sábado, 5 de dezembro de 2015

Brasil: sujo, rôto e esfarrapado


O Brasil parou, mas quem liga?

Os últimos acontecimentos políticos provocaram uma enxurrada de bobagens, desinformações, mentiras e ansiedade nas redes sociais. Bem, o Velhote do Penedo não defende o impedimento de “tia” Dilma - não que ela não tenha feito por merecer. Fez – e reiteradamente. Não defendo o impedimento da Dilma porque nos próximos meses o país, que anda à marcha de tartaruga, vai parar de vez. Sou a favor da renúncia da Dilma, do Renan, do Cunha, do Lewandowski.

O Brasil não merece isto. O povo brasileiro – não as elites intelectuais (muitos dos quais são petistas por conveniência ou porque vivem mergulhados na ideia falsa de que o PT de hoje é o mesmo PT dos anos 1980), não a militância que troca palmas por sanduíches de mortadela, não as direções sindicais (que traem seus associados) – não merece isso.

O povo brasileiro vai sofrer muito. O desemprego vai crescer, a inflação idem, a saúde vai continuar matando, a educação produzindo analfabetos funcionais ou absolutos, as indústrias parando, as universidades caindo aos pedaços, as epidemias (entre as quais a da microcefalia, a mais recente estrela das nossas mazelas), a violência vai dominar, a roubalheira seguirá sua marcha. Pobre povo brasileiro.

O pedido de impedimento da Dilma foi encaminhado por dois juristas de mérito, Hélio Bicudo e Dalmo Dallari. O pedido não se fundamenta na acusação de que Dilma roubou ou possui conta na Suíça, como ela própria sugeriu e vários petistas (autoridades ou não) estão repetindo. Não. Esta é uma mentira que está sendo propagada nas redes sociais, inclusive por amigos pessoais, gente inteligente, que deveria discutir as coisas como elas são e com a seriedade que elas merecem. Mas isto é outra história.

O que se discute no pedido de impedimento da Dilma é o seguinte: ela violou a Constituição e desobedeceu a Lei de Responsabilidade Fiscal, em 2014 e 2015. É o fundamento principal do pedido de impedimento.

Merece ser impedida por isto? Legalmente, merece. Ninguém, muito menos a presidente da República, pode desrespeitar a Constituição e burlar uma lei em vigor. Todos nós somos passíveis de processo em casos semelhantes.

Outra mentira que corre nas redes sociais: impedimento é golpe, pois Dilma foi democraticamente eleita. Bem, a segunda parte é verdadeira: Dilma foi eleita democraticamente. A primeira parte é mentirosa: impedimento não é golpe porque está previsto na Constituição e, no caso da Dilma, enquadra perfeitamente os fundamentos do pedido do impedimento. E tem mais: Collor, hoje aliado do PT, também foi eleito democraticamente – ou não foi? Não me consta que partidos como o PT, o PPS, o PDT e o PCdoB, que lideram o movimento, tenham dado um golpe contra Collor, nem tenham ofendido a democracia ao impedi-lo. Não podemos escamotear a história.

As redes sociais petistas banalizam a situação batendo na tecla de que Cunha é um traidor, agiu por vingança, e por aí afora. Não sei – e digo mais: estou pouco me lixando para os acordos e desacordos firmados entre o presidente da Câmara e a presidente da República. Pouco me importa. Por mim, Dilma renunciaria, Cunha renunciaria, Renan renunciaria e o Lew renunciaria. Não tenho nem quero ter qualquer compromisso com essa gente, que dominam os poderes da República.

(Um parêntese: houve acordo entre Cunha e Dilma? Não sei, mas às vezes tomo conhecimento de acordos firmados no Congresso e no Planalto que me fazem morrer de vergonha. Mas isto também é outra história).

Hoje, do alto dos meus 73 anos, não creio mais em ideologias, não tenho crenças políticas, não mais pertenço a partidos, tenho grande enfado e depressão quando vejo televisão. Vestido, ou seja, de roupa (!) só duas coisas que me dão verdadeiro prazer: ler e ouvir música.

A política é a mais elevada forma de convivência humana. É a essência da vida em sociedade. Mas, no Brasil, a atividade política, com raras exceções, tem uma notável capacidade de atrair gente ordinária, gente que não vale o chão que pisa. Há coisa pior que isso?

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