Jornal do Velhote do Penedo
Terça-feira, 26 de novembro de 2013 – Nº 14.
Um jornal a serviço de ideias desabusadas
Cadeia para quem merece
Lula
sofre de incontinência verbal e de um profundo ranço preconceituoso. Juntemos
os fatos: primeiro, o ex-presidente afirmou estar arrependido de ter indicado
Joaquim Barbosa para o STF. Depois, fazendo coro ao que disse algumas sumidades
da bancada e da direção do PT, duvidou da competência do presidente do Supremo.
Bem, se Barbosa era incompetente, Lula não devia mesmo tê-lo indicado para o
STF, mas se o fez (sabendo que ele era um incompetente) mostrou-se um
irresponsável: não se nomeia um sujeito incompetente para a mais alta corte de
um país. Não somos um país sério, mas há horas em que se exagera.
Minha
hipótese, contudo, é outra: Lula nomeou Barbosa por mera demagogia: quis exibir
ao país e ao mundo que tinha indicado um negro, neto ou bisneto de escravos,
mas de Barbosa esperava que ele fosse um negro agradecido e subserviente. Se a
minha hipótese for verdadeira, uma coisa ficou clara: a indicação de Barbosa,
no fundo, foi uma demonstração de racismo do ex-presidente, pois não passava
mesmo de uma alegoria, de um símbolo.
Como
Barbosa mostrou-se altivo na relatoria do Mensalão, defendendo a punição dos
culpados, transformou-se, como dizem os racistas, num negro ingrato e
incompetente. Esta é a grande verdade: grande parte dos comentários insultuosos
e sórdidos contra Barbosa, por mais disfarçados e inconfessáveis que sejam, não
encobrem o que há de real e abjeto: vivemos numa sociedade racista – e esta, em
sua maioria, jamais aceitará que um negro (que para o PT devia, e ainda deve,
um grande favor a Lula) mandasse para a cadeia um sujeito branco e alourado
como o José Dirceu, o gênio da raça petista. Dirceu era ministro-chefe da Casa
Civil quando Lula indicou Barbosa para o STF, logo a quem o presidente do STF
também deve a indicação.
A
não aceitação, hoje, da prisão dos mensaleiros do PT significa, na prática, a
não aceitação, amanhã, da prisão dos corruptos do PSDB, PMDB, DEM, PDT e
partidos nanicos. Aceitamos a corrupção dos outros desde que os nossos
corruptos não sejam presos, devem pensar os petistas. O Velhote do Penedo gostaria
que houvesse no Brasil uma profunda reforma política – e ela começa por uma
limpeza, a sabão e soda cáustica, dos partidos políticos. Lugar de corrupto é
na cadeia. Seja ele de que partido for.
Um
amigo do Velhote do Penedo, egresso do velho Partidão, costuma dizer que focar
o embate político na luta contra a corrupção não passa de “moralismo udenista”,
referindo-se ao discurso reacionário de Carlos Lacerda nos anos pré-1964. Concordo
inteiramente com Cid Benjamin, em “Gracias a la vida”, quando afirma:
“Recuso-me a aceitar que a preocupação com a ética seja uma demonstração de espírito udenista. Aliás, com esse tipo
de afirmação, petistas fazem da velha, conservadora e hipócrita UDN um
paradigma de moralidade, o que é lamentável”.
A
descrença dos brasileiros nas instituições passa pela impunidade dos brancos e
ricos que roubam, matam e enganam a população. É absolutamente intolerável, por
exemplo, que um sujeito como Maluf, com ordem de prisão expedida pela Interpol
em mais de 175 países exerça mandato de deputado federal pelo chamado Partido
Progressista, um dos partidos da base aliada do governo Dilma. Um nojo. (Não
esquecer que Lula e Fernando Haddad foram recebidos no jardim da casa de Maluf,
ocasião em que o deputado do PP deu o seu apoio ao candidato do PT à prefeitura
de São Paulo).
Os
meios de comunicação acusam os chamados Black Blocs, como se eles fossem
bandidos comuns e reles delinquentes. Ruth de Aquino, uma das melhores
analistas do país, discutiu, na revista Época, os White Blocs, bandidos e
delinquentes de terno preto e gravata vermelha, que saqueiam o erário e vivem
de negociatas. São os verdadeiros responsáveis pelo caos urbano, a educação
péssima, os hospitais públicos vergonhosos, a “insegurança” pública. Os Black
Blocs são um produto dos White Blocs. Não existissem os larápios de colarinho
branco não existiriam os revoltados mascarados das manifestações. Os White
Blocs não usam máscara, usam terno, mas têm a certeza da impunidade.
Todo
mundo diz e todo mundo está certo quando afirma que, no Brasil, só vão para a
cadeia os negros, os pardos e os pobres. Tanto que, após dez anos no poder, o
PT descobriu, dolorosamente, que nada fez para melhorar as penitenciárias do
país.
O
ministro da Justiça José Eduardo Cardozo afirmou que preferia morrer a ser um
hóspede dos presídios brasileiros. Em espírito, concordo com ele. Contudo, em
dez anos, o PT jamais criou um PAC prisão, que resgatasse a dignidade dos
detentos, moralizasse a relação deles com os guardas prisionais e procurasse
ressocializar os criminosos. As penitenciárias brasileiras são uma espécie de
universidades, onde prisioneiros fazem pós-graduação em crimes de toda natureza.
Hoje, com a prisão de líderes petistas e empresários mineiros, é patético ouvir
o brilhante líder revolucionário Rui Falcão, presidente do PT, dizer que os
mensaleiros sofrem restrições porque “não tiveram acesso à biblioteca, aos
jornais, à internet”, como se os demais presos tivessem, ou pudessem ter, tais
regalias.
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