Jornal do Velhote do Penedo
Segunda-feira, 27 de janeiro de 2014 – Nº 19.
Um jornal a serviço de ideias desabusadas
Numa
rua de São Paulo, três meganhas perseguem um estudante de 23 anos. De repente,
o estudante para, os milicos o cercam, brigam e um dos representantes da lei e
da ordem dá, quase à queima-roupa, três tiros no estudante. Na TV, cercado de
assessores, surge o governador Alckmin, ilustre representante no Brasil da Opus
Dei, conhecida organização internacional (com sede em Madrid) de
extrema-direita, e nos informa que cabe à polícia zelar pela segurança e pelo
patrimônio público e privado. Sobre o estudante baleado, o governador diz que
as imagens da violência (captadas por câmeras) serão devidamente analisadas e,
caso tenha havido truculência policial, medidas serão tomadas. Cinismo e política se misturam no Brasil - e o produto dessa mistura é a violência dos meganhas.
Notaram
que o governador de São Paulo usou a ressalva “caso tenha havido truculência”? Ou
seja, para Geraldo Alckmin cenas em que três milicos cercam, batem e dão três
tiros à queima roupa não caracterizam, em si, um “caso de truculência”. Há dúvidas
que precisam ser esclarecidas.
Se
o estudante fosse filho do governador, ou filho do irmão do governador, ou
filho do financiador da campanha política do governador, ou filho de um figurão
do PSDB, partido ao qual pertence o governador – certamente Alckmin faria o certo:
mandaria prender os três milicos por agressão e tentativa de assassinato.
O
estudante foi internado, operado e permanece no hospital, sedado e em estado
grave. Os três milicos estão soltos – e prontos para agredir e atirar noutros
estudantes.
A
revista “Caros amigos” lançou, mês passado, número especial sobre a violência
policial. São dez artigos (reportagens) e uma entrevista, esta com o
tenente-coronel da reserva Adilson Paes de Souza, que relata a falta de
formação adequada em direitos humanos e as dificuldades para melhorar a polícia
militar.
Na
verdade, a existência de uma polícia militar, tal e qual um pequeno exército
estadual, voltado para a repressão generalizada, é na democracia um
contrassenso. As unidades estaduais da PM foram criadas na ditadura, com a
função de reprimir, violentar, agredir e torturar os que lutavam com o autoritarismo. Estes
eram chamados de terroristas, como hoje os que protestam e exigem uma sociedade
decente e melhor são chamados de vândalos. Os vândalos só agridem, só quebram
depois – depois! – que a polícia chega batendo, jogando bombas e espargindo
spray de pimenta. Um dia, eles vão chegar atirando, como fizeram em 1968 no
Calabouço, matando o estudante Edson Luiz.
Ao
ler os artigos de “Caros amigos”, confesso que fiquei assustado. Pois fica
claro que à medida que as manifestações crescerem (e elas vão crescer, com a
aproximação da Copa), a repressão policial e os abusos vão recrudescer.
A
violência policial é uma afronta à democracia.
Não
esqueçamos: ano passado, quase uma centena de brasileiros desapareceram após
serem presos. Um deles foi o Amarildo, lembram dele?
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