O impeachment de Dilma
Dilma plantou e colheu.
Arrogante, autossuficiente, certa de que ela podia governar sozinha, decidir tudo
(sobre qualquer assunto) e tocar a vida aos berros e xingos. Deu-se mal. Era
inevitável.
Há meses, participando de
uma reunião plenária organizada pelo senador Cristovam Buarque, eu disse que a
saída da crise estava num grande debate, orientado por Dilma, de forma à
formulação de um projeto para o país. O projeto deveria englobar um conjunto de
reformas políticas e o desenho de uma saída econômica. Mas – acentuei – esse
debate só teria eficácia se liderado pela própria presidente da República. Mas
– acrescentei - a autossuficiência dela, o temperamento dela, o perfil dela,
impediria Dilma de fazer o que devia fazer. Falta, sempre faltou à presidente,
vocação política e o reconhecimento de que o diálogo é essencial. Tancredo dizia
que política “agente faz com os adversários e inimigos; com os amigos basta uma
boa conversa e tudo se acerta”. Dilma só queria fazer “política” com os submissos.
A presidente não procurou
quem devia procurar. Sentou-se no colo do Lula e acreditou que ele faria o
milagre que reverter a situação. Mas era tarde. Lula não tem habilidade ou
estatura para levar adiante uma costura desse tamanho e importância. Lula, por
exemplo, foi constituinte, mas sua passagem pelo parlamento foi pífia; quem se
destacou, na época, foi o Genoino. A articulação política do Lula foi um
tremendo fracasso.
Em face das nuvens negras
que se aproximavam, Dilma e Lula resolveram, então, radicalizar o discurso.
Enquanto, entre quatro paredes, procuravam convencer – via Diário Oficial -
deputados dos diversos partidos, partiram para o discurso agressivo: Dilma
transformou o salão do Planalto em palanque; Lula foi para as ruas, seu
habitat, ameaçando e ofendendo indiscriminadamente a todos. A contradição era
clara: discursos ofensivos e conversa ao pé do ouvido não se combinam.
Dilma plantou e colheu.
Não sei se o impeachment é a
melhor solução para a grave crise brasileira. Talvez não seja, mas é preciso
considerar que Dilma levou o Brasil ao buraco – e ela, hoje, não teria mais
condições de governar. Temer terá? Não sei, mas Temer é um sujeito habilidoso,
saberá se cercar de gente competente e buscar apoio na Câmara e no Senado.
Dilma plantou e colheu.
O governo, afora o processo
de impeachment, sofreu uma derrota mais que fragorosa: recebeu 26,8% dos votos
da Câmara, o que significa que Dilma não tem, nem terá ou teria, condições de
governar, caso a coisa mude no Senado.
Hoje, segunda, 17 de abril,
Dilma prometeu fazer um pronunciamento à nação: seria melhor não fazer, pois o
panelaço será inevitável.
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