Jornal do Velhote do Penedo
Terça-feira,
8 de outubro de 2013 - Número 9
Um jornal a serviço de ideias desabusadas
Sociedade desumana
O
Velhote do Penedo, que curte alguns dias de paz em Salvador, viu ontem pela
“máquina de fazer doido”, a TV, cenas dos confrontos entre manifestantes e polícias,
no Rio e em São Paulo. Como de hábito, os comentaristas lesos da Rede Globo e
da GloboNews jogaram a culpa dos acontecimentos exclusivamente sobre os “vândalos
infiltrados”. Os comentaristas dos principais veículos de comunicação são
incapazes de compreender o que se passa, o que está por trás de tudo isso: os
jovens (os velhos também) perderam a crença nos políticos, na política e nas
instituições – e tudo isso por culpa, inclusive, da própria mídia, que distorce
os fatos, mente, engana e deturpa. Notem que a mídia não explica as
reivindicações dos professores, apenas acentua que eles estão de greve,
“prejudicando” as crianças, os pais, a vida. Os jovens estão enfrentando a
polícia militar – uma polícia militar corrupta, que mata, que, em muitos casos,
acoberta bandidos e traficantes.
Outro
dia, um “intelectual” verberou na TV contra os “vândalos”, acusando-os de não
ter nenhum ideologia, nenhum princípio político, nenhum objetivo consistente.
Brigam, apenas. Quebram, apenas. Badernam, unicamente. O que esse “intelectual”
não entende – e faz questão de não entender – é que os jovens são as maiores
vítimas de uma sociedade distorcida, cruel e safada que nós todos ajudamos a
criar e a manter. Raras são as críticas da mídia à polícia, mesmo quando se
sabe como age a polícia. Por sinal: onde estão os ossos do Amarildo?
Vivemos
numa sociedade e somos governados por autoridades e políticos que fazem
estádios, mas são incapazes de enfrentar (e resolver) os problemas
educacionais, de saúde, de transporte público, de bem-estar social. Aqui, em
Salvador, o Metrô deveria ser inaugurado há 14 anos – e nada. Em compensação, a
Nova Fonte Nova foi inaugurada em tempo recorde, para orgulho da CBF, do
ministro dos Esportes e do governador petista.
Uma
sociedade que excluiu milhões de jovens, que perambulam pelas ruas, sem rumo.
Há algumas semanas o Velhote do Penedo esteve no Rio de Janeiro e cruzou,
inadvertidamente, por uma “cracolândia” no centro velho da “cidade maravilhosa,
cheia de encantos mil”. O Velhote morreu de pena, mas ao mesmo tempo teve medo
do que viu. Um horror. E, naquele momento (era um sábado), onde estavam o
Cabral e o Paes? O primeiro, provavelmente, estava no seu chalé na praia de
Mangaratiba, para onde vai, com a família e o cãozinho de estimação, de
helicóptero pago e mantido pelos contribuintes passar os fins de semana. Paes,
certamente, estava nos belos restaurantes do Rio, gozando das delícias do poder
e espancando, com o auxílio de guarda-costas, quem o vaia.
Os jovens “vândalos” estão na rua protestando,
a seu modo, contra tudo isso. Protestando contra uma justiça que manda soltar
notórios corruptos, como os envolvidos na chamada Operação Miqueias, que lesou
ostensivamente o grana que todos nós, via impostos, damos ao governo para
melhorar a sociedade; uma justiça que não prende os envolvidos no Mensalão; que dificulta a apuração e a
punição de criminosos e ladrões. São jovens que estão protestando contra os
políticos, contra as autoridades, contra uma sociedade corrupta, desigual e
tacanha que vivemos. A Globo e a GloboNews querem a paz dos pântanos e os
“vândalos” querem, em última instância, abalar a sociedade – pois, talvez
assim, ela mude.
O
Velhote do Penedo é, como se dizia antigamente, um amante da paz, inclusive
porque não tem mais idade para encarar a polícia. Fiz isso no tempo da ditadura,
época em que apanhou muito. É de doer verificar que inúmeros “aliados dos
milicos” estão por aí, inclusive dentro do governo do PT, e “filhotes da
ditadura” mandam e desmandam no país, e só abrem a boca para falar em
democracia e direitos humanos, como se eles soubessem o que é isso. Eles, logo eles,
Santo Deus, que apoiaram o regime que matava, torturava e perseguia quem não
fazia continência.
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