Nada vai dar certo
Vivi uma época em
que os jovens ou eram engajados ou alienados; revolucionários ou acomodados; de
esquerda ou de direita. Não existiam, na visão tosca da época, mediações. O
mundo ou era branco ou preto – não existia o cinzento, muito menos os seus matizes.
Lembro-me que o
povão dividia-se em preferências, que às vezes produziam xingos e tapas: os que
amavam Emilinha Borba e os fãs da Marlene. Flamengo ou Fluminense. Vasco ou
Flamengo – e, conforme os estados, Internacional ou Grêmio, Atlético ou Cruzeiro,
Bahia ou Vitória. Corinthians ou São Paulo. Bossa Nova ou Jovem Guarda – não havia
escapatória. Hoje, mais velhos, mas ainda sem juízo, reincidimos nesse tipo de
análise, que, felizmente, não mais apelidamos de dialética, termo que, parece,
caiu em desuso, para alegria de Hegel, Marx e Engels.
No Brasil de hoje,
século XXI, continuamos a velha cantilena. Os intelectuais, oriundos daquela
época, repetem as dicotomias, direita ou esquerda, manifestações de direita e
manifestações de esquerda, os de lá e os de cá. Nada mudou, nem m esmo a
arrogância.
As universidades brasileiras,
destroçadas, que sequer têm vaga entre as cem melhores do mundo, informam, através
de seus agregados, professores, mestres e doutores, que estão ali produzindo conhecimento
– isto mesmo, produzindo conhecimento! Pretensão típica de país de Terceiro Mundo.
O que não é de se espanta: afinal, não temos teólogos, filósofos e tantos
outros doutores e sabichões, que escrevem sempre para os mesmos leitores
embasbacados?
Tantos os
intelectuais quanto os doutores universitários são incapazes de explicar mínima
e logicamente o Brasil. Repetem, apenas, a velha cantilena dos anos 1960. Temos
um belo futuro pela frente. O oportunista e delator Regis Debray veio, semana
passada, ao Brasil, foi cultuado, apesar das besteiras que disse. Ah, sessão nostalgia!
Esse mesmo francês, nos anos 1960, escreveu um livro sobre revolução, que todos
os jovens leram e ficaram extasiados. O livro de Debray nos ensinou nada mais
que o caminho mais rápido do buraco, que nos custou fracassos e mortes.
O Brasil está
atolado: quando vejo a foto da corja do PMDB, tendo entre eles o Lula, me
lembro das fotos do Politburo soviético. Estamos mal. Hoje, o temário é avaliar
quantas pessoas foram à rua no último domingo e quem eram eles. Notável pauta! Alguém
disse: poucas pessoas, meros eleitores do Aécio. Pronto, a análise foi feita, como
se fosse um veredicto. Umas idiotas ostentaram cartazes nazistas, coisa tipicamente
montada e plantada pelos que queriam melar as manifestações, mas os intelectuais
detectam aí o grande perigo: a direita vem aí, gente, como se os aliados do PT
(e o próprio, tirante o discurso, é claro) não fossem de direita.
O Velhote do Penedo
para por aqui. Afinal, de que adianta escrever tudo isso? Como vi e ouvi num
filme brasileiro: “Não se preocupe: nada vai dar certo”.
*****
Recebi uma mensagem onde o amigo diz: "Admito que as manifestações era eclética, mas inegavelmente foi puxada pela direita". Minha resposta: "Concordo, mas isto devido ao fracasso da esquerda. Ou não houve fracasso?".
O desenho de Escher, abaixo, simboliza o enigma brasileiro: nunca saímos do lugar.
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