Jornal do Velhote do Penedo
Um
jornal a serviço de ideias desabusadas
Segunda-feira, 29 de julho de 2013
Editorial
O
mundo tecnológico garantiu ao ser humano uma série de possibilidades e
facilidades – a maior delas, talvez, seja a de lhe permitir comunicação fácil e
direta com a humanidade, através da Internet, Facebook e outros mecanismos das
redes sociais. Sou de um tempo, ainda estudante universitário, que o nosso
principal meio de comunicação era o mimeógrafo (nem xerox tínhamos!) e a sua
distribuição era sempre mão a mão.
Lutei
muito na minha vida contra todos os tipos de injustiças. Lutei contra a
ditadura. Lutei com a miséria do povo brasileiro, lutei contra a deseducação e
contra uma rede pública de saúde vergonhosa e humilhante para quem dela
necessita. Lutei contra tudo aquilo que julguei injusto. Talvez, por isso, vivo
de uma aposentadoria e só possuo um bem, a casa onde moro adquirida mediante de
um financiamento bancário.
Não
sei se minhas lutas foram em vão. Tornei-me professor universitário na
presunção de que minha voz, em sala de aula, tivesse o poder de conquistar
jovens aliados. Desisti de ser professor porque percebi que o ensino superior,
com as exceções de praxe, transformou-se numa máquina de produção e distribuição
de diplomas, e não de um centro de geração de conhecimentos e disseminação de
saber. O capitalismo é isso aí: transforma tudo em mercadoria – e a mercadoria
transformou-se numa delas.
Fiz
muitas coisas na minha vida: casei, tive três filhos, tenho três netos, escrevi
dez livros e dezenas de artigos e ensaios, fiz muitos amigos queridos, jamais
prejudiquei ninguém nem abusei de subalternos e de gente mais fraca que eu.
Cultivei o sentimento da solidariedade e nunca deixei de ajudar àqueles que
precisaram de mim.
Não
sou um ser perfeito, nem um poço de virtudes. Tenho ódio (a palavra é essa
mesma!) de todos que torturaram na ditadura e torturam nos presídios e cadeias,
desprezo todos que abusaram de crianças e estupraram mulheres. Não defendo a
pena de morte, mas todos esses criminosos deveriam estar encarcerados pelo
resto da vida, sem direito a qualquer tipo de visita. Político corrupto deveria
ser condenado sumariamente a devolver o que roubou – e cumprir prisão perpétua,
sem direito a recurso.
Hoje
disponha apenas de uma trincheira: meu computador. Com ele converso e mando
minha mensagens aos meus amigos, com ele escrevo meus livros, mando minhas
brasas, com meu computador escrevo meu blog e, agora, dentro do meu blog
escrevo o Jornal do Velhote do Penedo.
Ele circulará uma vez por semana, sempre às segundas-feiras. Espero que meus
leitores gostem. E contribuam.
Da série: O que é vandalismo?
1 – Deu no O Globo
(21/07/2013). Há 89 mil brasileirinhos entre 5 e 9 anos trabalhando o Brasil, a
maioria em condições desumanas. Enquanto isto, o cachorrinho Juquinha do
governador Sérgio Cabral passeia de helicóptero adquirido com o dinheiro dos
nossos impostos. Isto, sim, é vandalismo – ou não é?
2 – O presidente
nacional do PT, Rui Falcão, declarou (O Globo: 13/07/2013) que os militantes do
seu partido não foram às ruas durante as manifestações porque agora estão
empregados. O Velhote do Penedo não se surpreendeu com tal declaração: de fato,
após 10 anos de governo petista, a antiga militância do PT ocupou mais de
trinta mil cargos comissionados criados justamente por Lula e Dilma para
abrigar os “aliados”. Vandalismo?
3 – Segundo o Correio
Braziliense (14/07/2013), prefeituras forjam licitações para “reconstruir”
edificações e embolsam mais da metade dos 4,5 milhões de reais repassados pela
União. A roubalheira campeia no Brasil. Roubalheira, sim, é vandalismo.
4 – A jornalista
Leilane Neubarth tem uma com pulsão incontrolável de dizer besteira. Comentando
a viagem do Papa Francisco ao Brasil ela nos informou que a viagem foi longa e
que o avião que trazia Francisco atravessou “oceanos para chegar ao Brasil”.
Bem, eu aprendi que entre a Europa e o Brasil só existe um oceano: o Atlântico.
Prêmio
Guilhotina de Ouro
O Jornal do Velho do Penedo instituiu o
Prêmio Guilhotina de Ouro a ser outorgado aos políticos e dirigentes públicos
brasileiros. O prêmio será mensal e premiará ao político ou dirigente público
mais calhorda do mês. Os leitores poderão votar livremente.
Um livraço
Trata-se do livro Marighella, o guerrilheiro que incendiou o
mundo, do jornalista Mário Magalhães (São Paulo, Companhia das Letras,
2012, 732 p.).
Embora o livro seja
centrado na biografia de Marighella, ele é também uma bela e bem informada
história do Brasil do século XX. Não é também um livro de loas ao guerrilheiro,
mas uma análise a mais isenta possível da sua vida de militante, dos tempos de
estudante em Salvador à noite de 4 de novembro de 1969, quando que foi
covardemente assassinado pelo torturar Sérgio Paranhos Fleury e seus asseclas.
A tocaia surpreendeu Marighella desarmado e sentado no banco de trás de um
fusca.Aqui e ali pode-se fazer algumas ressalvas ao livro. Um exemplo: ele pouco fala no racha de 1958 do Partidão, do qual surgiu o Partido Comunista do Brasil, PcdoB, que viria, em fins dos anos 1960, desencadear a Guerrilha do Araguaia, uma das mais importantes lutas contra a ditadura brasileira.
Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo é um livro que recomendo a todos interessados em conhecer uma fase crítica da história brasileira. Por ele, além de Marighella, desfilam figuras notáveis da luta conta contra a ditadura, como Zuleika Alambert, Mário Alves (morto na tortura), Diógenes Arruda, Gregório Bezerra, Leonel Brizola, Apolônio de Carvalho, Marcos Antônio Braz de Carvalho (morto na tortura), Clara Charf (mulher de Marighella), Joaquim Câmara Ferreira (o 2º de Marighella na ALN, morto na tortura), Carlos Eugênio Coelho Sarmento da Paz (autor do livro Viagem à luta armada: memórias da guerrilha, Zilda Paula Xavier Pereira (que perdeu dois filhos na guerrilha, Alex e Iuri Xavier Pereira) e Virgílio Gomes da Silva (moto na tortura), entre muitos outros mortos e vivos).
20
anos da Chacina da Candelária
Na madrugada do dia 23
de julho de 1993, aproximadamente à meia-noite, vários carros pararam em frente
à Igreja da Candelária. Dos carros desceram pelo menos 4 homens (policiais) e,
sem dizer uma só palavra, abriram fogo contra mais de 70 crianças e
adolescentes que dormiam nas proximidades da Igreja. 8 jovens morreram e
diversas outras ficaram feridas. Nomes e idades dos mortos:
·
Paulo
Roberto de Oliveira, 11 anos;
·
Anderson
de Oliveira Pereira, 13 anos;
·
Marcelo
Cândido de Jesus, 14 anos;
·
Valdevino
Miguem de Almeida, 14 anos;
·
“Gambazinho”,
17 anos;
·
Leandro
Santos da Conceição, 17 anos;
·
Paulo
José da Silva, 18 anos;
·
Marcos
Antônio Alves da Silva, 19 anos.
Apesar de todas as
dificuldades possíveis (afinal, todos eram policiais) quatro policiais foram
indiciados pela chacina:
·
Marcus
Vinicius Borges Emmanuel – Foi condenado a 309 anos de prisão em primeira
instância. Recorreu a sentença e, num segundo julgamento, foi condenado a 89
anos. Insatisfeito com o resultado, o Ministério Público pediu novo julgamento
e, em fevereiro de 2003, Emmanuel foi condenado a 300 anos. No entanto, o
assassino foi liberado da prisão em 29 de junho de 2012.
·
Nélson
Oliveira dos Santos – Foi condenado a 243 anos de prisão pelas mortes da
chacina. Recorreu, sendo absolvido pelas mortes, mesmo a após ter confessado o
crime. O Ministério Público recorreu e, em 2000, Nelson foi condenado a 45
anos. Nelson Oliveira Santos, contudo, está solto, em liberdade condicional.
·
Marcos
Aurélio Dias Alcântara – Foi condenado a 204 anos de prisão, inclusive porque,
além de matar, estuprou um adolescente. No final de 2010, contudo, conseguiu
indulto e também foi libertado.
·
Arlindo
Lisboa Afonso Júnior – Condenado a apenas 2 anos por ter em seu poder uma das
armas usadas bo crime.
Não indiciado:
·
Carlos
Jorge Liaffa – Não foi indiciado, mesmo tendo sido reconhecido por um
sobrevivente.
A Chacina da Candelária, como se sabe, foi um crime bárbaro, covarde e cruel. Todos os assassinos estão soltos, o que é uma prova cabal que a justiça brasileira (e não só a justiça) precisa passar por profunda reformulação.
As
manifestações e o governador Sérgio Cabral
O povo pode e deve ir
às ruas sempre que se sentir lesado, ofendido e humilhado. E não só isso: se
parte do povo for lesado, ofendido e humilhado, a outra parte do povo deve se
juntar a ele – e demonstrar nas ruas, nas praças e avenidas que a ofensa e a
humilhação que atinge alguns atinge, na verdade, a todos. A solidariedade é o
mais belo sentimento humano – e é ele, mais que tudo, que deve unir o povo.
Desde a época que
minha geração enfrentava os belequins da ditadura militar, sabemos que a
violência, em geral, parte sempre da própria polícia ou de policiais infiltrados
entre os manifestantes.
Isto, é claro, não
ocorre por acaso: a intenção da polícia e dos agentes infiltrados é justificar
a própria violência desenfreada da polícia, que não trepida em agredir jovens
de ambos os sexos, prender, ameaçar, atirar bombas de efeito moral (vencidas!)
e disparar balas de borracha, contando com o apoio e aplauso da mídia,
principalmente da Rede Globo e da GloboNews, cujos comentaristas e repórteres, entre
asneiras e disparates, limitam-se exclusivamente a denunciar – horror! – a violência
dos manifestantes e a ação – horror! – apaziguadora da polícia.
Semana passada, por
exemplo, o jornalista Ancelmo de Góes, de O Globo denunciou que há quase 100
mil crianças entre 5 e 11 anos trabalhando no Brasil, alguns em condições
precárias. Não vi os comentaristas da Rede Globo nem da GloboNews falarem um só
para palavra a respeito dessa denúncia. Como o Velhote do Penedo tem dito aqui
sempre: “vandalismo” é isso! E mais: o Velhote não se surpreenderia se parte
dessa criançada infeliz trabalhasse, como escravos, em fazendas de políticos!
Na semana passada
prenderam o estudante Bruno Ferreira Telles nas imediações do Palácio
Guanabara, sede do governo do Estado do Rio. A alegação era a de que ele
portava 11 coquetéis molotov em sua mochila. O estudante foi espancado, preso e
seviciado por um grupo de policiais. Ocorre que ficou constatado que o jovem
Bruno Ferreira Telles não trazia nenhum artefato explosivo com ele. Foi solto
sem receber sequer um pedido de desculpas.
Bruno era uma das
centenas pessoas que protestavam contra o governador Sérgio Cabral, um sujeito
que já demonstrou não possuir condições morais de permanecer no cargo de
governador do Rio de Janeiro. Além de esbanjar cerca de 1,4 bilhão na reforma
do Maracanã. Sérgio Cabral adquiriu um helicóptero, cuja serventia é levar sua
família às quintas-feiras para Mangaratiba, família da qual faz parte o
cachorrinho Juquinha. Segundo um piloto do helicóptero que não quis se
identificar, o helicóptero serve de transporte à manicure da madame,
esteticista, amiguinhos do casal, coleguinhas dos filhos do casal. Um dia, o
helicóptero fez uma viagem extra ao Rio para buscar um vestido da madame
Cabral que o havia esquecido.
Enquanto isso,
hospitais, escolas, creches mantidos pelo estado estão caindo aos pedaços.
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