domingo, 26 de janeiro de 2020

Quem no Brasil defende a censura?


Diário do Velhote do Penedo (5)

Meu irmão Ricardo, prematuramente falecido, quando ouvia de alguém algo absurdo, usava uma expressão jocosa, com a qual criticava o autor da pérola: “Pô, parece que bebe!”
A expressão me veio à memória quando li que Ana de Holanda, irmã de Chico Buarque, se declarou “assustada” com a escolha de Regina Duarte para a secretaria de Cultura. Ana de Holanda, que foi, sem deixar saudade, ministra da Cultura no governo Dilma, afirmou ainda:
“Não posso comemorar o fato de Regina Duarte assumir, pois eu esperava dela um posicionamento mais firme em relação às declarações de Bolsonaro, de quando ele fala de filtro e faz defesa da censura”.
O Velhote do Penedo é contra a censura – e se ela for, um dia, proposta pelo governo brasileiro, pela ONU, pelo Papa, por Jesus Cristo ou todos juntos, ele será o primeiro a reagir e usar as armas de que dispõe para combatê-la. Embora septuagenário, o Velhote irá para as ruas, fará pichações, escreverá e divulgará pelos meios disponíveis a sua repulsa à censura ou ao cerceamento da liberdade.
Não entendi os comentários de Ana de Holanda – logo ela que fez parte de um governo que defendia abertamente, através do seu ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, o “controle social da mídia”, eufemismo ou sinônimo petista de censura. Martins era companheiro de Ana na estrutura governamental; ela, porém, nunca disse nada a respeito – nem mesmo de que estava ou ficaria “assustada”. Lembrem-se todos que o “controle social da mídia” consta do programa do PT, partido pelo qual a família Buarque de Holanda parece ter verdadeiro xodó.
Tudo isso parece muito estranho ao Velhote do Penedo.
Quando o jornalista e professor universitário Paulo César de Araújo escreveu “Roberto Carlos em detalhes” houve – para desgosto de todos nós – um movimento favorável à censura do citado livro. Tal movimento, fomentado pela ação que Roberto Carlos moveu na justiça contra o autor da biografia, contou com o apoio público e escancarado, entre outros, de Paula Lavigne, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Djavan, Milton Nascimento, Fafá de Belém, Chico César, Lenine, Erasmo Carlos e – eis: - Chico Buarque, irmão da assustada Ana de Holanda. Tais artistas, que sempre posaram de democratas e progressistas, alinharam-se no episódio – imaginem! – a Maluf, Feliciano e Bolsonaro, na época simples deputado federal.
Como se dizia no passado a respeito do futebol, a vida é uma caixinha de surpresa: enquanto Chico Buarque defendia a censura ao livro de PC Araújo, ouviu-se a voz encantadora de Valesca Popozuda, enfaticamente contrária à censura.
Aliás, a participação de Chico Buarque no episódio foi particularmente acabrunhante. Chico não só defendeu a censura como negou, em artigo publicado em “O Globo”, ter dada a PC Araújo um depoimento sobre Roberto Carlos. Paula Lavigne, no programa “Saia Justa”, da Globonews, reiterou as declarações de Chico Buarque – e aproveitou a ocasião para, muito cheia de si, desqualificar o livro (que não lera), o autor (que não conhecia) e a editora Planeta (que sequer sabia o que era).
A verdade é que, ao negar que tenha dado um depoimento ao PC Araújo, Chico Buarque, citado entre aspas em “Roberto Carlos em detalhes”, declarou que o autor da biografia do Rei era um mentiroso e, pior, um criminoso, pois forjara declarações que ele não dera. Contudo, viu-se que se havia um mentiroso no episódio este seria o Chico, pois PC Araújo divulgou a fita e o vídeo da entrevista que o compositor havia lhe concedido.
Chico Buarque, diante das evidências, admitiu que errara, afirmando que tinha esquecido da entrevista que dera a PC Araújo. A desculpa foi esfarrapada – mas apenas mostrou que o caráter de Chico Buarque estava a exigir uma lanternagem.
O livro “Roberto Carlos em detalhes” encontra-se até hoje proibido. É hoje raridade bibliográfica. Os exemplares que já haviam sido distribuídos, foram recolhidos das livrarias e do depósito (mais de 20 mil exemplares). Depois, foram levados ao crematório, onde foram incinerados por ordem de Roberto Carlos – e aplauso dos progressistas que defenderam a operação nazista.
Entenderam agora por que o Velhote do Penedo, ao ler o comentário de Ana de Holanda, se lembrou da expressão usada por seu irmão?

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