sábado, 27 de julho de 2013


Jornal do Velhote do Penedo

Um jornal a serviço de ideias desabusadas

Segunda-feira, 29 de julho de 2013

Editorial

O mundo tecnológico garantiu ao ser humano uma série de possibilidades e facilidades – a maior delas, talvez, seja a de lhe permitir comunicação fácil e direta com a humanidade, através da Internet, Facebook e outros mecanismos das redes sociais. Sou de um tempo, ainda estudante universitário, que o nosso principal meio de comunicação era o mimeógrafo (nem xerox tínhamos!) e a sua distribuição era sempre mão a mão.

Lutei muito na minha vida contra todos os tipos de injustiças. Lutei contra a ditadura. Lutei com a miséria do povo brasileiro, lutei contra a deseducação e contra uma rede pública de saúde vergonhosa e humilhante para quem dela necessita. Lutei contra tudo aquilo que julguei injusto. Talvez, por isso, vivo de uma aposentadoria e só possuo um bem, a casa onde moro adquirida mediante de um financiamento bancário.

Não sei se minhas lutas foram em vão. Tornei-me professor universitário na presunção de que minha voz, em sala de aula, tivesse o poder de conquistar jovens aliados. Desisti de ser professor porque percebi que o ensino superior, com as exceções de praxe, transformou-se numa máquina de produção e distribuição de diplomas, e não de um centro de geração de conhecimentos e disseminação de saber. O capitalismo é isso aí: transforma tudo em mercadoria – e a mercadoria transformou-se numa delas.

Fiz muitas coisas na minha vida: casei, tive três filhos, tenho três netos, escrevi dez livros e dezenas de artigos e ensaios, fiz muitos amigos queridos, jamais prejudiquei ninguém nem abusei de subalternos e de gente mais fraca que eu. Cultivei o sentimento da solidariedade e nunca deixei de ajudar àqueles que precisaram de mim.

Não sou um ser perfeito, nem um poço de virtudes. Tenho ódio (a palavra é essa mesma!) de todos que torturaram na ditadura e torturam nos presídios e cadeias, desprezo todos que abusaram de crianças e estupraram mulheres. Não defendo a pena de morte, mas todos esses criminosos deveriam estar encarcerados pelo resto da vida, sem direito a qualquer tipo de visita. Político corrupto deveria ser condenado sumariamente a devolver o que roubou – e cumprir prisão perpétua, sem direito a recurso.

Hoje disponha apenas de uma trincheira: meu computador. Com ele converso e mando minha mensagens aos meus amigos, com ele escrevo meus livros, mando minhas brasas, com meu computador escrevo meu blog e, agora, dentro do meu blog escrevo o Jornal do Velhote do Penedo. Ele circulará uma vez por semana, sempre às segundas-feiras. Espero que meus leitores gostem. E contribuam.

Da série: O que é vandalismo?

1 – Deu no O Globo (21/07/2013). Há 89 mil brasileirinhos entre 5 e 9 anos trabalhando o Brasil, a maioria em condições desumanas. Enquanto isto, o cachorrinho Juquinha do governador Sérgio Cabral passeia de helicóptero adquirido com o dinheiro dos nossos impostos. Isto, sim, é vandalismo – ou não é?

2 – O presidente nacional do PT, Rui Falcão, declarou (O Globo: 13/07/2013) que os militantes do seu partido não foram às ruas durante as manifestações porque agora estão empregados. O Velhote do Penedo não se surpreendeu com tal declaração: de fato, após 10 anos de governo petista, a antiga militância do PT ocupou mais de trinta mil cargos comissionados criados justamente por Lula e Dilma para abrigar os “aliados”. Vandalismo?

3 – Segundo o Correio Braziliense (14/07/2013), prefeituras forjam licitações para “reconstruir” edificações e embolsam mais da metade dos 4,5 milhões de reais repassados pela União. A roubalheira campeia no Brasil. Roubalheira, sim, é vandalismo.

4 – A jornalista Leilane Neubarth tem uma com pulsão incontrolável de dizer besteira. Comentando a viagem do Papa Francisco ao Brasil ela nos informou que a viagem foi longa e que o avião que trazia Francisco atravessou “oceanos para chegar ao Brasil”. Bem, eu aprendi que entre a Europa e o Brasil só existe um oceano: o Atlântico.

Prêmio Guilhotina de Ouro
O Jornal do Velho do Penedo instituiu o Prêmio Guilhotina de Ouro a ser outorgado aos políticos e dirigentes públicos brasileiros. O prêmio será mensal e premiará ao político ou dirigente público mais calhorda do mês. Os leitores poderão votar livremente.

Um livraço

Trata-se do livro Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo, do jornalista Mário Magalhães (São Paulo, Companhia das Letras, 2012, 732 p.).
Embora o livro seja centrado na biografia de Marighella, ele é também uma bela e bem informada história do Brasil do século XX. Não é também um livro de loas ao guerrilheiro, mas uma análise a mais isenta possível da sua vida de militante, dos tempos de estudante em Salvador à noite de 4 de novembro de 1969, quando que foi covardemente assassinado pelo torturar Sérgio Paranhos Fleury e seus asseclas. A tocaia surpreendeu Marighella desarmado e sentado no banco de trás de um fusca.

Aqui e ali pode-se fazer algumas ressalvas ao livro. Um exemplo: ele pouco fala no racha de 1958 do Partidão, do qual surgiu o Partido Comunista do Brasil, PcdoB, que viria, em fins dos anos 1960, desencadear a Guerrilha do Araguaia, uma das mais importantes lutas contra a ditadura brasileira.

Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo é um livro que recomendo a todos interessados em conhecer uma fase crítica da história brasileira. Por ele, além de Marighella, desfilam figuras notáveis da luta conta contra a ditadura, como Zuleika Alambert, Mário Alves (morto na tortura), Diógenes Arruda, Gregório Bezerra, Leonel Brizola, Apolônio de Carvalho, Marcos Antônio Braz de Carvalho (morto na tortura), Clara Charf (mulher de Marighella), Joaquim Câmara Ferreira (o 2º de Marighella na ALN, morto na tortura), Carlos Eugênio Coelho Sarmento da Paz (autor do livro Viagem à luta armada: memórias da guerrilha, Zilda Paula Xavier Pereira (que perdeu dois filhos na guerrilha, Alex e Iuri Xavier Pereira) e Virgílio Gomes da Silva (moto na tortura), entre muitos outros mortos e vivos).


20 anos da Chacina da Candelária

Na madrugada do dia 23 de julho de 1993, aproximadamente à meia-noite, vários carros pararam em frente à Igreja da Candelária. Dos carros desceram pelo menos 4 homens (policiais) e, sem dizer uma só palavra, abriram fogo contra mais de 70 crianças e adolescentes que dormiam nas proximidades da Igreja. 8 jovens morreram e diversas outras ficaram feridas. Nomes e idades dos mortos:

·         Paulo Roberto de Oliveira, 11 anos;

·         Anderson de Oliveira Pereira, 13 anos;

·         Marcelo Cândido de Jesus, 14 anos;

·         Valdevino Miguem de Almeida, 14 anos;

·         “Gambazinho”, 17 anos;

·         Leandro Santos da Conceição, 17 anos;

·         Paulo José da Silva, 18 anos;

·         Marcos Antônio Alves da Silva, 19 anos.

Apesar de todas as dificuldades possíveis (afinal, todos eram policiais) quatro policiais foram indiciados pela chacina:

·         Marcus Vinicius Borges Emmanuel – Foi condenado a 309 anos de prisão em primeira instância. Recorreu a sentença e, num segundo julgamento, foi condenado a 89 anos. Insatisfeito com o resultado, o Ministério Público pediu novo julgamento e, em fevereiro de 2003, Emmanuel foi condenado a 300 anos. No entanto, o assassino foi liberado da prisão em 29 de junho de 2012.

·         Nélson Oliveira dos Santos – Foi condenado a 243 anos de prisão pelas mortes da chacina. Recorreu, sendo absolvido pelas mortes, mesmo a após ter confessado o crime. O Ministério Público recorreu e, em 2000, Nelson foi condenado a 45 anos. Nelson Oliveira Santos, contudo, está solto, em liberdade condicional.

·         Marcos Aurélio Dias Alcântara – Foi condenado a 204 anos de prisão, inclusive porque, além de matar, estuprou um adolescente. No final de 2010, contudo, conseguiu indulto e também foi libertado.

·         Arlindo Lisboa Afonso Júnior – Condenado a apenas 2 anos por ter em seu poder uma das armas usadas bo crime.

Não indiciado:

·         Carlos Jorge Liaffa – Não foi indiciado, mesmo tendo sido reconhecido por um sobrevivente.

A Chacina da Candelária, como se sabe, foi um crime bárbaro, covarde e cruel. Todos os assassinos estão soltos, o que é uma prova cabal que a justiça brasileira (e não só a justiça) precisa passar por profunda reformulação.


As manifestações e o governador Sérgio Cabral

O povo pode e deve ir às ruas sempre que se sentir lesado, ofendido e humilhado. E não só isso: se parte do povo for lesado, ofendido e humilhado, a outra parte do povo deve se juntar a ele – e demonstrar nas ruas, nas praças e avenidas que a ofensa e a humilhação que atinge alguns atinge, na verdade, a todos. A solidariedade é o mais belo sentimento humano – e é ele, mais que tudo, que deve unir o povo.

Desde a época que minha geração enfrentava os belequins da ditadura militar, sabemos que a violência, em geral, parte sempre da própria polícia ou de policiais infiltrados entre os manifestantes.

Isto, é claro, não ocorre por acaso: a intenção da polícia e dos agentes infiltrados é justificar a própria violência desenfreada da polícia, que não trepida em agredir jovens de ambos os sexos, prender, ameaçar, atirar bombas de efeito moral (vencidas!) e disparar balas de borracha, contando com o apoio e aplauso da mídia, principalmente da Rede Globo e da GloboNews, cujos comentaristas e repórteres, entre asneiras e disparates, limitam-se exclusivamente a denunciar – horror! – a violência dos manifestantes e a ação – horror! – apaziguadora da polícia.

Semana passada, por exemplo, o jornalista Ancelmo de Góes, de O Globo denunciou que há quase 100 mil crianças entre 5 e 11 anos trabalhando no Brasil, alguns em condições precárias. Não vi os comentaristas da Rede Globo nem da GloboNews falarem um só para palavra a respeito dessa denúncia. Como o Velhote do Penedo tem dito aqui sempre: “vandalismo” é isso! E mais: o Velhote não se surpreenderia se parte dessa criançada infeliz trabalhasse, como escravos, em fazendas de políticos!

Na semana passada prenderam o estudante Bruno Ferreira Telles nas imediações do Palácio Guanabara, sede do governo do Estado do Rio. A alegação era a de que ele portava 11 coquetéis molotov em sua mochila. O estudante foi espancado, preso e seviciado por um grupo de policiais. Ocorre que ficou constatado que o jovem Bruno Ferreira Telles não trazia nenhum artefato explosivo com ele. Foi solto sem receber sequer um pedido de desculpas.

Bruno era uma das centenas pessoas que protestavam contra o governador Sérgio Cabral, um sujeito que já demonstrou não possuir condições morais de permanecer no cargo de governador do Rio de Janeiro. Além de esbanjar cerca de 1,4 bilhão na reforma do Maracanã. Sérgio Cabral adquiriu um helicóptero, cuja serventia é levar sua família às quintas-feiras para Mangaratiba, família da qual faz parte o cachorrinho Juquinha. Segundo um piloto do helicóptero que não quis se identificar, o helicóptero serve de transporte à manicure da madame, esteticista, amiguinhos do casal, coleguinhas dos filhos do casal. Um dia, o helicóptero fez uma viagem extra ao Rio para buscar um vestido da madame Cabral que o havia esquecido.

Enquanto isso, hospitais, escolas, creches mantidos pelo estado estão caindo aos pedaços.

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