sexta-feira, 29 de abril de 2016

Quanta desilusão!


Lembro, sigo lembrando:

Ainda no primeiro governo Lula, uma querida amiga, petista histórica, conversou comigo sobre a sua desilusão partidária. “O PT vai se autodevorar, vai se autodestruir”, disse-me ela, com amargura. Em termos emocionais, eu pouco podia fazer por ela: nunca tive ilusões em relação ao PT e, principalmente, em relação ao Lula, a quem sempre considerei, como político e pessoa, vulgar e enganador.

Eu fui, durante anos, filiado ao PDT, convicto de que poderíamos retomar o discurso trabalhista e os planos reformistas de Jango (com as devidas adaptações), tendo como mira, no longo prazo, a formulação de um projeto de cunho democrático e socialista para o Brasil. Hoje considero que PT e PDT se equivalem e se merecem. São duas porcarias.

Esta querida amiga, que eu conhecera na valorosa Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi), tinha, porém, uma esperança: se o PT se desviara do “caminho justo” (expressão que usávamos muito no nosso tempo de estudante), a saída seria através dos movimentos sociais, que, na sua opinião, não se deixariam encantar pelo poder – “e reagiriam”, frisou. Ouvi seus argumentos em silêncio, mas, dentro de mim, bailavam dois sentimentos: o de crença na autonomia política dos movimentos sociais e o de descrença na suposta capacidade de os movimentos sociais não sucumbirem ao poder – e, sobretudo, ao poder do dinheiro. Poder e dinheiro são um coquetel mortal.

A verdade é que o governo petista, mediante copiosas verbas, cooptou vergonhosamente os movimentos sociais. A própria militância do PT, segundo disse o próprio Lula recentemente, só se permite ir para as ruas mediante pagamento. Às vezes me pego pensando: de que vivem as lideranças dos movimentos sociais? Onde trabalham? Quem paga os seus deslocamentos pelo país? Alguém sabe? Outro dia, no Aeroporto, vi um dos tais líderes dos movimentos sociais, um dos mais estridentes. Parecia um lorde, na roupa e na pose.

O PT não só desmoralizou a esquerda, como vilipendiou os movimentos sociais. São essas, mais a corrupção sistêmica e a crise econômica, as heranças malditas que os governos petistas legaram ao país, ao povo brasileiro. Depois, reclamam do avanço da direita no Brasil.

Em tempo (1):

O governador Fernando Pimentel (PT), de Minas Gerais, nomeou a esposa, Carolina, secretária de estado do Trabalho e Desenvolvimento Social. Antigamente, isto se chamava nepotismo, mas o objetivo da nomeação vai além: garantir foro privilegiado à Carolina, que, com o maridão, é alvo de investigação da Polícia Federal, na chamada Operação Acrônimo, que apura esquema de lavagem de dinheiro e irregularidades em campanha eleitoral.

Em tempo (2):

Vi uma triste reportagem sobre o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho. Quem é mesmo o ministro da Educação?

Em tempo (3):

E a ciclovia do Paes, heim? Se ela tem que ter um nome, que tal cancelar a homenagem ao Tim Maia e batizá-la com o nome de: “Ciclovia Pedro Paulo, o Espancador”.

Em tempo (4):

Desculpem, mas vou tratar de um assunto pessoal: três pessoas diferentes informaram que, a partir de outubro, vai faltar grana para pagar a aposentadoria do Velhote do Penedo. Depois não culpem o Temer.

Em tempo (5):

Cheguei à conclusão que sou um idiota.

Lutei contra a ditadura, fui derrotado. Não recorri à Comissão de Anistia, reivindicando compensação financeira, nem Aposentadoria de Anistiado, por ter sido impedido de trabalhar durante anos, com duas filhas menores. Fui socorrido por amigos. Não recorri à Comissão de Anistia, nem vou nunca recorrer. Por uma questão de princípio: eu lutei e fui derrotado.

Agora, corre no Facebook um extrato de pagamento referente à aposentadoria de anistiado do Lula. E lá está: Lula recebe, sem descontos (!), a bagatela de R$ 8.352,45.

Notem: sem descontos, embora o pagamento seja feito pela Previdência. Eu, por lei levada ao Congresso e sancionada pelo presidente Lula, pago uma cota à Previdência, apesar de estar aposentado – e de ter me aposentado antes da aprovação desta lei. Vejam: Lula fez uma mudança na lei de aposentadoria que o próprio FHC não fez.

Lula aposentou-se, nos termos aqui comentados, com 43 anos de idade.

Em tempo (6):

Lembrei-me hoje de uma grande amiga, fundadora do PT, já falecida: Isabel Picaluga. Certa vez, eu já morava em Brasília, fiquei na casa dela, em Jacarepaguá.

Uma noite, ela recebeu em casa um grupo de militantes do PT – e permaneceu a noite toda preparando cartazes, volantes e muitos outros materiais que seriam usados pelo partido. Lembro-me dela, muito sorridente, dizendo que o PT se construía através da sua militância.

Como disse acima, minha amiga já se foi, mas imagino a tristeza que ela teria, hoje, ao ver muitos dirigentes do PT ricos, gordos e debochados. Imagino o que ela pensaria ao ver o Lula transformado num dos homens mais ricos desse país, além dos que já estão em cana, como Dirceu. Tenho muitas saudades da Isabel.

Um comentário:

  1. Entendo sua fala, e admiro sua honestidade e lisura em não ter pensão de anistiado. Um ser humano dos melhores.

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