terça-feira, 29 de outubro de 2013

Uma polícia que mata


 

Jornal do Velhote do Penedo

Terça-feira, 28 de outubro de 2013 - Número 12

Um jornal a serviço de ideias desabusadas

Explosões de ódio

No anoitecer do dia 28 de março de 1968, os estudantes que se reuniam no Calabouço, restaurante estudantil situado próximo ao Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, foram surpreendidos por uma invasão de policiais militares, armados de escopetas. Acuados, aos estudantes só restava lançar pratos, talheres, pedras e paus nos megalhas e gritar palavras de ordem contra a violência que apenas começava. De repente, um tiro acertou o peito do estudante Edson Luis Souto, que morreu na hora. Edson Luís tinha 17 anos.

Esta semana, na região de Jaçanã, na Grande São Paulo, quarenta e cinco anos depois da morte de Edson Luiz, um estudante (tinha também 17 anos) morreu ao ser alvejado por um balaço desferido por um milico. Os meios de comunicação pouco falaram do fato: não divulgaram o nome do jovem, não mostraram cenas do seu enterro, não descreveram a sua vida. Nada. Apenas disseram que, segundo porta-voz da PM, o tiro que matou o estudante foi um lamentável acidente.

Talvez essa seja a diferença entre ditadura e democracia: na primeira, a morte de um estudante passa em brancas nuvens; na democracia, a morte de um estudante merece, pelo menos, uma explicação idiota.

A verdade é que os comentaristas e narradores das TV Globo e GloboNews limitaram-se a exibir as cenas da reação popular: quebra-quebras, saques de lojas e caminhões, utilizando a linguagem que o boletim interno das duas emissoras exige que eles utilizem: “vândalos”, “delinquentes” e “baderneiros”. Quando Edson Luís foi assassinado, a TV Globo sequer deu notícia do fato. A Globo e a ditadura eram assim, assim, ó!

O que a imprensa televisiva não percebe é que a população brasileira, principalmente a do Rio de Janeiro e São Paulo, está explodindo diante da politicagem que condena o Brasil a ser sempre um “gigante deitado” ou, na melhor das hipóteses, “um país do futuro”. As cenas mostradas pela televisão na região de Jaçanã são evidentes: os ditos “baderneiros” eram gente pobre, provavelmente desempregada, sem escolas, sem hospitais, obrigados a utilizar transportes coletivos que não valem nada. O próprio jovem que foi assassinado pela polícia acordava todos os dias às quatro e meia da manhã, trabalhava numa lanchonete e não estudava por falta de tempo. Não  tinha entrada na polícia. Os “quebra-quebras” são manifestações de ódio (principalmente) dos jovens alijados de uma sociedade onde poucos, pouquíssimos, podem usufruir de bens e mercadorias. São jovens muito pobres, que vivem numa sociedade que estimula o consumo, mas que não lhes permite o consumo mínimo.

A sociedade brasileira não está sabendo lidar com o problema das manifestações e da violência que explode diariamente nas ruas das cidades brasileiras. Contra tudo isso, temos governos inoperantes, demagógicos, incapazes de enfrentar os graves problemas sociais. O PT se sente reconfortado com a bolsa família e, agora, com a privatização do pré-sal. Em junho, quando das primeiras manifestações, Dilma, Renan, governadores e prefeitos prometeram reformas, ações, decisões, pareciam dizer: agora, a coisa vai! Não foi. Continuamos atolados na nossa inércia e na crueldade ética, moral e política dos governantes e políticos brasileiros.

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