Petróleo e Guerra civil
Lendo o
livro “A maldição do petróleo”, de Michael L. Ross, encontro uma definição de
guerra civil que gostaria de compartilhar: “guerra civil é um desenvolvimento
ao contrário”.
O autor
mostra perfeitamente como o petróleo travou o desenvolvimento dos países, pois
a riqueza que ele proporcionava, via exportação, é fator de desestímulo à
industrialização e o desenvolvimento agrícola dos grandes países produtores. Na
verdade, o petróleo criou um tipo de desenvolvimento que reproduzia a
desigualdade, o atraso e a dependência. Foi o caso, por exemplo, da Venezuela.
Quando
o Velhote do Penedo cursava o antigo ginásio, no excelente Colégio Souza
Aguiar, o meu saudoso mestre Orlando Valverde deu uma notável aula sobre a
Venezuela, mostrando que a maioria dos produtos consumidos no país era
importada, da alface e tomate (comprados no Brasil) aos veículos, eletrodomésticos,
lâmpadas e papel (comprados nos Estados Unidos). Os recursos oriundos da venda
do petróleo cobriam todas as compras externas.
Todos
os presidentes venezuelanos que tentaram fugir da “maldição do petróleo” foram
derrubados por golpes militares orquestrados pelos Estados Unidos, que eram os
maiores compradores do petróleo daquele país. Foi o caso de Rômulo Gallegos,
autor de obras-primas (a classificação é de Otto Maria Carpeaux), como Doña Bárbara, Cantaclaro e Canaima, vítima de golpe de Estado, após
seis meses de governo. Os problemas atuais da Venezuela são foram provocados
por Chaves e Maduro: são o produto da “maldição do petróleo”, fato histórico, e
da queda vertiginosa dos preços do “ouro negro”.
O
petróleo fomentou e ainda fomenta inúmeras guerras civis no mundo. Inclusive
por que a indústria petrolífera joga para cima os níveis de corrupção dos
países, segundo a OECD, sigla inglesa de Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento. O petrolão, que carcomeu a Petrobrás por dentro, é um exemplo
disso. A indústria petrolífera lida com muitos bilhões de dólares, tanto nas
compras como nas vendas.
Vivemos
num mundo petrolífero. Criamos uma civilização dependente do petróleo. O
petróleo está presente na nossa vida – e, segundo os ecologistas, é um dos
responsáveis pelo aquecimento solar. Quando eu vejo um engarrafamento, aquela
maldita fila de automóveis parados, queimando gasolina – eu fico imaginando o
custo ambiental e financeiro dessa doideira.
Eu ia
escrever sobre a guerra civil brasileira, que provoca mais de 56 mil homicídios
por ano, bem mais que no Iraque, Síria e Chechênia, mas acabei falando do
petróleo. Eu ia escrever sobre os homicídios, linchamentos, arrastões e
chacinas. Fica para depois, embora algo eu deva ressaltar.
Segundo
a Organização Mundial da Saúde, o índice razoável de mortes provocadas
(homicídios) situa-se em torno de 10/100 mil habitantes. No Brasil, o índice
atinge 29/100 mil. Em Alagoas, terra natal do Velhote, o índice é o maior do
Brasil: 63,3/100 mil. Como disse certa vez o deputado Tenório Cavalcanti,
alagoano de Palmeiras dos Índios, “em
Alagoas, quem ainda não matou, morreu”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário