC, da mesma forma que Mário Covas, anos depois, iria se opor a FHC, que estava disposto a aderir ao governo Collor. Covas sabia que a adesão do PSDB ao Collor era uma fria sem tamanho, enquanto FHC, tangido por presunção de esperteza, estava disposto a consumar a aliança implausível. Covas evitou que o PSDB entrasse numa fria.

Agora, FHC dá uma entrevista – e, lembrando José Américo de Almeida na reunião ministerial que fez Getúlio decidir pelo suicídio, falou que Temer devia praticar um “gesto de grandeza”, renunciando ao mandato. O que FHC não pensou é que, caso renunciasse, Temer estaria fazendo uma confissão de culpa. FHC é como o velho samba de Noel: não sabe o que diz.

Dito isto sobre o FHC, vamos ao que interessa: a denúncia do procurador Janot, cume de uma manobra golpista e execrável contra Temer e, consequentemente, contra as reformas e a Lavajato. Não digo isto por achar que Temer é uma maravilha. Não é. Mas não é também esse sujeito abominável que Janot, a Rede Globo e os oportunistas de plantão, muitos dos quais pendurados nas redes sociais, sugerem.

O que me espanta é a maneira torpe como Janot alicerça a denúncia contra o presidente da República no depoimento de um delinquente. Joesly confessou ter cometido mais de 200 crimes, subornado mais de 1800 pessoas – além de ampliar sua riqueza com dinheiro público, que ele afanou. Obteve um baita empréstimo do BNDES e o investiu nos EUA, o que é ilegal. Janot, no afã de atingir Temer, deu a Joesly um indulto raro, livrando-o das penas dos crimes que cometeu. Isto tudo me intriga: uma das condições da delação premiada é garantir o retorno aos cofres públicos da grana roubada pelo delator. Janot, contudo, fez um acordo que beneficia o delator, não o obrigando a ressarcir devidamente os cofres públicos. O que me pergunto: pode um procurador geral fazer isto?

Papel importante na trampa está sendo desempenhado pela Rede Globo – e sua tropa de jornalistas delinquentes. Em alguns casos, o comportamento de alguns deles é simplesmente miserável e canalha; noutros casos, o noticiário mergulha no besteirol e na desonestidade simples. Bom, mas isto é uma questão de biografia: cada um que cuide da sua.

A campanha contra Temer teve início logo que ele assumiu: primeiro, foi “acusado” de não ter experiência administrativa; depois, surgiram ilações canalhas sobre sua a mulher e filho. Ouviram-se críticas aos seus livros. Bem, a coisa foi crescendo numa sucessão absurda: seus principais ministros foram afastados, questionaram-se suas iniciativas, como a reforma do ensino médio, tendo a Rede Globo estimulado, através de reportagens mal intencionadas, a invasão das escolas e a destruição de bens públicos. Veio, enfim, a reforma – e o mundo não veio a baixo. Estabeleceu-se um teto de gastos – e mais ataques, alguns ridículos. A esquerda atrasada berrou: figuras grotescas, como o deputado Molon (um frango que pensa que é um galo), despontaram; o senadorzinho do Acre, Randolphe Rodrigues teve mais um dos seus habituais chiliques e achaques, não se sabendo até hoje o que ele pensa sobre a vida, as pessoas e as coisas. Gleisi, Lindenberg, Feghalli e Graziotin – o incrível quarteto que ainda adora Stalin e Enver Hoxha se pôs a recitar palavras de ordem típicas dos anos 1950. O controle de gastos, apesar de tudo, foi aprovado. Ano que vem – espero – esta tropa será repudiada pelos eleitores.

Na verdade, Temer foi atacado com uma voracidade espantosa. Houve o episódio da carne, que nos custou, ou quase, posições importantes no ranking das exportações mundiais do produto. Percebeu-se depois que o escândalo eclodira em razão de ações precipitadas e erradas da Polícia Federal. Mas o estrago já fora feito. Depois, falou-se que a ABIN, atendendo ordens diretas do presidente Temer, estava espionando o Janot e o Fachin, o que, apesar do ruído, não se confirmou. Acusaram-no de utilizar, em viagem familiar, o avião da JBS. Quilos de cocaína foram apreendidos, com acusações torpes ao ministro da Agricultura. A viagem de Temer à Rússia e à Noruega foi ridicularizada. Agora, a denúncia contra o presidente, baseada na delação de um notório escroque, que auferiu no acordo com Janot benesses e vantagens inacreditáveis.

Já chamei a atenção dos verdadeiros absurdos da denúncia de Joesley, a qual foi encampada por Janot e Rede Globo. A mais absurda é aquela que diz que os 500 mil da famosa mala fazia parte de um acordo, acertado entre Joesley e Temer, de pagamento semanal do primeiro ao segundo, durante os próximos vinte anos. Ora, o ano tem 52 semanas; logo, por ano, Temer receberia de Joesley, caso o acordo fosse verdadeiro, cerca de 26 milhões, perfazendo, em vinte anos, a bagatela de 520 milhões, ou seja, meio bilhão de reais. Desculpem, mas só idiotas podem acreditar nessa história. Temer tem pouco mais de um ano de governo: porque então pagar 500 mil por semana, durante 20 anos?

Mas a opinião pública, envenenada pelo jornalismo delinquente da Globonews, passou a repetir a tolice, repetindo nas redes sociais informações nitidamente mentirosas.


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Em tempo: por que a Polícia Federal suspendeu a emissão de passaportes no dia seguinte ao pronunciamento de Temer? Aviso que não acredito em coincidências e acasos. Algo há.

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