Sem saída e mal pagos
Como diria minha avó, estamos num mato
sem cachorro.
O governo faliu, a oposição está sem
rumo e, sobretudo, não temos saída da crise – pelo menos, eu não vejo saída
alguma. E quem diz que vê, está mentindo ou sonhando.
Há alguns meses, eu escrevi que era
contra o impedimento da Dilma, não porque não houvesse motivo para isso, mas
porque seria algo traumático, que poderia gerar desdobramentos muito sérios. Falei,
então, em renúncia – e de um esforço de gerar uma coalizão que livrasse o país
da crise e aliviasse o povo de suas consequências. Por fim, acrescentei que
isso era apenas uma vontade, um sonho, com tudo de utópico que ele, o sonho, possui.
O último líder político do Brasil é Lula, que está sendo investigado e periga
ser preso. Só faz sucesso junto à militância. Não temos outro.
Às vezes, leio amigos meus do feice,
gente que eu respeito política e intelectualmente, falar em saída da crise pela
esquerda, pois a direita já preparou a dela: o golpe. Sempre que leio isso,
tenho vontade de chorar.
Primeiro, porque o argumento renova a velha
dicotomia direita e esquerda, o que é uma tolice, pois está longe de ter valor
explicativo. Muita gente, da velha e da nova esquerda, está contra a Dilma e,
com ou sem razão, considera Lula um enganador - ele sim, um sujeito de direita.
Discutir os problemas com base em direita e esquerda não demonstra só
indigência intelectual, mas – e principalmente – fuga da realidade. Não dá para
colocar no mesmo prato gente como Jarbas Vasconcellos e Cristovam Buarque e
gente como Bolsonaro e Aécio. Todos são contra a Dilma, mas eles são diferentes
entre si. Ou não são?
Segundo, porque não há golpe em
andamento. Eu tinha 20 anos em 1964 e por tudo que vi e li a respeito do golpe
militar, dois ingredientes são fundamentais: movimentação no meio militar e
adesão dos principais governadores. Em 1964, as Forças Armadas dispunham de
lideranças marcantes, que lideraram e tocaram a ditadura. Não há isso, no
momento, nem parece que vai haver.
Terceiro, porque não há saída pela
esquerda possível. Esperar uma eventual saída pela esquerda é sonho. Quem
faria? Quem conduziria um projeto econômico de esquerda? Nem mesmo o PT poderia
fazer isso, pois há muito perdeu credibilidade.
O que há, nas ruas, é um movimento
geral de indignação, independentemente de classe social, raça e posição
ideológica: os manifestantes contra o governo estão na rua porque estão
indignados com a corrupção e porque se sentem ludibriados por um governo que
prometeu bonança, mas produziu inflação, desemprego, péssima educação, péssima
saúde e muito desencanto. Claro, Bolsonaro defende o golpe, mas Bolsonaro é uma
voz isolada, embora o povo do Rio de Janeiro lhe tenha dado quase 600 mil votos.
Tenho escrito também o seguinte: o PT
(e seu reboque, o PCdoB) tornou inviável no futuro nova eleição de um governo
verdadeiramente de esquerda. Como dizíamos no passado, o PT queimou a esquerda
(como proposta de governo e ideal político) e pôs por terra o ideal socialista.
Quem era indiferente à esquerda (e votou no Lula em duas eleições), hoje se
transformou em antiesquerdista, pois a esquerda está, hoje, no Brasil,
identificado com o PT, que por sua vez tornou-se sinônimo de corrupção,
bandalheira e incompetência administrativa.
Quando eu vejo uma manifestação
promovida pelo PT, sofro um ataque de enfado e tédio. O PT, em geral, só
consegue reunir pessoas a troco de transporte, sanduíche de mortadela e 30 ou
50 paus de pagamento. Militância remunerada. Exceção são os ditos intelectuais
e artistas, a maioria dos quais dependem de verbas públicas para produzir. O PT
de hoje é uma caricatura de má qualidade do PT de 1980, que defendia a ética.
A ida de Lula para a Casa Civil do
governo Dilma não vai servir para nada. Lula não tem condições de colar os
cacos de um governo mergulhado na incompetência e na falta absoluta de projeto.
O impedimento de Dilma é, hoje, uma possibilidade real.
Em resumo, o Brasil ainda vai gramar muito,
a crise vai se aprofundar e quem vai sofrer – e muito – vai ser o povão.
Em tempo
Li, nos últimos dias, algumas
declarações de Lula sobre as mulheres (deputadas e assessoras do PT) que
mostram bem o caráter do ex-presidente. Não vou repetir as palavras de baixo
calão pronunciadas sobre suas “companheiras”, nem falar da insinuação abjeta
que ele fez em relação a uma de suas principais assessoras, a senhora Clara
Ant. Também não vou defendê-las, pois isso cabe a elas, que, tudo indica, acharam
uma graça enorme nas ofensas de Lula. Compostura no PT é coisa rara.
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