Declaração de Saramago
O texto abaixo é do escritor José Saramago. Beleza de texto, que todos devem ler e refletir a respeito. Vamos ao texto:
Na “Sagrada Família”, de Marx e Engels, existem umas quantas palavras que, para mim, são uma regra de ouro, e eu quase diria que todo o pensamento humanista está condensado ali em dez, doze ou quinze palavras: Se o homem é formado pelas circunstâncias, então é necessário formar as circunstâncias humanamente. Jamais se disse tanto em tão poucas palavras.
Para gerar seres humanos, é preciso de circunstâncias humanas. Eu diria que o capitalismo não quis fazê-lo, e o comunismo não soube fazê-lo. A situação saiu publicada há alguns meses na imprensa e parece que ninguém se deu conta: as 225 pessoas mais ricas do mundo possuem mais de quarenta por cento da riqueza mundial. Isso significa que elas têm mais dinheiro que 2,5 bilhões de seres humanos. Isso para mim não é formar as circunstâncias humanamente.
Ser comunista coerente é ter isso na cabeça e no coração. O Papa João Paulo II herdou a Inquisição e é Papa... e eu sou herdeiro de todos esses horrores também, mas ainda assim creio que um dia poderemos viver neste planeta dignamente. Porque não tem sentido que os Estados Unidos enviem a Marte um aparelho para ver como são as rochas do planeta, enquanto existem pessoas morrendo de fome aqui na Terra... é mais fácil chegar a Marte que a nosso semelhante.
Esse é um mundo onde se pode viver? Eu não sei se o socialismo e o comunismo algum dia poderão resolver isso, mas eu gostaria que isso acontecesse.
A única coisa que tenho certeza é que o capitalismo não o conseguirá.
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Da série: “O Brasil que jamais desejei” (I)
Salvatore Cacciola ganha habeas-corpus e deixa a prisão. Cumprirá o resto da pena (nove anos) em liberdade. Pela segunda vez Cacciola é beneficiado por um habeas corpus. Da primeira vez, ele fugiu para a Itália. Fará agora o mesmo? Ou ficará, usufruindo as delícias do patropi, vulgo Bananão?
No país da impunidade, onde os mensaleiros estão soltos, os corruptos dos Correios, do Ministério dos Transportes, do Ministério do Turismo, do Ministério da Agricultura e muitos outros corruptos só foram demitidos, estão soltos e não foram obrigados a devolver o que roubaram. Cacciola, cujas negociatas custaram aos nossos impostos quase dois bilhões, tem mesmo é que ficar por aqui. Quem sabe no próximo carnaval ele não seja destaque no desfile das escolas de samba?
Enquanto isso professores públicos de diversos estados que recebem por mês uma merreca estão em greve. Querem ganhar 5% a mais do que ganham.
Políticos jubilosos
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Da série: “O Brasil que jamais desejei” (II)
Em Belém, uma gestante, prestes a dar a luz, procurou a Santa Casa, mas foi barrada sob a alegação que a UTI infantil estava superlotada. Tentou outro hospital público – e, da mesma forma, não foi atendida. Acabou dando a luz a gêmeos dentro da ambulância dos bombeiros. As duas crianças morreram. Pois é. Morreram!
O governador mandou abrir sindicância, que, claro, não vai dar em nada.
Mas em compensação os paraenses, inclusive os pais dos gêmeos mortos, vão ter que votar no plebiscito sobre a divisão do território do Pará em três estados. Ou seja: em três governadores, três bancadas de deputados federais, nove senadores (três por estado), três Assembleias Legislativas, três poderes judiciários, três conjuntos de secretários de estado, e assim por diante.
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Da série: “O Brasil que jamais desejei” (III)
Brasília está construindo um estádio de futebol de dar inveja aos países ricos do mundo. Vai custar, segundo os últimos cálculos, a bagatela de 1 bilhão e 400 milhões! Depois da Copa, o magnífico e caríssimo estádio de futebol de Brasília, capaz de receber a um público de 70 mil torcedores, vai servir como palco das emocionantes partidas entre as equipes do Guará, Ceilândia, Brasiliense, entre outras notáveis agremiações. Equipes que nos últimos três anos levaram, aos estádios de Brasília, em média, menos de quatro mil pessoas por partida.
Enquanto isso a educação, a saúde, o transporte público de Brasília...
Em breve, Arranca Toco versus Forrobodó, o clássico brasiliense!
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