Quanto ruim, pior sempre.
1 - A cada dia, um novo susto. Não é que agora se descobriu que, em Pernambuco, um empresário (!) importava lixo hospitalar dos Estados Unidos! Além de seringas, sondas, luvas e jalecos usados, o cidadão comprava lençóis (ainda manchados de sangue!), usando para confeccionar panos de chão, de prato e forros de bolsos, que eram vendidos para as confecções de roupas masculinas. A Polícia Federal descobriu – e foi lá – um hotel quer utilizava os lençóis diretamente.
2 – A propósito do escândalo que envolve agora o ministro dos Esportes, vale um depoimento. Ao longo da minha vida, convivi com militantes do PCdoB. Desde o tempo que eles seguiam, resolutamente, o pensamento do camarada Mao e os ensinamentos do camarada Enver Hoxha, líder da Albânia, que eles chamavam de "Farol da Humanidade". Tive um amigo, Lincoln Bicalho, meu contemporâneo da velha FNFi, que morreu nas mãos de assassinos torturadores. Lincoln foi uma das pessoas mais brilhantes que conheci na minha vida.
Sempre respeitei, embora tivesse divergências, a firmeza ideológica dos militantes do PCdoB. Firmeza que os fizeram combater a ditadura no episódio heroico da Guerrilha do Araguaia, que, um dia, será contado em seus mínimos detalhes. Hoje, o PCdoB misturou-se a setores atrasados, conservadores e reacionários da política brasileira. Ninguém se mistura a tais setores impunemente: taí no que deu.
Dois livraços
1 – “Os últimos soldados da guerra fria”, de Fernando Morais. Conta a história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita nos Estados Unidos.
Os telejornais brasileiros vendem aos seus ouvintes uma visão dicotômica da vida e do mundo. Terrorismo? É coisa de bárbaros contra os Estados Unidos e seus aliados. Façamos, porém, uma pergunta: por que os telejornais brasileiros não noticiam o terrorismo planejado nos EUA e executado por americanos em outros países?
Uma história: em seis de outubro de 1976, um avião da Cubana de Aviación explodiu em pleno voo próximo às costas de Barbados. Morreram seus 73 tripulantes e passageiros, entre os quais a delegação infanto-juvenil de esgrima de Cuba, que acabara de participar e ganhar todas as medalhas de ouro do Campeonato Centro-Americano, em Caracas. Esta história não saiu no Jornal Nacional.
Os autores materiais do crime foram os venezuelanos Hernán Ricardo Lozano e Freddy Lugo. Eles agiram de acordo com instruções recebidas de Orlando Bosch Ávila e Luis Posada Carriles.
Lozano e Lugo tinham tomado o avião em Caracas. Desembarcaram em Barbados, não sem antes deixar uma bomba preparada por explodir no banheiro da cabine de passageiros. Tomaram um táxi na porta do aeroporto e se hospedaram no Hilton Hotel local, de onde fizeram uma chamada telefônica para a empresa Investigações Comerciais e Industriais de Centro-América, Icica, em Caracas. A mensagem foi lacônica: “O serviço já foi feito”. No meio cubano-americano de Miami, a notícia correu assim: Un ómnibus com 73 perros a bordo se había caído por um precipício y todos habían muerto (Numa tradução livre: um ônibus com 73 cães a bordo caiu num precipício e todos os cães morreram).
Presos no dia seguinte, Lugo e Lozano confessaram a autoria do crime e entregaram os nomes dos mandantes. Julgados em Caracas, os dois foram condenados a vinte anos. Posada Carriles passou nove anos encarcerado na Venezuela, mas fugiu, refugiou-se em El Salvador e, finalmente, desembarcou em Miami, onde financiou centenas de atos terroristas em Cuba, muitos dos quais resultaram em mortes de cubanos e turistas estrangeiros. Bosch foi libertado por interferência do embaixador americano. Em Miami, associou-se mais uma vez a Posada Carriles.
Depois de centenas, talvez milhares, de atentados terroristas, que atingiram hotéis, lojas, restaurantes e bares, na Ilha, e diversas embaixadas e consulados cubanos em Lisboa, Madri, Ottawa, Itália, o governo cubano, num plano secretíssimo, infiltrou agentes do seu serviço secreto nas organizações de extrema direita nos Estados Unidos. Foram anos e anos de atividade – e a ação desses agentes evitou ataques contra Cuba e permitiu que órgãos de segurança do Estado cubano prendessem terroristas que, disfarçados de turistas, iam cometer crimes na ilha.
O livro de Fernando Morais é todo ele embasado em documentos obtidos tanto nos Estados Unidos como em Cuba, além de depoimentos orais.
2 – “Imprensa, humor e caricatura – a questão dos estereótipos culturais”, de Isabel Lustosa (organizadora). O livro compõe-se de 22 artigos sobre a imprensa ilustrada latino-americana e europeia, do século XVIII ao XXI.
De todos os artigos do livro, o velho professor do Penedo destaca três: a) “Nostalgia e novidade”, de Laura Nery, que estuda a carreira do caricaturista Raul Pederneiras, que, na sua obra, destacou os conflitos e contrastes sociais do início da República; b) “O português da anedota”, de Isabel Lustosa e Robertha Triches, que discute, é claro, a presença do português nas piadas criadas por brasileiros. O artigo merece ser lido não só pelo tema, mas pelo bom humor da sua abordagem; c) “Os jornalistas macarrônicos da imprensa humorística paulista”, de Paula Ester Janovitch. O termo “macarrônico” é usado quando alguém pronuncia mal uma língua. Um dos “jornalistas macarrônicos” destacado pela autora foi Juó Bananere, que mereceu, de Otto Maria Carpeaux, um importante estudo crítico.
Enfim, o livro, além de conter importante documentação histórica, analisa politicamente o humor, contextualizando-o na cultura e na história de vários países.
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