Por motivos que me dispenso comentar,
não acompanhei a sessão do Senado.
Eram cinco e pouco da manhã,
eu já tinha acordado – e estava na cama lendo quando ouvi o som dos fogos de
artifício. Levantei-me e fui espiar a história que se desenrolava a poucos
quilômetros da minha casa. Liguei a televisão – e vi que Dilma tinha sido
afastada do cargo por 55 a 22 votos. Uma goleada. Os fogos eram de comemoração.
Informado dos fatos, voltei
aos “Tempos difíceis”, de Charles Dickens (Boitempo Editorial). Não, não
procurem nenhuma insinuação entre o título e o momento político brasileiro.
Dilma plantou e colheu. Ela,
conforme ficou certo, cometeu crimes de responsabilidade, mas ela mostrou-se
péssima gestora, medíocre política e pífia articuladora. Um desastre. E seus
auxiliares, gente do tipo Mercadante, Berzoine, Cardoso, sentiam-se os tais,
mas só fizeram burradas.
A verdade é que ela foi
derrocada pelo “conjunto da obra”: inflação, carestia, desemprego (11 milhões
de brasileiros), corrupção (não dela, mas de parte expressiva da elite
petista), déficits, crateras orçamentárias, destruição da Petrobrás, dos Fundos
de Pensão, várias outras estatais, como Eletrobrás. O BNDES é, hoje, uma
vergonha – e quando a caixa-preta for aberta, meus amigos, saiam debaixo.
Diante desse monumental
descalabro, Dilma brandia os chamados programas sociais. Bolsa-família, no meu
entender, é uma falácia. Minha casa, minha vida é uma enganação: casas mal
construídas, sem rede de esgoto, que, em poucos anos, já apresenta infiltrações,
rachaduras, portas e batentes emperrados. Sei disso porque constatei
pessoalmente – ninguém me contou. Metade da população brasileira está
endividada. Não há ideologia capaz de afrontar a realidade.
O PT, como partido, vai
encolher bastante. Muita gente vai abandonar o partido nos próximos dias ou
semanas, mormente porque teremos eleições breve – e entre a fidelidade
partidária ou a vitória eleitoral, muitos petistas vão escolher a segunda. É a
vida.
Os eleitores não vão votar
no PT, a não ser nos grotões. O PT vai se transformar num partido político
nanico, mas não vai desaparecer. Desaparecer nacionalmente parece ser o destino
do PDT, que se transformará num mero partido gaúcho. O inacreditável Lupi
asfixiou um partido que ele recebeu de bandeja. Um partido que reuniu grandes
figuras, como Brizola, Darcy Ribeiro, Doutel de Andrade, Brandão Monteiro,
entre muitos outros, e que hoje está reduzido ao próprio Lupi e o inacreditável
senador Teomário Mota.
Dilma saiu do Planalto
cuspindo maribondos. Dizem que vai fazer oposição, pois o Senado garantiu-se
uma mordomia absurda. Mas Dilma, logo, logo, vai submergir na solidão, pois as
visitas ao palácio Alvorada vão minguar, como as manifestações em sua defesa.
Afinal, o PT vai tratar dos seus cacos, tentando colá-los – e ninguém vai
perder tempo com uma presidente tocada do poder e que, supõe-se, não volta mais.
Cruel isso? Talvez, mas a vida – sobretudo, a política – é assim. Afora isso, a
operação Lava-Jato aí está para assombrar alguns ex-ministros que perderam o
foro privilegiado. Lula que se cuide.
O governo Temer vai dar
certo? A questão é bizantina. Como não sou adivinho, tenho uma opinião: nenhum
governo pode ser igual ou pior que o governo Dilma. Há gente boa no ministério
Temer – falo de competência, não de ideologia. Discutiu-se que falta mulher no
grupo. Bem, pode ser, mas se esse problema não existisse, estaríamos discutindo
a falta de negro, cadeirante, albino, anão e homossexual.
Um deputado do PT postou no
seu blog um comentário preconceituoso: é um ministério de velhos – e vinha em
seguida um rol de epítetos ofensivos, direita, incompetentes, por aí. Sei, o
deputado é um idiota, mas é bom chamar a atenção para os escorregões
ideológicos.
Não sou otimista em relação
ao governo Temer, até porque não cultivo o otimismo como visão do mundo e da
vida. Mas o Brasil não aguenta mais – e saiu de um processo traumático,
difícil. A situação é grave, a crise atinge a todos. Eu, pessoalmente, ando nas
ruas, ando de ônibus, visito as cidades satélites, vejo a vida – e o que vejo
não me agrada. A miséria campeia.
Repito, por fim, o que já
disse. Além dos danos econômicos causados pelos governos do PT, eu aponto o que
para mim são os mais importantes:
1) a desmoralização da
esquerda, na medida em que o PT conseguiu difundir, junto à população, a ideia
de que ser de esquerda é ser incompetente, arruaceiro e corrupto. Esta foi a ideia
que o governo Dilma legou ao país;
2) o governo Dilma fez
tantas besteiras e tolices que pôs no colo de todos nós o governo Temer. Se o
governo Temer for pior que o governo da Dilma – adivinhem de quem é a culpa?
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