quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A maldição do petróleo


Petróleo e Guerra civil

Lendo o livro “A maldição do petróleo”, de Michael L. Ross, encontro uma definição de guerra civil que gostaria de compartilhar: “guerra civil é um desenvolvimento ao contrário”.

O autor mostra perfeitamente como o petróleo travou o desenvolvimento dos países, pois a riqueza que ele proporcionava, via exportação, é fator de desestímulo à industrialização e o desenvolvimento agrícola dos grandes países produtores. Na verdade, o petróleo criou um tipo de desenvolvimento que reproduzia a desigualdade, o atraso e a dependência. Foi o caso, por exemplo, da Venezuela.

Quando o Velhote do Penedo cursava o antigo ginásio, no excelente Colégio Souza Aguiar, o meu saudoso mestre Orlando Valverde deu uma notável aula sobre a Venezuela, mostrando que a maioria dos produtos consumidos no país era importada, da alface e tomate (comprados no Brasil) aos veículos, eletrodomésticos, lâmpadas e papel (comprados nos Estados Unidos). Os recursos oriundos da venda do petróleo cobriam todas as compras externas.

Todos os presidentes venezuelanos que tentaram fugir da “maldição do petróleo” foram derrubados por golpes militares orquestrados pelos Estados Unidos, que eram os maiores compradores do petróleo daquele país. Foi o caso de Rômulo Gallegos, autor de obras-primas (a classificação é de Otto Maria Carpeaux), como Doña Bárbara, Cantaclaro e Canaima, vítima de golpe de Estado, após seis meses de governo. Os problemas atuais da Venezuela são foram provocados por Chaves e Maduro: são o produto da “maldição do petróleo”, fato histórico, e da queda vertiginosa dos preços do “ouro negro”.

O petróleo fomentou e ainda fomenta inúmeras guerras civis no mundo. Inclusive por que a indústria petrolífera joga para cima os níveis de corrupção dos países, segundo a OECD, sigla inglesa de Organização para a Cooperação e Desenvolvimento. O petrolão, que carcomeu a Petrobrás por dentro, é um exemplo disso. A indústria petrolífera lida com muitos bilhões de dólares, tanto nas compras como nas vendas.

Vivemos num mundo petrolífero. Criamos uma civilização dependente do petróleo. O petróleo está presente na nossa vida – e, segundo os ecologistas, é um dos responsáveis pelo aquecimento solar. Quando eu vejo um engarrafamento, aquela maldita fila de automóveis parados, queimando gasolina – eu fico imaginando o custo ambiental e financeiro dessa doideira.

Eu ia escrever sobre a guerra civil brasileira, que provoca mais de 56 mil homicídios por ano, bem mais que no Iraque, Síria e Chechênia, mas acabei falando do petróleo. Eu ia escrever sobre os homicídios, linchamentos, arrastões e chacinas. Fica para depois, embora algo eu deva ressaltar.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o índice razoável de mortes provocadas (homicídios) situa-se em torno de 10/100 mil habitantes. No Brasil, o índice atinge 29/100 mil. Em Alagoas, terra natal do Velhote, o índice é o maior do Brasil: 63,3/100 mil. Como disse certa vez o deputado Tenório Cavalcanti, alagoano  de Palmeiras dos Índios, “em Alagoas, quem ainda  não matou, morreu”.


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