terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Brasil ingovernável


O Brasil transformou-se num país ingovernável.

Qualquer presidente (seja de que partido for) ao se decidir tomar uma medida (seja ela qual for) é, imediatamente, bombardeado, ofendido, achincalhado pela mídia. As redes sociais que criticam os meios de comunicação, nada mais fazem que reproduzir o que disse a imprensa. Se a imprensa, em grande medida, é calhorda, as redes sociais, em sua maioria, também o são.

Imprensa e redes sociais se arvoram a dizer qualquer tolice em nome do direito (mais um!) de opinar sobre tudo, inclusive sobre o que não sabem. A verdade que o brasileiro é despolitizado, mas a participação em redes sociais lhe dá a falsa idéia de que tem consciência política.

Ouço e leio tantos absurdos (nos meios de comunicação e nas redes) que, às vezes, penso em me isolar do mundo. Estou cansado de ler ou ouvir que o “político tal” pensou, pensa, tem refletido, refletiu, como se o jornalista ou sujeito da rede tivessem o poder de penetrar no pensamento do dito cujo.

Assisti “The Post” – um belo manifesto em prol da liberdade de imprensa. Mas não só isto: “The Post” é, em todos os sentidos, uma aula de jornalismo, pois, além da liberdade de imprensa, mostra que o jornal defendeu o direito de divulgar fatos dos quais ele dispunha de provas – e não de suposições. No Brasil, a imprensa e as redes sociais vivem de suposições.

Dou um exemplo. Outro dia, o Boechat falou que Temer recebeu o diretor da Polícia Federal – e acrescentou malicioso: “fora da agenda”. Ora, o presidente pode receber quem quiser, no momento que quiser, mas a malícia do “fora da agenda” tinha um objetivo: se foi “fora da agenda”, a conversa girou em torno de alguma coisa fora da linha. Foi a repercussão que li nas redes sociais.

Estamos no carnaval. O prefeito Crivella, por exemplo, está sendo esquartejado porque deu aos blocos e escolas de samba bem menos grana do que eles costumam receber. Eu se fosse prefeito não daria um só centavo, mas como o brasileiro gosta de viver à custa do dinheiro público. Assim, todos cobram de Crivella uma grana que a prefeitura não tem. Quando o Brizola tomou posse, descobrimos que havia um folguedo – “banho de mar à fantasia” – que recebia grana do estado. A verba foi cortada – e um jornalista idiota disse que o Brizola era contra o carnaval.

Não perco minhas horas de leitura e sono assistindo a Broadway das Escolas de Samba. Minha neta, que veio almoçar comigo, disse que a Tuiuti e Beija-Flor fizeram, para gáudio dos idiotas, protestos e críticas. Afora o fato de que o desfile foi apropriado pela Rede Globo (tal qual o futebol brasileiro), nunca é demais sambar que as escolas de samba são dominadas pela contravenção, pelo crime organizado e foram cúmplices dos porões da ditadura. Tudo está bem contado no excepcional “Os porões da contravenção – jogo do bicho e ditadura militar: a história da aliança que profissionalizou o crime organizado”, de Aloy Jupizara e Chico Otávio. Este é um livro que todos deveriam ler. Aliás, todos já deveriam ter livro, pois é de 2015.

As críticas da Tuiuti e Beija-Flor são oportunistas e não merecem respeito. Não o meu, pelo menos. Quem aplaudiu essas escolas – bateu palmas para o crime, a corrupção e o desalinho político.