A saída por cima de Dilma
O governo Dilma está agonizando,
carcomido por uma moléstia irreversível e mortal– que está espalhando, pelo
país, o vírus da violência, da discórdia e do ódio. O Brasil está descambando
para o perigoso caminho da baderna.
Doente, o país está na UTI, entubado,
respira por meio de aparelhos e sobrevive à base de doses maciças de
irracionalismo e desespero, enquanto de ambos os lados da cama turbas ensandecidas
gritam “fora Dilma” e “abaixo o golpe”, que alguns analistas bisonhos dizem ser
os gritos da direita e da esquerda, palavras, aliás, que precisam de
redefinição entre nós. No uso comum e vulgar de hoje, elas carecem de contexto
específico. A gritaria obviamente agrava o estado do paciente, com a agravante
de não apontar saída possível.
Os antigos diziam que o silêncio é de
ouro, mas é certo que uns bons berros têm, ao menos, a função profilática da
desopilação. Estão todos desopilando seus humores: a maioria sequer sabe por
que grita ou, muito menos, entende em profundidade o drama que estamos vivendo.
No fundo, estão todos pulando amarelinha em campo minado.
Ontem, a OAB, entidade que sempre
esteve à frente dos grandes momentos políticos do país, protocolou mais um
pedido de impeachment contra a presidente Dilma. Amanhã, o PMDB deve anunciar o
seu desembarque do governo, decisão que contaminará outros partidos da chamada
base. A tendência é que Dilma fique só com o PT e o PCdoB e alguns gatos
pingados pendurados em sinecuras estatais.
Qual seria a saída política da crise?
Com franqueza, não sei, mas o Velhote do Penedo não é político, não é
militante, não é ativista – e, sobretudo, há muito perdeu todas as crenças
políticas e ideológicas. Não sou tecnicamente um alienado, pois estou ligado ao que está
acontecendo no Brasil.
No meu entender, Dilma deveria
renunciar não como o Jânio fez, no arranque e impulsionado por demônios interiores.
Ela deveria discutir sua renúncia com lideranças políticas, dirigir-se à nação,
defendendo um pacto político. O eixo (nunca mais tinha usado essa palavra!)
seria a realização, ainda esse ano de eleições gerais, com a proibição taxativa
de que todos indiciados em processos (todos!) seriam inelegíveis. Se Dilma
costurasse tal solução, sairia, a meu ver, por cima.
Não haverá saída nem pela esquerda nem
pela direita. Dilma, Temer, Eduardo Cunha e Renan são inaceitáveis. A única
saída possível seria, portanto, através de um consenso, que impusesse ao Brasil
novas eleições.
Ingenuidade minha? Talvez. Mas, de uma
coisa tenho certeza: o Brasil e o povo ainda vão sofrer muito, muitíssimo – e
quem pensa que não, bem, cala-te boca.