O texto abaixo – Hoje, os
bravos venceram – é de Milton Pinheiro, jornalista e membro da direção
política do Partido Comunista Brasileiro, PCB. Eu o transcrevo como eu o
recebi: é um texto iracundo, veemente, que nos leva às entranhas do nosso país.
Não há outra maneira de lê-lo, a não ser com a indignação dos que sofreram
direta ou indiretamente com a repressão militar.
O texto de Milton Pinheiro se
refere ao depoimento do delegado Cláudio Antonio Guerra, mostradas no livro
“Memórias de uma guerra suja”, de Marcelo Netto e Rogério Medeiros. Este livro,
editado pela Topbooks, nos fala das violências e torturas cometidas nos porões
da ditadura. O torturador e assassino Cláudio Antônio Guerra confessa, sem o
mínimo pudor, os crimes que cometeu, entre os quais o de Nestor Veras,
comentado por Milton Pinheiro no texto que transcrevo abaixo.
A ira de Milton Pinheiro se
justifica plenamente. Após a leitura do artigo, corram à livraria e comprem
“Memórias de uma guerra suja”. Verão um pouco do Brasil e muito da ditadura militar
que desgraçou este país.
Hoje, os bravos venceram.
Milton Pinheiro
Os
últimos dias foram marcados pelo horror que vazou dos porões da ditadura, que
se encontra em polvorosa diante da possibilidade da comissão da verdade se
estabelecer. São informações colhidas pelos jornalistas que entrevistaram o
verme Cláudio Antônio Guerra, delegado do DOPS do Espírito Santo, refugiado na
aposentadoria que o Estado conivente lhe premiou, sobre o desaparecimento de
presos políticos.
Não estou preocupado se a confraria do crime matou o
comparsa, Sérgio Fleury. Estou indignado pelo conjunto das informações que esse
celerado, Cláudio Guerra, passou. São crimes contra a humanidade, são manifestações
de bestialidade organizada pela classe dominante para manter os seus
privilégios.
Hoje, 3 de maio, acordei com o compromisso de encontrar
camaradas: homens e mulheres, na frente do ex-prédio do DOI-CODI na Rua Tutóia,
para fazermos uma manifestação cobrando punição para os criminosos da ditadura
burgo-militar de 1964.
Marchei para o ponto marcado, fazia frio nas cercanias
do Ibirapuera e o dia estava cinzento. Lá estavam jovens indignados, ex-presos
políticos que sobreviveram ao massacre da ditadura, e militantes. Ouvimos depoimentos
dos sobreviventes do “porão do inferno”, visitamos o fundo do prédio onde
muitos foram martirizados e foram assassinados, mais de 50 heróis do povo
brasileiro, entre eles, os comunistas Vladimir Herzog e Manoel Fiel Filho.
A manifestação prosseguiu, os nomes dos bravos
lutadores assassinados foram levantados, e tal qual a lança do guerreiro, o
brado forte dos presentes cortou o vento gelado e fez surgir o sol entre nós.
Um-a-um, o nome dos mártires foi saudado pelo grito forte de “presente, agora e
sempre”.
Entre tantos nomes saudados pela memória dos presentes,
bravos homens e mulheres, um, ecoou pelo pátio da delegacia e adentrou o meu
pensar, “Nestor Veras: presente, agora e sempre”. Mas em tempos de combate,
onde a terra ainda é tingida de sangue no Brasil, quem é esse homem que lutou
ao lado dos trabalhadores e pelo futuro, entregou a sua vida?
Nestor Veras, líder camponês, nasceu em 19 de julho de
1915, em Ribeirão Preto, São Paulo. Era dirigente do CC do Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e encarregado do trabalho no campo. Foi dirigente da ULTAB e
da CONTAG, fundador e editor do jornal Terra Livre. Ao lado de Francisco
Julião e Alberto Passos Guimarães, organizou o Congresso Camponês que ocorreu
em Belo Horizonte, em 1961. Cassado pelo AI-I foi condenado a cinco anos de
cárcere pela LSN – lei de segurança nacional, passou a viver na clandestinidade,
mesmo tendo uma companheira e cinco filhos.
Esse bravo comunista foi preso em abril de 1975, quando
passava na frente de uma drogaria, em Belo Horizonte. Estava desaparecido até
ontem, quando ficamos sabendo, via um representante da escória da ditadura, que
Nestor Veras “tinha sido muito torturado e
estava agonizando. Eu lhe dei o tiro de misericórdia, na verdade dois, um no
peito e outro na cabeça. Estava preso na Delegacia de Furtos em Belo Horizonte.
Após tirá-lo de lá, o levamos para uma mata e demos os tiros. Foi enterrado por
nós.”
Após ter participado da manifestação, pela tarde
fui para meu rotineiro trabalho de pesquisa no arquivo do Centro de
Documentação e Memória da UNESP, o CEDEM. Lá encontrei um jovem estudante da
UNIFESP que trabalhava com um conjunto de caixas do arquivo que continham
informações da luta camponesa e da reforma agrária no Brasil, todas com o nome
de Nestor Veras. Examinei as caixas com os documentos e encontrei a presença do
dirigente camponês em tudo: textos, recortes de jornais, artigos na Voz
Operária, congressos, assembléias, conferências, resoluções, informes,
análise sobre as lutas dos trabalhadores do campo e da cidade. Esse foi o
camponês que pensou o Brasil e lutou pela revolução socialista. Nestor Veras,
homem simples da classe trabalhadora que teve um texto seu, colocado em um
livro da Brasiliense por Caio Prado Júnior. Homem de combate, mas que
encontrava tempo para tocar clarineta para os filhos.
Comovido diante daquela cena, pude então compreender
que os bravos que tombaram, de forma desassombrada, pelos interesses dos trabalhadores
brasileiros, venceram. Eles venceram o silêncio da repressão e a
conivência do Estado, venceram o luto cínico das instituições e o papel asqueroso
da imprensa burguesa. Eles venceram, porque estão presentes na vontade de saber
da juventude, venceram porque marcham ao nosso lado na luta sem trégua pela
revolução brasileira.
Hoje, mais do que nunca, os bravos venceram!
E nós, militantes em defesa da humanidade saberemos,
quando chegar o momento, honrar o compromisso feito por Carlos Danielli
(momentos antes de ser assassinado) ao escrever com o líquido vermelho das suas
veias nas paredes do DOI-CODI: “o meu sangue será vingado”. Afinal, “por nossos
mortos nem um minuto de silêncio, toda uma vida de combate”.
*****
Y así pasan los
días (4)
·
No último dia 5 estive em Poços de Caldas,
onde participei da 12ª versão da Feira de Livros de Poços de Caldas (Flipoços).
Proximamente trarei aqui mais informações a respeito, inclusive fotos.
·
“Tia” Dilma está enfrentando a resistência
dos bancos particulares de reduzirem as taxas de lucros. Muito bem, “tia”
Dilma!
·
“Tia” Dilma está se mostrando uma mulher de
fibra e digna. Não votei nela, mas reconheço a sua coragem e valor. Avante, “tia”
Dilma!
·
Vamos dar força à “tia” Dilma, gente!
Endividados do meu Brasil: vamos dar um enorme beiço nos bancos! Hoje sabemos o
quanto de escorchante os bancos cobravam dos endividados brasileiros. Não há
porque se submeter aos bancos! Vamos lugar contra os bancos: ENDIVIDADOS, NÃO
PAGUEM SUAS DÍVIDAS, A NÃO SER QUE OS BANCOS QUEIRAM RENEGOCIAR OFERECENDO AOS
ENDIVIDADOS REDUÇÃO DOS JUROS, COMPATÍVEIS COM OS DOS BANCOS OFICIAIS!
·
Começou o julgamento dos assassinos do
prefeito Celso Daniel!
·
Dados
do Censo de 2010 mostram a situação do ensino brasileiro. Metade da população
brasileira (45%) não possuem ensino fundamental completo. OK, há dez anos, esse
percentual era de quase 60%. Mas o nível tecnológico de exigência educacional
é, hoje, muito mais elevado que há dez anos. Portanto, é possível que os 45%
atuais sejam, na realiudade, “maiores” que os anteriores 60%, não acham?
·
Tal percentual, quando vistos nos estados,
fazem a gente ranger os dentes: Alagoas possue 60% da população sem o ensin o
fundamental completo; o Piauí, 58%; a Paraíbva, 57%. Agora, o Rio de Janeiro:
36% da sua população não possue ensino fundamental completo, é possível!
·
Para concluir: entre mil escolas com as
piores notas do Enem, 965 são estaduais. É, a coisa vai mal, muito mal!
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Sílvio
Caldas, o grande seresteiro
Hoje, o vídeo é
de Sílvio Caldas. Ele canta “As pastorinhas”, de Noel Rosa e João de Barro.
Ouçam e curtam!
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