Nunca
pensei em começar um texto afirmando que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
é um sujeito que costuma perder o senso de oportunidade em face de situações em
que dele se espera, no mínimo, equilíbrio, serenidade prudência. Diante de
fatos novos e tensos, FHC age como um perfeito picareta.
Vou
lembrar uma história. Quando Sarney era presidente, em 1986, FHC ocupou por um
tempo a liderança do governo no Senado. O país estava paralisado, a inflação
estava no topo, nada dava certo – e eis que FHC, no dia 27 de fevereiro de
1986, rompe subitamente com o governo e, por meio de uma entrevista coletiva,
lasca a ripa no presidente, “um sujeito indeciso, incapaz de reagir à crise”,
disse. FHC foi impiedoso: “O presidente é um homem sem grandeza”. Dito isto,
presumo que FHC e golpismo foi dormir com a alma lavada, certo de que os louros iriam
premiar sua atitude destemida, embora insensata.
No
dia seguinte, 28 de fevereiro de 1986, o presidente Sarney surpreendeu o Brasil,
o mundo e o ex-líder do seu governo no Senado: lançou o Plano Cruzado, congelou
os preços, convocou o povo (“meus fiscais”) – tudo isso sob a batuta do
ministro Dilson Funaro, da Fazenda. Ou seja, a coisa foi planejada e ocorreu
sem que o líder FHC soubesse do que estava sendo bolado por Funaro. Sarney
calou a boca de FHC, da mesma forma que Mário Covas, anos depois, iria se opor
a FHC, que estava disposto a aderir ao governo Collor. Covas sabia que a adesão
do PSDB ao Collor era uma fria sem tamanho, enquanto FHC, tangido por presunção
de esperteza, estava disposto a consumar a aliança implausível. Covas evitou
que o PSDB entrasse numa fria.
Agora,
FHC dá uma entrevista – e, lembrando José Américo de Almeida na reunião
ministerial que fez Getúlio decidir pelo suicídio, falou que Temer devia
praticar um “gesto de grandeza”, renunciando ao mandato. O que FHC não pensou é
que, caso renunciasse, Temer estaria fazendo uma confissão de culpa. FHC é como
o velho samba de Noel: não sabe o que diz.
Dito
isto sobre o FHC, vamos ao que interessa: a denúncia do procurador Janot, cume
de uma manobra golpista e execrável contra Temer e, consequentemente, contra as
reformas e a Lavajato. Não digo isto por achar que Temer é uma maravilha. Não
é. Mas não é também esse sujeito abominável que Janot, a Rede Globo e os oportunistas
de plantão, muitos dos quais pendurados nas redes sociais, sugerem.
O
que me espanta é a maneira torpe como Janot alicerça a denúncia contra o
presidente da República no depoimento de um delinquente. Joesly confessou ter
cometido mais de 200 crimes, subornado mais de 1800 pessoas – além de ampliar
sua riqueza com dinheiro público, que ele afanou. Obteve um baita empréstimo do
BNDES e o investiu nos EUA, o que é ilegal. Janot, no afã de atingir Temer, deu
a Joesly um indulto raro, livrando-o das penas dos crimes que cometeu. Isto
tudo me intriga: uma das condições da delação premiada é garantir o retorno aos
cofres públicos da grana roubada pelo delator. Janot, contudo, fez um acordo
que beneficia o delator, não o obrigando a ressarcir devidamente os cofres
públicos. O que me pergunto: pode um procurador geral fazer isto?
Papel
importante na trampa está sendo desempenhado pela Rede Globo – e sua tropa de
jornalistas delinquentes. Em alguns casos, o comportamento de alguns deles é
simplesmente miserável e canalha; noutros casos, o noticiário mergulha no
besteirol e na desonestidade simples. Bom, mas isto é uma questão de biografia:
cada um que cuide da sua.
A
campanha contra Temer teve início logo que ele assumiu: primeiro, foi “acusado”
de não ter experiência administrativa; depois, surgiram ilações canalhas sobre
sua a mulher e filho. Ouviram-se críticas aos seus livros. Bem, a coisa foi
crescendo numa sucessão absurda: seus principais ministros foram afastados,
questionaram-se suas iniciativas, como a reforma do ensino médio, tendo a Rede
Globo estimulado, através de reportagens mal intencionadas, a invasão das
escolas e a destruição de bens públicos. Veio, enfim, a reforma – e o mundo não
veio a baixo. Estabeleceu-se um teto de gastos – e mais ataques, alguns
ridículos. A esquerda atrasada berrou: figuras grotescas, como o deputado Molon
(um frango que pensa que é um galo), despontaram; o senadorzinho do Acre,
Randolphe Rodrigues teve mais um dos seus habituais chiliques e achaques, não
se sabendo até hoje o que ele pensa sobre a vida, as pessoas e as coisas.
Gleisi, Lindenberg, Feghalli e Graziotin – o incrível quarteto que ainda adora
Stalin e Enver Hoxha se pôs a recitar palavras de ordem típicas dos anos 1950.
O controle de gastos, apesar de tudo, foi aprovado. Ano que vem – espero – esta
tropa será repudiada pelos eleitores.
Na
verdade, Temer foi atacado com uma voracidade espantosa. Houve o episódio da
carne, que nos custou, ou quase, posições importantes no ranking das
exportações mundiais do produto. Percebeu-se depois que o escândalo eclodira em
razão de ações precipitadas e erradas da Polícia Federal. Mas o estrago já fora
feito. Depois, falou-se que a ABIN, atendendo ordens diretas do presidente
Temer, estava espionando o Janot e o Fachin, o que, apesar do ruído, não se
confirmou. Acusaram-no de utilizar, em viagem familiar, o avião da JBS. Quilos
de cocaína foram apreendidos, com acusações torpes ao ministro da Agricultura. A
viagem de Temer à Rússia e à Noruega foi ridicularizada. Agora, a denúncia contra
o presidente, baseada na delação de um notório escroque, que auferiu no acordo
com Janot benesses e vantagens inacreditáveis.
Já
chamei a atenção dos verdadeiros absurdos da denúncia de Joesley, a qual foi
encampada por Janot e Rede Globo. A mais absurda é aquela que diz que os 500
mil da famosa mala fazia parte de um acordo, acertado entre Joesley e Temer, de
pagamento semanal do primeiro ao segundo, durante os próximos vinte anos. Ora,
o ano tem 52 semanas; logo, por ano, Temer receberia de Joesley, caso o acordo
fosse verdadeiro, cerca de 26 milhões, perfazendo, em vinte anos, a bagatela de
520 milhões, ou seja, meio bilhão de reais. Desculpem, mas só idiotas podem
acreditar nessa história. Temer tem pouco mais de um ano de governo: porque
então pagar 500 mil por semana, durante 20 anos?
Mas
a opinião pública, envenenada pelo jornalismo delinquente da Globonews, passou
a repetir a tolice, repetindo nas redes sociais informações nitidamente
mentirosas.
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Em
tempo: por que a Polícia Federal suspendeu a emissão de passaportes no
dia seguinte ao pronunciamento de Temer? Aviso que não acredito em
coincidências e acasos. Algo há.
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