terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Maquiavel e a corrupção

As dicas sobre como se deve ler O príncipe, de Maquiavel, explicam o seu uso por todas as correntes políticas modernas. Na verdade, a expressão “maquiavelismo” continua sendo empregada, por curiosos, estudiosos e políticos de diversos matizes, em dois sentidos: como doutrina que permite o estadista utilizar a fraude, a mentira e a traição para atingir seus objetivos; e como eficiente e sutil teoria política, que nos cabe estudar para compreendê-la bem e agir segundo seus ensinamentos.
As duas abordagens não se excluem, mas se interligam. Na verdade, O príncipe não é rigorosamente um tratado de ciência política. É uma obra ditada pelo pragmatismo; trata-se, antes de tudo, de um manual daquilo que hoje chamaríamos de “marketing político”. Um manual sobre a conquista e o fortalecimento do poder absoluto – e, como tal, rico em conselhos e ensinamentos, o que o faz ser, ainda hoje, livro de leitura obrigatório, mormente pelos que desfrutam ou almejam o poder.
A idéia de que o “maquiavelismo” é um sistema político caracterizado pelo princípio amoralista de que os fins justificam os meios é, sem dúvida, parcialmente verdadeiro – e, no Brasil, muitos políticos e dirigentes públicos agem nesse sentido. Todavia, é certo ainda que na doutrina de Maquiavel, virtude, competência e eficiência, sintetizados na palavra virtú, ocupam posição central, juntamente com a fortuna, ou seja, a sorte, o acaso, as circunstâncias. Segundo Maquiavel, a combinação da virtude (competência) e da fortuna (sorte) decide o destino dos políticos.
Inegável, porém, que O príncipe é obra de grandes ensinamentos práticos, que os políticos, principalmente os políticos brasileiros, nem sempre obedecem. Um deles, em particular, tem um especial significado hoje no Brasil. Ele está bem escrito no capítulo XXI do livro, cujo título diz tudo: “Como um príncipe deve agir para ser estimado”. Maquiavel é claro e direto:
“Nada torna um príncipe mais estimado do que ele realizar grandes empreendimentos e dar altos exemplos através de sua conduta”.
Esta é a questão a ser destacado: tido como autor de um livro amoral, Maquiavel exige do príncipe, ou seja, daquele que detém o poder, bons exemplos de conduta.
Pena que essa sugestão nem sempre seja seguida pelos políticos brasileiros.

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Os grandes da MPB (7)
Apresentamos hoje "Izaías e seus chorões", numa das páginas mais bonitas da MPB: Pedacinho do Céu, de Waldir Azevedo.




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